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Política e Sociedade
Seitas: Supervalorizar as Pessoas e Não a Verdade
Alberto Zucchi
Dias após a conversa, relendo algumas das cartas que o Professor Orlando respondeu no site Montfort, me deparei com a seguinte afirmação dirigida a um consulente:
“Logo percebi, por eles, [elogios do consulente ao Professor] sua tendência em supervalorizar as pessoas e não a verdade. É uma tendência típica de culto à personalidade, costumeira nos ambientes e mentalidades fascistas e nazistas, que eu não posso aceitar, e que repudio com todas as forças de minha alma.
A afirmação do Professor é praticamente a mesma do prelado, aplicada ao campo social e político. O que se constata é que esta mentalidade de seita, na qual a afirmação do líder está acima da verdade, está espalhada não só na Igreja, mas em todo o pensamento moderno. Uma vez que na mentalidade moderna, a verdade não existe, deve-se dar crédito ao que dizem aqueles que são apresentados como modelos.
Também Ariano Suassuna, em uma palestra, fez uma dura crítica a canção de Cazuza que diz “todos os meus heróis morreram de overdose” se recusando a ver a realidade do mal e do crime no uso de drogas. Mas, como os heróis dele utilizavam a droga, ela passou a ser algo bom.
Na política, o culto à personalidade é marcante. Tanto na direita como na esquerda. Desta forma, alguns consideram que Bolsonaro, já em sua terceira família, será o salvador da família brasileira. E Lula o exemplo da honestidade, mesmo na cadeia. E para justificar que Lula está certo, os seus “cultuadores” querem atribuir a vitória de Bolsonaro não a um repúdio da mentalidade e do pensamento petista, mas às mensagens do WhatsApp. Assim, quase de 58 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro porque foram disparadas falsas mensagens através do celular de algumas empresas. Seria cômico se não fosse trágico.
Mas é nos movimentos religiosos que se encontram os grandes exemplos dessa mentalidade. Nos meios progressistas, são muitos os casos de fiéis que se recusam a acreditar, mesmo com todas as evidências, nos erros dos padres pegos em situações imorais.
Veja-se o culto que é prestado a Plinio e à sua mãe Lucilia. O trecho a seguir é extraído do livro “O dom da Sabedoria na Mente, Vida e Obra de Plínio Corrêa de Oliveira, 1º tomo, que tem como autor o monsenhor João Scognamiglio, fundador e “cultuador-mor” de Plínio. Ele demonstra, de forma “inequívoca”, a santidade de Plínio reproduzindo frases de palestras dadas pelo próprio Plinio:
“O que se passava comigo é algo que debaixo de certo ponto de vista, preparava para o tipo especial de vocação que eu tenho, mas poderia escandalizar uma pessoa que tivesse um feitio de alma comum, pois um menino muito chamado deveria ter desejo de fazer sacrifícios, de flagelar-se, etc. O meu desejo não era esse.
Eu notava que esse meu ar, ao mesmo tempo severo, mas de bom viver, não agradava aos outros; eles gostavam de menino asceta ou de menino revolucionário! [...] Eu tinha a impressão subconsciente de que, se me pusesse na clave do asceticismo, teria de assumir a mentalidade do menino asceta, o que estragaria qualquer coisa em mim”
Plinio, o maior de todos os santos segundo os fanatizados dos Arautos, prega exatamente o contrário ao que ensinou e ensina a Igreja. Todos os santos sempre repetiram e praticaram, a necessidade do desapego dos bens do mundo para a santidade. O que Plínio diz vai no sentido oposto ao que que Nossa Senhora pediu aos três pastorzinhos em Fátima: é necessário fazer sacrifícios. As três crianças tinham na ocasião uma idade próxima à que Plínio possuía quando chegou àquela conclusão.
Nossa Senhora ainda pergunta às crianças “quereis sofrer pelos pecadores?” e não, “quereis gozar a vida?”. E também o ensinamento de Nosso Senhor no Evangelho é o mesmo: “se não rezardes e não fizerdes penitência perecereis todos”. É claro que o todos não incluía Plínio.
Mas para Plínio ser santo, nada disso é necessário, já que ele não tinha vontade de fazer sacrifício. Ele tinha uma vocação especial, que ele mesmo descobriu, e que o dispensava da penitência. Quando trata da sua vida espiritual, ele afirma que não é preciso fazer sacrifícios, ser asceta, porque ele é inocente e tem desapego de tudo. E quem não entende a santidade de Plínio é porque é uma alma comum. Um pobre coitado...
E assim, está provado que Plinio é Santo. Ele disse e monsenhor João confirmou. Se a realidade é diferente, azar da realidade... As frases de Plínio, ditas por qualquer outra pessoa, seriam consideradas como as de um farsante, um “bon vivant” gozador da vida, jamais um exemplo de santidade. Mas diante dos olhos dos discípulos de Plinio, e de Monsenhor João, Plinio afirma que ser um aproveitador da vida boa, para ele, é um sinal de santidade. E todos acreditam.
Plinio criou uma seita na TFP, a Sempre Viva, e que foi continuada por Monsenhor João Clá entre os Arautos do Evangelho. A pessoa, ao ser admitida, adota um novo nome onde inclui Plinio, e agora também João, desde que monsenhor passou a lidera-la. As moças dos Arautos acrescentam João e Lucília.
Parece que a ideia também foi adotada recentemente pela esquerda, quando Lula foi preso. Diversos petistas acrescentaram Lula em seu nome. A presidente do partido ficou Gleisi Lula Hoffmann. Seria cômico se não fosse trágico.
A verdade está acima das pessoas, porque Cristo é a Verdade. Colocar qualquer um acima da Verdade é colocar-se acima de Cristo e, portanto, criar uma seita. O bispo do Paraná parece ter razão...
Para citar este texto:
"Seitas: Supervalorizar as Pessoas e Não a Verdade"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/supervalorizar_as_pessoas_e_nao_a_verdade/
Online, 21/12/2024 às 18:07:16h