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Nova e Importante Notícia de Mons. Fellay
Messa In Latino
- Como vai o diálogo entre a FSSPX e Roma que causou tanta polvorosa em Janeiro?
Mons. Fellay – Esclarecemo-nos mutuamente as idéias no princípio de Junho. A decisão do Papa sobre o esquema dos colóquios será anunciada dentro de poucos dias. É verdade que uma comissão especial será constituída para a discussão, com alguns teólogos de Roma e alguns de nossos padres.
- Qual é, conforme V. Excia, a finalidade dessa reaproximação: uma estrutura especial para os senhores num pequeno nicho, ou então é uma mudança fundamental na Igreja?
Mons. Fellay – Boa pergunta: ou o que deveria ser mudado? Naturalmente, é um erro pensar que toda a Igreja deve mudar. Nós não somos o grande inimigo. Nossa situação é mais comparável a um termômetro que mostra a febre num corpo. O fato é que há um problema a resolver. E não é um problema nosso, mas dos líderes na Igreja. A Igreja sofre uma séria crise, e Roma quis tratá-la tão brandamente que a doença se desenvolveu, e não se vê mais o fim da crise. Nós propomos medidas que poderiam ajudar.
- São dois pontos de conflito: de um lado a vossa tese, o depósito da Fé está geralmente em perigo, e a vossa recusa de documentos específicos do Concílio Vaticano II. Os senhores querem que Roma retire ou mude tais documentos, ou é possível um acordo do tipo: "estamos de acordo que os senhores não estejam de acordo"?
Mons. Fellay - A confusão atual, em larga medida vem de uma crise cultural do mundo e não só da Igreja: uma crise do pensamento, da filosofia. De todo modo, alguns pontos da crise também tomaram forma concreta no Concílio. Vemos algumas causas da crise no Concílio. Roma deveria preparar-se para esclarecer, porque há muitas interpretações do Concílio Vaticano. Exatamente, o que nós deveremos reconhecer? Cada teólogo interpreta os documentos a seu modo muito diferente um do outro. O Santo Padre teve que condenar já a interpretação do Concílio como discontinuidade e ruptura com o passado. Mas, 80% dos Bispos e dos teólogos querem essa ruptura. Nessa matéria, não somos nós o problema.
- Vós não somente refutais certas interpretações, mas também alguns documentos conciliares em si mesmos, quando se trata de liberdade religiosa e respeito por outras religiões.
Mons. Fellay - Um exemplo. A declaração sobre a colegialidade dos Bispos (Lumen Gentium) que foi até corrigida durante o Concílio pelo Papa Paulo VI... O texto conciliar pode ser interpretado em um sentido católico com um texto que o Papa fez, a assim chamada Nota praevia (Paulo VI estabeleceu que os Bispos podem conduzir a Igreja, como colégio, somente "sob e com o Papa"). Entretanto, alguns lêem o Concílio sem a Nota praevia.
- Uma Nota praevia papal sobre essas duas declarações disputadas satisfaria vossos pedidos?
Mons. Fellay - Não podemos pretender ditar o que e como a Igreja pensa. Isso jamais foi idéia nossa. Nós dizemos: a Igreja até agora tem ensinado assim e assim, e agora surge algo que não é claro. Pedimos esse esclarecimento.
- Outro principal ponto de atrito entre vós e Roma é o rito tridentino. Vista a re-autorização do Papa deste rito, isso foi resolvido em boa parte. É suficiente assim para vós, ou vós esperáveis ainda mais?
Mons. Fellay –Tenho certeza de que acontecerá ainda mais no futuro. Não para nós, mas para a própria Roma a situação litúrgica deve ser melhorada. Isso acontecerá.
- O Papa facilmente tem adaptado o velho rito, por exemplo, para uma revisão da oração da Sexta Feira Santa pelos Judeus. Os senhores rezam a velha oração?
Mons. Fellay - Sim, rezamos a velha oração.
- Seria possível para os senhores seguir o Papa e introduzir a nova oração?
Mons. Fellay - Sim, seria possível. O que diz o Papa não contradiz a fé. É mais um problema contra a História, também pela atitude dos fiéis. A oração da Sexta Feira Santa é uma das mais antigas orações que temos.
- Para uma reconciliação com Roma, provavelmente será preciso fazer alguma declaração de lealdade. Podereis fazê-la ainda que a Igreja não torne a vestir-se em todos os pontos com os hábitos pré-Vaticano II?
Mons. Fellay – Dir-lhe-ei antes: se os princípios católicos forem esclarecidos, mesmo que nem tudo tenha sido resolvido, então é possível. Há uma questão muito prática, que é agora evidente e que é: como somos aceitos? Há um bloqueio muito forte. Isto, no momento, nos impede de avançar. Se vemos oposição demais, agora dizemos simplesmente: bem, esperaremos ainda um pouco.
- Um ponto atual de contestação é o anúncio da FSSPX das ordenações de 3 padres em 27 de Junho em Zaitzkofen, na Alemanha. Muitos vêem nisso uma provocação a Roma e ao Papa, cuja mão ofertada agora é repelida.
Mons. Fellay - Lamento que isso seja visto como uma provocação. Essas ordenações são feitas todos os anos há 30 anos já, na mesma forma. Quando falamos com Roma sobre as excomunhões etc., jamais foi levantada nenhuma questão que essas ordenações não deveriam mais se fazer. Para nós isso é questão de vida, como respirar, precisamos desses padres.
- Tudo não pode depender dessas três ordenações. Não seria prudente suspender as ordenações para melhorar o clima?
Mons. Fellay - O problema existe só na Alemanha. Em Roma, há simpatia por essas ordenações, também se diz que elas são ilegais e não conformes ao direito canônico. Dizem que estamos em um estado intermédio no qual podemos falar de paz, em que Roma pode também observar-nos. Nós não temos nada contra isso, se Roma quisesse mandar-nos um observador. Nós oferecemos isso, mas talvez não tenha sido suficientemente claro.
- Vi, surpreso, que Roma não colocou condições para revogar as excomunhões?
Mons. Fellay - Não, não verdadeiramente. Isso se refere a uma reaproximação. Isso só pode acontecer através de pequenos passos, por causa de todas as feridas e do que aconteceu. Nesse sentido, aquele gesto do Papa, que nós aceitamos com gratidão, tinha também o escopo de melhorar o clima. De nossa parte, há abertura, mas em nenhum caso para mudar nosso trabalho.
- Com a revogação das excomunhões, o Papa foi muitas vezes comparado ao pai que repreende o filho pródigo que retorna cheio de remorsos. Foi assim, ou os senhores não se vêem como filhos pródigos arrependidos?
Mons. Fellay – Sim, sim, mas não mais naquele sentido. Mas há uma abertura de nossa parte. Pedimos esses colóquios, e o pedido foi aceito. Lamentamos que alguns procurem sabotá-los, com o seu atual ódio.
- Por que não fazer as ordenações sacerdotais em outro lugar? A áspera reação dos Bispos alemães era previsível.
Mons. Fellay -- Nesse ponto, todo mundo vê que há má fé. Podemos fazer o que queremos, de todo modo, nós somos a ovelha negra. Esta é a minha impressão. A um certo ponto, dizemos que não faremos outros retrocessos. Deveis entender.
- Portanto, os senhores não visam nenhum repúdio do Papa com vossos atos.
Mons. Fellay --Isso seria uma interpretação errada dos fatos. Esse não é um ato hostil, escrevi isso ao Papa e Lhe pedi, que deveria considerar essas ordenações não como um ato de rebelião, mas como um passo de sobrevivência em circunstâncias complexas e difíceis.
- De qualquer modo que V.Excia. queira interpretar as ordenações, em todo caso, o Papa fica numa situação desagradável.
Mons. Fellay –Compreendo bem isso. Essa situação é muito desagradável para todos. Deixe-me repetir: esse problema vem de diferentes correntes na Igreja, que também eles podem suportar dificilmente. Esse problema, por fim, só pode ser resolvido pelo papa. Mas eu nem estou certo se ele poderá jamais ser resolvido.
- Que está fazendo Mons. Williamson agora?
Mons. Fellay-- Está em Londres. Reza, estuda, nada mais.
- Há um fim previsível para seu exílio interno?
Mons. Fellay -- Não vejo isso. Tudo depende dele.
- V.Excia desejaria uma maior tomada de distância por sua negação do Holocausto.
Mons. Fellay: Se uma declaração como aquela se repetisse, então seria intolerável.
Para citar este texto:
"Nova e Importante Notícia de Mons. Fellay"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/mons-fellay-entrevista/
Online, 21/11/2024 às 08:40:48h