Política e Sociedade

O poder russo sempre foi um blefe
Orlando Fedeli


     Acaba de ser publicado no Washington Post, e reproduzido em O Estado de São Paulo, de 13 de Outubro de 2008, um artigo sumamente revelador de Murray Feshbach a respeito do “poder” da Rússia.
     
A mídia sempre apresentou – e continua a apresentar -- a Rússia e a China, como poderosíssimos gigantes, donos de uma força aterrorizadora.
     
A verdade é bem outra.
     
Murray Feshbach, que esteve mais de cinqüenta vezes na Rússia, nos conta, no artigo que abaixo transcrevemos, as misérias e as ruínas do agonizante “gigante” russo com poder ao nível de Gâmbia.
     
Para quem sabia ler isso era verdade clara ocultada pela propaganda orquestrada na mídia profundamente infiltrada por elementos encharcados de marxismo.
     
Por exemplo, o “poder” das armas soviéticas fora claramente desmentido por Israel nas guerras do Oriente Médio.
     
Agora, Murray Feschbach mostra que na guerra da Geórgia, abandonada por Bush, as armas vitoriosas da Rússia eram, de fato, “armamento enferrujado” e que o exército russo era “composto por recrutas indiferentes”. “O que o mundo viu em ação na Geórgia foi um arsenal muito defasado”.

 
     Diz Feschbach :
 
Por trás da superfície reluzente, porém, a sociedade russa se encontra num estágio ainda mais frágil do que na época soviética. As recentes aventuras militares do Kremlin e o seu discurso duro são a fanfarronice do fraco, e não a bravata do forte”.

     Feschbach analisa a decadência russa através do ângulo da saúde, e o que ele conta é estarrecedor.

Com base em dados da ONU, Feschbach mostra que a Rússia está ao nível de Gâmbia:
 
a expectativa média de vida para um homem russo é de 59 anos, o que coloca o país em 166º lugar entre as nações mais longevas, um pouco acima de Gâmbia”.

     Quanto à expectativa de vida para as mulheres – 73 anos – a Rússia está atrás de 126 nações
 
“A proporção de russos mortos em decorrência de doenças relacionadas ao coração por grupo de 100 mil habitantes é três vezes maior do que a registrada nos EUA e na Europa”.

     É de doer o coração!...
     
E “as mortes decorrentes da tuberculose na Rússia equivalem ao triplo do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como epidemia. O consumo de álcool per capita entre os russos é o dobro do que a OMS considera prejudicial à saúde”.

     Essa é a descrição do caos.
     Quanto à AIDS e ao vírus HIV, a Rússia apresenta estatísticas catastróficas pois “1 milhão de russos foram diagnosticadas como portadoras do HIV. Na Rússia, estima-se que serão registrados 25% mais casos de aids em 2008 do que em 2007”. E “80% dos infectados têm idade entre 15 e 29 anos”.
     
É a camada mais reprodutiva que está mais contaminada pelo vírus da AIDS, e isso significa uma tragédia em futuro próximo.
     
Feschbach dá uma comparação impressionente entre a situação russa e a americana:
 
Temos também a tuberculose. Lembra-se da tuberculose? Nos EUA, onde a população chega a 303 milhões de indivíduos, 650 pessoas morreram por causa da doença em 2007. Na Rússia, cuja população totaliza 142 milhões, foram impressionantes 24 mil mortes por tuberculose em 2007”.
 
     Segundo Fescbach, 91% dos hospitais russos para tratamento de tuberculose não têm padrão de higiene mínimo para o tratamento de qualquer doença.
     
E Feschbach fornece dados que comprovam o inferno hospitalar russo:
 
21% dos hospitais na Rússia apresentam falta de água quente ou mesmo fria. Pouco mais de 10% deles não tem um sistema de esgoto e 20% sofrerem com a falta de medicamentos para tuberculose”.
 
     Imagine-se: hospitais sem água corrente e sem esgoto!
     Esse é o fruto do marxismo. Pois Putin é comunista.
     Que terão a dizer disso os comunistas de sacristia da CNBB, o semi-frei Betto – o amiguinho de Fidel Castro – e o o ex frade Genésio Boff?
 

 
  
Apesar da retórica, a Rússia desmorona
Murray Feshbach*
 
O urso está de volta. É isso que muitos observadores da Rússia têm dito desde que as tropas do país invadiram a Geórgia, em agosto, anunciando que o homem forte da nação, o primeiro-ministro Vladimir Putin, estava mostrando suas garras e abrindo caminho de volta ao status de superpotência. O ressurgimento da Rússia tem sido abastecido - literalmente - por lucros milagrosos provenientes da exploração do petróleo e do gás, por um imenso salto nos gastos com a defesa nacional e pela atitude desafiadora exibida durante a surra aplicada à Geórgia, o vizinho da Rússia apoiado pelos EUA na fronteira do Cáucaso.
Muitos agora acreditam que o poderoso urso russo da Guerra Fria esteja acordando de sua hibernação. Mais devagar. As previsões afirmando que a Rússia se tornará novamente poderosa, rica e influente ignoram alguns problemas domésticos simplesmente devastadores que impedem qualquer marcha rumo ao topo. É claro que os soldados russos foram capazes de tomar um pequeno país como a Geórgia. Mas o exército de Putin ainda está em frangalhos, equipado com armamento enferrujado e composto por recrutas indiferentes.
Enquanto isso, uma população em declínio está tirando do Exército uma nova geração de soldados e a economia da Rússia continua quase totalmente dependente do preço do petróleo. E, o pior de tudo, o país enfrenta uma crise na saúde pública que beira a catástrofe.
É verdade que a paisagem urbana das cidades russas está repleta de guindastes. Lofts industriais são agora a última moda em Moscou, turistas russos lotam destinos remotos, como Tailândia e Caribe, e os magnatas russos estão comprando imóveis e obras de arte em Londres quase com a mesma rapidez que o fazem os seus equivalentes do petróleo do Golfo Pérsico.
Por trás da superfície reluzente, porém, a sociedade russa se encontra num estágio ainda mais frágil do que na época soviética. As recentes aventuras militares do Kremlin e o seu discurso duro são a fanfarronice do fraco, e não a bravata do forte. Apesar de a Rússia ter se capitalizado de maneira impressionante em cima da sua indústria petrolífera, a volatilidade do mercado mundial de petróleo significa que Putin não pode contar a longo prazo com um fluxo de dinheiro proveniente do alto preço do barril.

PETRÓLEO
 
Uma queda prevista em cerca de um terço no preço do petróleo certamente restringiria muito a capacidade de Putin de avançar seus programas ambiciosos, tanto no âmbito internacional quanto no nacional. Isso faz do anunciado plano de aumento de quase 26% nos gastos com a defesa nacional em 2009 - para reequipar o Exército com armamento de última geração - uma proposta arriscada.
O que o mundo viu em ação na Geórgia foi um arsenal muito defasado, coisa que levaria anos para substituir, mesmo que a Rússia pudesse arcar com o custo de US$ 200 bilhões envolvido numa tal operação.
Há algo ainda maior impedindo a marcha russa. Nas últimas décadas, principalmente depois do fim da União Soviética, em 1991, observou-se uma drástica deterioração na saúde do povo russo, o que põe a Rússia não na vanguarda dos países desenvolvidos, mas entre as nações mais atrasadas.
Trata-se de uma tragédia de imensas proporções - apesar de não ser surpreendente, ao menos não para mim. Acompanhei durante décadas o estado da população, da saúde e das questões ambientais na União Soviética. Recentemente, relatei o avanço da epidemia de aids e mostrei como essas e outras doenças estão arrasando o povo russo. Visitei a Rússia mais de 50 vezes no decorrer dos anos. Assim, posso dizer com base em minha experiência pessoal que essa calamidade nacional não está acontecendo subitamente. Está acontecendo inexoravelmente.
De acordo com números levantados pela ONU, a expectativa média de vida para um homem russo é de 59 anos, o que coloca o país em 166º lugar entre as nações mais longevas, um pouco acima de Gâmbia.


ATRASO

Para as mulheres o quadro é um pouco mais animador: a expectativa de vida é de 73 anos, quase empatando com a da Moldávia. Mas há ainda cerca de 126 países onde as mulheres poderiam viver mais tempo. E a lacuna entre as expectativas de vida masculina e feminina - 14 anos - é a maior do mundo desenvolvido. Afinal, o que está matando os russos?
A resposta são todas as causas habituais - aids, tuberculose, alcoolismo, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, suicídios, tabagismo, acidentes de trânsito. Todas elas, porém, ocorrem numa proporção preocupantemente alta e Moscou não dispõe nem dos recursos e nem da determinação para reverter esta maré.
Considere o seguinte. A proporção de russos mortos em decorrência de doenças relacionadas ao coração por grupo de 100 mil habitantes é três vezes maior do que a registrada nos EUA e na Europa.
Além disso, as mortes decorrentes da tuberculose na Rússia equivalem ao triplo do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como epidemia. O consumo de álcool per capita entre os russos é o dobro do que a OMS considera prejudicial à saúde.
Cerca de 1 milhão de russos foram diagnosticadas como portadoras do HIV. Na Rússia, estima-se que serão registrados 25% mais casos de aids em 2008 do que em 2007. E nenhum aspecto desse quadro deve melhorar tão cedo.
Peter Piot, chefe da Unaids, agência da ONU criada para responder à epidemia, disse durante entrevista coletiva que se sente "muito pessimista em relação ao que está acontecendo na Rússia e na Europa Oriental.
Nos EUA e na Europa Ocidental, 70% dos infectados pelo HIV são homens acima dos 30 anos. Na Rússia, 80% dos infectados têm idade entre 15 e 29 anos. E, apesar de os usuários de drogas injetáveis representarem cerca de 65% dos casos na Rússia, o país rejeitou oficialmente a metadona como forma de tratamento, apesar de isso reduzir o potencial de novas infecções pelo HIV.
Temos também a tuberculose. Lembra-se da tuberculose? Nos EUA, onde a população chega a 303 milhões de indivíduos, 650 pessoas morreram por causa da doença em 2007. Na Rússia, cuja população totaliza 142 milhões, foram impressionantes 24 mil mortes por tuberculose em 2007. Será possível que seja uma coincidência o fato de que apenas 9% dos hospitais russos para tratamento de tuberculose tenham padrão de higiene mínimo para o tratamento de qualquer doença?
Atualmente, 21% dos hospitais na Rússia apresentam falta de água quente ou mesmo fria. Pouco mais de 10% deles não tem um sistema de esgoto e 20% sofrerem com a falta de medicamentos para tuberculose.
Do outro lado do ciclo da vida, as notícias não são muito melhores. A taxa de natalidade russa está em declínio há mais de uma década. Mesmo se houvesse um aumento recente nos nascimentos, ele seria limitado pelo fato de que o número de mulheres entre 20 e 29 anos (as responsáveis por dois terços de todos os bebês) cairá muito nos próximos cinco anos como reflexo da queda de 50% na natalidade ocorrida na década de 1990. Infelizmente, a saúde dos recém-nascidos é também frágil, com 70% deles enfrentando complicações no nascimento.

MORIBUNDO

O urso segue cambaleando, movido por prioridades desastrosamente mal hierarquizadas e pelas expectativas caracterizadas pela falta de realismo e por causa de uma liderança política impulsionada pelo ressentimento. Moscou parece decidida a ignorar a devastadora verdade: o país não está doente, mas moribundo.

*Murray Feshbach escreveu este artigo para o “Washington Post”
 Publicado em O Estado de São Paulo, no dia 13 de Outubro de 2008. pág. A - 11

    Para citar este texto:
"O poder russo sempre foi um blefe"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/poder-russo/
Online, 30/10/2024 às 04:32:27h