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O Papa
Quem é culpado pelo acobertamento da pedofilia no clero?
Orlando Fedeli
A campanha de difamação contra o Papa Bento XVI, querendo culpá-lo pelo acobertamento e difusão dos crimes de pedofilia no clero atual, prossegue com virulência inaudita. O Papa está sofrendo um processo de linchamento — de apedrejamento moral — movido por forças ocultas, que não se conformam com o fato de Bento XVI ter rompido o “convívio” ameno da Nova Igreja conciliar com a Modernidade.
João XXIII iniciou esse processo de convívio ameno e dialogante da Igreja com o Mundo, depois de capitular diante da ameaça de perseguição, caso ele não aceitasse as propostas de mudar a Igreja, democratizando-a com a colegialidade e caricaturando-a com o ecumenismo. Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II foram Papas que aceitaram e promoveram a Nova Igreja conciliar. Bento XVI a pôs em discussão e lhe fez críticas profundas, condenado a ruptura com a Igreja de sempre, ruptura essa promovida especialmente pelo espírito do Concílio.
Logo após a morte de João Paulo II, e antes do Conclave que elegeu Bento XVI, ouviram-se os primeiros trovões rugindo às portas da Capela Sixtina, anunciando tempestade. Era o Cardeal Ratzinger discursando com voz suave e palavras terríveis contra a “sporchizia” na barca de Pedro.
Quanta sporchizia!
Apesar disso, ele foi o Papa eleito!
E as primeiras medidas e discursos de Bento XVI logo despertaram ódio. À medida que Bento XVI foi deixando claro qual era o objetivo de seu pontificado, o ódio a ele foi crescendo. A liberação da Missa de sempre – tão odiada por muitos Bispos – e as negociações com a FSSPX despertaram a oposição feroz dos modernistas e dos radicais do tradicionalismo, aqueles que são sorridentes ao sede vacantismo, ou beiram junto a seu abismo.... Por enquanto...
O caso Wiliamson que o diga...
De repente, explodiu a crise da pedofilia. Por toda a parte começaram a ser denunciados velhos crimes de velhos padres, em todo o mundo. E o dedo acusador logo apontou como culpado o ex Cardeal Ratzinger.
Ora, querer acusar Bento XVI dessa culpa clama ao céu vingança. Porque Ratzinger sempre combateu a pedofilia no clero e sempre se opôs à política de acobertamento e de silêncio cúmplice, ou covarde, diante de tais crimes.
Ao ser nomeado Arcebispo de Munich, em 1977, ele manifestou claramente sua posição contra esses crimes e contra esse acobertamento. Prova disso, são as suas próprias palavras a respeito desses problemas quer contra esses crimes, quer contra o silêncio cúmplice ou covarde a respeito deles:
“A IGREJA NÃO DEVE PACTUAR, MAS DENUNCIAR”
"Mas é verdade que a Igreja nunca deve simplesmente pactuar com o espírito do tempo. Tem de denunciar os vícios e os perigos de uma época; tem de interpelar a consciência dos poderosos, mas também dos intelectuais e daqueles que vivem, de coração estreito e confortavelmente, ignorando as necessidades da época etc. Como bispo, senti-me obrigado a cumprir essa missão . Além disso, os déficits eram flagrantes: desânimo da fé, diminuição das vocações, queda do nível moral, sobretudo entre as pessoas da Igreja, tendência crescente de violência e muitas outras questões. Lembro-me sempre das palavras da Bíblia e dos Padres da Igreja, que condenam com grande severidade os pastores que são como cães mudos e que, para evitar conflitos, deixam que o veneno se espalhe. A tranqüilidade não é a primeira obrigação de um cidadão, e um bispo que só estivesse interessado em não ter aborrecimentos e em camuflar, se possível, todos os conflitos, é para mim uma idéia horrível." (Cardeal Joseph Ratzinger, O SAL DA TERRA, Peter SEEWALD, Ed. Imago, 1997, p. 67. Destaques nossos).
Bento XVI condenou, como Deus, os cães mudos.
E desde que ele foi a Roma, como Cardeal da Congregação da Doutrina da Fé, ele queria que se rompessem certos silêncios e acobertamentos.
Agora, alguns fatos estão vindo à tona, como por exemplo, a insistência de Ratzinger na condenação do padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, que João Paulo II protegeu e até apresentou como modelo. Ratzinger não conseguiu convencer João Paulo II de que esse homem era um criminoso. Mas, subindo ao trono pontifício, Bento XVI afastou Padre Marcial Maciel de toda atividade religiosa, investigou os fatos e condenou esse fundador religioso como corrupto e corruptor. Caso parecido aconteceu com o Cardeal Groer, de Viena, contra o qual o Cardeal Ratzinger teve mais êxito junto ao Papa João Paulo II.
Nestes últimos dias, por meio de artigos importantes na imprensa internacional esses fatos se tornaram públicos. Damian Thompson e John Allen mostraram que não se quer contar o que aconteceu para proteger a fama de João Paulo II. Pois defender a inocência de Bento XVI na questão da cumplicidade silenciosa sobre esses crimes acabaria por mostrar que não foi ele o responsável por uma política desastrosa, e sim os Papas que o precederam.
Eis algumas palavras de Damian Thompson, publicadas pelo Messainlatino.it:
“Muito tempo antes de ser papa, Joseph Ratzinger lutou para reforçar os procedimentos da Igreja Católica a fim de enfrentar as acusações de abuso. Entretanto o Vaticano não conseguiu transmitir essa mensagem crucial durante uma epidemia de histeria mediática dirigida – preguiçosa e maliciosamente – contra Bento XVI. Por que?
“Poderia ser porque dizendo a verdade sobre Bento XVI se ofuscaria a reputação de João Paulo II?
“Isso é sugerido por John Allen, que, não obstante escreva para o ultra progressista periódico americano National Catholic Reporter é largamente considerado como o mais autorizado comentarista Vaticano no mundo anglófono” (Damian Thompson, Por que Bento XVI deve carregar o peso das culpas do seu predecessor? )
“Isso é sugerido por John Allen, que, não obstante escreva para o ultra progressista periódico americano National Catholic Reporter é largamente considerado como o mais autorizado comentarista Vaticano no mundo anglófono” (Damian Thompson, Por que Bento XVI deve carregar o peso das culpas do seu predecessor? )
A tese defendida por John Allen e endossada por Damian Thompson baseia-se especialmente na carta e nas declarações do Cardeal Hoyos, que mandou uma carta a um Bispo francês felicitando-o por acobertar, por ordem do Papa João Paulo II, o caso de um Padre pedófilo. Castrillón assumiu a responsabilidade dessa confissão para indiretamente defender Bento XVI.
“Enfim, uma nota sobre o impacto do episódio Castrillón: ironia da sorte, exumar tal carta de 2001 pode ter condenado Castrillón, mas na realidade poderia realmente ajudar Bento XVI.
“Durante o giro mais recente da cobertura mediática, houve uma grave incongruência entre o efetivo papel do Papa Bento XVI sobre os abusos sexuais – ou seja, o alto funcionário
Vaticano que tomou a crise mais a sério, desde 2001, e que assumiu o encargo da reforma - e a imagem externa do papa como parte do problema.
“Ainda que houvesse muitas razões para esse fato, o essencial é que o Vaticano teve dez anos para contar ao mundo a história de "Ratzinger o Reformador", e em vez disso, essencialmente deixou passar a ocasião. Tal omissão deixou um vazio nas relações públicas em que uma mancheia de casos do passado do Papa, nos quais o seu papel havia sido na realidade marginal, vieram a definir o seu perfil.
“Deve-se perguntar, por que o Vaticano não conta a história de Ratzinger?
“Pelo menos uma parte da resposta, suspeito, é porque para fazer aparecer bem Ratzinger, eles deveriam fazer aparecer mal a outros – entre os quais, obviamente, Castrillón, além de outros altos funcionários vaticanos. Escondida por trás dessa preocupação há outra mais profunda, que é que, para salvar a reputação de Bento XVI, poderia ser necessário ofuscar a reputação de João Paulo II.
“De fato, ao renunciar à tradicional imunidade de um Cardeal a críticas, nesse caso, Castrillón, inadvertidamente, deu licença ao Vaticano e aos funcionários da Igreja no mundo, para apontá-lo como o "mau".(Damian Thompson citando Allen in Messainlatino, artigo citado).
Esses artigos de John Allen e de Damian Thompson provocaram uma resposta de Salvatore Izzo, na qual este articulista tenta defender especialmente Paulo VI e também João Paulo II.
O artigo de Izzo é bastante fraco e mal argumentado. Por exemplo, para afirmar que a Igreja sempre combateu os vícios do clero, especialmente a pedofilia, ele recorre ao que fez, nesse sentido, o padre Marcelino Champagnat, no século XIX. Ora, recorrer a esse fato é um absurdo. Claro que a Igreja, no passado, combateu a pedofilia. O que Izzo deveria ter dado é um exemplo de combate a esses vícios no clero, no período pós conciliar, já que a acusação é que após o Vaticano II não se combateram mais os pecados do povo, e muito menos os do Clero.
Aliás, o próprio Salvatore Izzo reconhece que foi após o Vaticano II que espalharam esses vícios no clero:
“Uma linha de aquiescência (mas não só sobre a pedofilia, como também sobre todas as questões relativas a comportamentos sexuais) se afirmou, em vez disso sistematicamente, depois do Concílio Vaticano II, por causa de uma crise moral que minou até os fundamentos as comunidade cristãs, e em particular o sacerdócio, como Bento XVI explicou muito bem na Carta aos católicos da Irlanda.
“Evidentemente, por alguns decênios os graves crimes dos quais falamos eram considerados episódios totalmente desligados do contexto eclesial, no sentido que se tendia a tê-los como fatos privados entre o sacerdote, individualmente, e a sua consciência, e ademais se tendia a julgar que os pecados contra o sexto mandamento eram agora apenas uma reminiscência do passado, enquanto por demais ligados à ''casuística'' que causava horror aos novos teólogos morais, mais atentos, com efeito, às ''estruturas de pecado'' e à sua relevância social.
“A dessacralização do sacerdócio, a revolução sexual e a revolução cultural de 1968 tiraram dos gonzos os equilíbrios precedentes, e de tudo isso proveio um impulso fortíssimo para o abismo moral no qual caiu uma minoria de sacerdotes (mas não pouquíssimos)”. (Salvatore Izzo,Igreja e pedofilia:Salvatore Izzo responde a Damian Thompson e John Allen, In Paparatzingerblog.it 29 de Abril de 2010).
Por essas palavras, Izzo reconhece que o Vaticano II foi o causador da crise moral do clero e do mundo nos últimos quarenta anos. Ele reconhece ainda que a revolução de 1968, ligada ao Concílio, levou à omissão de condenações, proclamada como nova pastoral por João XXIII, também para a esfera civil. Nada seria condenável. Tudo ficou permitido. Ficou proibido proibir.
Claro! Se os crimes contra a Fé não deveriam mais ser punidos, porque se deveriam condenar ou proibir atos contrários à lei de Deus?
Acabaram-se os confessionários.
Uma Nova Moral nasceu com a Nova Igreja do Vaticano II. O corporativismo do clero — Padre só acredita em padre. Padre tende a acobertar pecados de outros padres — fez o relativismo conciliar triunfar e espalhar os vícios do clero como água de morro abaixo, como fogo em ladeira acima. É o que reconhece Salvatore Izzo.
“Esses sacerdotes que caíram foram acobertados em primeiro lugar por seus confrades sacerdotes - que se viravam para outro lado, porque bancar o espião seria indecoroso, e, portanto, era melhor fingir não ver o que estava acontecendo – e infelizmente também pelos Bispos e pelos superiores religiosos que, em muitos casos, renunciaram a seu papel de pais e mestres a favor de um diálogo que tirava a responsabilidade para com os súditos. Um pouco como fazem os pais, os professores e freqüentemente também os juízes civis, nesse mesmo período” (Salvatore Izzo,Igreja e pedofilia:Salvatore Izzo responde a Damian Thompson e John Allen, In Paparatzingerblog.it 29 de Abril de 2010).
Quanta verdade nessas palavras!
Izzo concorda com o que diz Damian Thompson sobre a inocência do Cardeal Ratzinger na cumplicidade silenciosa geral do clero pós conciliar, na questão do acobertamento da pedofilia:
“Para Thompson, o que afirmou Lombardi teria sido um modo educado de dizer que Castrillón era parte do problema contra o qual o então Cardeal Joseph Ratzinger, agora Papa Bento XVI, teve que lutar para desembaraçar os procedimentos Vaticanos no tratamento dos casos de abuso sexual. E isso esclarece que Bento, era parte da solução, não do problema. Estou de acordo”. (Salvatore Izzo,Igreja e pedofilia:Salvatore Izzo responde a Damian Thompson e John Allen, In Paparatzingerblog.it 29 de Abril de 2010. O destaque é nosso).
Izzo tenta salvar a responsabilidade dos Papas conciliares predecessores de Bento XVI da “cobertura silenciosa” dos crimes de pedofilia, jogando a culpa especialmente sobre os Bispos.
“Há certamente zonas de sombra na gestão dos casos antes de 2001, mas essas caem sob a responsabilidade dos Bispos locais - aqueles que recusavam o papel de guias e mestres, preferindo o compartilhamento e a amizade - que procuravam não instruir os processos mesmo convencendo os sacerdotes pedófilos a pedir a redução ao estado leigo para poderem se casar, como ocorreu no caso Kiesle. Ou acobertavam os pedófilos porque eram também culpados dos mesmos crimes, como o ex Arcebispo Weakland que agora tenta descarregar sobre o Cardeal Bertone o seu perdonismo para com o padre Murphy, que abusou de 200 pequenos surdo-mudos. Quanto aos dois casos nos quais Ratzinger foi detido pelo Papa, Maciel e Groer, estamos realmente seguros de que o erro foi consciente e querido? Certo, o atual Pontífice teve maior percepção que o seu predecessor das tremendas e impensáveis realidades que cabiam ao fundador de uma importante ordem religiosa e sobre o Cardeal de Viena. Mas isso não quer dizer que naquelas investigações tenha havido vontade de acobertar os crimes.
“Sobre Groer, entre outras coisas, no final, Wojtyla se convenceu, tanto que antes colocou a seu lado Schoenborn e depois tirou dele [de Groer] o título de Cardeal. Quanto a Maciel estou pessoalmente a par do fato de que o Papa polonês e o seu secretário Dziwisz endereçaram ao seminário dos Legionários o jovem filho de um seu estreito colaborador: não o teriam feito se tivessem duvidado de Maciel, pois podiam mandá-lo para qualquer outro instituto. E também sobre o papel de Sodano e da Secretaria de Estado, eu creio que seja impróprio falar de má fé”. (Salvatore Izzo, Igreja e pedofilia:Salvatore Izzo responde a Damian Thompson e John Allen, In Paparatzingerblog.it 29 de Abril de 2010. O destaque é nosso).
Salvatore Izzo discorda de Damian Thompson num ponto fundamental:
“Segundo Thompson, para salvar a reputação de Bento XVI poderia ser necessário ofuscar a de João Paulo II. A mim parece de modo algum que seja exatamente assim” (Salvatore Izzo, Igreja e pedofilia:Salvatore Izzo responde a Damian Thompson e John Allen, In Paparatzingerblog.it 29 de Abril de 2010).
Os pontos mais fracos do artigo resposta de Izzo são sua defesa absurda de Paulo VI, tentando apresentar esse Papa como adversário do que se fazia no Concílio e na reforma da Missa. O que é violentar a história bem conhecida desse Papa e de seu pensamento pró modernismo, diálogo e ecumenismo. Paulo VI foi o grande responsável pelo Vaticano II e, principalmente, por seus erros pastorais...
Estávamos redigindo este artigo quando nos chegou um artigo de Sandro Magister, no qual ele defende a mesma tese que nós: Bento XVI está pagando pelo que outros fizeram: seguir uma política de acobertamento e de diálogo, política nascida do otimismo e do laxismo do Vaticano II, frutos de um antropocentrismo otimista e relativista, em Doutrina e em Moral.
É o que agora foi reconhecido por esse conhecido vaticanista, conhecedor do que se passou no Vaticano nas últimas décadas. Com efeito, Sandro Magister é quem afirma, de modo bem explícito, que outros foram os que procuraram acobertar o que agora está sendo denunciado, e que justamente foi o Cardeal Ratzinger quem sempre defendeu a tese de que se denunciassem e punissem todos os atos contrários à moral, praticados por sacerdotes e Bispos católicos.
Eis as palavras de Sandro Magister:
“O enigma do Papa Bento é que ele é atacado exatamente por fatos que lhe dão razão. Nos anos em que todos, dentro e fora da Igreja, estavam cegos diante do escândalo da pedofilia, Joseph Ratzinger foi o único dirigente da Igreja de alto nível a ver longe, a compreender a gravidade do escândalo e a impor contra medidas eficazes. E hoje, quando tantos lhe atiram pedras, ele é quem de novo ensina à Igreja que não basta remeter tudo à justiça terrena, porque o próprio da Igreja é a ordem da graça, que vai além da lei, e significa fazer penitência, reconhecer em que se errou, abrir-se ao perdão, deixar-se transformar”. Não há lembrança de nenhum outro Papa que, na idade moderna, tenha posto uma Igreja nacional inteira em estado de penitência pública pelos pecados de seus filhos, como fez Bento XVI com a Igreja da Irlanda” (Sandro Magister, O Enigma Bento. Promemoria para quem invoca um novo Concilio, 23 de Abril, de 2010 - http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/).
Bento XVI é o grande responsável pela política de denúncia de erros e de pecados de eclesiásticos, exatamente como ele definiu o dever de um Bispo ao se tornar Arcebispo de Munich:
“A IGREJA NÃO DEVE PACTUAR, MAS DENUNCIAR”
Viva o Papa! Viva Bento XVI! Viva o Papa Bento XVI em seu apedrejamento! Por defender a fé! Por defender a Igreja!
São Paulo, 2 de maio de 2010.
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"Quem é culpado pelo acobertamento da pedofilia no clero?"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/papa/apredejamento-bento-xvi/
Online, 23/12/2024 às 00:12:40h