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Onde o Céu toca a terra: um percurso pelo Rito Romano Tradicional – Parte 7
Marcos Bonelli
[caption id="attachment_32841" align="aligncenter" width="701"] O Credo é recitado na Missa, a partir do século VI, como forma de combater as heresias[/caption] i) A homilia A leitura da Sagrada Escritura seria quase sempre sem frutos se não houvesse uma explicação dela. "Ora, um anjo do Senhor, dirigindo-se a Felipe, lhe disse: Levanta-te e vai para o lado do meio-dia em direção à estrada que vai de Jerusalém a Gaza; esta está deserta. E ele, levantando-se, partiu. E eis que um homem etíope, eunuco, valido de Candace, rainha da Etiópia, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, tinha ido a Jerusalém para fazer adoração a Deus; e voltava sentado sobre o seu coche, e ia lendo o profeta Isaías. Então disse o Espírito a Felipe: Avança, e aproxima-te desse coche. E, correndo Filipe, ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías, e disse: Compreendes o que lês? E ele disse: Como poderei eu compreender se não houver alguém que mo explique?" (Atos dos Apóstolos 8, 26-31). A homilia após as leituras é um dos elementos mais antigos da liturgia. São Paulo, no capítulo 20 dos Atos dos Apóstolos, faz um sermão durante a Missa. São Justino nos diz que "quando o leitor terminou, o celebrante nos avisa e nos exorta em um discurso a seguir esses gloriosos exemplos" (I Apologia, 67, 4). Os textos que temos e os comentários feitos sobre a Sagrada Escritura nos mostram que o lugar habitual do sermão sempre foi depois das leituras. O padre que faz o sermão depois das leituras na Missa repete o que seus predecessores de todas as épocas, desde os Apóstolos, sempre fizeram. São Leão Magno, São João Crisóstomo e São Gregório Magno têm sermões que são verdadeiros tesouros, onde encontramos muita erudição, uma explicação segura da fé, um amor ardente por Deus. O sermão é uma fonte importante de instrução para o povo. Porém, não é parte necessária da Missa e o padre mostra isto retirando o manípulo para fazê-lo, e ainda retirando também a casula quando prega no púlpito. j) O Credo Atualmente todas as liturgias têm um Credo. Entretanto ele não é uma parte antiga da missa, mas uma adição tardia. O Credo foi usado inicialmente como profissão de fé no ritual do batismo, antes do catecúmeno ser batizado. Por isso está escrito no singular: "Eu creio". A iniciativa de recitá-lo na missa partiu do Oriente. O Patriarca de Constantinopla, Timóteo, defensor do monofisismo, em sinal de desprezo por seu predecessor Macedônio, de doutrina correta, determinou, em 515, que se recitasse o Credo depois do Cânon e antes do Pai Nosso. Essa novidade foi bem recebida no Oriente e o Imperador Justiniano II a sancionou com uma lei em 568. Se no Oriente o Credo foi introduzido na Missa pelo defensor de uma heresia, no Ocidente o Credo será colocado na missa para combater os hereges. O primeiro país a usá-lo na missa será a Espanha, contra a heresia ariana. Em 589 o Terceiro Concílio de Toledo ordenou que ele fosse dito depois da Consagração e antes do Pai nosso, como uma preparação para a Comunhão. O padre segurava nas mãos a hóstia consagrada sobre o cálice e a elevava diante de todos, enquanto faziam juntos e em voz alta, a recitação do Credo. Da Espanha, o Credo rezado na Missa passou para o reino franco, na época de Carlos Magno, também como um remédio contra as heresias. Sua recitação foi vista como um meio eficaz no combate à heresia adocionista e insistiu-se que os padres aprendessem de cor o Credo Niceno-constantinopolitano. Ele deveria ser recitado sem mudanças mas, em 796, acrescentou-se a expressão "Filioque", isto é, "e do Filho". Foi nesta época que o Credo se introduziu na Missa depois do Evangelho e antes do Ofertório. O Papa Leão III consentiu no seu uso durante a Missa, mas não sabia que haviam acrescentado a expressão "Filioque". O acréscimo havia sido feito sem autorização e o Papa protestará. Em 810, o Papa terá uma discussão sobre a questão com os enviados de Carlos Magno. Apesar de sua proibição, o uso da expressão continuará e dará, mais tarde, discussões ásperas com os gregos. O Sacramentário Gregoriano não nos fala da existência de um Credo no Rito Romano. Sua inserção se dará numa época mais tardia. De fato, nós sabemos exatamente quando o Credo foi introduzido no Rito Romano. Temos o testemunho de Berno de Reichenau de uma conversa que ele presenciou em 1014. Ele estava em Roma com o Imperador Santo Henrique II (1002-1024). Santo Henrique observou que não havia Credo na Missa de sua coroação, em 14 de fevereiro de 1014, embora na Alemanha o Credo fosse recitado na Missa. Responderam ao santo Imperador que a Igreja de Roma nunca tinha sido atingida por qualquer heresia e que, portanto, a recitação do Credo não era necessária. O Imperador pediu que fosse feito e o Papa Bento VIII ordenou que se cantasse o Credo depois do Evangelho em Roma também. Como consequência o Rito Romano tradicional só recita o Credo Niceno-constantinopolitano, não usando a versão mais simples do Credo, como é feito na Missa de Paulo VI. Assim, desde o século XI, Roma tem o Credo no seu rito, com o "Filioque". Mas o fato de ser cantado somente nos domingos e festas, e não em todas as Missas, é consequência de não ser um elemento que sempre existiu na Missa. Leia também os anteriores artigos desta série, assinada pelo nosso colaborador Marcos Bonelli: Onde o Céu toca a terra: um percurso pelo Rito Romano Tradicional Encontre aqui a primeira parte, a segunda parte, a terceira parte , a quarta parte , a quinta parte e a sexta parte deste estudo.Para citar este texto:
"Onde o Céu toca a terra: um percurso pelo Rito Romano Tradicional – Parte 7"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/onde-o-ceu-toca-a-terra-um-percurso-pelo-rito-romano-tradicional-parte-7/
Online, 22/12/2024 às 05:54:44h