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Padre Claude Barthe: "fazer frutificar a liturgia tridentina para a missão da Igreja"
[caption id="attachment_30943" align="aligncenter" width="332"] Padre Claude Barthe (foto: Radio Courtoisie)[/caption]Peregrinação Summorum Pontificum, difusão do Motu Proprio e o papel da Liturgia Tridentina no pontificado de Francisco na entrevista à Montfort, concedida pelo Padre Barthe.
Padre Barthe, como capelão da Peregrinação do Povo Summorum Pontificum deste ano de 2013, poderia nos falar de suas impressões sobre esse evento? Quais seriam os pontos positivos e negativos a serem considerados? Podemos contar com a sua realização também para o próximo ano?
A finalidade dessa peregrinação era conduzir a Roma, ao Túmulo do Apóstolo e junto do Sucessor de Pedro, os representantes de todos esses, padres, seminaristas, fiéis, que no mundo praticam a liturgia tradicional, chamada forma extraordinária do rito romano a partir do Motu Proprio Summorum Pontificum. Eles conhecem, para si mesmos e para a Igreja, a importância dessa liturgia no que concerne a expressão da Fé, a estruturação espiritual dos fiéis, a fecundidade em obras cristãs e em vocações sacerdotais e religiosas. Eles queriam dar graças a Deus e testemunhar: tratava-se portanto de uma manifestação de piedade, de um ato de presença, de uma expressão de vitalidade que aspira apenas a se estender para a maior glória de Deus. Essa peregrinação de 25 a 27 de outubro de 2013 foi a segunda. Ela aconteceu quase mais facilmente do que a de 2012, sob Bento XVI, com toda espécie de facilidades que nos concederam as autoridades romanas do Papa Francisco. A liturgia foi muito bonita, a música vocal, de grande qualidade. Da piedade dos fiéis, Deus é o único juiz. Como ponto negativo, seria preciso prevenir uma informação insuficiente. Embora houvesse ao menos tantos participantes quanto no ano passado, menos anglo-saxões mas mais italianos, é importante que o programa seja estabelecido com antecedência suficiente para anunciar melhor a peregrinação e permitir a todos preparar a viagem. No momento, para responder a sua questão sobre o futuro: se Deus quiser, haverá outra peregrinação em 2014.
2. Na situação atual, que recomendações o senhor daria para aqueles que trabalham para aumentar o conhecimento da Missa Antiga, conforme o desejo expresso por Bento XVI?
Eu recomendaria rezar muito, agir com paciência, e não negligenciar nenhuma oportunidade que nos oferece a Divina Providência. Entre a reforma litúrgica de 1979 [na verdade de 1969], que parecia ter eliminado a Missa tradicional e o Motu Proprio de 2009 [de 2007], que devolveu a ela, sob certas condições, seu pleno direito de cidadania, passaram-se [mais de] trinta anos, ou seja, um pouco mais de uma geração. O tesouro ela constitui não é mais visto hoje como era no fim dos anos 70: não se trata mais apenas de salvar um patrimônio de culto e de doutrina vital, mas de fazê-lo frutificar para a missão da Igreja em uma paisagem devastada pela secularização. O que representa essa liturgia é, igualmente, mais difícil a perceber para nossos contemporâneos hoje e, ao mesmo tempo, no deserto onde eles se encontram, um instrumento excepcional da graça, de crescimento espiritual e de catequese. Eu sempre me espanto de ver o número de fiéis e de padres das novas gerações, que não conheceram nada do “antes” litúrgico, que descobriram a tradição litúrgica romana como uma novidade, que, por vezes, se converteram graças a ela, e que vivem dela. Um padre francês, que se tornou bispo, que celebrava uma e outra liturgia, fazia notar que nessa missa não há nada de isolado: há a missa e “tudo o que a acompanha”, ou seja, catecismo, obras de juventude, formação sacerdotal estruturada etc. Na obra de longo fôlego na qual nós devemos participar, a difusão da missa tradicional deveria, por exemplo, sempre ser seguida do estabelecimento de um curso de catecismo para adultos e adolescentes.
3. Vários setores, sobretudo aqueles ligados à esquerda católica, apresentam o Papa Francisco como alinhado ideologicamente à Teologia da Libertação. Essa visão corresponde à realidade?
Continua difícil entender bem o Papa Francisco. Mas é absolutamente certo que ele é, como mostra sua história pessoal, um inimigo da Teologia da Libertação. Suas origens políticas, sua vida muito difícil no seio da Companhia de Jesus no tempo do Padre Arrupe, sua nomeação ao episcopado e sua elevação à frente da Igreja da Argentina sob João Paulo II, mostram isso claramente. Não é de forma alguma um “progressista”, no sentido histórico do termo. É verdade que prelados “avançados”, como o Cardeal franciscano Claudio Hummes, estiveram entre seus grandes eleitores, e é certo que o Papa não tem uma sensibilidade “restauracionista”. Não se pode nunca esquecer que ele foi eleito na sequencia à demissão de Bento XVI, que foi entendida, especialmente pelos cardeais eleitores, como a constatação do fracasso, não de um pontificado, mas de um certo estilo de pontificado. Pontificado no decorrer do qual o Papado se tornou uma espécie de cidadela sitiada. Mas nada indica que esse Papa, que tem outro estilo pastoral, possa e mesmo queira responder diferentemente às questões profundas que coloca a situação da Igreja nesse começo de Século XXI. A resposta “restauracionista” do pontificado anterior era, aliás, suficiente? O cisma "mole" que aflige a Igreja há décadas parece arrastá-la para um irresistível despedaçamento à moda anglicana, cada um tendo seu próprio credo. A menos que se diagnostique, ao invés disso, o surgimento de uma religião mais sentimental que doutrinária, onde o dogma é secundário e a moral, especialmente a moral do casamento, não é realmente obrigatória. Mas os elementos de renascimento estão mais vivos do que nunca. Deus dirige todas as coisas, sem que, por outro lado, cesse de ser necessária a cooperação dos pastores, dos quais a Igreja espera que tomem com a mão firme o timão magisterial.
5. Recentemente, o Cardeal Castrillón Hoyos declarou que o Papa não tem nenhum problema em relação ao rito antigo nem tampouco com os grupos de leigos que o promovem. O senhor acredita que essas afirmações representam convenientemente a posição do Papa Francisco?
Eu acredito. De fato, me parece que não se deve examinar em detalhes as palavras pronunciadas pelo Papa Francisco, vírgula por vírgula, como se podia fazer com as de Bento XVI. Não há também do que se espantar nele com eventuais hesitações conforme os tempos e os momentos. É preciso, portanto, lembrar-se também de que ele tinha dito em sua entrevista às revistas jesuíticas: “A maneira de ler o Evangelho, atualizando-o, que foi própria ao Concílio, é absolutamente irreversível. Há, em seguida, questões particulares como a liturgia segundo o Vetus Ordo. Eu penso que a escolha do Papa Bento foi prudencial, ligada à ajuda de pessoas que tinham essa sensibilidade particular. O que é preocupante é o rico de ideologização do Vetus Ordo, sua instrumentalização”. E entre essas reflexões muito distantes e as palavras ao Cardeal Castrillón, havia essa resposta dada por ocasião de uma visita ad limina dos bispos da Puglia, em maio passado: esses bispos se queixavam da “obra de divisão criada no seio da Igreja pelos campeões da missa no antigo rito”. O Papa lhes respondeu que era preciso “estar vigilantes sobre o extremismo de certos grupos tradicionalistas, mas também se apoiar sobre a tradição e fazê-la viver dentro da Igreja ao mesmo tempo em que a inovação”. No total, pode-se notar no Papa uma espécie de crescimento positivo em seu julgamento diante da missa tradicional e dos grupos que a promovem. Sobretudo se se acrescenta a mensagem muito favorável endereçada à Fraternidade São Pedro, por ocasião de seu 25º. aniversário, mensagem que não foi evidentemente redigida pelo Papa, mas que foi assumida por ele. Entretanto, se o reconhecimento pelo Papa da liberdade da missa tradicional é uma coisa importantíssima, o problema mais grave para a Igreja ainda é que sua liturgia “de todos os dias” é uma liturgia profundamente ferida.
Para citar este texto:
"Padre Claude Barthe: "fazer frutificar a liturgia tridentina para a missão da Igreja" "
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/padre-claude-barthe-fazer-frutificar-a-liturgia-tridentina-para-a-missao-da-igreja/
Online, 21/11/2024 às 15:49:46h