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Referendo sobre o desarmamento: 7 Razões para votar Não
Extraído da Reportagem de Capa Referendo da Fumaça, da Revista Veja de 05 de Outubro de 2005, pág. 76 a 88 assinada por Jaime Klintowitz.
7 Razões para votar ‘Não’ na consulta que pretende desarmar a população e fortalecer o contrabando de armas e o arsenal dos bandidos.
A revista Veja alinha 7 razões para votar NÃO no referendo sobre o comércio de armas de fogo convocado para o próximo dia 23. Veja acredita que melhor serve aos interesses de seus leitores e do país, incentivando a rejeição da proibição, aconselhando a votar NÃO no próximo referendo.
A pergunta que está sendo feita no referendo das armas é um disparate. Ela ilude o eleitor.
A pergunta “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” esconde uma enorme complexidade... O que torna o referendo das armas um erro em sua essência é justamente fazer pouco da boa-fé dos brasileiros que sofrem com o banditismo. O referendo é um despiste, uma tentativa de mudar de assunto, de desviar a atenção das pessoas do mal que realmente as atormenta: o banditismo.
A maneira como a pergunta do referendo foi formulada é, em si, desonesta. “Se me permitissem formular a questão do referendo de modo que o resultado fosse favorável ao desarmamento, eu teria feito exatamente a frase que será apresentada aos eleitores”, diz José Paulo Hernandez, diretor de Pesquisa da Gallup Organization.
Ninguém de boa fé pode ser favorável à venda indiscriminada de armas de fogo... O desastre é que se vencer o SIM, ele apenas vai desequilibrar mais ainda o balanço de forças entre as pessoas comuns e os bandidos – a favor dos bandidos. “As mazelas da insegurança nacional não decorrem do excesso de armas nas mãos da população, mas de uma polícia, um sistema judicial e um sistema prisional ineficientes”.
O próprio nome da campanha – pelo desarmamento – é enganoso. O título tem o apelo popular, mas não traduz com fidelidade o que está sendo proposto. Não se trata de um consulta sobre o desarmamento, mas sobre a proibição do comércio de armas.
Há 2,5 milhões de armas legalmente registradas em mãos de cidadãos comuns. Em termos percentuais, significa que 1,4% dos brasileiros tem uma arma que pode ser uma espingarda de caça. É contra essas pessoas que está sendo brandido o referendo. Na falta de qualquer outra estratégia real, que enfrente o crime e a corrupção policial com persistência, surgiu a solução da democracia direta que fará muito barulho por nada. É mais uma oportunidade perdida.
1o Motivo Para Votar NÃO – Os países que proibiram a venda de armas tiveram aumento da criminalidade e da crueldade dos bandidos.
A Jamaica, um dos países mais violentos da América, baniu as armas de fogo em 1974. De lá para cá, a situação piorou, e com o acréscimo de um novo elemento, o mercado negro de armamentos. “Os criminosos jamaicanos encontram pistolas e revólveres contrabandeados facilmente, enquanto o cidadão honesto que quer ter uma arma é obrigado a recorrer à ilegalidade” disse o canadense Gary Mauser, pesquisador do Instituto de Estudos Urbanos do Canadá e especialista em políticas de controle de armas, à revista cujo artigo resumimos.
Em 1996, a Austrália baniu os modelos automáticos e semi-automáticos e tirou 700.000 armas de circulação, um sexto do arsenal do país – mas o número de homicídios se manteve inalterado. Na Inglaterra, desde o banimento das armas com calibre superior a 22 milímetros, em 1997, os crimes de morte aumentaram em 25% e as invasões de residências em torno de 40%.
“Com a população desarmada os riscos são menores para os criminosos”, diz o economista John Lott, autor de dois livros sobre desarmamento.
2o Motivo Para votar NÃO – As pessoas temem as armas. A vitória do “Sim” no referendo não vai tirá-las de circulação no Brasil.
A culpa pelos altos índices de criminalidade e de homicídios não é da arma, mas de quem a tem em mãos. Revólveres não transformam cidadãos em assassinos.
A Suíça é um dos países mais armados do mundo. São 2 milhões de armas – entre elas 600.000 fuzis e 500.000 pistolas – para uma população de 7 milhões de pessoas. As ocorrências de crime por arma de fogo são tão baixas que nem sequer têm valor estatístico.
Em especial, os países de fronteira, com grandes espaços a ser ocupados, como os Estados Unidos, o Canadá, e o Brasil, têm a tradição da posse da arma e da caça. Nas zonas rurais brasileiras, longe dos pontos policiais, serve para sitiantes e fazendeiros defenderem suas propriedades de assaltos, invasões do MST e dos ataques de animais predadores e criações.
As armas, assim como as bebidas alcoólicas ou os automóveis, não causam estragos por conta própria. Só se tornam nocivas se forem mal utilizadas.
3o Motivo para Votar NÃO– O desarmamento da população é historicamente um dos pilares do totalitarismo. Hitler, Stalin, Mussolini, Fidel Castro e Mao Tse-Tung estão entre os que proibiram o povo de possuir armas.
Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, listou o desarmamento da população entre as providências essenciais para garantir o controle totalitário da sociedade.
Hitler desarmou os alemães e os povos dos países ocupados, mas distribuiu armas entre milícias fiéis ao regime. É o mesmo que atualmente fazem Fidel Castro em Cuba e o coronel Hugo Chávez na Venezuela.
Por que João Stédile, do MST, apóia o desarmamento: Seis de cada dez armas existentes no Brasil estão em área rurais. “Nas áreas rurais, a dezenas de quilômetros de uma delegacia de polícia, ter uma arma de fogo é uma necessidade”. Sem as armas, perderiam também um poderoso instrumento de dissuasão usado para prevenir saques e invasão do MST. É por isso que João Pedro Stédile, o líder máximo do MST, apóia o desarmamento: na próxima invasão, terá a segurança de que não enfrentará resistência armada. |
4o Motivo Para Votar NÃO – A polícia Brasileira é incapaz de garantir a segurança dos cidadãos.
O fato de a segurança coletiva ser atribuída ao Estado não elimina o direito de autodefesa do cidadão para proteger a própria vida.
Em países como o Brasil, em que a impunidade de criminosos, a ineficácia das leis, e a violência urbana fazem parte do imaginário nacional, é natural que a confiança dos cidadãos no Estado desapareça. A desconfiança da população tem respaldo nas estatísticas: apenas um décimo dos 50.000 homicídios que acontecem por ano no Brasil é esclarecido pela polícia.
5o Motivo Para Votar NÃO – A proibição vai alimentar o já fulgurante comércio ilegal de armas.
Bandidos não compram armas em lojas. “A maior parte das armas em poder do crime organizado é obtida por meio de contrabando”, diz o delegado Carlos Oliveira, titular da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos do Rio de Janeiro.
A proibição do comércio de armas de fogo não vai por fim ao mercado de armas e munições. A medida, além de contribuir para o crescimento do mercado clandestino, pode colocar o cidadão de bem em situação irregular.
6o MotivoPaar Votar NÃO – Obviamente, os criminosos não vão obedecer à proibição do comércio de armas.
Em vista das pesadas restrições que cercam a venda de armas no Brasil, todo o mastodôntico referendo foi criado, em última análise, para decidir sobre um reles arsenal de 3000 revólveres e armas de caça vendidos por ano. Isso num país em que se estima existirem 8 milhões de armas clandestinas.
7o Motivo Para Votar NÃO – O Referendo desvia a atenção daquilo que deve realmente ser feito: a limpeza e o aparelhamento da polícia, da justiça e das penitenciárias.
“Crime se combate com uma polícia honesta e bem equipada, não com o desarmamento da população”, diz o paulista José Vicente da Silva Filho, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública.
O governo federal gasta, por ano, 170 milhões de reais com segurança pública. Isso é menos do que os 270 milhões de reais que serão gastos com o referendo. Com esse dinheiro seria possível comprar 10.500 viaturas e 385 000 coletes à prova de bala para a polícia. O recurso seria ainda mais bem aplicado se fosse usado na aquisição de computadores para as delegacias e na unificação do banco de dados das forças públicas.
Para citar este texto:
"Referendo sobre o desarmamento: 7 Razões para votar Não"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/desarmamento/
Online, 21/11/2024 às 08:48:50h