Artigos
Política e Sociedade
Menores da Candelária, menores do seio materno
Paulo Miranda
Recentemente assistimos em nosso País a amplo e apaixonado debate em torno da legalização da pena de morte para os condenados por delitos de extrema gravidade.
A simples veiculação da proposta escandalizou e mobilizou em sentido contrário diversos setores da sociedade, notadadamente aqueles que se arvoram defensores dos direitos humanos.
Trata-se em geral dos mesmos setores que ergueram suas tubas para protestar contra o repugnante massacre de menores diante da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, bem como contra outros trágicos episódios que vêm marcando a triste vida nacional: assassinato de detentos em S. Paulo, de favelados no Rio etc.
Estes e outros lamentáveis fatos têm encontrado sempre vigilantes os referidos segmentos.
Pois bem. Fala-se agora com insistência em legalizar, ou ao menos em facilitar a prática do aborto.
Segundo nos consta, até o momento não foram ouvidos quaisquer protestos partidos dos mesmos círculos.
Parece que, para eles, o nascituro não goza de nenhum direito. Nega-se ao feto aquilo que se proclama em altos brados, com grande sensacionalismo, em favor até mesmo dos animais ou das plantas.
Segundo tal lógica - ou melhor, de acordo com tal non sense -qualquer daqueles menores da Candelária, por exemplo, poderia ou mesmo deveria ter sido morto. Bastaria, para tanto, que suas mães o desejassem.
Portanto, o mal do episódio que abalou o Brasil não residiria na essência do ato - tirar a vida - mas apenas em suas circunstâncias.
Foi crime assassinar menores que, indefesos, dormiam ao relento em praça pública. Coisa diversa teria sido matá-los ainda mais indefesos, enclausurados no local teoricamente mais seguro do universo: o útero materno.
O modus operandi empregado contra as crianças cariocas também chocou. Mas se, invés de encontrarem a morte em balas de revólver, tivessem sido, por exemplo, cortados em pedaços por uma cureta... Ou quiçá envenenados com sal... Nada haveria a opor.
Revoltante ceifar vidas de crianças que nenhuma chance tiveram na vida. Mas, tivessem elas ainda menos idade, fossem ainda totalmente inocentes, se ainda não tivessem tido tempo sequer de ver a luz do dia...
Há coisa mais hedionda do que eliminar seres humanos provavelmente desconhecidos, que por certo nenhum mal haviam feito aos pistoleiros? Todavia, se o ato houvesse sido cometido pelas próprias mães daquelas crianças e por médicos que juraram salvar vidas, a coisa seria muito diferente!
Crime? Massacre de inocentes indefesos?
Não. Controle da natalidade. Direito ao próprio corpo.
Contribuição para o acabar com a pobreza no País. Matando as crianças pobres.
Como qualificar alguém que defendesse o massacre dos menores no Rio de Janeiro? Que pensar dos que conscientemente defendem o aborto?
Triste lógica a desses pobres cínicos: exigem que o ser humano perca a inocência, de preferência até que venha a delinqüir, para que seja objeto de comiseração. Para que detenha direitos humanos. Na sua ótica de um só olho, "humanos" são , ao menos preferencialmente, os criminosos.
São seres humanos os nascituros?
A questão somente comporta resposta positiva: jamais alguém pôde sustentar a tese contrária através de qualquer argumento sério de cunho religioso, filosófico ou científico.
Pois é absolutamente impossível estabelecer um espaço temporal entre a fecundação e o surgimento da vida.
Aquele novo ser, longe de constituir mera parte do corpo da mãe, tem em si todos os elementos de ser humano independente, que somente fará desenvolver-se: é dotado, por exemplo, de código genético e tipo sangüíneo próprios. Em pouco tempo, ainda muito antes de nascer, a criança se fará sentir através de movimentos, batimentos cardíacos e outros indícios.
Matá-la em qualquer época constitui, portanto, crime.
Ainda que não se pudesse afirmar com segurança que o feto é um ser humano - o que admitimos apenas para argumentar -, de qualquer forma faria ele jus ao benefício da dúvida. Pois, assim como não se enterraria um homem sem a certeza de sua morte, ninguém, em sã consciência, aniquilaria algo que possivelmente constitui um ser humano vivo.
A defesa do aborto, no fundo, esconde unicamente a torpe justificativa do egoísmo. O qual não se detém, no ser humano brutalizado, diante da contradição, da vergonha ou de Deus.
Para citar este texto:
"Menores da Candelária, menores do seio materno"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/menores/
Online, 21/12/2024 às 17:49:14h