Artigos
Igreja
Sabedoria Romana - Entrevista do Cardeal Hoyos
Orlando Fedeli
SABEDORIA ROMANA
OU
DE COMO DIVIDIR UM CABELO EM 17 PARTES IGUAIS
É bem conhecida a verdadeira mania dos teólogos bizantinos de fazer distinções sutilíssimas, que eram significadas pela expressão ´dividir um cabelo em quatro partes iguais`.
Pois o Cardeal Castrillón Hoyos fez muito mais: conseguiu dividir um cabelo em 17 partes iguais.
A pedido de Bento XVI, ele tinha que resolver um problema impossível: como levantar a excomunhão do Dom Lefebvre e de Dom Mayer, e liberar a Missa de sempre, -- as duas condições pedidas pelos lefevristas para retornar plenamente ao seio da Igreja -- sem provocar um imediato levante dos Bispos modernistas que ameaçam fazer um cisma maior do que o supostamente feito pelos tradicionalistas ao Dom Lefebvre consagrar Bispos sem a permissão do Papa.
Era um problema bem difícil, quase impossível de resolver.
Seria como dividir um cabelo, não em quatro partes iguais, mas em 17 partes iguais. Aparentemente operação impossível de ser realizada.
Pois o Cardeal Hoyos — aplicando a sabedoria romana, bem maior do que aquela que solucionou o famoso problema do ovo de Colombo — resolveu facilmente a questão: o Cardeal Hoyos pegou o cabelo, estendeu-o na mesa, mediu o seu comprimento, e dividiu-o em 17 partes de comprimento igual.
Não de diâmetro igual. De comprimento igual.
Simples, não?
Simples para um Cardeal. Simples para a sabedoria romana, que percebe claramente o que ninguém disse: que se pedia dividir o cabelo em 17 partes iguais, sem se dizer que era para dividir o cabelo em sua circunferência. E o Cardeal, então, sabiamente dividiu o cabelo em seu comprimento. O que é bem fácil.
Essa inteligente solução do problema me veio à mente ao ler a entrevista do Cardeal Hoyos à Televisão TV Canal 5, em 13 de Novembro de 2.005.
Nela, o Cardeal declara que a Missa antiga, para ser liberada, continua a depender dos Bispos. Eles é que continuam a ter a autoridade para decidir se essa liberação favorece ou não o seu pastoreio.
Assim, Roma procura satisfazer o Episcopado modernista que ameaça se rebelar, caso a Missa de sempre seja liberada universalmente pelo Papa, o que permitiria sua celebração por qualquer sacerdote, sem prévia aprovação dos bispos.
Exigências da Colegialidade do Vaticano II que colocou o supremo poder na Igreja também no episcopado...
Ao mesmo tempo, para mostrar que ao Papa agradaria a liberação da Missa antiga por parte dos Bispos, o Cardeal Hoyos diz que a decisão pastoral dos Bispos é de sua responsabilidade pessoal, mas que dela darão contas ao Papa, e, mais ainda, a Deus...(dovrà dar conto all'autorità del Papa, ma specialmente a Gesù, a Dio").
Quanto à situação dos lefevristas disse o Cardeal Hoyos:
1 - A Fraternidade Sacerdotal São Pio X— (e os padres de Dom Mayer, claro !!!) – não caiu em heresia. ("Non siamo di fronte ad una eresia”).
2 – Os lefevristas não fizeram um cisma, quando Dom Lefebvre e Dom Mayer sagraram quatro Bispos, sem licença do Papa. Fizeram um “ato cismático”, “mas não fizeram um cisma”.
Literalmente disse o Cardeal Hoyos:
“Não se pode dizer em termos corretos, exatos, precisos, que no que eles fizeram haja um cisma. Há uma atitude cismática no consagrar Bispos sem o mandato pontifício” (Non si può dire in termini corretti, esatti, precisi che ci sia uno scisma. C'è una attitudine scismatica nel consacrare vescovi senza il mandato pontificio”).
3 – Por isso mesmo, diz o Cardeal Hoyos: a Fraternidade Sacerdotal São Pio X está em comunhão com a Igreja, embora essa comunhão não seja plena.
Eis as palavras do cardeal Hoyos:
“Eles estão dentro da Igreja, falta apenas uma plena, uma mais perfeita—como foi dito no encontro com Dom Fellay—uma mais plena comunhão, porque comunhão existe” (“Loro sono dentro la Chiesa, solo che manca una piena, una più perfetta -come è stato detto nell'incontro con monsignor Fellay- una più piena comunione, perchè c'è la comunione)".
Desse modo, Roma sabiamente dividiu o cabelo em 17 partes iguais.
Para o Cardeal Hoyos, então, – e as palavras desse Cardeal muito provavelmente exprimem o que foi decidido entre o Papa Bento XVI com Dom Fellay – dizer que o Vaticano II tem erros não é heresia. Criticar a Missa nova como protestantizante não é heresia. Isto é o que ficará claro com o possível decreto de acordo dos lefevristas com Bento XVI.
Ademais, as palavras do Cardeal são uma confirmação, por ele, da invalidade da excomunhão lançada sobre D. Lefebvre e D Mayer.
É claro, porém, que as palavras do Cardeal Hoyos não têm o valor de um decreto Papal.
Porém, elas parecem indicar um atendimento por parte do Papa aos pedidos de Dom Fellay . Com efeito, Dom Felley declarou que pedira ao Papa:
1 - Que fosse declarado que a Missa de sempre nunca foi proibida e não é proibida;~
2 - Que fossem levantadas ou consideradas nulas as excomunhões de Dom Lefebvre e de Dom Mayer, pois eles nunca tiveram a intenção de se separarem do Papa, e portanto nunca foram cismáticos;
3 - Que a Fraternidade não cometia heresia, criticando o Vaticano II, Concílio pastoral, e nem a Missa Nova de Paulo VI.
É preciso ainda aguardar a decisão oficial de Roma, que, se vier, não se sabe quando vir
Domingo próximo, os lefevristas comemorarão o centésimo aniversário do nascimento de Dom Lefebvre. Seria um presente do céu se tal decreto viesse antes dessa data.
Deus ilumine o Papa Bento XVI.
Rezemos pelo Papa Bento XVI. E rezemos para que o Papa tenha a coragem de fazer, afinal, justiça a Dom Lefebvre e a Dom Mayer!
Viva sempre a sabedoria romana!
Viva o Papa!!!
São Paulo, 17 de Novembro de 2.005
Orlando Fedeli.
Texto original: Cardeal Hoyos: ´a Fraternidade Sacerdotal S.PioX está na Igreja`
Para citar este texto:
"Sabedoria Romana - Entrevista do Cardeal Hoyos"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/hoyos_fsspx/
Online, 21/12/2024 às 18:37:48h