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Uma rosa oferecida a Maria (Parte 2)
Rafael Acácio
"A oração com Maria, especialmente o Terço, [nos] dá apoio na luta contra o maligno e seus aliados. O Terço também nos sustenta nesta batalha...” Papa Francisco em 15 de agosto de 2013, na homilia da Assunção de Maria.
O presente artigo é a continuação de nosso artigo sobre os grandes benefícios concedidos por Nossa Senhora à todos aqueles que rezam o terço. Em 11 de fevereiro de 1858 Nossa Senhora realiza uma série de aparições para uma camponesa, de nome Bernadete Soubirous, na região de Lourdes, sul da França. A jovem, mais tarde canonizada, descreve a Mãe de Deus como sendo uma Dama de branco que trazia consigo um terço. De acordo com Santa Bernadete: “...vi uma Dama vestida de branco. Tinha um vestido branco, um véu branco, um cinto azul e uma rosa em cada pé, da cor da corda do seu terço. Coloquei a mão no bolso, para pegar o meu terço. Queria fazer o sinal da cruz, mas em vão. Não pude levar a mão até a testa, a mão caía. Então o medo tomou conta de mim, era mais forte que eu. Todavia, não fugi. A Dama tomou o terço que segurava entre as mãos e fez o sinal da cruz. Minha mão tremia, porém tentei uma segunda vez, e consegui. Assim que fiz o sinal da cruz, desapareceu o grande medo que sentia, e fiquei tranquila”. Só depois de fazer o sinal da cruz e passar a desfiar o rosário que Santa Bernadete se viu consolada e sem medo. Relata ainda a Santa que em outra aparição: “Coloquei-me de joelhos. Rezei o terço, tendo sempre ante meus olhos aquela bela Dama. A visão fazia escorrer o terço, mas não movia os lábios. Quando acabei o meu terço, com o dedo Ela fez-me sinal para me aproximar, mas não ousei. Fiquei sempre no mesmo lugar. Então desapareceu imprevistamente”. Notem que Santa Bernadete só é chamada para se aproximar de Nossa Senhora quando termina de rezar seu terço. Do mesmo modo acontece com nós, pois é com a prática do santo Rosário que chegamos à Santíssima Virgem. O único modo de entrar no Paraíso é por meio de Maria e, o modo mais eficiente para chegarmos a essa tão boa Mãe é através do santo Rosário. Assim, podemos dizer que se Nossa Senhora é a porta do Céu, o Rosário, para o batizado, é a chave que nos permite passar por essa santa porta. Em outra ocasião Santa Bernadete leva à Nossa Senhora o terço de uma amiga, que havia lhe pedido. Na hora de rezá-lo a Mãe de Deus lhe pergunta “Onde está o teu terço?”. Santa Bernadete imediatamente põe a mão no bolso e retira seu próprio terço. Sorrindo, a Virgem lhe diz: “Usai-o”. Nossa Senhora conhece a cada um de seus filhos e os conhece pelos seus respectivos Rosários, pois é por meio deles que Ela é coroada de flores.“Onde está o teu terço? Usai-o”.
Retornando a primeira parte de nosso artigo encontramos as aparições de Fátima, onde o Rosário é constantemente lembrado pela mãe de Deus. Em 13 de maio de 1917, data da primeira aparição, a Virgem Maria tem um interessante diálogo com Lúcia, a mais velha dos pastorinhos (com 10 anos de idade) e, a única que podia falar com a Mãe de Deus. Destaco duas partes que têm íntima relação com o tema. Disse Nossa Senhora à Lúcia: – Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia e a esta mesma hora, depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez. – E eu também vou para o Céu? – Sim, vais! – E a Jacinta? – Também. – E o Francisco? – Também, mas tem que rezar muitos terços... Em outro momento, já ao final da primeira aparição, disse a Mãe de Deus: “Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz do mundo e o fim da guerra”. Nossa Senhora, mais uma vez, deixa claro que o terço é o meio pelo qual nós alcançamos o Céu. Que Francisco está no Céu porque, obediente a Nossa Boa Mãe, rezou muitos terços. Que a simples recitação do rosário é capaz de trazer paz ao mundo, tão conturbado atualmente pela perda da fé. No mês seguinte, conforme o prometido, a Virgem aparece novamente aos pastorinhos e, novamente, em novo diálogo com Lúcia, pede que o terço seja rezado cotidianamente. – Vossemecê que me quer? – Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero. Em 13 de Julho, já com uma grande multidão na Cova da Iria, a Mãe de Deus novamente surge aos pastorinhos. Destaco algumas partes dessa aparição: – Vossemecê que me quer? Perguntou Lúcia. – Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer. Nesse sentido, convém lembrar de algumas indulgências que a Igreja nos concede quando rezamos o terço em honra à Nossa Senhora do Rosário. As indulgências, a grosso modo, nos redimem da pena temporal devida aos pecados já confessados e perdoados. Assim, diz a Igreja que: Os fiéis que a qualquer tempo do ano devotamente oferecerem suas orações em honra a Nossa Senhora do Rosário, com a intenção de continuar as mesmas por nove dias consecutivos, podem lucrar: a) Uma indulgência de 5 anos uma vez a qualquer dia da novena; b) Uma indulgência plenária sob as condições usuais no encerramento da novena. (Pio IX, Audiência de 3 de janeiro de 1849; S. C. dos Bispos e religiosos, 28 de janeiro de 1850; S. C. ind., 26 de novembro de 1876; S. P. Ap., 29 de junho de 1932) V Raccolta 396. Os fiéis que resolverem realizar um exercício de devoção em honra a Nossa Senhora do Rosário por quinze ininterruptos sábados (ou sendo impedidos, por quantos respectivos domingos imediatamente seguintes), se devotamente recitarem no mínimo a terça parte do Rosário ou meditarem seus mistérios em alguma outra maneira, podem lucrar: a) Uma indulgência plenária sob as condições usuais, em qualquer destes quinze sábados ou domingos correspondentes (S.C. Ind., 21 de setembro de 1889 e 17 de setembro de 1892; S. P. Ap., 3 de agosto de 1936). Raccolta 397. Fechando esses parênteses e retornando à Cova da Iria, ainda na terceira aparição, relata a Irmã Lúcia: Aqui, fiz alguns pedidos que não recordo bem quais foram. O que me lembro é que Nossa Senhora disse que era preciso rezarem o terço para alcançarem as graças durante o ano... Mais adiante, após os pastorinhos terem tido a visão do inferno, Nossa Senhora os consola dizendo que: Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem. Nossa Senhora tem tanto zelo para com seus filhos que, sabendo da eficácia do Rosário, insiste reiteradas vezes para que o Rezemos. É notável a atenção que a Mãe de Deus, em Fátima, dispensa para o Rosário acrescentando, inclusive, uma oração, onde pedimos a Nosso Senhor que nos livre da perdição eterna. Nas duas aparições seguintes Nossa Senhora novamente lembra que o terço deve ser rezado diariamente e que somente assim a Guerra chegaria ao fim: “Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias...” e “Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra...”. Em sua sexta aparição em 13 de Outubro, com milhares de pessoas de todas as partes de Portugal, diante de autoridades políticas e religiosas, Nossa Senhora aparece mais uma vez aos pastorinhos. Grandes foram os prodígios concedidos pela Mãe de Deus nessa aparição, pois, a fim de dar autenticidade às aparições, a Santíssima Virgem fez o milagre prometido, conhecido como o “milagre do Sol”. Nessa aparição, Lúcia, novamente se dirigindo à Virgem, diz: - Que é que Vossemecê me quer? – Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. Maria, por ser a própria Senhora do Rosário, sabe que tudo que pedimos por meio do terço nos é alcançado. Por esse motivo Ela insiste que rezemos cotidianamente o Rosário, pois qual mãe não deseja ajudar um filho? Nossa Senhora quer levar todos os seus filhos ao Céu e, para isso, ensina o caminho mais seguro: a recitação cotidiana do Rosário. Também é interessante notar como Nossa Senhora pede continuamente que o terço seja rezado para que a Guerra termine. Evidente que Ela se referia à Grande Guerra que acometia o mundo à época das aparições, mas, de modo análogo, Nossa Senhora também fala para todos nós. Quando rezamos o terço obtemos paz de corpo e de alma, e vemos cessadas as tribulações que nos afastam do caminho da salvação. No final de cada terço, na oração do Salve Rainha, admitimos que o mundo onde vivemos é um vale de lágrimas, e que o único refúgio seguro é a Doce e Sempre Virgem Maria. A guerra que travamos contra as tentações do mundo só pode ser vencida com o auxílio e amparo dessa Mãe de Misericórdia, que jamais repele pessoa alguma. Sem o terço a guerra está perdida. Devemos, portanto, rezar o terço para chegarmos à Maria e alcançarmos, vitoriosos, o fim da guerra. Em dezembro de 1925, na Espanha, a Santíssima Virgem novamente apareceu à Irmã Lúcia e, como sempre, essa boa mãe veio com o intuito de nos salvar. Ela, em troca de nossa salvação, pede que durante cinco meses, ao primeiro sábado, confessemos nossos pecados, comunguemos, rezemos um Terço e meditemos por quinze minutos os mistérios do Rosário. O Rosário e seus mistérios, novamente são o caminho utilizado por Maria para nos dar a salvação. Disse a Mãe de Cristo: “Olha, minha filha, o Meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao 1º sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.”“sou a Senhora do Rosário”
Por ser um eficaz meio de salvação, o número de documentos papais que falam direta ou indiretamente do Rosário é imenso, de modo que, seria uma tarefa árdua citar todos. Mas, a fim de trazer um pouco das palavras daqueles que sentaram na cátedra de Pedro, copio dois trechos de duas diferentes encíclicas: "Ninguém ignora quantos dissabores e amarguras causaram à Santa Igreja de Deus, a finais do século XII, os hereges albigenses que, nascidos da seita dos últimos maniqueus, encheram de seus perniciosos erros o Sul da França e outros países do mundo latino, e levando adiante o terror de suas armas, ameaçaram estender por toda a parte o seu domínio com o extermínio e a morte. Contra tão terríveis inimigos, Deus misericordioso suscitou o egrégio e santíssimo Pai e Fundador da Ordem dominicana. Este, pela integridade da sua doutrina, pelo exemplo das suas virtudes e seus trabalhos apostólicos, empreendeu com ânimo varonil a luta pela Igreja Católica, não com a violência nem com as armas, mas fiado na excelsa súplica que com o nome de santo Rosário de Maria foi o primeiro a instituir e, quer por si quer pelos seus filhos, espalhou ao longe e ao largo. Compreendeu, por divina inspiração e assistência, que em virtude dessa oração, como por meio de poderosíssima máquina bélica, venceria as hostes inimigas e confundiria a sua impiedade e audácia. Assim aconteceu, como o provam os fatos. Graças a este modo de orar recebido e posto em prática por instituição do Pai São Domingos, começou a restabelecer-se a piedade, a fé e a concórdia e foram destruídos os propósitos dos hereges, muitos extraviados regressaram ao bom caminho e o furor dos ímpios foi dominado pelas armas católicas empregadas para os reduzir". Leão XIII, na encíclica Supremi Apostulus de 01 de setembro de 1883. Pio XII, na Encíclica Ingruentium malorum de 1951, afirma "Será vão o esforço de remediar a situação decadente da sociedade civil, se a família, princípio e base de toda a sociedade humana, não se ajustar diligentemente à lei do Evangelho. E Nós afirmamos que, para desempenho cabal deste árduo dever, é sobretudo conveniente o costume do Rosário em família. De novo, pois, e categoricamente, não hesitamos em afirmar de público que depositamos grande esperança no Rosário de Nossa Senhora como remédio dos males do nosso tempo". A importância do terço não é somente ressaltada no passado da Igreja, uma vez que, também o Papa Francisco, em uma de suas homilias, trata sobre o terço como uma eficiente arma na luta contras as forças do mal. São palavras do Santo Padre: “...Ela (Maria), é claro, entrou definitivamente na glória do Céu. Mas isso não significa que Ela esteja longe, que esteja separada de nós; na verdade, Maria nos acompanha, luta conosco, sustenta os cristãos no combate contra as forças do mal. A oração com Maria, especialmente o Terço – atenção: o Terço! Rezais o Terço todos os dias? Mas, não sei não... [os fiéis gritam: sim!] Sério? Bem, a oração com Maria, especialmente o Terço, também tem essa dimensão “agonística”, ou seja, de luta, uma oração que dá apoio na luta contra o maligno e seus aliados. O Terço também nos sustenta nesta batalha...” “Repercorremos alguns acontecimentos do caminho de Jesus, da nossa salvação, juntamente com Aquela que é a nossa Mãe, Maria, Aquela que com mão firme nos guia rumo ao seu Filho Jesus. Maria guia-nos sempre para Jesus”. (Papa Francisco em recitação do Santo Rosário). Devemos, portanto, adotar esse santo costume e rezar o terço diariamente para honrar e oferecer as mais belas flores à Santíssima Virgem Maria. Sejamos como a capelinha das aparições: humildes e obedientes à santíssima Virgem, que nos pede que rezemos seu Rosário. Peçamos à nossa Boa Mãe com confiança e fé, pois, como disse Nosso Senhor “Tudo quanto pedirdes na oração, crede que o haveis de conseguir” (Mc 11, 24). Juntemos com essa confiança nossa perseverança e gratidão à Sempre Virgem Maria! Coroemos Nossa Senhora! E permaneçamos fiéis ao seu Imaculado Coração até o fim de nossas vidas, para que, por recompensa, recebamos a nossa coroa na Glória eterna: “Permanece fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2, 10). Coloquemos em prática as palavras de São Pio X, que diz: "O Rosário é a mais bela e a mais preciosa de todas as orações à Medianeira de todas as graças: é a prece que mais toca o coração da Mãe de Deus. Rezai-o todos os dias". Toquemos, pois, o Imaculado Coração de Maria. E peçamos que Ela toque o nosso. Rezemos nossos terços. E nos preparemos para as grandes lutas que se aproximam Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós. Rafael Acácio. MONTFORT, S. Luís Grignion de. A eficácia maravilhosa do Santo Rosário. Editora Artpress, São Paulo, 2000; GONZAGA, João Bernardino. A inquisição em seu mundo. 8ª edição, 1994. São Paulo, Editora Saraiva. KONDOR, Luís Padre. Memórias da irmã Lúcia. 13ª edição, 2007. Fátima, Editora Postulação.Para citar este texto:
"Uma rosa oferecida a Maria (Parte 2)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/uma-rosa-oferecida-a-maria-parte-2/
Online, 03/12/2024 às 17:23:38h