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O filósofo camaleão
Alberto Zucchi
Recebi através de amigos a informação de que Olavo de Carvalho resolveu sair de trás dos arbustos. Em seu Facebook e em uma aula reproduzida no Youtube,com a sua costumeira falta de educação e seu palavreado de baixo calão, ele me dirige alguns desaforos.
Pretendeu ele responder a uma afirmação minha na última vídeo-aula dada pela Profa. Ivone Fedeli. Na apresentação da aula, comecei destacando a importância e atualidade do tema que seria tratado: a historicidade dos Santos Evangelhos, e citei o que Olavo defende que no evangelho não há doutrina.
Olavo, tido por alguns como o grande filósofo brasileiro da atualidade, ficou indignado com minhas palavras e respondeu:
Esse prof. Zucchi pratica nitidamente o falso testemunho ao deformar a minha opinião para lhe dar ares de heresia. Ao dizer que a narrativa dos Evangelhos é fato e não doutrina, estou simplesmente atestando que a veracidade histórica do texto antecede temporal e logicamente a sua formulação em doutrina organizada (o que é o óbvio dos óbvios), e não negando, como ele insinua, que haja ali QUALQUER conteúdo doutrinal, o que seria um absurdo completo.
O homem, portanto, concorda em que afirmar que “o conteúdo do Evangelho não tem caráter doutrinal” é algo com “ares de heresia” e “um absurdo completo”. Pode-se até concluir que isso estaria dentro do “mínimo que uma pessoa precisar saber para não ser um idiota”.
Assim, após a aula da Profa. Ivone, ainda que de forma confusa, Olavo parece agora concordar com a ideia de que os Evangelhos são históricos e que, portanto, Nosso Senhor teria ensinado uma doutrina.
Teria então eu exagerado em minha afirmação? A cólera de Olavo, com as bênçãos sacerdotais e apesar do nível de botequim, seria justificada?
Vejamos o que dizia Olavo anteriormente à aula da Profa. Ivone.
“No Evangelho tem doutrina? Não tem doutrina nenhuma, tem uma narrativa.” (Apostila que acompanha a vídeo aula “Advento do Cristianismo” – p. 23 – É Realizações – 2003). (Programa TrueOutspeak – 12 de março de 2007 – http://www.olavodecarvalho.org/midia/070312true.html in http://www.montfort.org.br/o-modernismo-de-olavo-de-carvalho/)
Creio não ser necessário detalhar como as duas frases estão em contradição. Antes da aula da Profa. Ivone, o Evangelho “não tem doutrina nenhuma”, depois da aula, “é um absurdo afirmar que no evangelho não haja qualquer conteúdo doutrinal”. É claro que sempre se pode querer justificar com uma nova interpretação: a palavra qualquer, no texto original de Olavo está até em maiúsculas. O que significaria isto? Mas, sem dúvida, é querer negar a realidade não querer ver esta contradição. Tal mudança lembra bem um camaleão que sai do arbusto com uma cor diferente, para não ser reconhecido. E porque Olavo nega o conteúdo doutrinal do evangelho? Porque ele, como os modernistas, dá importância à experiência. “Então é importantíssimo entender isso: a religião não é a doutrina. A religião é aquela experiência originária dos acontecimentos miraculosos e da confiança que esses atos inspiram naqueles que são os beneficiados por eles ou que os assistem. Isto que é a religião. O dogma é uma expressão muito secundária. O dogma não é a religião, o dogma é uma tradução doutrinal da religião.” (Programa TrueOutspeak – 12 de março de 2007 – http://www.olavodecarvalho.org/midia/070312true.html in http://www.montfort.org.br/o-modernismo-de-olavo-de-carvalho/). Como dizer então que eu dei falso testemunho? As afirmações apresentadas são do próprio Olavo. A acusação que ele me faz, de falso testemunho se volta contra ele, ou então ele não sabe o que ele mesmo ensinou. Talvez ele tenha esquecido o “mínimo que uma pessoa precisar saber para não ser um idiota”É importante lembrar, para que não se diga que a afirmação foi tirada do seu contexto, que esta é apenas uma das muitas citações inseridas no artigo que o Prof. Fernando Schlithler escreveu sobre as doutrinas modernistas de Olavo de Carvalho. O trabalho é extenso e está recheado de citações das aulas do próprio. O artigo deixa claro como a doutrina de Olavo se encaixa perfeitamente na condenação do modernismo feita por São Pio X na Enciclica Pascendi.
Olavo agiria de forma honesta se tentasse responder ao artigo ou, melhor ainda, se admitisse que errou e corrigisse a doutrina que ensinou.
Como justificativa para não debater com o Prof. Fernando, Olavo afirma que não está acostumado a responder para grupos minoritários e excluídos. Eis aí um autêntico filósofo brasileiro! Ele trata daquilo que interessa à mídia, do que dá Ibope. Aparentemente, o importante para ele não é o que é verdade ou mentira, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, mas sim se muita gente vai ler ou não. Em todo caso, como agora ele respondeu, talvez seja um sinal de que ele considere que a Montfort está se tornando majoritária e incluída e que, portanto, valeria a pena sair um pouco mais de trás do arbusto e mostrar sua verdadeira cor. A mudança na posição defendida por Olavo, ora afirmando que Nosso Senhor tinha uma doutrina, ora afirmando que não, me deixa uma dúvida sobre o que se passou com ele. Olavo estaria agora em uma segunda conversão? A primeira teria se dado, segundo me contaram, após o debate com o Professor Orlando. Quem sabe agora, com a aula da Professora Ivone ele esteja mudando novamente. Tomara Deus. Mas se for assim, melhor seria ele admitir o erro e procurar estudar mais a doutrina católica antes de ensinar. Ou seria apenas uma tática para disfarçar o verdadeiro pensamento do filósofo camaleão, para conquistar a simpatia dos católicos e, sobretudo, do clero conservador? Como só Deus conhece os corações, não tenho como julgar as intenções de Olavo. Mas também não posso deixar de ficar preocupado com sua atuação, ao me recordar das relações de Plínio Correa com Dom Mayer. Eu estava com o Professor Orlando quando Dom Mayer afirmou: “Plínio me enganou por vinte anos”. E se até Dom Mayer foi enganado, pode-se supor a atração que a gnose espiritualista de direita tem, para iludir um clero cuja formação em nossos dias é tão deficiente. Porém, ainda que a posição doutrinária possa talvez ter mudado, algumas questões morais continuam bem ruins. Olavo deveria aprender que a língua que recebe a Cristo não pode ser um trono de sujeiras. E que, mesmo que um padre diga que seus palavrões são bons, eles se constituem em uma falha moral que, por vezes, pode ser grave. Rezemos, portanto, para quem sabe, uma terceira conversão de Olavo.Para citar este texto:
"O filósofo camaleão"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/o-filosofo-camaleao/
Online, 21/11/2024 às 08:29:35h