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Anotações "esquecidas" IX: Jean Guitton, católico ou espírita?
Marcelo Fedeli
Em artigo anterior afirmamos que Guitton não era católico apostólico romano, pois, católico é quem é batizado, crê e professa a doutrina de Cristo, ensinada infalivelmente pela Igreja Católica Apostólica Romana, a única instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Dos elementos acima que definem um católico, Guitton parece ter atendido somente ao primeiro, vista a facilidade com que acatava, sem a menor objeção teológica, princípios de outras religiões, totalmente contrários aos ensinamentos da Igreja, a quem ele dizia pertencer.
Nesta perspectiva, veremos como o filósofo Guitton, considerado "o maior filósofo católico do século XX", discípulo do não católico Bergson, confidente de muitos (e famosos) sacerdotes, bispos, e cardeais, amigo íntimo do Papa Paulo VI, e presente no Concílio Vaticano II, considerava, reverente e elogiosamente, o Espiritismo.
Sim!...Pasmem!.. o Espiritismo de Alan Kardec, ou seja, o gnosticismo evolucionista bem "barato", apresentado em cardápio "comercial", para mais facilmente ser deglutido pela massa dita espiritualista, e ávida em negar os claros ensinamentos de Cristo, defendidos e explicados pela Igreja Católica Apostólica Romana, especificamente referentes aos novíssimos do homem, ou seja: a morte, o juízo, o inferno e o paraíso.
Veremos como se portou nosso católico filósofo primeiramente diante da psicografia, postulado espírita segundo o qual um médium capta, por escrita automática, mensagem de um espírito; e, em seguida, o que afirmou Guitton sobre a SPR – Society for Phisical Research, bem como sobre a mediunidade da sua esposa.
Na sua obra "Journal de ma vie", editada em 1976, ele dedica um tópico específico à psicografia. Transcrevemos, abaixo, a versão em português do tópico inteiro, sem comentários, ocorrido, segundo o diário de Guitton, em dezembro de 1954.
"Eu li as «Cartas de Pierre à sua mãe»". Pierre, falecido durante a guerra, cuja voz era ouvida e captada pela sua mãe por meio de escrita automática. Qualquer explicação que se possa dar deste fato, mesmo que ilusório, as palavras de Pierre são de grande importância; assim, ele diz à sua mãe:
«Eu só posso lhe falar da terra, pois, oh! mãe, a senhora não saberia conversar sobre aquilo que se faz no mundo universal que a ultrapassa de todos os modos ».
"E ele fala à sua mãe destas combinações que se manifestam ao infinito, e que representam o conjunto da vida de um mundo terrestre, repetido, com variações, nos mundos criados".
"Morto na guerra em 1914, ele diz à sua mãe que os mortos na guerra tornaram-se, todos, exércitos de anjos, mobilizados por Deus, e que, dali em diante, estão imediatamente à sua disposição para ajudar a Deus a prosseguir com suas missões na terra e nos astros"
(Journal de ma vie, Jean Guitton, Ed. Desclée de Brouwer, Bar-le-Duc, 1976, p. 288).
O tópico termina aqui, sem objeção alguma do grande filósofo católico, Guitton!
Perguntamos: é isso que a Igreja nos ensina sobre os novíssimos do homem: morte, juízo, inferno e paraíso?
[Aliás, quanto ao inferno, segundo a jornalista Francesca Pini (autora do livro-entrevista com Guitton "L'Infinito in fondo al cuore" – Ed. Monadatori), para Guitton, "o inferno é vazio devido ao sofrimento que os santos oferecem a Deus"!... Se assim é, de onde viriam, então, o "choro e o ranger de dentes", afirmados diversas vezes por Nosso Senhor Jesus Cristo? (Mt 8, 12 ; Mt 22, 13; Mt 24, 51; Mt 25, 30 e Lc 13, 28). E Lúcifer?... Onde estaria Lúcifer e seus asseclas?].
Voltemos ao texto de Guitton.
Imaginem Guitton, considerado o maior filósofo católico do século XX, lendo, reverente e contrito, as pálidas páginas do além, ditadas pelo espírito do pobre soldado Pierre, morto na I Guerra Mundial, em que afirma que "os mortos na Guerra tornaram-se exércitos de anjos"!... prosseguindo "com suas missões na terra e nos astros" ... e, ainda, julgando isso ser de "grande importância"!...
Anos após, em entrevista concedida a Marino Parodi, e referindo-se à "SPR – Society for Phisical Research (prestigiosa instituição londrina, fundada há mais de quinhentos anos, à qual aderem cientistas das mais diversas disciplinas, criada com a finalidade de estudar cientificamente os fenômenos ligados ao além-túmulo, ndr") – (A Fé, publicada no site http://www.liberalfondazione.it/archivio/speciali/Terzo_Millennio/Guitton.htm ), afirma Guitton:
"Seguindo o exemplo de Bergson, há décadas eu faço parte da ‘Society for Physical Research – SPR’. (...) A morte é, no fundo, somente a separação da alma do corpo, e esta ciência, que já nos proporciona algumas informações relativas à vida após a existência terrena, saberá nos oferecer cada vez mais luzes sobre o tema, embora jamais chegar a nos revelar a realidade total. Acrescento que não só essa questão sempre me interessou profundamente, mas minha mulher, que era dotada de capacidades mediúnicas, me ajudou a refletir de modo profundo sobre as poderosas faculdades humanas até agora latentes e ainda a explorar".
Para o filósofo católico Guitton, a "ciência" (Sic!) que estuda os fenômenos relacionados ao além-túmulo, e que, segundo ele, "já proporcionou algumas informações relativas à vida após a existência terrena, saberá nos oferecer cada vez mais luzes sobre o tema (...)", evidentemente luzes que nem mesmo a Sagrada Escritura e a Igreja ofereceram ao maior filósofo católico do século XX, e amigo de Paulo VI.
Pena que ele não nos revela as misteriosas "informações" proporcionadas por "esta ciência" !...
Tudo isso acrescido, ainda, do especial e particularíssimo auxílio que Guitton teve da sua esposa, "que era dotada de capacidades mediúnicas", e que o "ajudou a refletir de modo profundo sobre as poderosas faculdades humanas até agora latentes e ainda a explorar"!...
Imaginem Guitton, o maior filósofo católico do século XX, numa tarde de sábado fria e chuvosa de Paris, na penumbra de sua sala, refletindo profundamente nas misteriosas informações mediúnicas da sua esposa, sobre as não menos misteriosas e "poderosas faculdades humanas até agora latentes e ainda a explorar"!..
Quais seriam essas vagas e misteriosas "faculdades humanas até agora latentes a ainda a explorar", das quais, para ele, a Sagrada Escritura, Nosso Senhor Jesus Cristo e a Igreja passaram à deriva, e que só foram mediunicamente reveladas ao grande amigo de Paulo VI, Jean Guitton?... Infelizmente, para a posteridade, ele não diz!...
A posição claramente manifestada por Guitton nesse texto, quer diante das psicografadas "Cartas de Pedro à sua mãe", quer de confessar-se membro de uma sociedade de estudos científicos (claro!) dos fenômenos do além, bem como da elogiada e frutífera mediunicidade da sua esposa, está totalmente contrária aos ensinamentos da Igreja católica, aos quais todo católico deve aceitar e, como obra de misericórdia, tem obrigação de ensinar, o que foi omitido por Guitton, professor e filósofo, e que se dizia católico.
Guitton professava e ensinava, de fato, a doutrina da Igreja?
Guitton era católico?
Marcelo Fedeli
Novembro de 2002
Para citar este texto:
"Anotações "esquecidas" IX: Jean Guitton, católico ou espírita?"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/jeanguitton6/
Online, 21/11/2024 às 09:13:42h