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O Papa
Cardeal Martini desafia o Papa Bento XVI - um lobo uiva na noite
Orlando Fedeli
Na noite tenebrosa que caiu sobre a Igreja depois do Concílio Vaticano II, os lobos puderam atuar livremente. A eleição de Bento XVI parece ter trazido esperança de alvorada. Aliás, Bento XVI, em seu discurso logo após a sua eleição pediu aos católicos que rezassem para que Deus lhe concedesse coragem para enfrentar os lobos.Essas palavras já surpreenderam. Há tanto tempo não se falava mais em lobos... Bastaram essas palavras para que os lobos atentos erguessem as orelhas, prevendo perigo. Seria um anúncio de alvorada?
Os lobos uivam na noite. Até contra o clarão da Lua. Como não uivarão contra o Sol da verdade?
Há lobos uivando em Roma. Contra Bento XVI.
O Cardeal Carlo Maria Martini, ex Arcebispo de Milão, líder da corrente modernista defensora do chamado “espírito do Concílio Vaticano II”, e rival do Cardeal Ratzinger no último Conclave, saiu de um longo silêncio, para lançar um brado de revolta contra a atual orientação que o Papa Bento XVI vem imprimindo à Igreja Católica.
O Cardeal Martini é especialista em Sagrada Escritura, e não em Moral. Mas aproveitou as questões morais levantadas pelo relativismo atual sobre aborto, inseminação artificial, eutanásia e preservativos, para lançar um grito de clara oposição ao Papa Bento XVI.
A tirania do relativismo vem sendo imposta aos homens de hoje por meio de uma campanha universal de propaganda através da Mídia. Tal campanha conta com recursos imensos e o impulso da ONU e da Unesco, combatendo de frente a doutrina católica.
Já o Papa João Paulo II havia denunciado essa ditadura do relativismo que se tentava impor ao mundo, e, agora, o Papa Bento XVI tem se oposto firmemente a ela. Nessa hora de luta entre o Relativismo e o Catolicismo, entre o Papa Bento XVI e as forças mais ou menos veladas que visam destruir a moral católica e a própria Igreja, esvaziando-a de todos os seus valores, sua Fé, sua Moral, sua Liturgia, a entrevista do Cardeal Martini ao L´Expresso (no.16 , 2.006) soou como um desafio, ou como uma declaração de guerra a Bento XVI.
Desafio, sim. Porque, se o Papa se calar, sua autoridade ficará minada. Se reagir á altura, Martini ameaça se revoltar, liderando a ala modernista desgostosa com a anunciada liberação da Missa de sempre, com a projetada reforma da Missa Nova, que a condenaria à morte lenta (porque uma Missa nova, sem rock, com canto gregoriano, em latim, com o padre de costas para o povo e voltado para Deus, será o fim das Missas show de Padre Marcelo Rossi e quejandos).
Os que estão possuídos pelo “espírito do Vaticano II”, rejeitado pelo Papa Bento XVI em seu discurso de Natal aos Cardeais, não tolerarão um retorno da Igreja a uma situação pré-conciliar, que eles qualificam de retorno ao Syllabus e ao século XIX.
Estarão eles dispostos a ir às últimas conseqüências de seus princípios?
Quererão chegar eles até o Cismo fundando juridicamente uma Nova Igreja Conciliar separada do Papa?
Terá o Cardeal Martini, como sua entrevista diálogo com um cientista italiano, procurado lançar-se como o candidato a anti Papa desse possível cisma?
Não somos nós apenas que levantamos essa pergunta. O vaticanista Sandro Magister, que era tido como ligado ao então Cardeal Ratzinger, em um artigo, afirmou que em Roma se fala que Martini se lançou como candidato a Anti Papa.
(Cfr. Il “Day after” di Carlo Maria Martini, Il testo pubblicato su “L'espresso” dal cardinale ha molto contrariato il vertice della Igreja. Alcuni l'hanno letto come il manifesto di un antipapa. Ecco una rassegna delle reazioni. Con un commento di Pietro De Marco di Sandro Magister 28/04/2006 - http://www.Igreja.espressonline.it/dettaglio.jsp?id=53021 ROMA, 28 aprile 2006 – Su un Vaticano assuefatto alla cristallina predicazione di Joseph Ratzinger papa, con la verità delle cose celesti e terrene ogni volta da lui scolpita a cesello, le dieci pagine di dubbi, di ipotesi, di “zone grigie” del cardinale Carlo Maria Martini in dialogo col bioeticista Ignazio Marino su “L’espresso” della scorsa settimana sono calate come il manifesto di un antipapa).
A entrevista do Cardeal Martini discrepa tanto da doutrina moral da Igreja Católica e se opõe tão diametralmente ao que o Papa Bento XVI tem repetido em seus pronunciamentos, que só se pode interpretar o que disse serpentinamente o Cardeal Martini em sua escandalosa entrevista, como um desafio ao Papa Bento XVI.
Dissemos serpentinamente, porque o Cardeal nessa entrevista-diálogo fala como uma cobra. Fala com a linguagem insinuante de Lúcifer em que o “não” é “talvez”, e o talvez é “sim” disfarçado. E o “sim” é posto como conclusão fatal do leitor mais do que pronunciado pelas palavras insinuantes e tortuosas desse escandaloso Cardeal modernista.
De fato, o Cardeal Martini, embora defendendo pontos inaceitáveis pela Moral católica, procura colocar anteparos, distinções, dúvidas que lhe permitam uma escusa ou uma retirada futura, afirmando que não disse bem o que disse, que não foi bem compreendido, que só defendeu o mal menor, e, mesmo assim com interrogações, e não com afirmações taxativas. Esse homem aprendeu bem a linguagem dupla do Modernismo que afirma e nega, insinua e instala a mentira, o erro e o pecado, mas escondendo o insinuado, plantado e regado, com véus de justificativa enrolados em sofismas brumosos, e amarrados com distinções sibilinas que jamais retiram a tese insinuada, plantada e regada no ânimo dos leitores.
Na realidade, com essa escandalosa entrevista-diálogo, o Cardeal Martini quis lançar o primeiro brado do cisma silencioso que já existe na Igreja, hoje. Cisma silencioso do qual já falou o Papa João Paulo II, e que todos os que têm olhos para ver claramente vêem, e todos os que têm ouvidos para ouvir, ouvem, assim como todos os que têm inteligência para compreender, compreendem.
O cisma já existe. Era silencioso, (até agora). Era astutamente sabotador, oculto, esperando a hora do levante. Teria chagado a hora do levante?
Vejamos então o que disse o Cardeal Martini nessa entrevista-diálogo ao Expresso, fazendo nela uma proclamação pública de oposição ao Papa reinante, e ao mesmo tempo, lançando a sua plataforma eleitoral para um futuro possível conclave, caso Bento XVI morra, ou caso os modernistas caminhem para o cisma declarado, elegendo um antipapa.
Os Sete Pecados do Cardeal Martini Contra a Moral Católica
Da entrevista–diálogo que o Cardeal Martini teve com o Professor Ignazio Marino a O Expresso destacamos sete pontos que pecam escandalosamente contra a doutrina moral católica de sempre.
Claro, o Cardeal, além de lobo, tem a astúcia de uma velha raposa. Ele dá um golpe contra a moral católica, e, em seguida, procura erguer reservas, fazer distinções e anteparos para mascarar sua ousadia.
Para distinguir e destacar bem, para boa leitura de nossos leitores o modo serpentino de expressar-se do Cardeal Martini, colocamos em vermelho as frases mais escandalosas, e, em azul, os recuos e resguardos táticos com que ele procura camuflar seu ataque.
I - Sobre o aborto, declarou o Cardeal Martini:
a) Que o Estado tem o direito de intervir na questão do aborto:
“Isto posto, parece-me que também sobre um tema doloroso como o aborto (que como o senhor diz, representa sempre uma derrota) seja difícil que um Estado moderno não intervenha pelo menos para impedir uma situação selvagem arbitrária”.
b) Que o Estado pode deixar de punir certos casos de aborto e que a mulher grávida pode decidir se aborta ou não:
“E me parece difícil que em situações como as nossas, o Estado não possa não colocar uma diferença entre atos puníveis penalmente e atos que não é conveniente perseguir penalmente. Isto não quer dizer de fato, “licença para matar”, mas somente que o Estado não se sente capaz de intervir em todos os casos possíveis mas se esforça em diminuir os abortos, de impedir com todos os meios, sobretudo depois de algum tempo do início da gravidez, e se empenhe em diminuir quanto for possível as causas do aborto e a exigir precauções a fim de que a mulher que decidisse de todo o modo executar esse ato, em particular nos tempos não puníveis penalmente, não fique por isso gravemente prejudicada fisícamente até o perigo de morte. Isto acontece em particular, como o senhor recorda, nos casos dos abortos clandestinos, e portanto, tudo somado, é posítivo que a lei tenha contribuódo a reduzí-los e tendendcialmente a eliminá-los”.
c) Que compreende que o Estado coopere para o aborto:
“Compreendo que na Itália com a existência do Serviço Sanitário Nacional, isto comporte uma certa cooperação das estruturas publicas a favor do aborto. Vejo toda dificuldade moral dessa situação, mas no memento não saberia o que sugerir, porque provavelmente toda solução que se quisezesse procurar comprotaria aspectos negativos. Por isso o aborto é sempre uma coisa dramática que não pode de modo algum se considerado como um remédio para a superpopulação como me parece acontecer em certos paises do mundo.
Naturalmente não pretendo incluir nesse julgamento também àquelas situações limites, também elas dolorosíssimas e raras, mas que de fato podem se apresentar, em que um feto ameace gravemente a vida da mãe. Nestes casos e outros semelhantes me parece que a teologia moral sempre sustentou o princípio da legítima defesa e do mal menor, também se se trata de uma realidade que demonstra a dramaticidade e a gragilidade da condição humana. Por isto a Igreja declarou também heróica e exemplarmente evangélico o ato daquelas mulheres que escolheram evitar para a vida que carregam em seu seio, memso a custo de perder a própria vida. Não consigo, pelo contrário, aplicar tal princípio da legitima defesa e do mal menor aos outros casos extremos que o senhor levantou como hipotéses, nem me valeria da consciência perplexa, que não sei bem o que significa. Parece-me que também nos casos em que uma mulher não possa, por diversos motivos, sustesntar os cuidados do seu filho, não deve faltar outras instâncias que se ofereçam para criá-lo e cuidar dele. Mas em todo caso considero que tem que ser respeitada que, talvez depois de muita reflexão e sofrimento nesses casos extremos, siga sua consciência, memso se se decide por alguma coisa que não me sinto em condições de aprovar”.
II - Sobre fecundação artificial e implantação de embriões em mulheres -- até solteiras --, disse o Cardeal Martini:
“Parece-me que estamos diante de um conflito de valores, mais evidente no caso da mulher solteira que deseja ter uma gravidez, mas existente também, pelos motivos que disse antes, nos casais que, por graves razões médicas, não possam recorrer à fecundação artificial normal. Lá onde há conflitos de valores, pareceria-me eticamente mais significativo propender para aquela solução que permite a uma vida expandir-se ao invés de deixá-la morrer. Compreendo, contudo, que nem todos adotarão esta opinião. Somente quereria evitar que houvesse um confronto com base em princípios abstratos e gerais onde, ao invés, estamos em uma zona cinzenta onde é obrigatório não entrar com juízos apodíticos."
III – Quando o Professor Marino negou que no ovócito houvesse vida humana, o Cardeal Martini concordou:
Professor Marino:
“Existem técnicas mais sofisticadas do que aquelas utilizadas, hoje, que prevêem o congelamento, não do embrião, mas do ovócito antes da fusão dos dois pró-núcleos, isto é, no momento em que os dois contributos cromossômicos, o masculino e o feminino estão ainda separados e não existe ainda um novo DNA.
“Nesta fase não é possível saber que caminho tomarão as células no momento em que começarão a se reproduzir: poderiam dar origem a um menino ou a dois gêmeos monozigotos. Não há embrião, não há um novo patrimônio genético e, portanto, não há um novo indivíduo.
Sob o ponto de vista biológico não há uma nova vida. Podemos então pensar que ela não existe nem mesmo sob o ponto de vista espiritual e que, portanto, não há problema em se considerar a idéia de seguir este caminho até mesmo por parte de quem têm uma fé?
Cardeal Martini:
“Compreendo como estes fatos afligem muitas pessoas, sobretudo àquelas mais sensíveis aos problemas éticos. E, ao mesmo tempo, estou convencido que os processos da vida e, pois, também aqueles da transmissão da vida, formam um continuum no qual é difícil caracterizar os momentos de um verdadeiro e próprio salto de qualidade. Isto faz com que, quando se trata da vida humana, ocorre um grande respeito e uma grande reserva sobretudo isto que de qualquer modo a manipula ou a possa instrumentalizar a vida humana desde os seus inícios.
Isso, no entanto, não quer dizer que não possamos individuar os momentos nos quais não se manifesta ainda nenhum sinal de vida humana singularmente definível. Parece-me ser o caso proposto pelo senhor sobre do ovócito no estágio de dois pró-núcleos. Neste caso, parece-me que a regra geral de respeito pode conjugar-se com aquele tratamento técnico que o senhor sugere”.
Entretanto, em debate com Umberto Eco, realizado em 1995, o Cardeal Martini havia afirmado que a vida começa na fecundação:
"A partir da concepção nasce, de fato, um ser novo. Novo significa diverso dos dois elementos que, unindo-se, o formaram. Tal ser inicia um processo de desenvolvimento que o levará a tornar-se aquela “criança, coisa maravilhosa, milagre natural ao qual se deve aderir”. É este o ser de que se trata, desde o início. Há uma continuidade na identidade.” ("Em que crêem os que não crêem?", Ed. Record, 1ª. Ed., Brasil, pág. 39) (Marcos Libório, Em que crê o Cardeal Martini ?)
IV — o Cardeal Martini aprovou a fecundação, mesmo heteróloga, uam espécie de “adultério” laboratorial:
“As objeções de natureza psicológica que o senhor recordou estão justamente entre os motivos que impediram não poucos a seguir no caminho da fecundação heteróloga, ainda que isto pudesse provocar sofrimento em alguns. Sob o prisma ético, se acrescenta a proteção ao relacionamento privilegiado que com o matrimônio se institui entre um homem e uma mulher. Pessoalmente, todavia, penso ainda sobre a situação que se venham a criar com as várias formas de adoção e de confiar a criança a alguém, de onde para além do patrimônio genético é possível estabelecer uma verdadeira relação afetiva e educativa com quem não é genitor no sentido físico do termo. Serei, portanto, prudente ao exprimir-me sobre aqueles casos que o senhor recorda, nos quais não é possível recorrer ao sêmen ou ao ovócito do próprio casal. Tanto mais aí onde se cuida de decidir sobre a sorte dos embriões de outra forma destinados a perecer, mas cujo implante no seio de uma mulher ainda que solteira parece preferível à pura e simples destruição.
“Parece-me que estamos naquelas zonas cinzentas da qual eu falava antes, nas quais a probabilidade maior é ainda a da recusa da fecundação heteróloga, mas nas quais não seja talvez oportuno ostentar uma certeza que aguarda ainda confirmações e experiências”.
V—Adoção por solteiros
"O senhor se coloca perguntas sérias e razoáveis a respeito de um tema complexo, sobre o qual não tenho experiência suficiente. Mas penso que o ponto de partida é a condição que o senhor exprime na conclusão. Isto é, é preciso assegurar que quem toma a responsabilidade sobre a criança adotada tenha motivo justos, possua os meios e a capacidade para garantir um crescimento sereno. Quem está em tal condição? Certamente, antes de tudo, um família composta por um homem e uma mulher que tenham sabedoria e maturidade e que possam garantir uma série de relações inclusive intra-familiares aptas para fazer desenvolver a criança sobre todos os pontos de vista. Na falta disto, é claro que também outras pessoas e até mesmo solteiros, poderiam dar de fato algumas garantias essenciais. Eu não me fecharia, portanto, a uma única possibilidade, mas deixarei aos responsáveis qual é a melhor solução de fato, aqui e agora, para este menino ou menina. O objetivo é garantir concretamente o máximo de condições favoráveis possíveis. Por isso, quando se dá a possibilidade de escolher, é preciso escolher o melhor”.
VI -- Cardeal Martini aceita que se use preservativo para evitar a AIDS:
“É preciso fazer de tudo para combater a AIDS. Certamente, o uso do preservativo pode constituir em certas condições um mal menor. Há ainda a situação particular dos esposos em que um deles está afetado pela Aids. Este está obrigado a proteger o seu companheiro, e este também deve poder se proteger”.
VII – Aprovação da eutanásia:
"Estou de acordo como senhor em que não se pode jamais aprovar o gesto de quem induz à morte de outros, particularmente s eé um médico, que tem como finalidade de vida salvar a vida do doente e não dar-lhe a morte. Mas eu não quereria condenar as pessoas que fazem um tal gesto a pedido de uma pessoa reduzida aos extremos e po puro sentimento de altruísmo, como também aqueles que em condiçoes fisicas e psíquicas desastrosas o pedem para si.
De outro lado penso que é importante distinguir bem os atos que causam vida dos que causam morte. Estes últimos não podem jamais ser aprovados Considero que sobre este ponto deve sempre prevalecer aquele sentimento de confiança fundamental na vida que, apesar de tudo, vê um sentido em cada momento do existirr humano, um sentido que nenhuma circunstância, por mais contrária que seja, pode destruir.
Todavia sei que se pode chegar a tentações de sespero a respito do sentido da vida e a levantar a hipótese do suicídio para si ou paar outros, e, por isso,rogo antes de tudo paar mim e depois por outros a fim de que Deus proteja cada um de nós desta terríveis provas. Em todo caso é importantissimo o estar proximos dos doentes graves, sobretudo em estado terminal, e fazê-los sentir que s equer o bem deles, e que a sau exsitência tem, de qualquer modo,um grande valor, e está aberta a uma grande esperança. Também neste caso um médico tem uma sua importante missão”.
Reações
Inicialmente, a reação a essas declarações espantosas foi de estarrecimento.
Era claro o objetivo do Cardeal Martini: contestar e desafiar a autoridade do Papa Bento XVI que tem sempre se manifestado condenando tudo aquilo que o Cardeal Martini defendeu com relação a esses sete pontos da moral católica. No Vaticano, a princípio fez-se silêncio.
O Cardeal Ruini recusou se pronunciar sobre o caso.
A primeira reação foi de Mosenhor Elio Sgreccia, Presidente da Pontifícia Academia para a Vida. Declarou ele que a Igreja não havia mudado a sua doutrina com relação aos pontos tocados pelo Cardeal Martini.
Monsenhor Sgreccia destacou ainda que a vida começa desde o primeiro instante da concepção, e fez reservas contra a fertilização in vitro e contra o uso de preservativos.
A reação mais enérgica veio dias depois pela voz do Cardeal Alfonso López Trujillo, presidente do Pontifício Conselho para a Família. Em 2 de Maio se noticiou que ele, falando a um emissora colombiana Radio Cadena, declarou que “A Igreja não pensa retroceder nem um milímetro” em sua política com relação ao preservativo e a prevenção da Aids”
O purpurado colombiano disse ainda que as declarações do Cardeal Martini “não passam senão de opiniões pessoais dele que não refletem a doutrina católica” e decerto modo desqualificou a competência de Martini nesse terreno da Bioética lembrando que o Cardeal Martini era especialista em Sagrada Escritura e não em moral.
López Trujillo afirmou que para combater a AIDS, a Igreja ensina que os meios moralmente aceitáveis e medicamente eficazes são a Abstinência, Be faithfull --Fidelidade conjugal,-- e Castidade (ABC).
Quanto ao aborto, o Cardeal Colombiano foi ainda mais taxativo e até um tanto ameaçador pois disse que pretendia interpelar o Cardeal Martini sobre sua declaração que o aborto poderia ser aprovado como mal menor ou como legítima defesa da mãe contra o feto que ameaçaria a sua vida:
"Esta tese só pode se explicar como uma transcrição errada do que ele (Cardeal Martini) disse. Tenho a intenção de pedir ao Cardeal Martini, pelas vias devidas, se essa sua declaração é autêntica. Na encíclica 'Evangelium Vitae' há uma fórmula que está muito próxima de uma definição dogmática: jamais, por razão alguma, se pode eliminar a vida do inocente, e a vida do inocente é o feto; jamais a Igreja reconheceu que no caso em que a vida da mãe seja ameaçada pelo filho, seja permitido o aborto e jamais o permitirá, por que esta é a única doutrina da Igreja. Creio que neste sentido o cardeal foi mal interpretado, porque uma pessoa tão importante, com uma vasta gama de conhecimentos, sabe muito bem que jamais a moral católica disse algo diferente disso".(sublinhado nosso).
"Na próxima vez que ele vier a Roma, certamente lhe pedirei contas da transcrição, e certamente obterei dele a boa notícia de que algumas das suas declarações foram mal compreendidas”. (López Trujillo sconfessa Martini: 'Esto solo puede explicarse con una mala trascripcion...'http://blog.espressonline.it/weblog/stories.php?topic=03/04/09/3080386)
Para bom entendedor...
E ontem, dia 4 de Maio, na Universidade Católica Santo Antônio de Múrcia, no Congresso Internacional Europa pela Vida, o mesmo Cardeal López Trujillo voltou à carga, dizendo que “A Europa está perdendo os valores humanos. O homem está perdendo sua razão de Fé na medida em que entra nessa sociedade desumanizada, num universo imaturo”
López Trujillo foi decisivo ao afirmar que «o aborto, nunca, em nenhuma situação, pode ser admitido pela Igreja. Ele é um delito abominável que não é lícito permiti-lo nem sequer quando a vida da mãe corre perigo».
Disse ainda que: “Nesse sentido, a criança tem direito a ser concebida e de nascer em uma família” e insistiu que o homem «não é uma coisa, não é uma mercadoria e que nenhum Estado pode arrogar-se o direito de decidir sobre a vida humana».
O Cardeal colombiano, sempre contradizendo o que havia dito o Cardeal Martini, disse com energia:
«Não há argumento contrário à afirmação de que desde o primeiro momento da concepção estamos diante de uma pessoa humana» e que conceber um mundo sem filhos «é conceber o inferno».
Parece terem razão os que, como Sandro Magister, viram na escandalosa entrevista do modernista Martini um seu lançamento como possível Anti Papa de um cisma. Pode-se pelo menos dizer que o Cardeal Martini declarou guerra a Bento XVI.
Por que isso, agora? Muito provavelmente, a ala modernista defensora do “Espírito do Vaticano II” quis ameaçar Bento XVI: caso ele prossiga em seu projeto de restabelecer a Missa de sempre, e de reformar, -- para acabar com ela --, a Missa Nova de Paulo VI, expressão mais clara do modernismo conciliar, essa ala se rebelaria e faria um cisma.
Claro que essa é só uma hipótese desses jornalistas. Mas ela tem alguma base...
Principalmente ela estaria na linha da visão do terceiro Segredo de Fátima. Mas só Deus conhece o futuro. A nós só cabe rezar e esperar. Sem deixar de abrir os olhos porque eles nos foram dados para ver, e não para recusar ver.
Yblis
Falamos dos lobos uivantes na noite tenebrosa deste Tertium Milenium inneuntem... Isso nos lembrou de uma cena da peça de Claudel, Jeanne au Bûcher, quando a donzela de Orleans, presa ao poste em que ia ser queimada no dia seguinte, ouve um uivo longo na noite, e pergunta a São Domingos, sentado nos degraus do patíbulo:
“Quel est ce chien qui hurle dans la nuit?” (Que cão é esse que uiva na noite?)
E São Domingos lhe retruca:
“Ce n´est pas un chien. C´est Yblis, le desespere qui hurle au fond des enfers”. (Não é um cão. É Yblis, o desesperado, que urra no fundo do inferno).
Deus guarde a Santa Igreja.
São Paulo, 5 de Maio de 2.006, festa de São Pio V.
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"Cardeal Martini desafia o Papa Bento XVI - um lobo uiva na noite"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/papa/martini_papa/
Online, 22/11/2024 às 06:01:27h