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Educação para o sacerdócio
Duclerc Parra
Por ocasião do Congresso "Misericórdia e Família" realizado pela Montfort em julho de 2016, no qual participaram autoridades da Igreja, educadores, professores e pais de famílias numerosas, muito se questionou a respeito do que é educar para o sacerdócio.
Como mãe de sete filhos, dentre eles um padre ordenado em 2015, posso atestar que a grande preocupação é a de promover uma educação essencialmente católica para o bem de todos os filhos em todas as vocações. Obviamente não se nasce mãe ou educadora e esses atributos vão se desenvolvendo à medida que exercemos essas funções. Aprendemos a educar com o passar do tempo, conhecendo um filho, depois o seguinte e enfrentando as diferentes fases de suas necessidades. Exercemos sempre a misericórdia atendendo de imediato todas as suas necessidades materiais.
Mas a educação deve ser mais cuidadosamente trabalhada.
São homens e mulheres que nascem dependentes de tantos ensinamentos para falar, pensar e agir conforme os bons costumes e a moral católica, segundo a fé que lhes foi dada desde o seu batismo.
Assim sendo, alguns pontos podemos realçar, dentre inúmeros vividos em quase trinta anos de educação de vários filhos:
1) A correção dos defeitos
Quais os defeitos a serem corrigidos?
Aqueles defeitos, cicatrizes do pecado original. Se prestarmos atenção, veremos que são os mesmos defeitos nossos: o egoísmo, o orgulho, a vaidade, preguiça e um pouco ou muito de tantos outros.
Ora, se passados trinta, quarenta anos ainda temos que superar os nossos defeitos e vigiar para praticar as virtudes contrárias, é de suma importância que ajudemos nossos filhos a se disciplinarem e corrigir seus próprios defeitos o quanto antes.
A obediência é importante?
Ela é de fato essencial desde cedo, pois ela vai orientar a criança ao que é melhor para ela, por mais custoso que lhe seja. Obedecer aos pais e, particularmente, vendo no pai o peso da autoridade, facilita às crianças a compreensão da autoridade de Deus e lhes faz considerar que seus desejos, insistências ou opiniões são de menor importância. “Cada um de nós tem suas opiniões próprias. O que se opõe à virtude é o apego às nossas opiniões” (São Francisco de Sales – Les vrais entretiens spirituels, Oevreus VI).
2) Intolerância para com o pecado
Ensinar o catecismo?
Sem dúvida é primordial. A noção de pecado, sobretudo pela gravidade do quanto isso ofende a Deus guarda a criança no reto caminho da vida e facilita-lhe o espírito crítico e a intolerância.
Precisa ser intolerante quando?
A criança vive em sociedade: a família e o seu redor, a escola, ou os lugares que a família frequenta. Ora, de fato sempre haverá situações em que a fé é atacada, o pecado é público, o mau exemplo aflora aos olhos. É preciso ensinar o que está errado e não admitir proximidade com o erro. Não permitir que o pecado público, como o adultério, entre pela porta. Lembro-me da frase de meus pais: “Fique longe...”
3) Vida de piedade
Como desenvolver a piedade?
É simples, mas como tudo que é simples pode ser muito difícil. Ensinar a rezar, por exemplo o terço é simples, mas precisamos rezar com eles. Dar-lhes a noção de que também nós, e com isso toda a família, dependemos muito da misericórdia de Deus em tudo. O terço particularmente ensinado por Nossa Senhora traz a noção da maternidade e do socorro dEla para conosco. Em caso de remorso, de desobediência, Ela é a primeira a ser suplicada... A dificuldade é a perseverança nessa oração, rezando-a diariamente, dadas as complicações da vida moderna, a falta de tempo e tantos outros atropelos. Mas é de grande importância insistir, quer faça sol, quer chova, quer haja sono, mau humor ou qualquer outro problema. Que se persevere na oração para criar o hábito. Em certo momento, o jovem, por si mesmo, vai tomar a iniciativa de “puxar” o terço.
Outros hábitos?
Sim, ensinamos que a meditação deve ter seu lugar na vida: refletir nos bens de Deus e nas nossas obrigações para com a Igreja, nos esforços para crescer nas virtudes e tanto mais. Há uma enorme literatura dos santos para facilitar isso.
4) Conservação dos bons costumes da família
O que nos ensinaram os nossos antepassados?
Temos obrigações para com nossos antepassados. Eles nos transmitiram a fé. Fomos por eles conduzidos a Igreja. Eles nos criaram nos bons costumes, melhor mesmo do que aprenderam em razão de tudo que compreenderam em suas vidas. É justo que mantenhamos os bons princípios e os bons costumes em nossas famílias. Muito provavelmente entre nossos antepassados alguns desejaram e rogaram a Deus uma vocação religiosa na família.
Perenizar os bens morais da família?
A preocupação dos nossos antepassados, ou ainda que não a tivessem, devemos ter para com as gerações futuras, filhos, netos.... Deixar-lhes um legado da defesa da fé, da prática dos bons costumes e da piedade católica é um dever de consciência de uma família católica. Isso consiste em preparar um berço para boa educação e nascimento de vocações.
5) A defesa da fé
É possível desenvolver um espírito apologético – combater em defesa da fé – na educação?
Segundo D. Columba Marmion:
“A fé é uma semente e toda semente contém um gérmen de colheita futura. Desde que afastemos dela tudo o quanto possa diminuir, manchar, rebaixar; desde que a desenvolvamos pelas orações e pelo exercício (intelectual); desde que lhe proporcionemos constantemente ocasião de se manifestar”, (Jesus Cristo vida da alma, 4ª. ed., Porto, p.192).
Pois: Qui credit in eum non confundetur (Rom. IX, 33).
Não é aquela fé experimental, que sabe a leite materno, dócil e comovente, ou emocionante, fora da realidade do mundo, mas a fé que move montanhas, ou seja, que converterá as almas com que Deus quer povoar o céu.
“Crês no Filho de Deus? Quem é ele, Senhor, para eu nele crer? É aquele que fala contigo”. E o cego responde: “Creio senhor” prostra-se a seus pés e o adora. (João IX, 1-38).
Então é preciso um grande zelo por Deus, é preciso evitar e combater tudo aquilo que possa manchar, diminuir ou rebaixar a fé.
Sem dúvida, é Deus quem escolhe a quem dar a vocação sacerdotal. Segundo Santo Afonso:
“São três os principais sinais para conhecer a verdadeira vocação sacerdotal: a ciência competente, a reta intenção de buscar só a Deus e a boa conduta de vida” (Sto. Afonso de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo, 18° ed., p 143).
Posto que nisso podemos perceber o quanto a dedicação para com uma boa educação pode ser agradável a Deus.
Esperemos com desapego, altruísmo e verdadeiro amor a nossos filhos que nasçam vocações em nossas famílias.
Para citar este texto:
"Educação para o sacerdócio"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/educacao_sacerdocio/
Online, 21/12/2024 às 13:09:04h