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Nota sobre as cartas trocadas entre os Bispos da Fraternidade São Pio X
Alberto Zucchi
Alberto Zucchi
Decorridos apenas alguns dias da publicação da Carta de Monsenhor Pozzo ao Instituto do Bom Pastor - IBP, sem que ainda se tenha identificado o autor do “vazamento”, vêm a público duas novas cartas trocadas entre as principais personalidades da Fraternidade São Pio X. Novamente o autor da publicação se mantém no anonimato e novamente a publicação parece querer impedir, ou ao menos dificultar, a conclusão do acordo entre o Papa Bento XVI e Dom Fellay. A chamada “guerra do xerox" que tem atingido a Cúria Romana, se ampliou para o campo tradicionalista. A primeira das cartas tem como autores três bispos da Fraternidade São Pio X, Dom Tissier de Mallerais, Dom Williamson e Dom Galarreta, sendo dirigida ao Conselho Geral composto por Dom Bernard Fellay, Padre Nicklaus Pfluger e Padre Alain-Marc Nély. A segunda carta é a resposta aos Bispos apresentada pelo mesmo Conselho. As cartas contêm posições antagônicas em relação às negociações com o Vaticano. Os três bispos se apresentam contrários a qualquer possibilidade de acordo com o que eles chamam de “Roma atual”. Já o Conselho Geral considera necessária a realização do acordo sob pena de ocorrer um cisma de fato. A troca de cartas revela a amplitude e a complexidade da crise na Igreja, e antes de tudo, nos deixa claro como é importante, necessário e fundamental rezar, pedindo a Nosso Senhor e a Sua Mãe Santíssima o auxílio neste grave momento. Inicialmente, há de se notar que foi criada uma situação constrangedora para todos aqueles que defendem “a priori”, sem necessidade de qualquer exame, as posições adotadas pela Fraternidade São Pio X, uma vez que agora existem nela duas posições claramente divergentes. A pergunta inevitável que surge para aqueles que têm este pensamento é: que Fraternidade seguir, a da maioria dos Bispos ou a do Conselho Geral? Infelizmente, do ponto de vista natural, a divisão parece irreconciliável, sobretudo quando se lê os últimos parágrafos da carta do Conselho Geral. Para uma análise mais profunda e detalhada das cartas seria necessário conhecermos pormenores das negociações com o Vaticano, como também o debate que deve ter ocorrido “intra-muros” na FSSPX. Entretanto, não há como deixar de constatar que é a posição adotada por Dom Fellay e pelo Conselho Geral que está de acordo com a doutrina e o espírito da Igreja Católica. Para nós é com grande alegria que verificarmos que muitas das posições assumidas por Dom Fellay estão próximas àquelas defendidas pelo nosso estimado professor Orlando Fedeli. Dos muitos exemplos que poderíamos citar, destacamos apenas dois. O primeiro deles é a necessidade de obediência ao Papa em tudo aquilo que ele nos manda e que não é contrário a lei de Deus: algo diferente desta posição redunda em sério risco de cisma. Neste sentido, afirma Dom Fellay: “Para vocês [os três bispos da Fraternidade] Bento XIV é um Papa legítimo? Se é, Jesus Cristo pode, ainda, falar pela sua boca? Se o Papa expressa uma vontade legítima a nosso respeito que é boa, que não dá uma ordem que é contra os mandamentos, temos o direito de não atende-lo, de devolver um revés a esta vontade? Se não, em que princípio se baseiam para atuar deste modo? Não crêem vocês que se Nosso Senhor nos ordena, Ele nos dará os meios para continuar nossa obra?” O segundo exemplo refere-se às atitudes tomadas por Bento XVI em relação ao retorno que este promove na direção da doutrina católica tradicional. Ao tratar deste retorno, muitas vezes o Professor Orlando falava do Papa “cambaleante” e “vacilante” que é citado no terceiro segredo de Fátima. Neste mesmo sentido, Dom Fellay afirma: “Se quisermos aceitar que a Divina Providência conduz os assuntos dos homens, respeitando sua liberdade, então temos que aceitar que os gestos destes últimos anos a nosso favor estão sob Seu governo. Portanto, indicam uma linha – não muito direta – mas claramente a favor da tradição” Causou-nos muita alegria também o reconhecimento de Dom Fellay de que existe no clero um grupo de padres, e mesmo de bispos jovens, que colaboram com o Papa na restauração. A Montfort, em seu trabalho de apoio ao Papa na restauração da Missa Antiga, em São Paulo e em todo o Brasil, através de grupos amigos, tem encontrado, conhecido e mantido contato com muitos desses padres. Assim, a Missa Antiga que praticamente havia desaparecido das dioceses brasileiras, logo após a promulgação do Motu Proprio Summorum Pontificum, passou a ser celebrada em todas as principais capitais brasileiras, ao menos semanalmente. Infelizmente alguns setores da Fraternidade chegavam a hostilizar esses mesmos padres e considerá-los traidores. A carta de Dom Fellay restaura a justiça reconhecendo a importância e o valor deste trabalho. Assim, no Brasil, ao lado da cizânia, Dom Fellay encontrará um bom trigo - as vocações, citadas até mesmo na carta de Mosenhor Pozzo - e que certamente compensarão em grande medida os riscos que a Divina Providência pede à Fraternidade neste momento. Ademais, como lembrou o Padre Nicola Bux, em carta dirigida ao superior da Fraternidade: “Já aparecem e aparecerão cada vez mais, santas obras isoladas umas das outras, mas que uma estratégia divina liga à distância, e cuja ação constitui um desígnio ordenado, como aquele que ocorreu miraculosamente na época da dolorosa revolta de Lutero”. Além de Padres e de numerosas vocações, Dom Fellay, passando a um “combate intra-muros” encontrará um grande número de leigos que estarão dispostos a colaborar em seu trabalho. Leigos que, como José de Artimathéia, apesar de todas as suas fraquezas, compareceram e comparecerão diante da autoridade romana para pedir o Corpo de Nosso Senhor. Nosso Senhor, após sua Paixão e Morte, deixara então à vista dos discípulos, apenas o seu Corpo todo chagado. Parecia que tudo estava terminado e nada mais haveria a fazer. José de Arimathéia quis, dentro de todas as suas limitações, e apesar da fuga e das negações de São Pedro, cuidar, ao menos materialmente, do Corpo de Cristo. Ele não sabia, mas o que parecia o fim era apenas o começo. Não tardariam a Ressurreição e a confirmação da vocação de São Pedro. A Montfort espera com total confiança, sobretudo neste dia em que se iniciaram as aparições em Fátima, em que Nossa Senhora predisse os graves acontecimentos que estamos vivendo, que nossos desejos sejam atendidos: “Crescem, portanto, nossas esperanças de que a FSSPX possa chegar a um entendimento com o Santo Padre, semelhante ao que ocorreu com os sacerdotes que fundaram o Instituto do Bom Pastor – IBP. Ou seja, sem que haja exigência de concessões doutrinárias que impliquem em aceitação de princípios contrários à doutrina tradicional da Igreja”. Rezemos para que Deus proteja e guarde Dom Fellay e os padres que compõe o Conselho da FSSPX, na confiança de que eles tenham continuamente presentes as palavras de Moises aos israelitas, preocupados com a força daqueles que estavam na posse da Terra Prometida que precisava ser conquistada: “Não desanimeis, não tenhais medo deles. O Senhor, vosso Deus que vai adiante de vós, pelejara pessoalmente por vós”. Nós da Montfort temos absoluta certeza da vitória da Igreja, porque ela foi anunciada em Fátima por Nossa Senhora “por fim meu Imaculado Coração Triunfará” e por Nosso Senhor, “as portas do inferno não prevalecerão contra ti”.Para citar este texto:
"Nota sobre as cartas trocadas entre os Bispos da Fraternidade São Pio X"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/nota-sobre-as-cartas-trocadas-entre-os-bispos-da-fraternidade-sao-pio-x/
Online, 27/12/2024 às 13:19:00h