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E o Motu Proprio?
Orlando Fedeli
“Quanto ao dia e quanto à hora, nem o Filho do homem sabe quando será”
(Mt. XXIV, 36; Marc. XIII, 32)
Muito se tem anunciado o Motu Proprio que o Papa Bento XVI promulgaria, liberando a Missa de sempre para qualquer padre rezá-la, em qualquer parte do mundo. E marcaram-se várias datas...
... Fracassadas.
De início, eram rumores vaticanos. Depois, autoridades eclesiásticas, cada vez mais graduadas, foram dando indicações desse importante documento que estaria para ser promulgado.
Dom Fellay informou que, segundo o haviam informado, ele seria publicado pela Páscoa de 2005.
Ficou para Outubro de 2005.
E nada.
Depois, se noticiou que sairia na Quinta Feira Santa de 2006.
Nada.
Ficou para Setembro de 2.006. Para Outubro, de novo.
Mas de novo, nada.
Vai ser antes do Natal, se informou com segurança.
Veio a Natal. Noite Feliz. Ano Novo.
Do Motu Proprio, nada.
Foram tantas as autoridades que anunciaram sua promulgação que perdi a memória da seqüência delas. Lembro-me de Monsenhor Ranjith falando sobre isso.
Depois, o Cardeal Medina anunciou que seria para breve. Nas próximas semanas.
Nada.
Roma é eterna, e para quem é eterno que significa “próximas semanas”?
Outra autoridade vaticana disse que seria logo.
Logo?
O Cardeal Hoyos, no fim do ano passado, interrogado sobre a data anunciou claro e jubiloso: “Súbito”. A um sacerdote, amigo meu, que esteve com o Papa, e lhe perguntou sobre a liberação da Missa, Bento XVI respondeu firme: “Questo verrá! Questo verrá!” (Isto virá! Isto virá).
Como perguntava uma cançãozinha italiana que ouvi na década de trinta: “Ma quando? Ma quando?”
Não veio ainda.
Creio que foi o próprio secretário de Estado do Papa, o Cardeal Bertone, que anunciou que o famoso Motu Proprio seria promulgado entre a Anunciação e a Páscoa deste ano.
Veio a anunciada festa da Anunciação...
Nada.
Vai ver que será na Quinta-Feira Santa.
Veio a Quinta-Feira Santa...
Chegou a Páscoa!
Nada!
Nada!!
Nada!!!
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Que vai sair o Motu Proprio, todos o acreditam, desde a extrema esquerda da Teologia da Libertação até os chamados tradicionalistas de Ecône.
Só festejam o “nada” certos padres lefrevistas brasileiros que torcem para que nada aconteça. Uns por medo de perder a clientela, outros porque torcem pelo quanto pior melhor. Nada de acordo com o Papa.
Também festejam o “nada” os sede vacantistas esperançosos do Apocalipse...
Disse que os Modernistas mais radicais sabem que vai sair o Motu Proprio. O site Golias – le bien nommé! – o inimigo de Davi e principalmente do Filho de Davi, tem certeza que o Motu Proprio vai sair.
Ainda no último Sábado de Aleluia, o Cardeal Barbarin, de Lyon, o dava por certo.
Mas então?...Mas então?...
Por que ele não sai?
O que o está engasgando na garganta do Vaticano?
Há quem diga que a dificuldade provém da timidez de Bento XVI.
Não demorou ele dois anos para promulgar a Exortação Sinodal?!
Outros atribuem a hesitação do Papa atual à sua formação progressista, da qual ele ainda não se livrou totalmente, daí seus vais e vens. Entre Scila e Carybdes, Bento XVI navega hesitante.
Há quem argumente que o Papa tem medo de um grande cisma da esquerda eclesiástica. Os Cardeais Martini, Kasper, Daneels, Lehman, o episcopado francês quase que inteiro, uma grande ala da CNBB e etc., ameaçariam o Papa com uma revolta geral...
Veja-se o que Boffes e Bettos anunciam estar preparando para a visita do Papa no Celam de maio.
Que o Papa teme os lobos eclesiásticos, é fato reconhecido.
Não disse o Papa em seu discurso. logo que foi eleito, que rezassem por ele, para que ele não tivesse medo dos lobos?
E tem cada lobo na cidade da Loba!
Lá há uma verdadeira alcatéia. Voracíssima!
Por isso, Dom Fellay ofereceu a Bento XVI um “bouquet” de mais de 2.000.000 de terços, rogando a Deus que desse a Bento XVI a coragem de enfrentar os bem conhecidos e bem atrevidos lobos.
Diz-se que Bento XVI está praticamente só...
Claro que um Papa decidido -- e decidido a enfrentar os lobos com vigor — teria publicado há muito tempo o famoso Motu Proprio.
Bento XVI não é Bonifácio VIII e nem São Gregório VII.
Tudo isso tem seu peso.
Cremos, porém, que, junto com tudo isso, pesa, mais que tudo isso, a democratização da Igreja causada pela doutrina da Colegialidade aprovada pelo Concílio Vaticano II.
Quem tem o Supremo poder na Igreja: o Papa ou o Colégio dos Bispos?
Muitos do Episcopado francês e da CNBB, alguns Cardeais alemães e italianos, muitos bispos e Cardeais americanos julgam ter direito de participar democraticamente da direção da Igreja, contestando a Suprema autoridade de Pedro. Eles se escudam na Colegialidade aprovada da Lumen gentium, nem ligando qualquer valor à famosa Nota Prévia, normalmente inserida no final da Lumen Gentium. A única Nota Prévia de um documento que é posta em seu final.
Quem manda na Igreja?
Quem tem o Supremo poder na Igreja?
O Papa Sucessor de São Pedro, ou o Colégio dos Bispos?
A Igreja Católica é uma monarquia, ou é uma Democracia parlamentarista?
O Concílio Vaticano II foi mesmo os Estados Gerais da Igreja, como disse o modernista Padre Congar, ou é governada pelo sucessor de Pedro?
Quem recebeu as chaves do céu?
São Pedro, ou o Colégio dos Bispos?
No fundo, o que entrava a publicação do Motu Proprio de Bento XVI é o Concílio Vaticano II, com sua tese bem suspeita de heresia da Colegialidade episcopal.
Como numa igreja parlamentarista admitir um Motu Proprio?
Para os Cardeais e Bispos Modernistas, um Motu Proprio é como que um ukase eclesiástico.
Eles não o admitem.
Querem ter poder de veto.
Veto ao Papa.
Em nome da Colegialidade.
Mas o Motu Proprio virá.
"Questo verrá! Questo verrá!”.
E com ele retornará a Missa de sempre, coração da Igreja Católica. E com ele se reafirmará que Bento XVI é Petrus. Que somente Pedro recebeu as chaves do Reino do Céu. O Motu Proprio anunciado trará de volta a Missa de sempre, e será um golpe mortal no Concílio Vaticano II e em sua colegialidade democratizante.
Quando virá esse dia?
Um amigo meu e da Montfort, de Brasília, comentou com verve que nem o Filho do Homem sabe, na terra, o dia e a hora.
Mas a hora de Deus se aproxima.
Será um dia.
Um dia.
A noite não é eterna.
Só Roma, no mundo, é eterna.
Um dia virá. Um dia de Roma.
Cheio de sol e de verdade.
Um dia virá.
“Un jour, um jour viendra...”
São Paulo, segunda feira de Páscoa, 9 de Abril de 2007
Para citar este texto:
"E o Motu Proprio?"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/motu_proprio/
Online, 21/11/2024 às 08:55:37h