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Frei Cantalamessa: Crimes atrozes sem solução
Um crime misterioso é evocado pelo pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, diante do Papa e de todos os Cardeais, além do clero e povo presentes nesta Sexta Feira Santa na Basílica de São Pedro. E, mais surpreendente, o pregador insiste que culpados não levem para o túmulo suas culpas, mas confessem-se para obter o perdão de Deus, citando uma passagem de Isaías que relaciona por duas vezes a cor vermelha com o pecado. Abaixo um resumo do caso, publicado pela Agencia France Presse, em tradução Montfort, e o trecho do sermão de Frei Cantalamessa, publicado por Zenit. Comentários em azul Lucia Zucchi.
Acusações, na Sexta Feira Santa, do pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, sobre os “crimes atrozes que permaneceram sem culpados”, visariam o silêncio do Vaticano sobre um crime famoso, o caso Orlandi, considerava hoje a imprensa italiana.
Evocando diante de Bento XVI, na Basílica de São Pedro, o “bom ladrão” que, crucificado ao lado de Jesus, reconhece sua culpa antes de morrer, o teólogo emitiu considerações surpreendentes, que suscitaram numerosas especulações.
Após mencionar o “sofrimento das crianças inocentes”, o padre acrescentou: “Quantos crimes atrozes que permanecem, nos últimos tempos, sem culpados, quantos casos não resolvidos! O bom ladrão faz um apelo aos responsáveis: fazei como eu, vinde à luz, confessai vossas culpas”.
(...) Essas frases dizem respeito, mais provavelmente, ao enigma nunca solucionado do sequestro de uma adolescente de 15 anos, Emanuela Orlandi, filha de um funcionário do Vaticano, em 1983. desaparecida desde então.
O caso Orlandi é um dos numerosos mistérios da Italia e do Vaticano, pelo qual o irmão da jovem, Pietro Orlandi, acusa há muito tempo, o Vaticano – ou ao menos prelados do Vaticano – de silêncio ou mesmo de cumplicidade.
O Frei Cantalamessa fez alusão à responsabilidade dos que sabem e não falam. “Não carregai convosco até o túmulo o vosso segredo; encontraríeis uma condenação muito mais temível do que aquela humana. O nosso povo não é cruel com quem errou mas reconhece o mal feito, sinceramente, não somente por algum interesse”, afirmou ele.
Em 22 de junho de 1983, Emanuela, filha de um empregado da Prefeitura da Casa Pontifícia, desapareceu na saída de uma aula de música na Piazza Santo Apolinario, em Roma.
Toda espécie de pistas foram seguidas desde então: supostas ligações do sequestro com Ali Agca, o agressor turco do Papa João Paulo II [Ali Agca, entrevistado pelo irmão de Emanuela, alguns meses atrás, teria dito a este que se informasse sobre o caso com o Cardeal Re!], o papel do antigo presidente americano do Instituto para as Obras de Religião (IOR, o banco do Vaticano), ou a implicação de serviços secretos, mas nada foi provado.
Mais provável, ao contrário, é a hipótese de que a jovem tenha estado ao menos algum tempo em mãos do Bando da Magliana, um grupo criminoso romano. Uma mulher, antiga amante de um chefe deste bando, Enrico de Pedis, tinha declarado que Emanuela fora morta e seu corpo jogado em uma betoneira, no subúrbio de Roma. [Mais um mistério, na falta de outros: na semana passada, um político romano interpelou o Vaticano sobre o fato do criminoso de Pedis, morto em um acerto de contas do bando em 1990, estar sepultado em uma basílica romana. Exatamente a Basílica de Santo Apolinário, diante da qual Emanuela foi vista pela última vez, possivelmente em companhia do mesmo De Pedis. O que faz um famoso bandido sepultado na basílica pertencente ao Opus Dei, em Roma?]
Tracho do sermão de Frei Raniero Cantalamessa na Sexta Feira Santa, 6 de abril de 2012
Entre os personagens da paixão que podemos nos identificar percebo que deixei de citar um, que mais do que ninguém, espera quem lhe siga o exemplo: o bom ladrão. O bom ladrão faz uma confissão completa dos pecados; diz ao seu companheiro que insulta Jesus: “Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça; estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal” (Lc 23, 40 ss.). O bom ladrão se mostra aqui um excelente teólogo. Só Deus de fato, se sofre, sofre absolutamente como inocente; qualquer outro ser que sofre deve dizer: "Eu sofro com justiça," porque, embora não seja responsável pela ação imputada, nunca está totalmente sem culpa. Só a dor das crianças inocentes é semelhante àquela de Deus e por isso é tão misteriosa e tão sagrada. Quantos crimes atrozes que permanecem, nos últimos tempos, sem culpados, quantos casos não resolvidos! O bom ladrão faz um apelo aos responsáveis: façam como eu, venham à luz, confessem a vossa culpa; experimentareis também vós a alegria que eu senti quando ouvi a palavra de Jesus: “Hoje estarás comigo no paraíso!” (Lc 23, 43). Quantos réus confessos podem confirmar que foi assim também para eles: que passaram do inferno ao paraíso no dia que tiveram a coragem de arrepender-se e confessar a sua culpa. Eu também conheci alguns. O paraíso prometido é a paz da consciência, a possibilidade de olhar-se no espelho ou olhar para os próprios filhos sem ter que desprezar-se. Não carreguem convosco até o túmulo o vosso segredo; encontraríeis uma condenação muito mais temível do que aquela humana. O nosso povo não é cruel com quem errou mas reconhece o mal feito, sinceramente, não somente por algum interesse. Pelo contrário! Está pronto para ter pena e acompanhar o arrependido no seu caminho de redenção (que de qualquer forma, torna-se mais curto). "Deus perdoa muitas coisas, por uma obra boa", diz Lucia ao Inominável no “Os Noivos”. Ainda mais, devemos dizer, que ele perdoa muitas coisas por um ato de arrependimento. Ele prometeu solenemente: “Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim tornar-se-ão como a lã” (Is 1, 18).Para citar este texto:
"Frei Cantalamessa: Crimes atrozes sem solução"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/papa/frei-cantalamessa-crimes-atrozes-sem-solucao/
Online, 23/12/2024 às 00:50:15h