Religião

Matthieu Pageau: mais um ídolo da seita Olavética
Eder Moreira

Como células cancerígenas, que se espalham pelo organismo, o esoterismo olavético – câncer modernista – se alastra e infiltra até mesmo nos ambientes tradicionais. Pupilos da serpente guenoniana, não se incomodam de arrotar palavrão – até mesmo na sacristia – e ir, sem dor de consciência, receber Cristo na Eucaristia. Não se importam de professar e divulgar doutrinas cabalistas e vestir, na Missa Tridentina, batina e sobrepeliz. Não veem problema em consultar o horóscopo, numa página qualquer, e cantar, dominicalmente, o Sacro Canto Gregoriano. Essa é a seita perenialista do Olavo de Carvalho, ainda viva como um câncer nos meios tradicionais.

Essa vida dúbia do clubinho perenialista – que frequenta Missa Tradicional enquanto curte e divulga ideias cabalistas – está em perfeita harmonia com as orientações do gnóstico René Guénon. Segundo esse mestre do Olavo, é absolutamente necessário ter ligação com uma forma tradicional de exoterismo, condição sine qua non para a obtenção do esoterismo ou influência espiritual. Por isso, a forte presença olavética na Missa Tridentida, vista como uma forma exotérica indispensável para a iniciação esotérica:

“Como os discípulos de René Guenón são a favor da tradição nos níveis iniciático e esotérico, eles naturalmente se voltarão para as formas exotéricas tradicionais. Isso explica, por exemplo, por que os guénonianos preferem as missas tradicionais às novas missas” (Antoine de Motreff. René Guenon Julgado pela Tradição. Edições para Que Ele Reine, 2023, p. 45).

 

A Linguagem da Criação

 

Com relação ao livro “A Linguagem da Criação: O Simbolismo Cósmico no Gênesis”, objeto desta sucinta dissertação, ressaltaremos apenas os pontos mais importantes, escandalosamente contrários às verdades da Igreja Católica. Assim, explicitaremos como os filhotes do Olavo – tridentinos de fachada – pretendem conciliar, irracionalmente, o catolicismo tradicional com as mentiras esotéricas.

A propósito, cabe observar que o livro – na sua versão portuguesa – é fruto dos discípulos do Guru. O tradutor da obra – Thales Gauze - é um simpatizante da astrologia e um fiel repetidor dos enrolavos perenialista,

Nas primeiras páginas do livro herético do dualista Matthieu Pageau, um primeiro grave desvio do ensino da Igreja Católica: o livre-exame da Bíblia, prática rotineira do finado Olavo de Carvalho:

“Dito isso, o objetivo desse comentário não é construir uma ponte entre as perspectivas material e espiritual, mas redescobrir a cosmovisão espiritual e INTERPRETAR A BÍBLIA DE ACORDO COM ELA” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolismo Cósmico no Gênesis. Tradução: Thales Gauze. Editora Speculum: Campo Grande, 2022, p.18).

É notório, no livro inteiro, que o autor pretende revelar o verdadeiro sentido espiritual no livro do Gênesis. Praticando o condenado livre-exame protestante, “pontifica” sem recorrer, uma vez sequer, aos verdadeiros doutores, e tampouco à interpretação tradicional endossada pelo Magistério da Igreja. Trata-se, em termos claros, de uma pura e grosseira livre interpretação esotérica, repleta de graves erros contra a Fé.

Sobre a interpretação da Bíblia, o ensino oficial da Igreja é contundente:

“Deus entregou s Escrituras à Igreja, para que a tomassem por guia e mestra mui segura ao lerem e interpretarem as palavras delas [...] em matérias de fé e de costumes, que fazem parte do edifício da doutrina cristã, deva considerar-se como o verdadeiro sentido da Sagrada Escritura aquele que teve e tem por tal a santa Mãe Igreja, a quem cabe julgar o verdadeiro sentido e da interpretação das santas Escrituras; e, portanto, a ninguém se permite interpretar a mesma Sagrada Escritura contra esse sentido ou ainda contra o unânime consenso dos Padres” (Papa Leão XIII. Providentissimus Deus, 1894).

No mesmo sentido, ensinou o Infalível Concílio de Trento:

“Ademais, para refrear as mentalidades petulantes, decreta que ninguém, fundado na perspicácia própria, em coisas de fé e costumes necessárias à estrutura da doutrina cristã, torcendo a seu talante a Sagrada Escritura, ouse interpretar a mesma Sagrada Escritura contra aquele sentido, que [sempre] manteve e mantém a Santa Madre Igreja, a quem compete julgar sobre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras, ou também [ouse interpretá-la] contra o unânime consenso dos Padres, ainda que as interpretações em tempo algum venham a ser publicadas” (Sessão IV, Nº. 786).

E para finalizar, a declaração do Infalível Concílio Vaticano I:

“Todavia, já que o salutar decreto dado pelo Concílio Tridentino sobre a interpretação da Sagrada Escritura para corrigir espíritos petulantes é erradamente exposto por alguns, Nós, renovando o mesmo decreto, declaramos que o seu sentido é que, nas coisas da fé e da moral, pertencentes à estrutura da doutrina cristã, deve-se ter por verdadeiro sentido da Sagrada Escritura aquele que foi e é mantido pela Santa Madre Igreja, a quem compete decidir do verdadeiro sentido e da interpretação da Sagrada Escritura; e que, por conseguinte, a ninguém é permitido interpretar a mesma Sagrada Escritura contrariamente a este sentido ou também contra o consenso unânime dos Santos Padres. (Nº. 1788).

O dualista Matthieu Pageau, seguindo os passos heréticos de Lutero, despreza o Magistério da Igreja e o ensino dos Santos Padres. Fiando-se unicamente na própria interpretação, produz uma porção de graves erros doutrinários, conforme demonstraremos na sequência da dissertação.

 

A Natureza de Adão 

 

Um primeiro gravíssimo erro doutrinário, fruto do livre exame, diz respeito à natureza de Adão. Para Matthieu Pageau, Adão seria originalmente andrógino, constituído de duas partes ou lados opostos: um masculino (Céu) e outro feminino (Terra): “E criou Deus o homem à sua imagem; Ele os criou à imagem de Deus. E criou macho [céu] e fêmea [terra]” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolismo Cósmico no Gênesis. Tradução: Thales Gauze. Editora Speculum: Campo Grande, 2022, p. 70).

IMAGEM adao

 

Interessante observar, que essa visão sexual da Terra e do Céu como masculino e feminino – tal como concebe Matthieu Pageau – é a mesma visão do sistema gnóstico de Simão, o Mago, denunciada por Santo Hipólito:

“Dessas seis potências e da sétima que coexiste com elas, o primeiro par, Mente e Inteligência, ele chama Céu e Terra. E que um deles, sendo do sexo masculino, contempla de cima e cuida de sua parceira. Mas que a terra, abaixo, recebe os frutos racionais, semelhantes à terra, que são levados do céu”. (Santo Hipólito. Philosophumena: Refutação de Todas as Heresias. Livro VI, Cap. VIII).

Coincidência reveladora!

A imagem suprareproduzida – criação do Pageau – representa a união do masculino (Céu) e do feminino (Terra) em Adão. Tanto que, ao formar Eva (Gênesis II, 21), diz o autor que houve uma SEPARAÇÃO de Adão em macho e fêmea (Pageau, p. 70). Ora, ao formar a primeira mulher (Eva) da costela retirada de Adão, não houve uma separação do ser do primeiro homem em duas partes (masculino e feminino). Adão não foi divido em macho e fêmea ao emprestar um pouco de matéria para a formação de sua Esposa. Separar – como o próprio termo sugere – supõe desunir coisas que a princípio estavam unidas. Assim, a morte consiste na separação da alma e do corpo, duas substâncias que, unidas, constituem a unidade da pessoa humana. Dizer, portanto, que a criação de Eva constitui a separação de Adão em macho e fêmea, equivale a dizer que, antes dessa separação, o masculino e o feminino estavam unidos em Adão. Com efeito, Eva seria a metade feminina do Adão que foi SEPARADO. É o que se deduz – em outra página – das próprias palavras de Pageau:

“Isso é comparável à diferença entre Adão dar nomes aos animais e dar a semente à sua esposa. No primeiro caso, Adão simplesmente dá uma identidade específica ao animal. No segundo, existe a transmissão de toda a identidade de Adão, A SER REPRODUZIDA NA METADE FEMININA” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolismo Cósmico no Gênesis. Tradução: Thales Gauze. Editora Speculum: Campo Grande, 2022, p. 98).

Segundo a interpretação esotérica de Pageau – contrária ao ensino da Igreja – haveria uma dualidade sexual em Adão, de modo que, o primeiro homem teria sido primeiramente um ser andrógino, isto é, constituído de duas partes ou metades (masculina e feminina), que posteriormente foram separadas pelo Criador.

Por isso, Pageau ressalta que o nome de Adão significa humano, “e pode se referir a ambas as partes, masculina e feminina” (op. cit. p. 71). Também diz que “A divisão da nação de Israel entre as ‘tribos de Israel’ e as ‘tribos de Judá’ é uma versão em miniatura da DIVISÃO de Adão em Adão e Eva (os lados masculino e feminino” (op. cit. 296). Diz ainda – para ressaltar seu Adão andrógino – que “o lado feminino e o masculino representam, cada um, um lado da equação” (op. cit. p. 71). 

Essa ideia de SEPARAÇÃO de Adão em macho e fêmea é recorrente nos sistemas esotéricos, inclusive na Alquimia, que Matthieu Pageau exalta como ARTE ANTIGA de “VERDADES ESPIRITUAIS ELEVADAS”:

“Em geral, as ARTES ANTIGAS não eram de natureza meramente prática. Elas também eram EXPRESSÕES DE VERDADES ESPIRITUAIS ELEVADAS [...] Por essa razão, é um erro interpretar as artes antigas como a alvenaria, a metalurgia, a tecelagem, e a carpintaria a partir de uma perspectiva estritamente materialista, porque desse modo elas nunca serão reconhecidas como REPOSITÓRIOS DE SABEDORIA ESPIRITUAL [...] a ALQUIMIA é um exemplo claro da desconexão imensa entre as formas antigas e moderna de conhecimento. NÃO HÁ NADA EM COMUM ENTRE A ALQUIMIA E SUA RÉPLICA MATERIALISTA, A QUÍMICA. Pensar de outro modo é SUBESTIMAR muito as ciências tradicionais e aqueles que as praticavam” (op. cit. p.216).

O próprio Pageau diz – sem ressalvas – que não há nada em comum entre a Alquimia e a Química, que ele rechaça como materialista.

Nisso concordamos, pois, a Alquimia, é uma pseudociência gnóstica-cabalista:

“’Não se sabe’, escreve Artéphius, célebre alquimista medieval, ‘que nossa arte é uma arte CABALÍSTICA?” (Titus Burckhardt. Alchimie Sa Signification et son Image du Monde. Milan: Thot, 1974, p. 28).

Em sua tese de Doutorado, sobre as visões cabalistas de Anna Katharina Emmerick, nosso saudoso professor Orlando Fedeli demonstrou, com fartura bibliográfica, que a concepção andrógina (macho e fêmea) é própria da Gnose e da Alquimia: 

"El caduceo es el cetro de Hermes dios de la alquimia. Recibido de Apolo en trueque por una lira de su invención, se compone de una varilla de oro entrelazada por dos serpientes que representan para el alquimista los dos principios contrarios que han de unificarse, ya sean el azufre y el mercurio, Io fijo y Io volátil, Io humedo y Io seco, Io cálido y Io frio. Se concilian en el oro unitario de Ia cana del caduceo que aparece, pues, como Ia expresión del dualismo fundamental que ritma todo Io puramente -hermético y que debe ser reabsorbido en Ia unidad de Ia Piedra Filosofal .Esta armoniza todos los elementos contrarios. Es a Ia vez macho y hembra, pues puede autogenerarse y por ello fué representada a menudo con Ia apariencia de un andrógino, uno de los símbolos capitales del hermetismo" (J. Van Lennep. Arte y alquimia apud Orlando Fedeli. Elementos esotéricos e cabalísticos nas visões de Anna Katharina Emmerick. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/emmerick/).

Na Cabala – Gnose Judaica – temos a mesma ideia sustentada por Matthieu Pageau, a de que Adão era inicialmente macho e fêmea (andrógino) e depois houve uma SEPARAÇÃO DE ADÃO em masculino e feminino:

"Rabbi Abba dit: le premier hotnme etait male et femelle à Ia fois attendu que l'Écriture dit: "Et Elohim dit: 'Faisons l’homme à notre ressemblance’ " C'est precisement pour que l'homme ressemblat a Dieu qu'il fut cree mâle et femelle à Ia fois, et ne fut sépareé qu'ulterieurement. Mais, objetera-t-on, l'Ecriture dit pourtant ‘La terre dont il avait été tire...’ II semble donc qu' Adam seul avait été tire de Ia terre et que, par consequent, il n'etait pas cree primitivement mâle et femelle à Ia fois? Mais Ia vérite est que le mâle et Ia femelle avaient été unis primitivement par le Saint, beni soit-il, et en disant que l'homme à été tire de  Ia terre, Ia femelle y est comprise également" (Zohar, II, 55a.)

[Tradução: Rabino Abba disse: o primeiro homem era ao mesmo tempo macho e fêmea, pois a Escritura diz: "E Elohim disse: 'Façamos o homem à nossa semelhança'". Foi precisamente para que o homem se assemelhasse a Deus que ele foi criado macho e fêmea ao mesmo tempo, sendo separado apenas posteriormente. Mas, pode-se objetar, a Escritura diz, no entanto, "A terra da qual ele foi tirado...". Parece, portanto, que apenas Adão foi tirado da terra e que, por conseguinte, ele não foi criado originalmente como macho e fêmea ao mesmo tempo? Mas a verdade é que o macho e a fêmea haviam sido unidos originalmente pelo Santo, bendito seja Ele, e ao dizer que o homem foi tirado da terra, a fêmea também está incluída.]

A mesma ideia de SEPARAÇÃO de Adão em macho e fêmea aparece na doutrina do cabalista Eckartshausen:

"Eckartshausen, écrit qu'avant Ia chute, homme et femme ne constituaient qu'un seul être;  il n'y avait pas encore eu de séparation en deux parties distinctes; le feu et Ia lumière, Ia force et Ia faiblesse, étaient rassembles en un individu unique; l'homme ne connaissant pas de plaisir charnel. L'auteur repete Ia meme idée , presque mot pour mot, dans un autre livre pos-thume, Des forces magiques de Ia Nature, et ajoute que Ia raison de l'homme, ou sa lumière, constituait l'Ève originelle". (A. Faivre. Eekartshausen et la théosophie chrétienne apud Orlando Fedeli. Elementos esotéricos e cabalísticos nas visões de Anna Katharina Emmerick. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/emmerick/).

[Tradução: Eckartshausen escreveu que, antes da queda, homem e mulher constituíam um único ser; ainda não havia ocorrido a separação em duas partes distintas; o fogo e a luz, a força e a fraqueza, estavam reunidos em um único indivíduo; o homem não conhecia o prazer carnal. O autor repete a mesma ideia, quase palavra por palavra, em outro livro póstumo, "Das Forças Mágicas da Natureza", e acrescenta que a razão do homem, ou sua luz, constituía a Eva original].

O próprio símbolo na capa do livro de Matthieu Pageau revela a simpatia pelo esoterismo. Trata-se da cobra engolindo a própria cauda – Ourobouros – símbolo esotérico da Alquimia:

Entre los reptiles la serpiente como uno de los símbolos primordiales de la alquimia. Aparece bajo diversas formas, de las cuales la principal es si duda alguna, la de uroboro, a la que ya nos hemos referido. La serpiente urobolos – se lee en un antiguo manuscrito griego – es la composición que es devorada y fundida en su totalidad, disuelta y transformada por la fermentación (...) sus cuatro pies constituem la tetrasomia (es decir los cuatro metales imperfectos plomo, cobre, estaño y hierro)” (apud Orlando Fedeli. Elementos esotéricos e cabalísticos nas visões de Anna Katharina Emmerick. Disponível em:
https://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/emmerick/).

La unidad cósmica, base del pensamiento hermético, está simbolizada igualmente por la Serpiente de Uroboros, imagen del Uno-Todo. Su forma circular, simbolo del mundo, es una alusión al ‘principio de clausura’ o al ‘secreto hermético’. Por añadidura enuncia la eternidad concebida como ‘eterno retorno’ ho que no tiene princio ni fin” (apud Orlando Fedeli. Elementos esotéricos e cabalísticos nas visões de Anna Katharina Emmerick. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/cadernos/religiao/emmerick/).

No conjunto, todos esses elementos (Adão andrógino, simpatia pela alquimia, símbolos esotéricos, visão dualista da realidade) são evidências de que o ídolo do panteão olavético [Matthieu Pageau] é um simpatizante da heresia gnóstica. Mas, os graves erros desse esotérico não se restringe ao Adão Gay. Essa mesma dualidade – confessa Pageau – tem Deus por princípio. Logo, o Criador de uma natureza dualista deve também ser visto como um ser contraditório, constituído de princípios antagônicos. 

Leiamos nas próprias páginas do livro que, segundo os olavetes “tridentinos”, “... nos permite enxergar o sentido profundo das narrativas bíblicas”:

“Como os conceitos de graça e do sabbath [...] o arco-íris simboliza a elevação do ‘espaço por meio da compreensão de que DEUS É O PRINCÍPIO do tempo e do espaço, do reto e do DESVIADO, do familiar e do estrangeiro, do racional e do IRRACIONAL, do revelado e do oculto, do verdadeiro e do FALSO, do bom e do MAU, etc.” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p, 284).

Dizer que Deus é o princípio do IRRACIONAL e do FALSO, significa atribuir a Ele (Sumo Bem) a causa do pecado (o irracional) e da mentira (o falso), algo inadmissíveis para a Fé católica, mas aceitável para a doutrina gnóstica.

Não é preciso ir muito longe para refutar as acusações falsas e irracionais de Matthieu Pageau. É a própria Bíblia quem atesta:

Não digas: ‘É o Senhor que me faz pecar’, porque ele não faz aquilo que odeia” (Eclesiastico XV, 11). O mesmo no Livro de Jó: “Deus não pratica o mal” (Jó XXXIV, 12).

Embora a evidência do texto seja suficiente, não é demais corroborá-lo com a Teologia de Santo Tomás, o verdadeiro e confiável comentador da Escritura Sagrada:

“Mas, pecado significa deficiência no ser e no ato; e esta procede de uma causa criada, que é o livre-arbítrio desviado da ordem do agente primeiro, Deus. Por onde tal deficiência não se atribui a Deus como a causa, mas ao livre-arbítrio” (Suma Teológica, Parte Ia-IIae, Q. 79, a. 2).

Conforme ensinou o Verbo de Deus, o Diabo é o Pai da Mentira (S. João VIII, 44). No Éden, a serpente (cuja língua é dupla), foi o instrumento do demônio para perder – por meio da mentira – nossos primeiros pais, Adão e Eva. Ora, dizer que Deus é o princípio da falsidade, é colocá-lo na condição de Pai da Mentira. Nesse sentido, Deus seria, ao mesmo tempo, autor ou causa da virtude e do pecado, da verdade e da mentira, atuando, dialeticamente, como se fosse Deus (bondoso) e Diabo (maldoso).

Quem sabe, essa é a razão pela qual o esotérico Matthieu Pageau afirma, em seu livre-exame, que o erro de Adão foi o NÃO ter ouvido a recomendação da serpente no Éden, isto é, o conselho do Diabo, Pai da mentira:

“Portanto, Adão não foi capaz de responder ao paradoxo da serpente (dar nome a ela), e por isso não foi capaz de COMER O FRUTO PROIBIDO  ADEQUADAMENTE (Integrar o alimento) CONFORME RECOMENDADO PELA SERPENTE” ((Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p. 200).

Ora, se o erro ou pecado de Adão foi o não ter comido o fruto adequadamente – conforme recomendado pela serpente – a queda de Adão e Eva consistiu em não seguir a boa orientação do Diabo, que no Éden chamou o Deus Criador de mentiroso. Nesse sentido, Deus teria enganado Adão e Eva (proibindo comer o fruto sem qualquer ressalva), enquanto a Serpente Infernal, a verdadeira guia e conselheira, teria dado a boa e verdadeira recomendação (comer o fruto adequadamente).

A Verdade Católica – em contraste com a mentira do Diabo e do esotérico Matthieu Pageau – é que Adão se perdeu porque, junto com Eva, preferiu ignorar a voz de Deus para ouvir e seguir a recomendação mentirosa da Serpente Infernal:

“E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis [Deus é um Mentiroso]. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e SEREIS COMO DEUS, sabendo o bem e o mal” (Gênesis, III, 2-5).

Foi o Diabo que falou por meio da Serpente, conforme o ensino de Santo Agostinho: “

“Mas, foi o diabo quem falou na serpente, valendo-se dela como órgão e movendo sua natureza do modo como ele pôde mover e ela ser movida para reproduzir os sons das palavras e os sinais corporais, mediante os quais a mulher pudesse entender a vontade do sedutor” (Comentário ao Gênesis, Livro XI, Cap. XXVII, 34).

Ora, se o Diabo (por meio da serpente) só disse mentiras, acusando Deus de mentiroso, qual teria sido sua boa recomendação? Qual é a Bíblia de Matthieu Pageau, que manda seguir a recomendação do Diabo? Se a serpente (Diabo) deu uma boa recomendação (comer o fruto adequadamente), porque ela foi “castigada” por Deus?:

“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis III, 14-15).

Enumerando os pecados de Eva – que seguiu a recomendação da serpente – Santo Tomás diz que ela pecou porque “creu nas palavras [mentirosas] do Diabo [serpente] contra o que dissera Deus” (Compêndio de Teologia, Capitulo 190).

Por isso se vê quão mentirosas são as palavras de Matthieu Pageau, em favor do Diabo, e contra o Deus Verdadeiro.

É claro que o ídolo dos olavetes pretende dar uma boa justificativa, apresentando, como de praxe, sua nebulosa explicação. Mas, qual seja a tentativa (e os leitores podem verificar), a frase é em si mesma herética e injustificável. Da “boca” da serpente (que é o Diabo) não saiu nenhuma boa recomendação no Éden. A não ser que Matthieu Pageau esteja se referindo a uma outra Bíblia desconhecida. 

Ademais, é oportuno lembrar que entre as seitas gnósticas, existe uma admiração pela serpente, a verdadeira portadora do conhecimento. Era, por exemplo, a heresia dos gnósticos Peratas, conforme expõe Santo Hipólito:

“Para aqueles, então, diz ele, dos filhos de Israel que foram mordidos no deserto, Moisés exibiu a serpente real e perfeita; e aqueles que acreditaram nesta serpente não foram mordidos no deserto, ou seja, (não foram assaltados) por (poderes malignos). Portanto, diz ele, não há ninguém que seja capaz de salvar e libertar aqueles que saem do Egito, ou seja, do corpo e deste mundo, a não ser apenas a serpente que é perfeita e repleta de plenitude [...] Esta serpente universal é, diz ele, o discurso sábio de Eva. Esta, diz ele, é o mistério do Éden” (Philosophumena: Refutação de Todas as Heresias. Livro V, Cap. XI).

Para os Peratas, o verdadeiro ensino encontra-se no discurso da Serpente, cujo fim era mostrar, para Adão e Eva, que o Deus Criador era um falso Deus enganador: 

“[...] o ato da serpente marca o início de toda Gnose na Terra. A Gnose, por sua própria origem, leva a marca da hostilidade ao mundo e a seu Deus e, por assim dizer, um contrasselo de rebelião. Os peratas, absolutamente lógicos, não titubearam em considerar o Jesus histórico como encarnação particular da ‘Serpente universal’, isto é, da serpente do Paraíso onde se viu um princípio” (Hans Jonas. La Religion Gnostique apud Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011, p. 162).

Conclusão: Adão e Eva falharam porque não seguiram a orientação da serpente (comer o fruto adequadamente). Erraram porque não seguiram a verdadeira RECOMENDAÇÃO: “Não morrereis” (Gênesis III, 4), isto é, não compreenderam que Deus é um mentiroso!   

E pensar que os olavetes “tridentinos”, camuflados entre batinas e melodias gregorianas, concordam, publicamente, ser o livro do herege Pageau uma ferramenta para se “compreender a realidade mesma de um modo totalmente diferente e muito mais verdadeiro

https://www.instagram.com/editora.speculum?igsh=MXE5cGRvNGVkeHRq

É muita soberba para um só herege, que pretende revelar, pelo espúrio livre-exame, o sentido mais verdadeiro da Bíblia.

Esse é o mais “novo” ídolo do panteão gnóstico da seita olaviana, que usa a Missa Tradicional apenas como um trampolim iniciático, para atingir a religião esotérica de René Guénon e Olavo de Carvalho.

Mesmo que essa dissertação se prolongue além do previsto, cabe trazer à luz o ensinamento gnóstico, que concorda com a visão dualista/dialética de Matthieu Pageau.

Em seu robusto livro (Antropoteísmo: A religião do Homem), o professor Orlando Fedeli traz uma fartura de citações acerca da doutrina da religião gnóstica. E a concepção dualista/dialética sobre Deus é uma parte fundamental desse sistema esotérico. Era, por exemplo, a visão de Heráclito:

“Deus é dia [e] noite, inverno [e] verão, guerra [e] paz, abundância [e] fome...” (apud Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011p123).

Da mesma forma, esse dualismo-dialético aparece na Cabala de Nathan de Gaza, onde, no Ein-Sof, existe uma oposição dualista entre o Bem e o Mal, sendo ambos elementos constitutivos da divindade:

“No contexto dessa doutrina, a designação do Zohar para a esfera do mal como ‘o outro lado’ ganha um significado surpreendente novo. Refere-se ao ‘outro lado’ do próprio En-Sof, isto é, à metade dele próprio que resiste ao processo de diferenciação e organização e que, por sua própria resistência ao processo dramático da criação, se torna efetivamente satânica. O tehiru e a ‘linha reta’ são, assim, concebidos como DOIS PRINCÍPIOS OPOSTOS, comparáveis à DUALIDADE e a criação é um movimento dialético que ocorre entre estes dois aspectos do Ein-Sof” (Gerson Scholem. G. Sabbatai Sevi apud Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011, p. 133-134).

Das heresias do gnóstico Pageau, não dá para decidir qual é a mais escandalosa! É um lamaçal de erros que a seita olavética considera o sentido mais verdadeiro da Bíblia. 

 

A “Contradição” em Deus

 

A próxima heresia é tão ou mais grave, mostrando a idolatria doentia que os sectários olavetes padecem de modo irredutível:

“Na escala cósmica, não há passagem em que a CONTRADIÇÃO DIVINA esteja TÃO CLARA quanto na do dilúvio. O dilúvio é a EXPRESSÃO NEGATIVA DA IDENTIDADE DE DEUS, onde ‘negativo’ significa uma retração ou subtração do que Deus já havia criado: O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra. Esse tipo de reversal ou negação É A RAZÃO DA MUDANÇA CÍCLICA SER UM PADRÃO ABSURDO DE MANIFESTAÇÃO. Esse poder estranho SUBVERTE  E CONTRADIZ o que já foi estabelecido. Por que Deus criaria o mundo, se o destruiria depois? DE MANEIRA CHOCANTE , O DILÚVIO EXPRESSA UMA CONTRADIÇÃO DA PARTE DE DEUS” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p. 154-155).

Quanta blasfêmia em um único parágrafo!

É um verdadeiro chiqueiro de heresias!

“De maneira chocante, Deus entra em contradição”?

Qual é o Deus misterioso de Matthieu Pageau e seus seguidores olavetes? O Deus dialético da Gnose que pode ser, ao mesmo tempo, positivo e negativo, lógico e irracional?

Obviamente, uma realidade dualista – tal como enxerga Pageau e seus mestres esotéricos – precisa de uma causa igualmente dualista-dialética.

Esse Guru dos olavetes “tridentinos” afirma que o lado negativo de Deus se expressa na contradição. E que esse lado negativo ou negação em Deus é a razão de um padrão cíclico absurdo; um poder estranho, subversivo e contraditório.

Deus então tem um lado negro-negativo, manifestação do absurdo e da contradição?

Por isso, sem qualquer remorso, Pageau insiste no seu “deus” dualista contraditório:

“Mais ainda, Deus está basicamente dizendo ‘não me façam me contradizer, PORQUE EU VOU’. De fato, quando há um pacto claro entre o céu e a terra, Deus permanece fiel e verdadeiro, mas se esse acordo fica confuso no fluxo do tempo, então DEUS NÃO TERÁ ESCRÚPULO EM SE CONTRADIZER” (op. cit. p. 164).

Isso não é tudo!

Matthieu Pageau, que prefere seguir a tradição gnóstica, e não o ensino dos Padres da Igreja de Cristo, ousa JUSTIFICAR, de modo blasfemo, sua heresia do deus que entra em contradição:

“A esta altura, qualquer um QUE AINDA DUVIDE DA CAPACIDADE DE DEUS DE ENGANAR E SE CONTRADIZER, pode recorrer ao teste de Abraão em Gênesis 22...” (op. cit. p. 155).

Esse é, segundo os olavetes “tridentinos”, o profundo entendedor da Bíblia, que “... nos permite enxergar o sentido profundo das narrativas bíblicas”.

Um herege escandaloso, vomitador de blasfêmias contra Deus e contra os Santos!

Não são católicos esses olavetes, idólatras de Sacristia!

Contra a heresia de Matthieu Pageau, o ensino Infalível da Igreja Católica:

“Porém, ainda que a fé esteja acima da razão, jamais pode haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé, dotou o espírito humano da luz da razão; E DEUS NÃO PODE NEGAR-SE A SI MESMO, NEM JAMAIS CONTRADIZER A VERDADE. (Denzinger, 1797).

Além de atribuir a Deus a criação do Mal, como se este fosse uma substância, chamada de ‘subproduto ou resíduo” (Pageau, p. 155), o autor chega a supor a possibilidade da existência de deuses, para justificar a existência desse mal em forma de resíduo e fatos anômalos:

“... na escala cósmica, onde Deus deveria ser a única fonte de toda a manifestação, a mera presença de um resíduo é uma influência subversiva. Nesse contexto, as sobras lançam dúvida sobre a supremacia da identidade revelada de Deus. Elas levantam a possibilidade de ‘deuses estranhos’ se fazerem necessários para responder às questões em aberto do quebra cabeça” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p. 125-126).

Pageau supõe a possibilidade de um politeísmo?

Haveria muito mais a denunciar nesse livreco imundo de Matthieu Pageau. a exagerada importância dada aos sonhos, para os quais Pageau pretender dar uma chave infalível de interpretação. A exaltação das “ciências” antigas, das quais a esotérica alquimia, menosprezando as ciências naturais. Consideração negativa sobre o tempo e sobre a matéria, vista como trevas visíveis.

 Entretanto, para finalizar, exporemos duas questões finais, nas quais o ensino de Matthieu Pageau coincide, novamente, com a doutrina da Gnose.

 

O espírito divino no homem

 

Referindo-se à natureza de Adão (Criada por Deus), Matthieu Pageau diz o seguinte, em seu livro emporcalhado de esoterismo:

“Na história do jardim do Éden, a humanidade é descrita como um microcosmo da criação. Então, Adão é criado pela UNIÃO de um corpo tirado da terra e um SOPRO VINDO DO CÉU” (op. cit. p. 57).

De fato, a Escritura Sagrada diz que Deus “soprou” no rosto de Adão, e ele se tornou uma pessoa vivente, animada por uma alma espiritual (Gênesis II, 7).

Portanto, na doutrina católica – que o Pageau pretende contradizer – esse sopro Divino significa a criação da alma espiritual, parte imortal da natureza humana. É o que ensina o Catecismo da Igreja Católica:

“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e o fez assim: formou o corpo de terra; depois soprou em seu rosto infundindo-lhe uma alma imortal” (Catecismo Maior de São Pio X. Brave História da Religião. Primeira Parte, XI).

Soprar em Adão é, portanto, criar e infundir sua alma imortal-espiritual. Este é, igualmente, o ensino de Santo Tomás de Aquino:

“Não se deve tomar a palavra inspirar em acepção material. Mas o inspirar de Deus é o mesmo que produzir o espírito; embora o homem, inspirando corporalmente, não emita nada da sua substância, mas algo de uma natureza estranha” (Suma Teológica, Parte I, Q. 90, a. 2).

O sopro vindo do Céu não é o Espirito Divino de Deus, tampouco algo de sua Natureza “dentro” do corpo de Adão. Entretanto, Matthieu Pageau, que segue uma tradição misteriosa – que não é católica – sugere uma interpretação (Livre Exame) que se identifica com a visão gnóstica.  

Com sua costumeira “exegese” bolorenta, Pageau vai revelando sua gnose com pitadas de um flagrante panteísmo, mostrando que até sua forma de ensinar está enraizada nas trevas do dualismo.

Vamos unir as peças do quebra-cabeça dualista de Mattieu Pageau.

Na tentativa de explicar o texto sagrado da Revelação Divina (Eu sou Aquele que Sou), Matthieu Pageau diz o seguinte:

“Nesta narrativa, a IDENTIDADE DE DEUS é expressa por um único nome, o que é o exemplo mais claro de uma ‘SEMENTE’ na Bíblia. Esse nome É O PRINCÍPIO ESPIRITUAL (um ponto de sabedoria) com grandes ramificações. Enquanto identidade ‘ser’ (Eu sou), não sugere nada de específico, mas contém implicitamente toda a criação dentro de si [...] a REVELAÇÃO DA IDENTIDADE DE DEUS foi apenas o primeiro passo em direção à materialização dessa SEMENTE CELESTE” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p. 80).

A Identidade de Deus – que é o próprio Ser de Deus (Eu Sou) – é chamada, por Pageau, de Semente Espiritual. Essa semente – Ser de Deus – pode descer em forma de FÔLEGO em direção as trevas do corpo material: “Deus pode descer sua identidade [...] mas esse SOPRO INVISIVEL deve se encontrar com um corpo ascendente” (op. Cit. p. 80).

Com efeito, o corpo de Adão foi formado para receber uma Identidade Espiritual ou fôlego Divino: “... uma massa corpórea é elevada do ‘barro da terra’ para formar um corpo capaz de receber uma identidade espiritual” (op. cit. p. 78).

Em suma, a Identidade de Deus (Eu Sou) desce no corpo material (formado do barro) em forma de sopro invisível. Por isso o esotérico Matthieu Pageau relaciona o fôlego divino com o próprio espirito divino de Deus.

As palavras de Pageau embasam nosso entendimento:

“Quando Moises encontrou Deus na montanha, a legislação veio de dois modos: 1) leis para o povo e 2) planos para o templo. Ambos correspondem à construção de um corpo para HOSPEDAR O SOPRO DE DEUS. De modo geral, o propósito dessas leis era ordenar os fatos visíveis da sociedade para que ENCARNASSEM O ESPÍRITO INVISÍVEL DE DEUS” (op, cit, p. 92).

Como vimos anteriormente – no Catecismo e na Suma Teológica –, o sopro de Deus na criação de Adão significa a criação de sua alma espiritual. Logo, o sopro divino designa a criação da substância imortal que constitui, junto com o corpo material, a natureza do homem.

Ora, no dizer de Matthieu Pageau, o sopro de Deus é o próprio Espírito Invisível (e Divino) de Deus. Logo, ao receber o sopro de Deus, Adão recebeu – como parte de sua própria NATUREZA – a própria essência de Deus (O Espírito Divino de Deus).

Por isso o dualista Pageau vai dizer que Adão é a encarnação da sabedoria Divina no Mundo:

“Adão é a encarnação do conhecimento divino no mundo” (op. cit. p. 55).

Ora, a Encarnação da Saberia Divina no Mundo é Cristo, Deus feito Homem. É uma definição que cabe propriamente ao Filho de Deus, Sabedoria Encarnada.

Essa ideia de que o fôlego de Deus se refere ao Espírito Divino no homem (Adão), aparece na doutrina do cabalista Isaac, o cego, conforme observa Gerson Scholem:

“Para explicar Gn 2,7: ‘Ele SOPROU EM SEU NARIZ um hálito de vida’, Isaac utiliza a seguinte parábola: ‘Aquele que sopra em um outro COLOCA NELE SEU PRÓPRIO HÁLITO’. Nós devemos, portanto, admitir que ele via o pneuma humano diretamente saído do mundo das emanações; isso era para ele o DIVINO NO HOMEM... (Gerson Scholem apud Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011, p. 199).  

É interessante como essa interpretação cabalista de Matthieu Pageau, se identifica com o entendimento da gnose judaica, conforme expõe um Rabino cabalista: 

“Quando Deus criou o ser humano a sua imagem e semelhança Ele colocou características divinas dentro deste ser humano: fala, o intelecto, então nós somos uma partícula divina. Quando Ele sopra a alma, quem sopra, sopra de dentro para fora [obra máxima da cabala], a vida é uma partícula divina. Então Deus está dentro de cada um de nós” 

(https://www.youtube.com/watch?v=D8I-bqCCOc4&t=14s).

O fôlego do Pageau é o mesmo sopro esotérico da Gnose!

Mas, para os filhotes “tridentinos” do Olavo, essa é a profunda verdade bíblica revelada pela linguagem gnóstica de Matthieu Pageau.

Hipócritas!

Serpentes de sobrepeliz!

Cabalistas fantasiados de tradicionais.

Na Missa, cantam Gloria In excelsis Deo.

Nas reuniões esotéricas, cantam a melodia da Gnose.

Bem adverte a Escritura Sagrada:

“Todo pecador se dá a conhecer pela duplicidade de sua língua” (Eccli. V, 11).

 

O Conhecimento Superior

 

Para desfecho contra a Gnose de Matthieu Pageau, não poderia falta a menção a um conhecimento superior, transcendente, que Pageau chama de Metacognição(?):

“... a função do homem é agir como mediador entre o céu e a terra PARA O CONHECIMENTO DE DEUS NA CRIAÇÃO [...] DIFERENTE DO CONHECIMENTO COMUM, que envolve a união do espírito e da matéria para as coisas criadas, esse tipo de conhecimento TRANSCENDE A SI MESMO EM UMA FORMA DE METACOGNIÇÃO” (Matthieu Pageau. A Linguagem da Criação: O Simbolo Cósmico o Gênesis. Tradução Thales Gauze. Campo Grande: Editora Speculum, 2022, p. 55).

Mais a frente, no livro em questão, Pageau dá mais informações sobre essa forma de conhecimento:

“Esse conhecimento é INFINITAMENTE maior que o conhecimento das coisas criadas, porque ele TRANSCENDE A SUA PRÓPRIA ESTRUTURA SIMBÓLICA” (op. cit. p. 101).

Depois, a conclusão de Matthieu Pageau:

“Enquanto criador do ‘céu’ quanto da ‘terra’, Deus NÃO PODE SER CONHECIDO através de um CONHECIMENTO COMUM, mas apenas pela TRANSCENDÊNCIA deste” (op. cit. p. 171).

O esotérico Pageau, em termos claros, diz que Deus, enquanto Criador, não pode ser conhecido por um conhecimento comum-racional, mas somente por um conhecimento transcendente ou “metaconhecimento”(?).

Curiosamente, a gnose também fala de um conhecimento superior que não seria comum-racional, mas sim intuitivo-transcendente:

“A Gnose [...] se expressa normalmente por meio de mitos, como nas seitas orientais, por exemplo, e visa ser captada não pela inteligência do homem, mas por um misterioso [e superior] intuição alógica” (Orlando Fedeli. Antropoteísmo: A Religião do Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011, p. 54).

Nesse sentido, Hans Jonas, autor de um dos melhores livros sobre Gnose, também concorda que, para os gnósticos, existe um conhecimento superior ou transcendente:

"... o ‘conhecimento’ dos gnósticos, que se punha em contraste elogioso ou reprovador à simples fé cristã, NÃO ERA UM CONHECIMENTO DO TIPO RACIONAL. A gnosis era por excelência O CONHECIMENTO DE DEUS" (Hans Jonas, La Religion Gnostique. Paris: Flammarion, 1978, pp 55-56).

Ao falar de um conhecimento necessário e transcendente, para conhecer Deus como Criador, Matthieu Pageau não identifica esse conhecimento (gnosis) com a Virtude Sobrenatural da Fé.

A propósito, não há uma linha em que Pageau procura fundamentar seu ensino com o ensino tradicional da Igreja Católica. 

O problema de dizer que Deus não pode ser conhecido pela razão, mas somente por um misterioso conhecimento transcendente (metacognição?), é a condenação do Infalível Vaticano I, que assim se expressou:

“Se alguém disser que o Deus uno e verdadeiro, CRIADOR e Senhor nosso, NÃO PODE SER CONHECIDO com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas – seja excomungado” [cf. nº 1785] (Nº. 1806).

Pageau diz: Deus Criador não pode ser conhecido pelo conhecimento comum (racional), mas somente por um conhecimento Transcendente (Que não é a Fé).

O Vaticano I excomunga: “Quem disser que o Deus Criador não pode ser conhecido pela razão, comum a todos os homens, seja Excomungado”.

Estariam os olavétes excomungados por concordarem com o pensamento de Matthieu Pageau, que contradiz o Infalível Vaticano I? 

Excomungados Tridentinos?

Estamos apenas ressaltando a problemática.

Que a excomunhão dos olavetes venha da Igreja, Mãe e Mestra da Verdade!

 

Conclusão

 

Fizemos questão de desmascarar o Livro herético de Matthieu Pageau, a fim de denunciar a seita dos olavetes que, infiltrada nos ambientes de Missa Tradicional, seduzem boas almas para as heresias cabalistas de Olavo e seus mestres perenialistas.

De forma dualista ou serpentina, querem essas crias do herege Olavo de Carvalho rezar o Credo e, ao mesmo tempo, vomitar e sujar as almas com seu fétido esoterismo.

Assim como Cristo expulsou os vendilhões do Templo, que nos conceda a graça de expulsar, tão logo, esses vendilhões da Fé, que arrastam, ardilosamente, as almas para a perdição da heresia gnóstica.

 

In Corde Maria Regina
Eder Moreira


    Para citar este texto:
"Matthieu Pageau: mais um ídolo da seita Olavética"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/Matthieu-pageau/
Online, 31/03/2025 às 05:41:23h