Igreja

Papa Bento XVI: Religiosos e Religiosas devem demonstrar vida casta usando batina

Discurso de SS o Papa Bento XVI aos superiores e superioras gerais dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica
 
Sala Paulo VI, Segunda-Feira, 
22 de Maio de 2006-05-24
 
            Senhor Cardeal, Veneráveis irmãos no Episcopado e no Presbiterado, caros irmãos e irmãs!
 
            É para mim, uma grande alegria encontrar-me convosco, Superiores e Superioras Gerais, representantes e responsáveis da Vida Consagrada. A todos Vós dirijo a minha cordial saudação. Com afeto fraterno saúdo, particularmente, o Senhor Cardeal Franc Roedé e o agradeço por ele ter se feito intérprete dos vossos sentimento, conjuntamente com vossos representantes. Saúdo o Secretário e os Colaboradores da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, grato pelo serviço que esse Dicastério presta à Igreja num âmbito tão importante como é o dá Vida Consagrada. Meu pensamento vai, neste momento, com viva gratidão para os religiosos e religiosas, os consagrados e as consagradas e para os membros de Sociedades de Vida Apostólica que difundem na Igreja e no Mundo o Bonus odor Christi (Cfr. 2 Cor II,15). A vós, Superiores e Superioras Maiores, peço que transmitam uma palavra de especial dedicação a todos quantos estão em dificuldade, os anciãos, e os doentes, àqueles que estão passando momentos de crise e de solidão, a quem sofre e se sentem perturbados e também aos jovens e às jovens que hoje também batem à porta de vossas Casas para pedir dar-se a si mesmos a Jesus Cristo, na radicalidade do Evangelho.
            Desejo que este momento de encontro e de comunhão profundo com o Papa possa ser para cada um de vós um encontro de encorajamento e de conforto no cumprimento de um compromisso sempre exigente e por vezes contrastado. O serviço de autoridade pede uma presença constante, capaz de animar e de propor, de recordar a razão de ser da Vida Consagrada, de auxiliar as pessoas a vós confiadas a que correspondam com uma fidelidade sempre renovada aos chamado do Espírito. Este vosso empenho freqüentemente é acompanhado pela Cruz e por vezes também por uma solidão que pede um profundo sentido de responsabilidade, uma generosidade que não conhece desânimo um constante esquecimento de vós mesmos. Sois chamados a sustentar e a guiar vossos irmãos e vossas irmãs numa época difícil, assinalada por múltiplas insídias. Os consagrados e as consagradas hoje têm o dever de ser testemunhas da transfigurante presença de Deus em um mundo cada vez mais desorientado e confuso, um mundo em que as coisas pouco claras substituíram as cosias bem nítidas e bem caracterizadas. Ser capazes de contemplar esse nosso tempo com o olhar da Fé significa ter a capacidade de olhar o homem, o mundo, e a história à luz de Cristo crucificado e ressurrecto, a única estrela capaz de orientar “o homem que avança entre os condicionamentos da mentalidade imanentista e as angustias de uma lógica tecnocrata (Enc. Fides et Ratio, 15).
            A Vida Consagrada nos últimos anos foi reentendida com espírito mais evangélico, mais eclesial, e mais apostólico; mas não podemos ignorar que algumas escolhas concretas não ofereceram ao mundo o rosto autêntico e vivificante de Cristo. De fato, a cultura secularizada penetrou na mente e no coração de não poucos consagrados, que a compreenderam como uma forma de acesso à modernidade e uma modalidade e aproximação ao mundo contemporâneo. A conseqüência é que, ao lado de um indubitável impulso generoso, capaz de testemunho e doação total, a Vida Consagrada conhece hoje a insídia da mediocridade do aburguesamento e da mentalidade consumista. No Evangelho, Jesus nos advertiu que “dois são os caminhos: um é o caminho estreito, que conduz à vida, o outro é o caminho largo, que conduz à perdição” (Cfr Mt VII, 13-14). A verdadeira alternativa é, e será sempre, ou a aceitação do Deus vivo através do serviço obediente por Fé ou a recusa d’Ele. Uma condição prévia para seguir a Cristo, portanto, é a renúncia, a separação de tudo aquilo que não é Ele. O Senhor que homens e mulheres livres, não vinculados, capazes de tudo abandonar para segui-Lo e achar somente n’Ele o próprio tudo. São necessárias escolhas corajosas, a nível pessoal e comunitário, que imprimam uma nova disciplina à vida das pessoas consagradas e as levem a redescobrir a dimensão totalizante da sequela Christi.
              Pertencer ao Senhor quer dizer ser consumidos por seu amor incandescente, ser transformados pelo esplendor de sua beleza: nossa pequenez é ofertada a Ele qual sacrifício de suave odor, a fim de que se torne testemunho da grandeza de Sua presença para o nosso tempo que tanta necessidade tem de ser inebriada pela riqueza de Sua graça. Pertencer ao Senhor: eis a missão dos homens e das mulheres que escolheram seguir a Cristo casto, pobre e obediente, a fim de que o mundo creia e seja salvo. Ser totalmente de Cristo de modo a se tornar uma permanente confissão de Fé, uma inequívoca proclamação da verdade que torne livres diante da sedução dos falsos ídolos pelos quais o mundo está deslumbrado. Ser de Cristo significa manter sempre ardente no coração uma viva chama de amor, continuamente nutrida pela riqueza da Fé, não apenas quanto trás consigo a alegria interior, mas também quando está unida às dificuldades, à aridez, ao sofrimento. O nutrimento da vida interior é a oração, colóquio íntimo da alma consagrada com o divino esposo. Nutrimento ainda mais rico é a quotidiana participação no mistério inefável da divina Eucaristia, no qual se torna constantemente presente na realidade de sua carne o Cristo ressurecto.
            Para pertencer totalmente ao Senhor as pessoas consagradas abracem um estilo de vida casto. A virgindade consagrada não pode inscrever-se no quadro na lógica deste mundo; é o mais “irrazoável” dos paradoxos cristãos e não a todos é dado compreendê-la e vivê-la (Cfr Mt XIX, 11-12). Viver uma vida casta quer dizer também renunciar a necessidade de aparecer, assumir um estilo de vida sóbrio e modesto. Os religiosos e as religiosas são chamados a demonstrar isso também na escolha do hábito, um hábito simples que seja sinal da pobreza de vida em união com Aquele que de rico que era, se fez pobre, para fazer-nos ricos com a sua pobreza (Cfr 2 Cor VIII, 9). Assim, e somente assim, se pode seguir sem reservas Cristo crucificado e pobre, imergindo-se no seu mistério e tornando próprias as suas escolhas de humildade, de pobreza e de mansidão.
            A última reunião plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica teve como tema O Serviço da Autoridade. Caríssimo Superiores e Superioras Gerais, é uma ocasião para aprofundar a reflexão a respeito de um exercício da autoridade e da obediência que seja sempre mais inspirado no Evangelho. O jugo de quem é chamado a assumir o delicado dever de superior e de superiora em todos os níveis será tanto mais suave quanto mais as pessoas consagradas saberão redescobrir o valor da obediência professada que tem como modelo a de Abraão, nosso pai na Fé, e ainda mais a Cristo. É preciso fugir do voluntarismo e do espontaneismo para abraça a lógica da Cruz.
            Em conclusão os consagrados e as consagradas são chamados a ser no mundo um sinal crível e luminoso do Evangelho e de seus paradoxos sem se conformarem a mentalidade desse mundo, mas transformando-se e renovando continuamente o próprio empenho, para poder discernir a vontade de Deus, aquilo que é bom, agradável a Ele, e perfeito (Cfr. Rm XII, 2). É exatamente este o meu algúrio, caros irmãos e irmãs; um algúrio sobre o qual invoco a intercessão materna da Virgem Maria, modelo insuperável de toda a vida consagrada. Com estes sentimentos vos concedo com afeto a Benção Apostólica, que de boa vontade estendo a todos quantos fazem parte das vossas múltiplas famílias espirituais.
 
(destaques nossos)

    Para citar este texto:
"Papa Bento XVI: Religiosos e Religiosas devem demonstrar vida casta usando batina"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/papa_consacrata/
Online, 22/12/2024 às 06:00:41h