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Pedido aos leitores que manifestem-se contra as propostas do Cardeal Kasper para o Sínodo da Família
Carta ao Cardeal Dom Odilo Scherer, rogando que repudie a comunhão aos divorciados-recasados e manifeste-se pelo incentivo à natalidade. Em razão da realização da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, convocada para discutir o tema: “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização” de 5 a 19 de outubro, conhecida nos meios de comunicação como “Sínodo da Família”, e atendendo às solicitações do Santo Padre, na Carta às Famílias de 25 de fevereiro de 2014 que pediu “o apoio da oração... especialmente da vossa parte, queridas famílias”, e que as famílias “participem ativamente, na sua preparação, com sugestões concretas”, enviamos a Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e aos demais representantes brasileiros que estarão presentes no Sínodo da Família, uma carta que se encontra a seguir. Na referida carta externamos ao nosso Cardeal as graves preocupações em razão de notícias divulgadas recentemente nos meios de comunicação de que algumas autoridades da Igreja, em particular o Cardeal Walter Kasper, alegando pretensas razões pastorais, pretendem que o Sínodo proponha uma alteração na doutrina, no ensinamento e na prática pastoral da Igreja, no que se refere a autorização para comunhão aos divorciados, divórcio e controle da natalidade. Convidamos nossos amigos e leitores a também expressar esta preocupação junto aos representantes brasileiros no Sínodo da Família, e a outros clérigos e leigos que julgarem oportuno, no sentido de que a aprovação das propostas apresentadas pelo Cardeal Kasper implicará em um grave prejuízo para a evangelização das famílias e para toda a Igreja de forma geral. Apresentamos a seguir os e-mails de contatos destes representantes e, a título de sugestão apenas, propomos o seguinte texto para o referido e-mail: Pedimos que neste Sínodo da Família [título e nome a quem o e-mail se dirige] se oponha de forma vigorosa às propostas na linha apresentada pelo Cardeal Kasper, e que como alternativa a elas, como fortalecimento e preservação da família, seja incentivada a natalidade. Ema. Revma. Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer: imprensa@arquidiocesedesaopaulo.org.br Ema. Revma. Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis: domdamasceno@uol.com.br Ema. Revma. Cardeal Dom Orani João Tempesta: contato@arqrio.org Excia Revma. Dom Edgard Amine Madi: edgardmadi@gmail.com Senhor e Senhora Arturo e Hermelinda Zamperline: secretariado@ens.org.brSegue a carta enviada a Dom Odilo Pedro Scherer:
São Paulo, 22 de setembro de 2.014
Dom Odilo Pedro Scherer Cardeal Arcebispo Metropolitano de São Paulo Cúria Metropolitana de São Paulo Em mãos Eminência Reverendíssima Inicialmente permita-me que me apresente: meu nome é Alberto Luiz Zucchi resido desde meu nascimento há 54 anos na diocese governada por V. Ema. Revma., no bairro do Belém e frequento regularmente as missas dominicais na Igreja São Paulo Apostolo localizada no mesmo bairro. Sou presidente da Associação Cultural Montfort, uma associação civil que é constituída principalmente, por muitas famílias católicas, que se reúnem aos finais de semana, em nossa sede, com o objetivo de fortalecer os laços familiares tão atacados em nossa sociedade moderna, como bem retratou o Papa Francisco no Consistório realizado em fevereiro deste ano: “Hoje, a família é desprezada, é maltratada, pelo que nos é pedido para reconhecermos como é belo, verdadeiro e bom formar uma família, ser família hoje; reconhecermos como isso é indispensável para a vida do mundo, para o futuro da humanidade”. Como não poderia deixar de ser, nossas atenções têm se voltado para a realização da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, convocada para discutir o tema “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização” de 5 a 19 de outubro, conhecida nos meios de comunicação como “Sínodo da Família”, para o qual V. Ema. Revma. foi nomeado a fazer parte do Conselho Ordinário. Em primeiro lugar, atendendo às solicitações do Santo Padre, na Carta às Famílias de 25 de fevereiro de 2014 que pediu “o apoio da oração... especialmente da vossa parte, queridas famílias”, decidimos realizar uma novena à Sagrada Família, que se iniciará no dia 26 de setembro e terminará na véspera do início do sínodo. O texto desta novena consta do site de nossa associação: www.montfort.org.br. No dia 18 de outubro, realizaremos uma peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, e desde já, colocamos como intenção de todas as nossas ações nesta peregrinação, que o Espírito Santo ilumine os Bispos durante toda a realização do sínodo. Nós nos sentiremos muito honrados em receber de V. Ema. Revma. sugestões de outros exercícios de piedade que possam ser realizados para que seja atendido o desejo do Santo Padre. Na mesma carta, pede ainda o Santo Padre que as famílias “participem ativamente, na sua preparação, [do Sínodo] com sugestões concretas”, e é por esta razão que, especialmente neste momento em que notícias divulgadas nos meios de comunicação nos causaram grande preocupação, tomamos a liberdade de apresentar a V. Ema. Revma. algumas considerações. Não é necessário recordar que a doutrina e o ensinamento da Igreja católica sempre foram muito claros no que se refere à situação daqueles que, após terem contraído regularmente o sacramento do matrimônio, se separam e se unem com terceiros, pretendendo constituir uma nova união estável, e que são conhecidos atualmente como “casais de segunda união”. Estas pessoas por estarem publicamente em uma situação de pecado não podem ser admitidas ao sacramento da comunhão. Bastaria lembrar a decisão da Santa Sé de não reconhecer a união do rei Henrique VIII, que acarretou o afastamento de boa parte da Inglaterra da Igreja Católica, para se ter a dimensão da importância dada a este ensinamento. E não se diga que recentemente houve qualquer mudança. Os últimos Papas foram concordes em manter a mesma doutrina. Tal ensinamento foi um ponto de honra tanto do pontificado de São João Paulo II como de Bento XVI, apesar da verdadeira guerra de muitos organismos internacionais contra a Igreja Católica. Sabemos que também na Diocese de São Paulo essa orientação tem sido seguida. Diversos sacerdotes nos informaram das determinações de V. Ema. Revma. de que os padres não devem comparecer a festas ou dar a benção a celebrações de “segunda união” pois isto se constitui em uma simulação de sacramento. Ora, abençoar é muito menos do que dar a comunhão. É conhecida não somente na Arquidiocese Metropolitana de São Paulo, mas em todo o Brasil, sua corajosa entrevista concedida a Revista Veja em 26/11/2012 na qual V. Ema. Revma. afirmou “O sínodo não vai alterar a palavra de Deus, da qual a Igreja é fiel depositária”. Entretanto, o que nos causa profunda perplexidade e preocupação são notícias de que algumas autoridades da Igreja, em particular o Cardeal Walter Kasper, alegando supostas razões pastorais, pretendem que o Sínodo proponha uma alteração para o ensinamento da Igreja. Vejamos como se expressa o Cardeal em entrevista publicada no site “Vatican Insider” em 17 de setembro de 2014: Pergunta: Cardeal Walter Kasper, você discorreu em fevereiro sobre o sínodo para os cardeais e propôs uma hipótese sobre a possibilidade da comunhão para os divorciados que tornam a se casar, em que consiste esta hipótese? Cardeal Kasper: Não propus uma solução definitiva senão depois de ter me colocado em acordo com o Papa – fiz algumas perguntas e ofereci considerações para possíveis respostas. Este é o argumento principal: o sacramento do matrimônio é uma graça de Deus, que converte os esposos em um sinal de sua graça e de seu amor definitivo. Até um cristão pode fracassar e, desgraçadamente hoje há muitos cristãos que fracassam. Deus, em sua fidelidade, não deixa ninguém cair, em sua misericórdia dá a quem quer se converter uma nova oportunidade. Portanto, a Igreja, que é sacramento, quer dizer o sinal e o instrumento da misericórdia de Deus, deve ajudar, aconselhar e animar. Um Cristão nesta situação tem uma necessidade particular da graça dos sacramentos. Não se pode conceder segundas núpcias, senão – como diziam os Padres da Igreja – após o naufrágio, uma barca para sobreviver. Não um segundo matrimônio sacramental, senão os meios sacramentais necessários para a sua situação. Não se trata de uma solução para todos os casos, que são muito diferentes, senão para aqueles que façam tudo o que seja possível em suas situações. A cínica alegação do Cardeal Kasper – jamais pensamos que teríamos que utilizar este adjetivo nos referindo a um Cardeal da Santa Igreja mas, infelizmente, a presente situação parece exigir isto - de que essa medida seria a solução para alguns casos, já permite a ele propor uma alteração na aplicação geral da doutrina da Igreja, que implicaria necessariamente na própria e real alteração desta doutrina, levando a Igreja a reconhecer, como lícita e aprovada a “segunda união”. E tudo isto baseado em uma absurda noção de sacramento e de misericórdia, muito mais próxima das novelas brasileiras do que da ação de Nosso Senhor relatada nos Evangelhos. Como se em dois mil anos de existência a Igreja Católica não tivesse agido com misericórdia com aqueles que se encontram nesta situação. Teria faltado misericórdia no caso de Henrique VIII mencionado acima? Para o Cardeal Kasper certamente a resposta seria positiva. Evidentemente, as considerações do Cardeal Kasper levam a perguntar se o matrimônio continuaria a ser indissolúvel e é neste sentido que a entrevista prossegue. Pergunta: Põe você em dúvida a indissolubilidade do matrimônio cristão? Cardeal Kasper: A doutrina da indissolubilidade do matrimonio sacramental se baseia na mensagem de Jesus; a Igreja não tem o poder de muda-la. Este ponto não muda. Um segundo matrimônio sacramental, enquanto o cônjuge esteja com vida não é possível. Mas deve-se distinguir a doutrina da disciplina, quer dizer a aplicação pastoral em situações complexas. Ademais, a doutrina da Igreja não é um sistema fechado: o Concílio Vaticano II ensina que há um desenvolvimento, no sentido de um possível aprofundamento. Pergunto-me se é possível, neste ponto, levar a cabo um aprofundamento semelhante ao que se deu na eclesiologia: ainda que a Igreja Católica seja a verdadeira Igreja de Cristo, há elementos de eclesiologia também além das fronteiras institucionais da mesma Igreja católica. Em certos casos não se poderia reconhecer também em um matrimônio civil alguns elementos do matrimônio sacramental? Por exemplo o compromisso definitivo, o amor e o cuidado recíproco, a vida cristã, o compromisso público, que não existem em uniões de fato. Haveria um outro adjetivo mais adequado do que cínica a ser atribuído a esta afirmação do Cardeal? Ele inicia reafirmando a doutrina tradicional da Igreja, dizendo ser ela imutável e tendo origem em Nosso Senhor, para apenas algumas linhas abaixo propor sua mudança baseada no Concílio Vaticano II. Assim, é inevitável concluir que o Concílio Vaticano II seria contrário ao ensinamento de Nosso Senhor, segundo o Cardeal Kasper. Ora, não há nada no Concílio Vaticano II que autorize essa absurda interpretação de seus textos pelo Cardeal Kasper - a não ser que se considere o que muitos teólogos chamam de o “espírito do concílio”, mas também este tipo de interpretação tem sido repetidamente condenado pelos Papas. Vê-se, portanto, que o Cardeal Kasper contradiz diretamente a doutrina católica, abandona o ensinamento antigo e recente da Igreja Católica, contraria o ensinamento dos Papas, e tudo em nome das supostas razões pastorais. É sobre estas razões pastorais que gostaríamos de nos pronunciar a V. Ema. Revma., atendendo ao desejo do Papa na carta já mencionada. Afirma o Cardeal Kasper que a concessão da comunhão para os casais de segunda união seria um ato de misericórdia e de união, que os aproximaria mais da Igreja e dos sacramentos. Esta consideração só pode vir de alguém que jamais se preocupou em de fato fazer apostolado com pessoas que se encontram nesta situação, uma vez que a verdade é bem exatamente o contrário. Vejamos o que acontece na realidade. Infelizmente, há muito tempo o casamento deixou de ser visto, mesmo no âmbito católico, como um sacramento, conforme definido no catecismo da Igreja Católica: “Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo (nº 1084) O matrimonio tornou-se a união de duas pessoas que procuram cada uma, no outro, a sua própria felicidade. A mentalidade do mundo moderno, egoísta ao extremo, apresenta o casamento como tendo por objetivo uma satisfação pessoal. Busca-se no outro alguma vantagem própria, sobretudo o prazer e a exaltação de algum sentimento. Encerrada esta satisfação, encerra-se o casamento. Esta lamentável situação em que se encontra o casamento não é uma simples opinião das famílias da Montfort. Ela tem sido apresentada por inúmeras autoridades eclesiásticas, e para maior brevidade transcrevemos aqui apenas uma citação, que certamente é suficiente, do Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium “66. A família atravessa uma crise cultural profunda, como todas as comunidades e vínculos sociais. No caso da família, a fragilidade dos vínculos reveste-se de especial gravidade, porque se trata da célula básica da sociedade, o espaço onde se aprende a conviver na diferença e a pertencer aos outros e onde os pais transmitem a fé aos seus filhos. O matrimonio tende a ser visto como mera forma de gratificação afetiva, que se pode constituir de qualquer maneira e modificar-se de acordo com a sensibilidade de cada um. Mas a contribuição indispensável do matrimonio à sociedade supera o nível da afetividade e o das necessidades ocasionais do casal. Como ensinam os Bispos franceses, não provém “do sentimento amoroso, efémero por definição, mas da profundidade do compromisso assumido pelos esposos que aceitam entrar numa união de vida total”. Ora, no acordo egoísta do casamento moderno, os filhos não têm lugar. Eles são apresentados como terceiros, intrusos não convidados que podem atrapalhar a “festa do prazer”, que podem diminuir a satisfação pessoal, que podem frustrar os planos para a realização afetiva. Os filhos destroem os sonhos românticos e colocam o casal diante da realidade criada por Deus. Mesmos casais considerados conservadores, ou seja, aqueles que ao menos procuram de alguma forma cumprir a lei de Deus, consideram os filhos um fardo, que um Deus intransigente colocou no casamento e que devem ser suportados como se fosse um imposto a ser pago pela felicidade da vida em comum. Em razão desta mentalidade antinatalista multiplicaram-se os métodos de controle da natalidade. Sempre as mesmas desculpas: questões econômicas, sociológicas, psicológicas, etc. exigem que se limite os filhos. A lógica da ideia moderna sobre o casamento conduz obrigatoriamente ao controle da natalidade. Assim, o Cardeal Kasper, adotando o pensamento moderno sobre o matrimonio, também defenderá o controle da natalidade, conforme o site http://secretummeummihi.blogspot.fr/ em 21 de setembro de 2.014: “Uma área do ensinamento onde a consciência de muitos católicos está em desacordo com o ensinamento oficial é a proibição da Igreja sobre a anticoncepção demonstrada na Encíclica Humanae Vitae. O Cardeal Kasper disse que não tem solução e que esperava que o problema seria discutido no sínodo. “Promover um sentido de que ter filhos é uma boa coisa, isto é o primeiro. Então, como fazer e como não fazer, isto é uma questão secundária. Por suposto, os pais têm que decidir quantos filhos são possíveis. Isto não pode ser decidido pela Igreja ou por um bispo, isto é responsabilidade dos pais”, disse o cardeal, insinuando que os métodos naturais de planejamento familiar podem também ter um elemento artificial”. Pelo menos o Cardeal é coerente em seu cinismo. Após afirmar que os filhos são uma coisa boa, ele imediatamente dá como necessário o controle da natalidade através de métodos naturais, como se isto sempre fosse algo lícito e não uma raríssima exceção a ser tratada em confessionário de forma particular, para então insinuar a adoção de métodos artificiais sempre condenáveis em qualquer situação. Que enorme diferença entre aquilo que fala o Cardeal Kasper e o verdadeiro ensinamento da Igreja Católica, tão bem expresso na Encíclica Casti Connubii de Pio XI: “6. Entre os benefícios do matrimónio ocupa, portanto, o primeiro lugar, a prole. Na verdade, o próprio Criador do género humano que, na sua bondade, quis servir-se dos homens como ministros seus para a propagação da vida, assim o ensinou quando, no paraíso terrestre, instituindo o matrimónio, disse aos nossos primeiros pais e, neles, a todos os futuros esposos: ‘crescei e multiplicai-vos e enchei a terra’. Esta mesma verdade a deduz brilhantemente Santo Agostinho das palavras do Apóstolo S.Paulo a Timóteo, dizendo ‘que a procriação dos filhos seja a razão do matrimónio’, o Apóstolo testemunha nestes termos: ‘eu quero que as jovens se casem’. E como se lhe dissessem: ‘mas por quê?’, logo acrescenta: ‘para procriarem filhos, para serem mães de família”. Mas a mentalidade do mundo moderno, diante da qual o Cardeal Kasper quer que a Igreja se ajoelhe, não admite este pensamento. E o contrato de egoísmo em que se transformou o casamento moderno só pode gerar infelicidade como disse o Santo Padre na já referida carta: “Todavia, se falta o amor, falta a alegria; e Jesus é quem nos dá o amor autêntico”. Portanto, o amor que existe no casamento de hoje não é o amor autêntico, não é o amor de Cristo, mas o amor próprio egoísta, e o egoísmo nunca deseja a aproximação aos sacramentos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo. Este egoísmo, na realidade, como todo egoísmo, não aceita qualquer crítica ou condenação. É por esta razão que cada um dos cônjuges não admite, de forma alguma, a responsabilidade sobre a separação. A culpa pelo fracasso matrimonial tem que ser atribuída ao outro. Neste sentido são sintomáticas as afirmações do Padre Paul Anthony McGavin, teólogo e professor da Universidade de Canberra publicados em http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/1350864?sp=y e ardoroso defensor das propostas do Cardeal Kasper, mas não tão ardoroso defensor dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo: No confessionário as histórias de separação, do fracasso de um matrimônio não se centram, em sua maioria, em “impurezas” de um ou outro tipo. Os problemas principais são coisas como a falta de comunicação, crueldades repetidas, insensibilidade profunda, humilhação constante do outro que é tratado como uma mercadoria ou um provedor de bens ou serviços, e a morte da convivência que não é um matrimônio. A compreensão do confessor, expressada implicitamente ou com poucas palavras, via de regra, provoca o pranto do penitente. Não são tanto lágrimas de arrependimento e dor, como as de um alivio pelo fato de que alguém tenha escutado com compreensão e transmitido um sentido de misericórdia como aprendido de Jesus. Os imaginários penitentes do Padre Anthony têm uma atitude muito distante da “mulher do poço” corrigida por Nosso Senhor: quando Este observou-lhe que ela não estava casada, ela arrependida de seus pecados, os admitiu, não atribuindo a responsabilidade deles a incompreensão, insensibilidade ou humilhação de seus diversos maridos. E uma vez perdoada, reconhecendo seus erros procurou a outros, para que estes também pudessem conhecer o ensinamento de Cristo. Eis aqui um grande exemplo de evangelização para o Sínodo. Os impenitentes penitentes do Padre Anthony procuram alguém que lhes dê razão. Creio que é razoável supor que também o Padre Anthony se apresente assim diante de Deus. Não admitindo qualquer condenação, os casais de “segunda união”, não aceitam serem privados do sacramento da comunhão. Não que de fato desejem dela se aproximar para participarem das graças do sacramento, mas querem eles que a proibição seja retirada para serem aceitos pela sociedade. Assim como no confessionário do Padre Anthony eles não procuravam o perdão, na sociedade eles não querem demonstrar arrependimento, mas sim que seja reconhecido que nada de errado fizeram pois, se existe alguma culpa, ela é do outro. O número de casais de segunda união que frequenta as igrejas é diminuto. Alguns aceitam estar presentes à missa se tiverem uma função litúrgica, exatamente para demonstrar que contra eles não há qualquer censura. Tenho conhecimento de uma igreja em que o padre não permitia que um casal nesta situação, conhecido de toda a paróquia, comungasse. Mas ele os admitiu como ‘ministros da eucaristia´ e eles em muitas Missas distribuíam a comunhão, pois somente nesta condição eles aceitaram continuar a frequentar a Igreja. A esposa abandonada, que também frequentava a mesma igreja, não conseguindo aceitar a humilhação, deixou de ir à Missa. Qual então pode ser a solução para esta situação? Certamente não serão medidas que permitam, promovam ou ao menos facilitem a comunhão para os casais de “segunda união”. O que deve ser feito é promover as medidas que deem novamente estabilidade ao casamento. Dentre estas, sem dúvida, a mais importante é o incentivo a natalidade. É neste sentido que nós, da família Montfort, podemos dar nosso testemunho. Na Montfort existem dezenas de famílias com muitos filhos, as chamadas “famílias numerosas”. É comum as famílias terem seis ou sete filhos, algumas chegam a uma dezena de filhos. Algumas delas já estão caminhando para a segunda geração e a perspectiva de uma prole numerosa se mantém. Elas são das mais variadas classes sociais, de diferentes condições financeiras, de diferentes origens étnicas, algumas com predominância de sangue brasileiro, outras de imigrantes, de diferentes níveis de formação acadêmica, de diferentes idades, das mais variadas regiões brasileiras, das mais variadas profissões, etc. Podemos com segurança afirmar que as famílias da Montfort são um microcosmos do Brasil católico. Apesar de todas essas diferenças existe algo em comum. Todas elas são felizes e não há um único caso de separação. Portanto, para nós simplesmente não há o problema de casais de “segunda união”. E não falo aqui somente das famílias que atualmente frequentam nossa sede e nossas reuniões. Por diversas razões, algumas dessas famílias numerosas acabaram por se afastar de nosso convívio habitual. Ora, também nestas famílias, não temos notícia de separações e de “segunda união”. Assim, não atribuímos a nós mesmos a graça de estabilidade no casamento, mas sim ao cumprimento da lei divina. Nós também conhecemos algumas famílias com muitos filhos que nunca tiveram relação com a Montfort, também para elas não há notícia de “segunda união”. A origem, portanto, da infelicidade dos matrimônios modernos está na falta de caridade, na falta de amor aos filhos, na ilusão de que um casamento voltado para a satisfação dos cônjuges traz a felicidade, quando o que ocorre é exatamente o contrário. A comunhão sacrílega dos casais em segunda união, como se esta fosse apenas uma questão subjetiva, não trará a eles de volta a felicidade, pelo contrário, será mais um motivo para frustrações e remorsos. Já nossos primeiros pais descobriram que a promessa do “pai da mentira” de que a desobediência traz felicidade é uma grande ilusão. Ilusão essa já criticada por V. Ema. Revdma. em artigo publicado no site da CNBB: “A verdade que a Igreja ensina sobre a família está longe de ser acolhida e aceita por todos; difundiu-se largamente a ideia de que a família é uma simples criação humana, fruto da evolução da espécie e de suas culturas...” V. Ema. Revma. poderá questionar os padres da diocese sobre a felicidade das “famílias numerosas”, infelizmente tão raras em nossos dias. Eles, que tem contato direto com paroquianos, certamente confirmarão nosso testemunho. Creio porém que V. Ema. Revma. não necessite desta consulta, porque também teve origem em uma família católica numerosa - sete irmãos - sendo, portanto, testemunha pessoal de nossas afirmações. Portanto, não temos dúvida de que os efeitos desta alteração disciplinar/doutrinária proposta pelo Cardeal Kasper serão desastrosos. Na realidade, ela não traria qualquer efeito benefício aos casais de segunda união, se transformaria em uma grande tentação para aqueles que se encontram em uma situação difícil no seu casamento e afastaria da Igreja as pessoas que cumprem seriamente seu dever matrimonial. Haveria ainda muitos exemplos para citar, mas esta carta já é longa e sabemos dos grandes afazeres de V. Ema. Revdma. Queremos, ainda, dizer que a gravidade do tema nos obriga a nos manifestarmos. E por esta razão estamos enviando cópia desta carta aos demais eclesiásticos brasileiros que participarão do Sínodo e pedindo a nossos amigos e leitores de nosso site que se manifestem também sobre a problemática em questão. Agradeço desde já a atenção a nós dispensada por V. Ema. Revdma., esperando que as propostas do Cardeal Kasper sejam banidas do Sínodo, uma vez que sua aprovação seria um tal desastre para a Igreja Católica que, se não fosse a garantia dada por Nosso Senhor sobre a sua perenidade, seria de temer o desaparecimento da Igreja. Assim, rogamos a V. Ema. Revdma. que neste Sínodo se oponha de forma vigorosa às propostas na linha daquela apresentada pelo Cardeal Kasper e que, como alternativa a elas, em prol do fortalecimento e preservação da família, seja incentivada a natalidade. Bem sabemos que uma intervenção como a que propomos no Sínodo da Família trará a V.Ema. Revdma. a incompreensão não só de alguns de seus pares, como o ódio incontido da grande imprensa internacional e de muitas organizações sempre dispostas a combater a Igreja. As mães das famílias da Montfort conhecem bem esta incompreensão e este ódio, muitas vezes gratuito e completamente sem razão. Entretanto, temos confiança de que as bênçãos de Nosso Senhor e a proteção de Nossa Senhora não lhe faltarão. Mas o incentivo da Igreja à natalidade é certamente uma questão que “desafia a evangelização” e por isto, como observou V. Ema. Revdma. no artigo publicado pela CNBB, já mencionado acima, deve ser tratada no Sínodo da Família. De nossa parte, tenha certeza de poder contar com nosso apoio em tudo que for necessário. Nós da Montfort estaremos dispostos a ser aqueles que, sempre cantando com muita alegria, permanecerão nas primeiras fileiras ao seu lado neste combate. E, quem sabe, Deus nos dê a graça imerecida de sermos dos primeiros a receber na alma as cores da vestimenta de Vossa Eminência. Ao final desta carta aproveito para agradecer todos os favores que V. Ema. Revdma. nos tem prestado e apresento, para que V. Ema. Revdma. possa conhecer um pouco das famílias de nossa associação, uma foto da última festa comemorativa de nossa fundação, a qual foi realizada em um sítio no interior de São Paulo. Prometemos especialmente a V. Ema. Revdma. as orações dessas famílias para que o Espirito Santo o ilumine neste importante Sínodo. Anexo a esta carta deixo meus contatos para, caso seja do interesse de V. Ema. Revdma., qualquer informação adicional ou mesmo um encontro pessoal, me colocar a sua disposição nos dias e horários que lhe forem mais convenientes. Colocando-nos sob a proteção especial de Nossa Senhora que prometeu em Fátima “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará”, pedimos a benção de V. Emcia. Revdma e beijamos seu sagrado anel._____________________________________
Alberto Luiz Zucchi
Associação Cultural Montfort
Presidente
Para citar este texto:
"Pedido aos leitores que manifestem-se contra as propostas do Cardeal Kasper para o Sínodo da Família"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/vida/manifeste-se-contra-as-propostas-do-cardeal-kasper-para-o-sinodo-da-familia/
Online, 22/12/2024 às 06:28:14h