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O semi-frade
Orlando Fedeli
Quase todos que lêem jornal conhecem Frei Betto. Aquele que nem é bem frei, nem é bem Betto. Sobretudo não é bem católico.
Não é bem frei, porque para ser frei é preciso ter feito os três votos religiosos: o de obediência, de pobreza e de castidade. Betto, como frade dominicano, os fez. Ou deve tê-los feito. Vá lá se saber. Mas, quem o vê, quem examina o que ele faz, diz, e diz que faz, não sabe se ele é um religioso ou um leigo.
Porque apesar do voto de obediência, envolveu-se na guerrilha comunista e prega a subversão. Porque embora tenha feito voto de pobreza, e, como teólogo da Libertação, defenda a opção preferencial pelos pobres, confessa ter "independência econômica", com relação à Igreja, graças às rendas provenientes de seus direitos autorais.
"Então – diz ele – comecei a escrever e a publicar, na Civilização Brasileira, na Vozes também, e passo a viver de direitos autorais... Como não tenho família, meu custo de vida é muito baixo." (Frei Betto, A Vida entre o Céu e o Inferno, entrevista à revista Palavra, ano I, No. 6, setembro de 1999, p. 16 ; Cfr. Frei Betto, Jornal do Brasil , 31- VIII- 86).
Finalmente porque, em que pese o seu voto de castidade, Betto não se peja de declarar que o erotismo tem lugar na vida de um religioso como ele (Cfr. Folha de São Paulo , 10- V - 86). E confessa sem nenhum pudor que:
"As mulheres sempre aconteceram em minha vida... Era inevitável... Só não me casei porque as mulheres que me interessam não se interessaram por mim, e as que se interessaram por mim, eu não me interessei por elas". (Frei Betto, Entre o Céu e o Inferno, Palavra, Ano I, No. 6, set. 1999,p.13).
Betto é, pois... digamos...um ...semi-frade. Um paradoxal frade. Obedientemente subversivo. Pobremente abastado. Castamente erótico. Teologicamente marxista. Mesmo depois do desmoronamento do comunismo: "Eu continuo socialista. Mas não quero reproduzir nenhum dos modelos que caíram... Tampouco o cubano, que eu respeito, defendo e sou solidário... Olha, eu não vejo saída para a humanidade fora da distribuição de renda, da partilha de bens...Com a acumulação e a desigualdade, eu não vejo como se pode criar uma humanidade..." (Frei Betto, Entre o Céu e o Inferno, Palavra, no. citado, p. 16).
Como Pio XI definiu que "ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista", porque "católico e socialista são termos antitéticos" (Pio XI, Quadragesimo anno, Denziger, No. 2270), segue-se que Betto , não é bem católico. Faz-se de. Como se faz de frade.
Também não é bem Betto, porque esse é seu apelido mineiro e caseiro.
Dissemos que ele não é bem católico, por querer juntar o inconciliável: catolicismo e socialismo. Mas, quando se examina o que escreve em seus livros "teológicos" - onde as heresias e erros doutrinários gravíssimos pululam - deve-se concluir que ele não é nada católico.
Sei que pedir para alguém comprovar tudo isso, às custas de ter que ler os artigos e os livros desse "teólogo" sem teologia, e desse escritor sem graça, é exigir demais da paciência de qualquer leitor. Porque, se hoje é preciso ter muita paciência para ler enfadonhos e pouco letrados jornais, muito mais para ler os chatos e repetitivamente marxistóides artigos de Frei Betto.
No tempo em que Frei Carlos Alberto Libânio Cristo - esse é o nome de Bettinho - foi noviço dominicano, estava triunfante nos seminários a teologia modernista e a "compreensão" do marxismo. Não é então de admirar que ele tenha confessado que três meses de vida de seminarista foram suficientes para que ele perdesse a fé. (Cfr. Palavra, entrevista cit. p. 13) A qual diz ter recuperado lendo Santa Teresa.
Naquele tempo -- in illo tempore -- por toda a parte, ser "moderno" era participar sem escrúpulos das lutas ao lado dos terroristas do PC. Frei Betto, com vários de seus confrades do convento dominicano das Perdizes, envolveu-se com a guerrilha comunista organizada por Mariguela, que vivera escondido no convento dominicano. Por isso, Betto acabou por ser preso. Esteve sob os "grilhões do cárcere", como se dizia no tempo do romantismo. De lá, do fundo do calabouço, saíram suas "Cartas da Prisão", um título que recordava um romanticamente trágico herói "carbonaro ".
Costuma-se dizer que o lobo troca de pelo, mas não de vício. Frei Betto, libertado dos seus cruéis grilhões, viveu fora e dentro do convento, mas continuou a se fazer chamar de Frei. Conservou a ideologia marxista que aprendera na JEC e no seu seminário dominicano. Manteve a heresia de Marx na cabeça, e guardou o que pôde, e o que convinha, da pele de cordeiro. Entre outras coisas o título de Frei e batina dominicana, que ele usa apenas em atos político religiosos.
Aliás, pouco usa a sua batina. Normalmente anda janotamente vestido como jovem esportivo e desinibido. Fotos dele de hábito religioso são poucas. Poucas e convencionais. Posando para a posteridade...
Se ele participou das passeatas esquerdistas dos anos 60 ou 70, certamente foi com a batina branca de São Domingos, porque naqueles tempos, frades e padres praticamente só usavam hábito religioso ou batina em passeata, arruaça ou comício marxista. Foi o que motivou a célebre expressão "padre de passeata" de Nelson Rodrigues. Betto, se não foi padre de passeata, herdou sua mentalidade.
Acobertado pelo roupa de dominicano, fez carreira.. Com a proteção de D. Arns, Frei Betto foi longe. Conheceu o sandinista Cardenal. Chegou a Cuba. Fidel o hospedou, e teve largas conversas com o rapazola revestido com o título de Frei. Debateram Marx, "Teologia", e quitutes de camarão. Betto ensinou a Fidel receitas mineiras. Fidel ensinou-o - era lição que Betto já sabia - como fazer o asno marxista entrar na Tróia católica. Fidel não conhecia bem a História da Igreja. Se a conhecesse, saberia perfeitamente que há muito, mas há muito tempo, o jumento da heresia entrara no recinto sagrado da Igreja. Desses conciliábulos entre o fuzilador de Havana - o homem do Paredón -- e o frade mestre cuca nasceu a obra "Fidel e a Religião".
Entrementes - e depois - nosso Betto escreveu livros. Infelizes. Mas que, talvez por isso mesmo, foram um sucesso em nossa época infeliz. Sucesso nacional e internacional. Com o clero socialista, as conversas de sacristia e palestras de seminário, a "inteligentzia" - isto é, os intelectuais marxistas entrincheirados na imprensa e nas cátedras - dando recomendação, o marketing deu relativamente certo. Betto acabou sendo muito vendido.
O suficiente para poder modestamente manter-se, já que não tem família -- não encontrou uma mulher como Santa Tereza, senão casava com ela (Cfr. Palavra no. 6).
Betto foi muito vendido. O que não quer dizer que Betto tenha sido muito lido. Para isso não bastam o marketing e a máquina de propaganda organizada do marxismo. É preciso ter paciência. E esta anda rara no mercado. Os livros de Betto exigem-na. E muita. Mesmo sem ser muito lido, porém, à fama de guerrilheiro heróico que suportara os famosos "grilhões do cárcere", como se dizia na lacrimosa época do romantismo, somou-se a de escritor. Era o prestígio.
Só faltava a glória.
Esta chegou em 1985, quando Betto foi proclamado o "INTELECTUAL DO ANO". Ganhou o troféu "JUCA PATO". Com isso, passou a ser oficialmente um membro da "inteligentzia", título aspiradíssimo por todo burguês namorador do marxismo.
Pelo cipó da "inteligentzia" Betto subiu até os mais altos galhos do jatobá da fama revolucionária, de onde distribuía conselhos e orientações políticas, concedia entrevistas e dava autógrafos a moçoilas e a rapazelhos aspirantes a "Che".
De lá, do alto do citado jatobá da glória, ele perscrutava o futuro e contemplava Minas. Ah!... a glória !...A glória intelectual!...
Gostou tanto do sabor da glória que até se lembrou que São Tomás de Aquino fora dominicano também. Chegou, modestamente a escrever "meu confrade São Tomás de Aquino"...
Nada mais natural para quem chega ao alto do jatobá da fama! Afinal, São Tomás foi ou não foi dominicano? Bettinho também é dominicano.
Portanto, é bem natural, - E é seu direito!- dizer "meu confrade São Tomás". Sem qualquer modéstia à parte.. Sem nenhuma modéstia. À parte. Ou mesmo com a parte.
Outro cipó pelo qual nosso semi-frei subiu no já citado aos píncaros da fama foi o PT. Betto se tornou o conselheiro ideológico e intelectual do messias metalúrgico do ABC. Lula precisava bem disso. Como precisa também da casa de um seu compadre. Betto, então, por amor ao povo, condescendia em baixar do jatobá da fama para aconselhar Lula e o PT, nas suas greves, invasões e arruaças, assim como nas manifestações comício-litúrgicas. Pensava-se então que Lula chegaria "lá".
"Lá" era Brasília. O Palácio do Planalto. Um metalúrgico na Presidência da República. O Reino de Deus à vista. Com Betto no Ministério da Propaganda. E o jatobá tremia em toda a sua ramagem agitada pelos ventos da esperança revolucionária e da glória proletária. Era o "Reino do Amor" à vista. Evidentemente - é claro ! - protegido à toda volta por um duro "Paredón".
De repente... caiu o muro de Berlim. E, com o muro, ruíram o Pacto de Varsóvia, os PCs do leste europeu, as estátuas de Stalin e de Lenin. Caiu até o PC da URSS. E até a própria URSS.
O comunismo oficialmente morreu. Já estava morto como filosofia e como sistema de governo há muito tempo. Agora recebeu o atestado de óbito. O marxismo defuntou. Faleceu. É múmia. E se ouviu dizer que até Frei Betto chegou a registrar sua morte, em artigo de jornal.
O marxismo só continua teimosa e ideologicamente vivo na cabeça dos padres de passeata, membros da esquerda festiva, jornalistas, artistas de teatro, professores secundários.
E também nas livrarias da Nova Igreja, onde continuam a ser vendidas obras comuno-católicas pré-defuntamento do PC.
Uma delas é o Catecismo Popular de Frei Betto. É obra em 4 volumes (I- A proposta de Jesus ; II A comunidade da Fé; III - Militantes do Reino; IV - Viver em comunhão de Amor. Editora Ática, São Paulo , 1989). Uma verdadeira Suma! A Suma Bettológica !
Não se pense que se trate de uma obra profunda a de Frei Betto. Nem se espere encontrar nela bela literatura. Disso Betto não tem culpa. Já fez muito chegando a Juca Pato 85. Suas atividades precocemente subversivas não lhe permitiram aprimorar nem o estilo, nem a lógica. Muito menos a metafísica e, ao que parece por esse livro, também não muito a gramática. Mal digeriu o marxismo. Ademais, aprendeu a cozinhar em Minas (onde se faz boa cozinha) Tornou-se o primeiro teólogo-cozinheiro. Da Libertação. Medita receitas e cozinha teologia.
Os leitores que me lêem não me acreditam ? Não crêem que seja possível esta híbrida combinação de ontologia com culinária ? De teólogo com cozinheiro ? Pois veja-se uma prova tirada do citado Catecismo Popular de Frei Betto. Da Suma Bettológica:
"Deus é como chama do fogão sempre a mesma, embora variem os alimentos que nela se cozinhe (sic !) e o tempo de cozimento. Uns são como toucinho, demoram; outros, como as verduras, em pouco tempo já estão cozidos. Nunca sabemos o nosso tempo. O importante é não se afastar da chama, que aquece o coração e queima as nossas resistências. Isso é a mística". (Frei Betto, Catecismo Popular, IV vol, p. 96).
Não é uma teologia caseirinha e apetitosa ?
Que se perdoe a Betto o não saber se é de toucinho ou de espinafre o seu tempo de cozinhamento. "À tout péché miséricorde". A todo cozinhador, compreensão ! O importante é compreender sua mística - dietética.
Quanto ao nível literário, saboreie-se este bocado metafórico. Atentos! É da Suma Bettológica:
"A Bíblia se parece a uma melancia: por fora, a casca é dura, mas quando a gente encontra o jeito de quebrar a casca, matamos a sede com a polpa suave e doce " (C.P. I, 29).
Poderia alguém contestar dizendo que a comparação é um tanto indigesta. Mas seria apenas uma questão de fígado. E, depois, Betto prefere a poesia à prosa.
Vejamos, como aperitivo, algumas das inspiradas místicas estrofes de nosso místico-poeta-teólogo-cozinheiro-guerrilheiro. É a poesia que ele intitulou: "A Oração do Pássaro ". Vejam que beleza !
"Senhor, tornai - me louco, irremediavelmente louco
Como os poetas sem palavras para os seus poemas,
As mulheres possuídas pelo amor do proibido,
Os suicidas repletos de coragem perante o medo de viver,
Os amantes que fazem do corpo a explosão da alma.
Dai-me, Senhor, o dom fascinante da loucura (...)
Contido nos filmes dionisíacos de Fellini.
Resplandecente nas telas policrômicas de Van Gogh
Presente na luta inglória de lampião.
(...)
Para poder aprender a ciência do povo
em núpcias com a Cruz que só a fé entende,
como um louco a outro louco".
(Frei Betto, Catecismo Popular,III, p. 85)
Não é realmente literário ? Não é realmente uma loucura?
Até parece que Deus atendeu a Betto pronta e totalmente...
Para citar este texto:
"O semi-frade"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/semifrade/
Online, 21/11/2024 às 09:13:52h