Os dois sonhos apresentam uma mesma estrutura: os dois mostram que a Igreja - ou o Papa - se afastam de um lugar seguro - e santo - para colocar-se numa situação de perigo, longe da Hóstia e de Nossa Senhora, longe de Roma. O que significa um misterioso afastamento da Fé, da devoção eucarística, portanto, da Missa, e da devoção a Nossa Senhora.
Ora, o milagre do sol em Fátima, em 1917, tem o mesmo esquema: o sol que cai e retorna a seu lugar de sempre. Depois de peripécias, o navio da Igreja e a procissão do Papa retornam ao ponto seguro, de onde não deveriam ter se afastado. O sol volta a seu lugar normal, e volta a brilhar com um tal fulgor que não podia ser fixado. Parece evidente que afastar-se o navio da Igreja das colunas, onde estava preso e seguro, foi um erro. Quem se afasta da Hóstia e de Nossa Senhora só pode encontrar perigos e tentações. Do mesmo modo, a procissão que sai do Vaticano e caminha duzentos dias, até que o Papa, e cada um, se dão conta de que não estão em Roma, indica o mesmo erro. O sol caiu em direção à terra, ao humano. E que significa aí sair de Roma? Será sair fisicamente de Roma ou sair espiritualmente? Que significa que o sol caiu?
Evidentemente, este sair não foi físico - como a queda do sol foi apenas simbólica - porque, se fosse um sair fisicamente de Roma, como o Papa e os que o seguiam só perceberam que estavam fora da cidade santa depois de 200 dias de caminhada? Sair de Roma significa afastar-se do que ensina a Fé, assim como fazer o navio da Igreja afastar-se da coluna da Eucaristia, isto é, da Missa, e de Nossa Senhora, significa abandonar os dois pontos fundamentais de nossa religião. Como o cair do sol simboliza uma queda sofrida pela Igreja em sua parte humana.
Esta visão da procissão que sai de Roma tem pormenores muito curiosos que a aproximam sobremaneira da visão do terceiro segredo, na qual os Cardeais Sodano e Ratzinger identificaram a "Via Crucis dos Papas no século XX". Ora, a Via Crucis é uma espécie de procissão... Só que, pelo sonho de Dom Bosco, essa Via Crucis marchou para um exílio de Roma. Alguém orientou mal a Via Crucis, como alguém fez mal em soltar a nau da Igreja das colunas da Eucaristia e da devoção a Nossa Senhora. Quem cometeu essa culpa atraiu para a Igreja e para o mundo um grande castigo de que fala a visão do terceiro segredo. E tal castigo ainda não aconteceu.
No auge da crise, haverá uma intervenção sobrenatural que fará um Papa tomar o caminho de volta para Roma - para as duas colunas de salvação: a Missa e a devoção a Nossa Senhora. O Papa que iniciará esse retorno parece fazê-lo de modo vacilante. Ele cambaleia, hesita, chora, vendo os estragos causados por aqueles que deram uma orientação errada ao caminho da procissão e da nau. Não fica claro se o Papa que começa a retornar é o mesmo que, afinal, prende a nau da Igreja solidamente às duas colunas, se ele é o mesmo Papa que entoa o Te Deum de triunfo. Provavelmente são vários os Papas que são indicados nas visões de Dom Bosco, e mesmo na visão do terceiro segredo de Fátima. Que essa causa ocorreu no século XX, parece óbvio, pelo que dizem as mensagens de Fátima.
Ora, mesmo muitos daqueles que defendem o Concílio Vaticano II concordam que ele abriu uma crise sem precedente na História da Igreja. Paulo VI, como vimos, falou da fumaça de Satã que entrou no templo de Deus. E ele mesmo disse que aguardava depois do Concílio "um dia de sol para a Igreja", e em vez disso veio uma noite de tempestade. São quase as mesmas palavras dos sonhos de Dom Bosco, com o mesmo significado. Que o Concílio provocou uma rarefação das pessoas que seguem a "procissão do Papa" parece indubitável. Basta verificar as estatísticas das apostasias e da diminuição da assistência à Missa dominical para constatá-lo.
Concluindo, vemos que os dois sonhos de Dom Bosco e a visão do terceiro segredo de Fátima fazem referência a um movimento, a um deslocamento do Papa, que deveria ser sempre estável como a pedra. Essa mudança de posição de um Papa foi a causa de todos os sofrimentos que a Igreja e o mundo tiveram e terão que suportar. E o Vaticano II foi uma mudança. E uma mudança tal que pôs tudo em movimento. O sol começou a "dançar" e a rodar sobre si mesmo, como se tivesse enlouquecido...
O documento publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé, assinado pelo Cardeal Ratzinger, faz questão de deixar bem claro que o famoso e desconhecido terceiro "segredo" de Fátima é autêntico e completo. Disso, Ratzinger procura dar várias provas, das quais a mais importante é a cópia fotostática das páginas em que Irmã Lúcia escreveu o segredo em 3 de janeiro de 1944, em Tuy.
Infelizmente, porém - o que é pena - falta o mais essencial: a foto da página final com a assinatura de Irmã Lúcia. O documento publicado - muito estranhamente - não contém a assinatura da vidente. E esta era a garantia mais fundamental e absolutamente necessária.
Por que falta a assinatura de Irmã Lúcia? Haveria ainda uma página final com a assinatura dela? Por que, no documento publicado, não há nenhum selo, registro, ou garantia de seu arquivamento, no Vaticano?
O documento se encerra após a narração da visão, quando se esperava a explicação dela por Nossa Senhora, com uma data: Tuy, 3-1-1944. Num fim de página. Apertadamente. E sem assinatura! E isto é sobremaneira estranho.
Essa falta inexplicável e inexplicada da assinatura da vidente viva se torna ainda mais intrigante pelo fato de que a data da redação aparece num fim de linha, e num fim de página, como que enfiada de modo estranho. Pareceria que Irmã Lúcia quis aproveitar o fim da página, escrevendo duas linhas na margem inferior da página, e, por fim, enfiando a data da redação, sem deixar espaço para a assinatura.
A estranheza cresce ainda mais devido à extrema preocupação do Vaticano em dar garantias de que o texto publicado é o original. E é o texto integral. Alguém havia suspeitado de que seria possível uma deturpação ou a exclusão de alguma parte mais comprometedora?... Há sempre, no mundo, pessoas que desconfiam de tudo. Por exemplo, na Itália, um caricaturista, devido à demora em sair o documento anunciado para o começo de junho de 2000, fez uma caricatura, na qual alguém perguntava ao Papa: "Então, afinal, quando sai o terceiro segredo de Fátima?" Ao que João Paulo II respondia: "Logo que secar o pincel do 'branquinho'..." (Corriere della Sera). O que foi um tanto irreverente.
Para eliminar qualquer suspeita de fraude, o documento publicado pelo Vaticano sobre o terceiro "segredo" cita a palavra de Irmã Lúcia, confirmando que reconhece a carta do "segredo" como sendo a sua carta, e com a "sua letra": "Então, o senhor D. Tarcísio Bertone apresenta-lhe dois envelopes: um exterior que tinha dentro outro com a carta onde estava a terceira parte do 'segredo' de Fátima. Tocando esta segunda com os dedos, logo exclamou: 'É a minha carta', e depois de a ler acrescentou: 'É a minha letra'."
O Vaticano, para que não houvesse dúvida alguma sobre a autenticidade de sua interpretação e do documento publicado, chega a dar até a cor do envelope em que foi guardado o segredo, na ocasião em que ele foi entregue a João Paulo II: "...dois envelopes: um branco, com o texto original da Irmã Lúcia em língua portuguesa; outro cor de laranja, com a tradução do 'segredo' em língua italiana." Para que tantos cuidados, se no final do documento faltou a assinatura da vidente?
Ademais, segundo o documento de Ratzinger, o terceiro "segredo" viria depois das frases: "Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre me consagrará a Rússia que se converterá, e será dado ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc." E por que esse misterioso "etc"? Seria o "etc" o terceiro segredo? Ora, o texto do terceiro "segredo" - tal qual foi publicado - não se harmoniza com estas frases que deveriam imediatamente precedê-lo.
Também não fica muito clara a relação lógica - ou teológica - da visão das mortes narradas no "segredo" com as frases: "Será dado ao mundo algum tempo de paz" e "Por fim meu Imaculado Coração triunfará". Essas frases pressupõem uma enorme derrota anterior. Dessa derrota nada se diz.
Por que, depois de anunciar um triunfo, se mostra uma visão de uma cidade meio em ruínas, um Papa assassinado a tiros e setas, seguido de um massacre de Bispos, religiosos e leigos? Como houve um triunfo antes de uma massacre como esse? Como pode haver tal massacre depois de um triunfo e concedida a paz? Paz com massacre? Qual a causa de tantos males, depois do triunfo do Imaculado Coração ter trazido paz ao mundo e à Igreja? Como haverá um massacre depois da consagração da Rússia? Isso não é lógico. Há alguma confusão nesses textos ou nessas versões. Ou a ordem das frases foi trocada, ou falta algo. Por que o massacre? Não fica clara a relação da visão, tal qual foi publicada, com a afirmação de que "em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc." Então o dogma da Fé não se manteria em outros países? Por que o "segredo" - revelado agora - nada diz da perda da Fé em lugar algum?
Convém lembrar que a pequena Jacinta teve um visão na qual via um Papa rezando num palácio, que estava sendo atacado por uma multidão, que atirava pedras no Papa rezando.
Ela disse ainda: "Não vês tantas estradas, tantos caminhos e campos cheios de gente morta a escorrer sangue? Tanta gente a chorar com fome, e não tem nada para comer?! E o Santo Padre a rezar?! E tanta gente a rezar com ele?!" "Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente?" "Não. Não vês que isso faz parte do segredo?! Que por aí logo se descobria?!" (Pe. Antonio Maria Martins, S. J., Novos Documentos de Fátima, Ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 271). Essa frase é confirmada pelo livro de Walsh sobre Fátima: "Não - respondeu Lúcia - Não vês que isso faz parte do segredo?" (William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Quadrante, São Paulo, 1996, p. 110. O negrito é nosso).
Portanto, havia um Papa que ia ser apedrejado, e isso fazia parte do segredo. E isso não aparece na versão agora publicada pelo Vaticano. Por quê? E isso também ainda não aconteceu! E será que o Papa que reza e é apedrejado é o mesmo Papa que caminha trêmulo e vacilante entre mortos e feridos numa cidade semi-arruinada? Parece que não, pois quem reza, chora, mas não treme nem vacila. Parece, pois, que são dois Papas distintos: um que reza e é odiado, e outro que treme e vacila.
Repetimos: como é que na versão publicada agora, nada do que viu a Jacinta - e que Irmã Lúcia disse que fazia parte do segredo - aparece?
Teria faltado um pedaço do segredo na versão agora finalmente publicada pelo Vaticano? E ainda que a visão de Jacinta fosse um outro símbolo da mesma visão do terceiro segredo, por que ela foi cortada? Se este detalhe não fazia parte da visão, como é que a Lúcia diz que fazia parte do segredo? E por que, e como, contando esse detalhe, "por aí logo se descobria" o segredo? E como é que, agora, mesmo conhecendo o que o Vaticano diz ser a íntegra do "segredo", nada se descobre, nem se vê claramente como "por aí" - pelo que viu a Jacinta - se descobre absolutamente o segredo?
Hoje, conhecemos o "segredo". Só que ele - diz Ratzinger - é um enigma indecifrável, e, para o Cardeal, "o véu do futuro não foi rasgado". Teria sido, então, inútil a revelação de Fátima? Não pode ser. Daí nossa perplexidade.
Por tudo isso, fica-se a indagar se não faltou alguma página final do terceiro segredo, possivelmente contendo outros dados, e a explicação de Nossa Senhora sobre a visão tão misteriosa. Pois, se Nossa Senhora explicou aos videntes até o óbvio significado da visão do inferno, por que deixaria sem explicação a última tão estranha visão?
Depois de uma introdução em que o Cardeal Ratzinger afirma que o terceiro "segredo" não revelou o futuro - "o véu do futuro não foi rasgado", diz o Cardeal - ele faz uma longa dissertação sobre revelação pública e revelação privada. E, no final, mostra que "...tais visões, que, na sua maioria, só podem ser decifradas a posteriori". Ora, segundo as autoridades vaticanas, os fatos preditos em Fátima já ocorreram, e, por isso, se torna possível a publicação do "segredo". E comenta o mesmo Cardeal Ratzinger: "Em primeiro lugar devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do "segredo" de Fátima [as aspas agora são do Cardeal Sodano] parecem pertencer ao passado" (O negrito é nosso).
Já o Cardeal Ratzinger afirma aparentemente com mais segurança e certeza que "Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado". Portanto, a profecia teria ficado facilmente compreensível. Apesar disto, declara Ratzinger que ela tem "uma linguagem simbólica de difícil decifração". E Ratzinger fez então uma "tentativa de interpretação" histórica do "segredo" de Fátima, particularmente no caso da morte a "tiros e setas" de um Papa, que se pretende identificar com o misterioso "Bispo vestido de branco". E essa tentativa de interpretação feita por Ratzinger - com o devido respeito a sua autoridade e à sua pessoa - nos parece particularmente absurda.
Resumamos o que foi dito.
Disseram o Cardeal Sodano e o Cardeal Ratzinger que o Papa que morre a tiros e setas, segundo o texto do terceiro "segredo", é João Paulo II, por ter escapado do atentado de Agca. Mas João Paulo II continua vivo!!! Como poderia ser ele, então, por ter escapado vivo do atentado de Agca, o Bispo vestido de branco, que morre a tiros e a setas na visão das crianças de Fátima??? Pois isto é que é o mais incrível: se pretende afirmar que o "Bispo vestido de branco" seria o mesmo Papa que morre, na visão dos pastores, e este Papa seria João Paulo II, que se mantém vivo! E Ratzinger e Sodano afirmam que isto já aconteceu!? E, segundo eles, a cena da visão do terceiro segredo seria o atentado de Agca na Praça de São Pedro! Parece que se está delirando! E esta "tentativa de interpretação" do Cardeal Ratzinger foi feita para confirmar o que julgou o próprio João Paulo II, que se considerou - não se sabe por que, nem como - o Papa que é morto na visão publicada, e isso por ter escapado vivo do atentado a tiros na Praça de São Pedro!!! (???)
E mais um outro absurdo: procura-se dar a entender que a própria Irmã Lúcia teria concordado com essa interpretação estapafúrdia. É o que insinua o texto de Monsenhor Tarcísio Bertone, quando narra sua entrevista com a Irmã Lúcia: "Quanto à passagem relativa ao Bispo vestido de branco, isto é, ao Santo Padre - como logo perceberam os pastorinhos durante a 'visão' - que é ferido de morte e cai por terra, a Irmã Lúcia concorda plenamente com a afirmação do Papa: 'Foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala, e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte'." (João Paulo II, Meditação com os Bispos italianos, a partir da Policlínica Gemelli, 13 de maio de 1994. O negrito é nosso).
Ora, com essas palavras a Irmã Lúcia não "concordou plenamente" com a interpretação de que o Bispo vestido de branco que morre a tiros e setas é João Paulo II. Ela concordou plenamente só com a afirmação de que a trajetória da bala de Agca foi guiada por mão materna. E, em que pesem a autoridade do Papa e desses Cardeais, a Irmã Lúcia não podia concordar com a interpretação que o Vaticano deu da morte do Papa na visão, visto que nada havia na visão que pudesse se aplicar ao caso Agca-João Paulo II.
Senão, vejamos:
1. No "segredo", o "Bispo vestido de branco" morre. No atentado de Agca, João Paulo II não morreu. João Paulo II continua vivo. Como então se pode aplicar a profecia da morte do "Bispo vestido de branco" a ele?
2. No "segredo" várias pessoas são mortas junto com o Papa. No atentado da Praça de São Pedro, ninguém mais morreu, e nem sequer foi ferido.
3. No "segredo", o misterioso Bispo "vestido de branco" é morto por soldados a tiros e setas. No atentado de Agca, não houve soldado nenhum atirando no Papa, e nem se usaram setas.
4. No "segredo", tal qual foi publicado, se diz que o Papa morre numa cidade em ruínas. Ora, o atentado de Agca foi numa cidade rica, cujas únicas ruínas são as do Fórum Romano, e as morais. Que são imensas. Que são imensas...
Ratzinger nos responderia dizendo que o terceiro "segredo" de Fátima era condicional. Os fatos que nele se anunciam estavam condicionados à conversão ou não dos homens. Que, por isso, eles não devem ser tidos como fatos destinados a ocorrer. E que, portanto, se João Paulo II não morreu, mas apenas foi gravemente ferido graças à proteção da Virgem Maria, é porque os homens já se emendaram...
Pena que ninguém tenha notado ainda essa conversão... Ó cegueira da humanidade, que nem percebe que a humanidade se converteu! Como ninguém vê que a virtude reina no mundo, e que o "Imaculado Coração de Maria triunfou"? (Exceto em certas pessoas originárias de "ambiente cultural anglo-saxônico, ou germânico", que, lembra Ratzinger, têm certa dificuldade para entender que essa devoção é o grande meio de salvação para os homens de nosso tempo).
Evidentemente, cegueira é ver o mundo atual convertido. Visão estranhamente contorcida é ver no Papa João Paulo II - que está vivo - o Papa que é morto a tiros e setas no "segredo" de Fátima. Portanto, a interpretação da profecia do terceiro "segredo" de Fátima feita pelo Papa e pelos Cardeais Sodano e Ratzinger, é espantosamente divergente e contrastante com o próprio texto publicado.
Evidentemente, não se titubeou em forçar uma interpretação que não se encaixa, de modo algum, nem mesmo com o "segredo" publicado. Por quê? Por que essa incrível "tentativa" de convencer a opinião pública com uma interpretação estapafúrdia do terceiro segredo, como se ninguém fosse capaz de pensar e de analisar?
E, se havia tanta certeza de que o "segredo" de Fátima previra o atentado de Agca, por que não o publicaram no dia seguinte ao atentado? Profecia ocorrida é de fácil interpretação... Por que esperaram 19 anos para descobrir que o "segredo" de Fátima falava de João Paulo II e do caso Agca? E por que guardaram esse "segredo" desde 1917? Que perigo havia em sua publicação? Por que os sete selos fechando um segredo já realizado? Tudo isso é incompreensível.
E quem seria o "Bispo vestido de branco"? Gente ligada à Teologia da Libertação diz que esse Bispo é Dom Romero, porque ele usava batina branca, embora ele não tenha sido morto a setas... Em contrapartida, lefebvrianos poderiam imaginar que Dom Lefebvre, que foi Bispo na África, usava lá batina branca, embora ele não tenha morrido nem a tiros, nem a setas. Mas essas interpretações estapafúrdias valem até um pouco mais que a de Ratzinger e Sodano, pois João Paulo II nem morreu.
É preciso notar que Ratzinger se esqueceu de identificar, entre os Papas do século XX - já que ele diz que tudo isso já aconteceu - qual é o Papa do século XX que tremeu e vacilou.
Fala-se de males, não se trata de sua causa. Por tudo isso, parece que falta algo no "segredo" publicado... Que continua então segredo. Sem aspas.
Uma outra hipótese é que a visão agora publicada se insere antes do anúncio do triunfo e da paz prometida após a consagração da Rússia. A qual, aliás, não foi feita nos termos em que Nossa Senhora pediu: pelo Papa junto com todos os Bispos do mundo, consagrando a Rússia e não o mundo. Nisto também o texto do Vaticano foge da realidade, ao querer convencer que a consagração do mundo já inclui a Rússia. Não foi assim que Nossa Senhora pediu. Não adianta o Papa consagrar a Via Láctea, porque nela está incluída a Terra e a Rússia. A Mãe de Deus pediu para consagrar a Rússia, nominalmente. Por que custa tanto fazer o que Ela pediu, como Ela o pediu? Que razões teológicas - e políticas - impedem fazer o que Ela pediu, como Ela o pediu?
O Cardeal Sodano havia falado de uma "Via Crucis dos Papas no século XX", e Ratzinger confirma essa expressão. Ora, o texto publicado não fala de Via Crucis nenhuma. De onde tiraram eles a idéia de uma Via Crucis? O "segredo" fala apenas de um "Bispo vestido de branco", e depois de um Papa que é morto, assim como de "Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições", e que depois são mortos. Na Praça de São Pedro, nada disso aconteceu.
Sodano e Ratzinger falam em Via Crucis dos Papas no século XX, "século dos mártires". Ora, onde há mártires, há carrascos. Onde há santos mortos pela Fé, há Neros. Então, o século XX deveria ser chamado por eles de o século dos novos Neros. E estes não são difíceis de serem conhecidos: Hitler, Lenin, Mussolini, Stalin, Mao, Ho Chi Minh, etc. E no "etc" está Fidel Castro! Está o Nero do Caribe: Fidel, o querido amigo de Dom Arns e de Frei Betto. Com qual deles não se buscou um acordo? Com qual deles os dirigentes da política vaticana não propugnaram "una piccola, o pure proprio, una grossa, ma anzi, qualche volta, una vergognosa, conciliazzione"?
Será que Sodano e Ratzinger se esqueceram da vergonhosa Ost Politik do Vaticano com o comunismo ateu? Será que eles não se lembram já do seu predecessor de vermelha e vergonhosa memória, o Cardeal Casarolli, protetor dos Cardeais Baggio e Silvestrini, que tanto poder têm no Vaticano até hoje? E dessa Ost Politik ninguém pediu perdão.
Ratzinger cita entre os Papas dessa Via Crucis do século XX até mesmo São Pio X. Ora, São Pio X é anterior aos fatos previstos em Fátima. Ele morreu em 1914. Se citam São Pio X por ser do século XX, por que excluir Leão XIII, que reinou até 1903? Será porque a política de Leão XIII foi oposta à de São Pio X? Mas então, por que citaram Bento XV, João XXIII, Paulo VI, e mesmo João Paulo II, cujas políticas foram em sentido diametralmente oposto à preconizada pelo Papa São Pio X? Que confusão nessa Via Crucis de Sodano e Ratzinger!
E que significa a "cidade em ruínas" de que fala o "segredo" de Sodano e Ratzinger? Que cidade é essa? Não seria ela a Cidade do Homem que Santo Agostinho exprobrou, e que a "ONU" - usemos também nós as muito convenientes aspas - quer construir? A Cidade do Homem que Paulo VI elogiou em seu discurso na ONU? Não será essa cidade em ruínas a civilização moderna que Pio IX, no Syllabus, condenou, dizendo que a Igreja jamais se poderia conciliar com ela? E não foi para essa cidade da civilização moderna que João XXIII abriu os braços, ao fazer o "aggiornamento" da Igreja, no Vaticano II? Ou seria a cidade semi em ruínas a própria Cidade de Deus, a Igreja Católica Apostólica Romana, tão arruinada, hoje, pela política de conciliação com o mundo moderno?
Não podemos deixar de comentar uma afirmação surpreendente num escrito de um Cardeal da Santa Igreja, principalmente, na pena de um Secretário da Congregação para a Defesa da Doutrina da Fé. E é esta: "Como caminho para se chegar a tal objetivo" - a conversão e salvação das almas - "é indicado de modo surpreendente para pessoas originárias do ambiente cultural anglo-saxônico e germânico - a devoção ao Imaculado Coração de Maria".
Quer dizer que para pessoas de origem cultural inglesa ou alemã - e Ratzinger é de origem cultural germânica - é surpreendente que se diga que o Imaculado Coração de Maria é o meio para converter e salvar o mundo? Mas quem são esses cuja origem "cultural" supera a devoção que todo católico tem que ter para com a Mãe de Deus? Ratzinger, o "Defensor da Fé", deveria ter dito "pessoas de mentalidade protestante", e não de origem cultural anglo-saxônica ou germânica... São perífrases como essa, na pena de um Cardeal, que arruinam a Cidade de Deus.
Concluindo.
A divulgação do "segredo" de Fátima aumentou o mistério. Não o elucidou. Fica então no ar um novo mistério. O que nos consola e nos dá esperança é que Nossa Senhora nos declarou: "Por fim, meu Imaculado Coração triunfará." O que nos consola e nos dá esperança é que a Verdade encarnada, Nosso Senhor Jesus Cristo, nos disse e nos garantiu que: "Não há nada de oculto que não venha a ser conhecido." (Mt X, 26) Até mesmo o terceiro segredo de Fátima. Sem aspas!
A visão contida no terceiro segredo de Fátima apresenta quatro quadros diferentes:
Quadro 1: o anjo e Nossa Senhora
a. O anjo segurando uma espada de fogo visando incendiar o mundo;
b. Intervenção misericordiosa de Nossa Senhora impedindo esse castigo;
c. O anjo grita três vezes "Penitência!"
Quadro 2: o Bispo vestido de branco
Quadro 3: os martírios
a. A cidade em ruínas e a montanha com a cruz;
b. A procissão que precede o Papa;
c. O Papa "meio trêmulo e vacilante";
d. O Papa sobe a montanha;
e. Os martírios do Papa e dos fiéis.
Quadro 4: os anjos que regam a terra com o sangue dos mártires.
***
Analisemos, agora, esses diversos quadros.
Evidentemente, como já dissemos, não pretendemos, senão, fazer uma hipótese de interpretação, e despretensiosa. Outros, mais doutos e mais capazes, a critiquem, desqualificando-a, ou a corrijam, ou ainda aproveitem o que nela possa haver de hipoteticamente correto. Não pretendemos dar a solução do enigma, mas apenas tentar ajudar a elucidá-lo.
Quadro 1: o anjo e Nossa Senhora
As crianças de Fátima viram, inicialmente, um anjo brandindo uma espada de fogo com sua mão esquerda, procurando incendiar o mundo. O que lembra muito as visões do Apocalipse... E o fato de segurar a espada na mão esquerda poderia indicar de onde vem o incêndio... "Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para terra, com voz forte disse: 'Penitência, Penitência, Penitência!'"
Ora, esta visão, após a enunciação do castigo do segundo segredo, significa, evidentemente, que o segundo castigo (o da 2ª Guerra Mundial e a difusão dos erros da Rússia) não foi aproveitado convenientemente. Pelo contrário, ao invés de combater os erros da Rússia, se defendeu até um "socialismo cristão", buscou-se um acordo diplomático com a URSS - a famigerada Ost Politik do Vaticano - se elaborou uma Teologia de Libertação marxista, se apoiaram os movimentos terroristas e guerrilheiros marxistas. Na Igreja - como dissemos - o Vaticano II estabeleceu a Colegialidade democratizante, o ecumenismo, a adesão ao humanismo e ao mundo moderno, de que a Missa Nova de Paulo VI é o fruto e a expressão mais clara. A Igreja Conciliar se afastou da coluna da Hóstia e da devoção a Nossa Senhora. E o mundo não se emendou. Pelo contrário, moralmente piorou muitíssimo, merecendo um terceiro castigo que é anunciado pelo anjo com a espada de fogo, tentando incendiar o mundo. E os três gritos por penitência podem muito bem ser interpretados como correspondendo a esses três grandes pecados: a imoralidade crescente, os erros do Vaticano II, e a Nova Missa.
O fato de Nossa Senhora ter impedido inicialmente que o mundo seja incendiado não significa, de modo nenhum, que esse incêndio não se dará. A cidade semi-arruinada, vista no terceiro quadro, parece indicar o contrário: o mundo vai sofrer um grande incêndio, se não fizer a penitência clamada por três vezes pelo anjo. E isto tem algo de apocalíptico.
O Cardeal Ratzinger e demais autoridades do Vaticano raciocinam como se os fatos preditos tivessem todos se realizado. Ora, isso não só é muito discutível, como parece que o contrário é que é verdadeiro. Como o Cardeal Ratzinger pode dizer que a visão do terceiro segredo não anuncia nada de apocalíptico? É claro que isso não parece razoável. Nossa Senhora impediu o incêndio do mundo? Até agora, sim. Continuará impedindo? Sim, se fosse feita a penitência clamada pelo anjo. Essa penitência foi feita? Está sendo feita? Parece-nos que não, porque o mundo atual, o que ele não faz é penitência. Nem no clero se vê disposição para isso.
Por exemplo, seria natural que a publicação do terceiro segredo fosse acompanhada de um apelo do Papa a que o mundo agradecesse a Nossa Senhora por ter impedido o incêndio com que o anjo ameaçava o mundo inteiro. Nenhum ato de agradecimento foi anunciado ou pedido. Seria mais do que natural e lógico que o Papa pedisse aos Bispos de todo o mundo que promovessem atos penitencias, visando a conversão dos homens. Nada disso ocorreu. Aconteceu um Bispo defender a realização da Jornada do Gay Pride, em julho de 2000, em Roma... O mundo não agradeceu a Nossa Senhora. O mundo não fez penitência. O mundo aumentou os seus pecados e seus desafios a Deus. E a Igreja, agradeceu ela a Nossa Senhora o ter poupado o mundo de um grande castigo? E a Igreja, recomendou ela que se fizesse penitência para evitar o castigo? Nada disso ocorreu. Consideram-se os fatos preditos como já realizados e que tudo está bem. Sem agradecimentos e sem penitências... Seria de surpreender que o anjo, enfim, incendiasse o mundo? Ou a penitência será feita no futuro, a pedido de um Papa que, por causa disso, será apedrejado e fuzilado?
Quadro 2: o Bispo vestido de branco
Para melhor fazermos a análise deste quadro citemos, mais uma vez, o próprio texto da visão do terceiro segredo: "E vimos numa luz imensa que é Deus: "algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante" um Bispo vestido de branco "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre".
Inicialmente é interessante notar que, nesse período, a frase principal é a que não está entre aspas. As duas frases explicativas - que colocamos em negrito - são colocadas entre aspas, como se tivessem sido copiadas de outro texto. Que outro texto seria esse? A frase principal diz apenas: "Vimos numa luz imensa que é Deus... um Bispo vestido de branco". O que viram as três crianças? Viram um Bispo. Acrescentam um pormenor: que o Bispo estava "vestido de branco". É só depois - quando? - que elas acrescentaram que tiveram o "pressentimento de que era o Santo Padre". Note-se que ter o pressentimento não é afirmar com certeza. A expressão deixa margem a dúvida.
Além disso, em 1917, pelo menos uma das três videntes de Fátima não entendia nem o que significava a expressão "Santo Padre": "Foram interrogar-nos dois Sacerdotes, que nos recomendaram que rezássemos pelo Santo Padre. A Jacinta perguntou quem era o Santo Padre, e os bons Sacerdotes explicaram-nos quem era e como precisava muito de orações." (Pe. Antônio Maria Martins, Novos Documentos de Fátima, ed. Loyola, São Paulo, sem data, p. 158-159).
É verdade que a Irmã Lúcia diz: "tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre" e, pouco depois, ela escreve: "O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas". Mas esta é apenas uma interpretação dos videntes. Embora seja bem possível que a interpretação deles seja correta, não há garantia de que o "pressentimento" deles seja absolutamente certo. É evidente que tem muita autoridade, porque afinal foram eles que tiveram a visão. Apesar disto, a interpretação das crianças não é absolutamente decisiva nem certa.
Seria o "Bispo vestido de branco" um Papa mesmo? De fato, o Papa usa batina branca. Mas por que Nossa Senhora, que chamou Pio XI de Pio XI, o Papa de Papa, ou de Santo Padre, por que não elucidou os videntes a respeito de seu "pressentimento" de que o tal "Bispo vestido de branco" era o Papa mesmo, e que ele é também o Papa martirizado? É estranho...
Quando dizemos: "Um homem vestido de bombeiro entrou na casa", salientamos a veste, mas não afirmamos de modo claro que o homem é bombeiro de fato. Poderá ele ser ou não ser bombeiro de fato. Usando essa circunlocução, podemos querer insinuar que o homem não era propriamente bombeiro. Caso contrário diríamos simplesmente: um bombeiro entrou na casa. Não necessariamente o Bispo vestido de branco é o mesmo Santo Padre que galga a montanha escabrosa, e nem é necessariamente o mesmo Papa que atravessa a cidade meio em ruínas. É muito possível que seja o mesmo. Mas isto não é necessariamente certo, já que, nas visões, os fatos ocorridos em tempos variados podem aparecer como seqüentes ou concomitantes.
Teria Nossa Senhora aludido a um Papa no futuro? Ou a um antipapa futuro? Seria o "Bispo vestido de branco" um Papa, ou poderia ser um falso Papa, ou até um antipapa que ainda não apareceu, mas que poderá vir a aparecer? Na História da Igreja, houve já a tragédia de existirem antipapas. Num tempo em que vários tresloucados se afirmam Papas, e em que existem movimentos sedevacantistas que contestam audaciosamente o Papa atual, não é fora de propósito levantar a possibilidade de haver um antipapa, um Bispo vestido de branco que se pretenda Papa, sem o ser.
Há quem, como Cassandra anunciando desgraças, diga que no próximo e iminente Conclave poderá haver um cisma espantoso... Dele poderá sair - quem sabe? - um antipapa. E Deus nos livre dessa possível desgraça! Só nos faltava mais essa calamidade! E não se diga que lançamos uma hipótese estapafúrdia, porque já agora, mesmo antes do Conclave, existem - infelizmente - vários loucos dizendo-se Papas. Ainda recentemente apareceu um que se diz Pio XIII...
Quadro 3: a grande cidade meio em ruínas e a montanha com a cruz.
O terceiro quadro mostrou aos videntes uma montanha encimada por uma cruz tosca, e uma "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres", que o Papa pranteia.
Que podem significar essas duas imagens?
A montanha encimada pela cruz tosca parece ser mais fácil de interpretar: ela significa mais provavelmente a Igreja, o Calvário, e portanto a Missa, centro da Igreja e da Fé. (Também poderia a montanha significar Nossa Senhora, e a cruz a Missa...)
O curioso é que o Papa não se acha nela... Ele está longe da montanha e da cruz: está na "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres". E só depois é que, meio trêmulo e vacilante, o Papa sai da cidade e se dirige até a montanha da cruz...
Isto lembra os dois sonhos citados de Dom Bosco, nos quais o navio da Igreja está longe da coluna da Hóstia e da coluna de Nossa Senhora, assim como no sonho da procissão, o Papa sai de Roma, e depois volta para a cidade santa, caminhando sobre cadáveres. Tanto essa procissão como o navegar da nau da Igreja são paralelos ao que os Cardeais Sodano e Ratzinger chamaram de Via Crucis dos Papas no século XX, ao interpretarem a visão do terceiro segredo. Que é, então, que representa esta "grande cidade meio em ruínas" e "cheia de cadáveres"?
Como o Cardeal Ratzinger, numa entrevista, falando sobre o terceiro segredo de Fátima, fez alusão ao Apocalipse, temos também o direito de referir-nos a esse livro da Revelação. Ora, no Apocalipse se fala também de "uma grande cidade" em ruínas: "...vendo essa cidade queimada: 'Que cidade', dizem eles, 'igualou jamais esta grande cidade?' E eles cobriram a cabeça de pó, lançando gritos acompanhados de lágrimas e soluços, e dizendo: 'Ái! Ái! desta grande cidade, que enriqueceu com sua opulência todos os que tinham navios no mar; como se acha ela em ruínas neste momento?'" (Apoc. XVIII, 18-19) "E se encontrou nessa cidade o sangue dos profetas e dos santos, e de todos os que foram mortos sobre a terra." (Apoc. XVIII, 24).
Que cidade misteriosa é esta? Se ela fosse a Igreja, ou Roma, se deveria perguntar: como é que ela está meio arruinada? Que significam essas ruínas, e como contradizem elas a visão otimista que têm da Igreja hoje tantos eclesiásticos progressistas? Seriam essas ruínas a causa do castigo ameaçado pelo anjo da espada de fogo? Seriam o efeito do castigo? Quem causou essas ruínas? Quem foi culpado por elas? Não seria a queda do sol uma representação simbólica da queda dos Papas do Vaticano II em direção ao mundo moderno? E não é o mundo moderno uma cidade em ruínas?
Essa interpretação parece alcançar o centro do alvo. É bem provável, então, que esta "grande cidade meio em ruínas", "cheia de cadáveres" dos profetas e dos santos, é bem provável que ela represente a civilização moderna - a Cidade do Homem - com a qual o Syllabus declarou que o Sumo Pontífice jamais poderia se conciliar.
Veja-se o erro LXXX condenado pelo Syllabus de Pio IX: "O Romano Pontífice pode e deve reconciliar-se e transigir com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna" (Denzinger, 1780). Ora, o Concílio Vaticano II levou exatamente a Igreja a se conciliar com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna, através do famoso aggiornamento preconizado por João XXIII, Paulo VI e realizado por João Paulo II.
No discurso de encerramento do Vaticano II, não proclamou Paulo VI adesão da Igreja ao culto do Homem? E não foi sua ida à ONU - onde o Papa, vigário de Cristo e Príncipe da Paz, declarou que essa instituição absolutamente laica era o caminho único da paz - não foi isso uma "saída" do Vaticano para o mundo moderno? No Concílio Vaticano II, a Igreja saiu de Roma para ir até a Cidade do Homem. Não teria sido tudo isso a causa da ira de Deus, ameaçando o mundo com um incêndio apocalíptico e com martírios?
Vejamos, agora, aquilo que os Cardeais Sodano e Ratzinger chamaram de "A Via Crucis dos Papas do Século XX". Porque na visão do terceiro segredo se fala de fato de um cortejo ou procissão, que corresponde de modo claríssimo ao que Dom Bosco viu no sonho do triunfo da Virgem, onde ele descreve uma procissão que sai do Vaticano, e depois retorna; e no sonho das duas colunas no mar, onde descreve como a nau da Igreja se separou da Hóstia, isto é, da Missa, e de Nossa Senhora, e como custou retornar a elas.
É realmente impressionante o paralelismo entre o sonho da procissão que retorna a Roma e ao Vaticano, de Dom Bosco, e a visão do terceiro segredo de Fátima.
Uma diferença entre o sonho e a visão está no fato de que, no sonho de Dom Bosco, se conta com mais detalhe a saída do Papa de Roma, à frente da procissão de Bispos, Sacerdotes, religiosos, religiosas e pessoas do povo, enquanto que, na visão do terceiro segredo, se conta mais o retorno à montanha com a cruz, isto é, provavelmente o retorno a Roma. Mas, neste retorno, quem está à frente da procissão não é o Papa. Pelo contrário, o Papa é precedido pelos Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas, e por pessoas do povo.
Impressionante também é a coincidência da descrição do caminhar do Papa na "grande cidade" - Roma? A Cidade do Homem? - em meio aos cadáveres. No sonho do triunfo da Virgem se lê, inicialmente, ao sair a procissão de Roma: "Chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e de feridos, dos quais vários pediam conforto em altas vozes. As fileiras da procissão se tornaram bastante ralas." E, depois, ao voltar a Roma: "...o Pontífice se moveu e as filas da procissão começaram a engrossar-se. Quando, afinal, ele colocou o pé na cidade santa, ele começou a chorar por causa da desolação em que estavam os cidadãos, dos quais muitos não existiam mais." Na visão do terceiro segredo se lê: "...o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho".
Se tomarmos a descrição do Papa, neste trecho da visão, indubitavelmente há uma curiosa coincidência material com o atual estado de saúde do Papa João Paulo II. Dizer que se viu um Papa caminhando "meio trêmulo com andar vacilante" lembra evidentemente o caminhar do Papa João Paulo II hoje. Mas esta é apenas uma coincidência material. Se a identificação fosse real, o Papa João Paulo II teria que ser morto, em futuro próximo. Considerando, porém, sua idade avançada e sua doença, assim como o estado do mundo atual, não se vê como se daria um conflito tal que levasse ao assassinato de João Paulo II.
O Papa que será morto foi visto por Jacinta rezando e chorando num palácio, enquanto a multidão o apedrejava. E isto, disse Lúcia, fazia parte do terceiro segredo. Nada disso aconteceu até agora, e não se vê como poderia vir a acontecer. Parece, então, que isto se daria com um futuro Papa, que lideraria um "Retorno a Roma". Um retorno às duas colunas da Hóstia e de Nossa Senhora. Um retorno à Missa como era, e à devoção a Nossa Senhora. É claro que, se um dia um Papa decretar que se volte à Missa de São Pio V, que se retorne à situação anterior ao Vaticano II, pela condenação do que foi feito nesse Concílio meramente pastoral, evidentemente esse Papa será apedrejado no Vaticano, e possivelmente será morto.
O Papa sobe a montanha encimada pela cruz
Leiamos, de novo, o que diz o texto do terceiro segredo nesta parte. "...o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho."
Embora de modo trêmulo e vacilante, o Papa segue o mesmo caminho dos Bispos, Sacerdotes, religiosos, freiras e leigos até o alto da montanha. Ele mostra grande angústia, dor e pena pelos que jazem mortos na cidade meio arruinada. Que significam estes mortos? Morreram como mártires, ou morreram numa guerra, num "incêndio do mundo"? "Morreram" espiritualmente porque o sol caiu? A visão não deixa isto claro.
Se o Papa está indo para o alto da montanha da cruz, de onde vinha ele? Se saíra de Roma, qual a responsabilidade dele nas mortes das pessoas que ele encontra em seu caminho? Pelo sonho de Dom Bosco, quem saiu de Roma teve alguma culpa nisso, enquanto o Papa que retorna procura corrigir o erro cometido em desligar-se das duas colunas, e de ter feito a procissão sair de Roma, durante 200 dias.
Quem foi o responsável pela queda do sol?
Os martírios
"... chegando ao cimo do monte prostrado de joelhos aos pés da grande cruz [o Papa] foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros de armas de fogo e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás aos outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas, e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições."
O martírio do Papa é realizado por um grupo de soldados, o que dá a entender que houve um poder estatal, dispondo de força militar, que ordenou a execução. Significaria isto que haveria uma nova guerra? Que Roma seria ocupada? Mas guerra de quem contra quem? Hoje, os Estados Unidos dispõem de tal supremacia militar que não se vê quem poderia guerrear contra quem. Nem quem poderia ocupar Roma. Haveria uma guerra mundial fruto da perda de controle nuclear, provocada por uma guerra local? A luta entre árabes e judeus parece ser a única capaz de ser deflagrada e provocar - por perda de controle - um dilúvio de fogo, incendiando o mundo. Que aconteceria depois, ninguém pode prever.
Descartada a hipótese de uma nova Guerra Mundial, poder-se-ia pensar em uma guerra civil na Itália? Tudo parece muito improvável. "O Senhor virá como um ladrão, na hora que menos esperardes..."
O modo em que o Papa é morto é muito estranho e misterioso: ele é morto por tiros e por setas. Que significam estas setas? Se os tiros de armas de fogo significam atos de violência material contra a Igreja, o Papa e os que lhe são fiéis, as setas significariam os ataques doutrinários e as heresias que levaram o sol a cair? Estas setas são bem enigmáticas, exatamente porque não podem ser entendidas literalmente...
A seqüência mostra um massacre. E um massacre em Roma que ainda não se deu.
Quem afirma - como o Cardeal Ratzinger - que o terceiro segredo nada tem de apocalíptico está querendo tapar o sol com a peneira. Parece evidente que haverá, no futuro, um terrível castigo sobre o Papa, sobre o clero e sobre o povo. E em Roma. Quando? Só Deus o sabe.
Quadro 4: os anjos regando a terra com o sangue dos mártires.
"Sob os dois braços da cruz estavam dois anjos cada um segurando um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Tuy, 3-1-1944."
Este quadro final mostra que o sangue dos mártires será - como sempre - semente de cristãos. Os méritos dos que morreram pela Fé, junto com o Papa, serão utilizados por Deus para produzir uma nova seara de católicos verdadeiros. Após as cenas de sangue e dor, haverá um triunfo do Imaculado Coração de Maria. A nau da Igreja será fortemente atada às duas colunas, de onde jamais deveria ter saído. O Papa retornará a Roma, e a humanidade retornará à Fé que sempre foi professada. Haverá um triunfo do Imaculado Coração, e coincidentemente, no sonho de Dom Bosco, o estandarte dado ao Papa tem como dístico "Regina sine labe originale concepta". E será dado ao mundo algum tempo de paz...
Gloria in excelsis Deo.
Et in terra pax hominibus bonae voluntatis.