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Em honra de São José
Dignare me laudare te, Virgo Sacrata. Da mihi virtutem contra hostes tuos!
Em honra de São José
Sermão de São Leonardo de Porto-Maurício sobre São José ..................................... Santa Teresa de Ávila – autobiografia – capítulo 6 – sobre São José ........................ Novena a São José seguida de oração composta por São Francisco de Sales .......... Canto Gregoriano - em honra de São José – partitura e tradução.............................. |
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São Leonardo de Porto-Maurício 1676 - 1751
Sermões para a Quaresma
Traduzido do francês:
Œuvres Complètes du Bienheureux Léonard de Port-Maurice – par F. –I. –J. LABIS, de l’Ordre des Frères Mineurs Récollets.
1867
XVIII
PARA A FESTA DE SÃO JOSÉ (DIA 19 DE MARÇO) PANEGÍRICO DO SANTO.
Joseph autem vire jus cum esset justus. José, esposo de Maria, era um homem justo. Mt I, 19.
I. A Santa Igreja é tão feliz em celebrar as glórias de são José, e colocamos em toda parte tanto desveloem honrar esse glorioso patriarca que, se eu não consagrasse hoje meu discurso em seu louvor, eu fariainjúria ao santo, ao mesmo tempo em que vos afligiria e que faria mal
a mim mesmo. Eu faria injúria ao santo, privando-o dessas piedosas aclamações que toda a Igreja em sua festa se agrada a lhe dar. Eu vos afligiria, privando-vos dessa alegria que provamos ao escutar os louvores de uma santidade tão privilegiada, o que seria uma amarga ingratidão para com a vossa piedade. Enfim, eu faria mal a mim mesmo, pois se eu não viesse oferecer-lhe aqui a humilde homenagem de um pobre discurso, eu passaria justamente por alguém que não tem a inteligência necessária para fazer um tal discurso, ou por alguém que não tem bastante coração para o fazer. Quanto ao coração, protesto bem que eu o tenho, pois já tem bastante tempo que eu o consagrei a esse grande santo de uma maneira toda especial, e que minha terna e ardente devoção por ele me levou a suplicá-lo para que aceitasse ocupar o primeiro lugar entre meus santos padroeiros. Quanto à inteligência, confesso dela ser desprovido; chego mesmo a treme ao abordar um temaem que se precisaria antes venerar em silencia que de trata-lo, mesmo com todas as pompas de uma sublime eloquência. Não tenho eu, com efeito, um justo motivo de receio? O objeto desse discurso é um Justo, no qual a Verdade eterna se dignou fazer ela mesma o papel depanegirista, pois, chamando José o justo por excelência, ela fez com uma só palavra o mais perfeito elogio: Joseph autem vir ejus cum esset Justus – José, esposo de Maria, era justo. É um esposo no qual o casamento é todo espiritual e que nada tem de terrestre, e que, por uma maravilha singular, apresenta à nossa admiração uma virgindade conjugal e um casamento virginal todo santo e todo puro: O conjungium cæleste, non terrenum1! Exclama o abade Roberto. É um Pai que tem por súdito o Filho eterno de Deus, e que, nessa qualidade, segundo aobservação de Santo Tomás, parece ser um Deus diante do próprio Deus: Quasi homo Dei Deus esset2. Vedes vós depois disso o quanto meus receios são bem fundados? E, no entanto, ó providência do Altíssimo! Eis que sem me aperceber encontro a matéria de meu discurso, toda preparada e dividida em três pontos: 1º José considerado como Justo; 2º Como esposo; 3º Como Pai.
Três pontos bem próprios para atrair vossa atenção. Na esperança, então, de que vós sabereis ter compaixão de minha insuficiência, eu começo.
Primeiro ponto.
II. Por uma engenhosa invenção, os geômetras, para medir as torres de uma prodigiosa altura, se servem dasombra que elas projetam. Não podendo aplicar seus instrumentos sobre essas massas enormes, eles calcular a altura a partir da extensão de sua sobra. É preciso que eu faça recurso a um semelhante artifício nessa manhã: para vos explicar as excelentes qualidades do glorioso patriarca são José, e notavelmente sua grandeza como Justo, eu devo medir sua sombra. Mas qual pode ser a sombra que projeta um tal prodígio de justiça e de santidade? Existe uma figura profética que exprime maravilhosamente a grandeza de nosso bem-amado santo: é o antigo José do Egito, filho do patriarca Jacó, que, segundo São Bernardo, foi como a sombra que figurava nos séculos mais longínquos as sublimes prerrogativas do patriarca da nova Lei. Vósconheceis o sonho esplêndido que ele teve onde via como que prostrados a seus pés o sol, a lua e onze estrelas: vidi per somnium quasi solem, et lunam, et stellas undecim adorare me3. Esse sonho não foi um daqueles que forma a imaginação delirante durante o sono, mas foi uma visão extática, formada pelo próprioDeus na alma de
1 “Ó casamento celeste, não terreno”.
2 “Homem que era quase um Deus de Deus”.
3 “Vi em sonho o sol, a lua e onze estrelas que se prostravam diante de mim”. Gn 37, 9.
José, para representar por meio dele, não somente a exaltação próxima desse jovem homem no Egito, mas ainda a elevação futura de nosso santo patriarca na Igreja. Eu vos deixo o cuidado de contemplar e de meditar a maravilhosa fortuna do primeiro José, que viu prostradosdiante de seu trono, não somente seu pai, sua mãe e seus irmãos, mas ainda todo o Egito, e eu me sirvo dessa sombra para medir a sublime dignidade do segundo José. Ó Deus grande, quem poderá um dia chegar a compreendê-la? Credes vós que foi pouca coisa para ele o ver Jesus e Maria render homenagem a seu mérito, e se jogar a seus pés com as marcas do mais terno e mais profundo respeito? É isso que me faz concluir ousadamente que antes de se tornar o esposo de Maria, era preciso que José já fosse a maior alma que um dia apareceu no mundo, excetuando a augusta Virgem que eu deixo sempre subentendido. Eu não falo aqui, portanto, dessa grandeza da qual se orgulha aambição, que não visa senão a fazer ostentação de títulos pomposos, para atrair sobre si a vã estima dos homens. E, portanto, esse gênero de grandeza não faltou também ao nosso santo. Se vós percorrerdes sua gloriosa genealogia, vós vereis que ele pode se vangloria de contar entre seus ancestrais quatorze reis, tantos patriarcas e condutores de povos, formando uma linhagem de cetros e de coroas para esse ilustre descendente, maior que seus ancestrais. Nobreza tão brilhante que, remontando por tantos profetas e patriarcas até o céu, José, se assim é permitido de dizer, deu a nobreza temporal ao próprio Verbo, segundo a palavra de São Bernardino de Sena: fuit Joseph tantæ nobilitatis, ut quodammodo, si liceat dici, dederit temporalem nobilitatem Deo in Domino Jesu Christo4. E, no entanto, essa não é a grandeza da qual ele faz caso; a ilustração de seus ancestrais não faz senão seu próprio mérito, e a qualificação de simples carpinteiro lhe é também tão cara quanto o título de príncipe, e o cetro real não vale mais a seus olhos do que um martelo de trabalhador. A grandeza que realça sua dignidade é aquela que ele pega de tantas virtudes heroicas e que lhe valeram o belo título de Justo. Eis o tesouro que mais lhe agrada, pois é por issoque ele será a admiração de todos os séculos, e que levará gravado sobre sua fronte esse elogio que resume todas as suas glórias: Joseph autem vir ejus cum esset justus.
III. Detenhais-vos aqui, diz São João Crisóstomo, e se vós quiserdes conhecer a grandeza de José como Justo, analisai essa palavra, e sabei que ela exprime o resumo de todas as virtudes e o sumário de todas as perfeições cristãs: Justum hic in omni virtute dicit esse perfectum5. José foi Justo; quereis vós saber por quê? - Acrescenta o grande Doutor – escutai-me: Josephum vocari justum attendite6; qual é, pois, seu título? Propter omnium virtutum perfectam possessionem7. Seu título não é uma só virtude, mas várias, e nem mesmo uma multidão de virtudes, mas todas as virtudes no mais alto grau de perfeição: propteromnium virtutum perfectam possessionem. Que pode-se dizer mais de um homem, senão afirmar que ele possui todas as virtudes e que ele as possui todas perfeitamente? Não é esse um sublime elogio, o auge dos elogios? E quem poderia se compara a uma tal grandeza? Que Adão inocente se apresente com osanimais prostrados a seus pés; que Moisés apareça, submetendo todas as criaturas às suas ordens pormeio de seu cajado; que venha Abraão com sua posteridade, como um sol
4 “Tamanha foi a nobreza de José, que, em certo sentido, se é lícito dizer, ele deu a nobreza temporal a Deus no Senhor Jesus Cristo”.
5 “Aqui Justo significa ser perfeito em toda virtude”.
no meio das estrelas; que venha um Josué, comandando ao rei dos astros; que venha um Salomão, com as rainhas curvadas diante de seutrono; e vós, patriarcas, mostrai os anjos que vos assistem; Apóstolos, mostrai a Igreja que vos venera como seus primeiros chefes; Taumaturgos, mostrai a própria natureza submetida a vossa palavra, e sabei que todas essas prerrogativas tão nobres ne vos elevam ainda o bastante para vos igualar a José, pois esses privilégios e essas virtudes vos foram dispensadas com medida, enquanto que José as possuiu todas e em um grau perfeito. Rendei, pois, homenagem a um mérito tão sublime, e caiam a seus pés, profetas, patriarcas, apóstolos, mártires, taumaturgos, vós todos, grandes do céu e da terra, como outrora, além do sol e da lua, as estrelas também haviam se inclinado diante do primeiro José: vidi per somnium quase solem, et lunam, et stellas undecim adorare me.
IV. Vós poderíeis bem fazer a vós mesmo a objeção que tenderia aqui a rebaixar a glória de nosso Santo, no caso em que vós fôsseis tentados de se oporem a mim com essas palavras do Evangelho: non surrexit ... major Joanne Baptista8. Que entre todos aqueles que nasceram da mulher, que João seja o maior, exceto em relação àqueles que são de uma ordem superiora, como São José, estou eu de acordo; mas quando se trata de alguém que, por causa de sua eminente dignidade, é sempre com razão excluído, salvo uma mençãoexpressa em seu favor, essa objeção é sem valor. Porém, é precisamente esse o nossa caso, visto que, segundo Suarez, José não entre em paralelo com os outros homens saídos de mulher, porque ele é de uma ordem superiora, ou seja, ele pertence à suprema ordem da união hipostática: Unde eo fuit excellentior, quo ad altiorem ordinem pertinuit Joseph9. Ele, então, ultrapassa o santo precursor, conclui o sábio teólogo, detoda a sublimidade dessa ordem, tanto mais quanto não lhe faltou nenhuma das qualidades que exigia um tão eminente cargo. Eu não queria me empregar em fixar aqui a hierarquia dos santos no céu; mas, como todos, e disso tenho certeza, cedem o passo a nosso glorioso patriarca, eu posso dizer, sem receio de errar, que elefoi enriquecido, com superabundância, de todas as prerrogativas concedidas a cada um deles. Concluamos a partir disso que se João Batista foi santificado no seio de sua mãe, são José gozou do mesmo privilégio, como o afirma com muitos outros o chanceler Gerson, pelo fato de que era conveniente que Maria, tendo sido santa em sua Conceição, José o fosse ao menos em seu nascimento. Concluamos que se João Batista seconservou puro e sem mancha, e que nunca desbotou o vestido de sua inocência, o mesmo aconteceu com José, pois é um princípio incontestável, segundo o Doutor Angélico, que quanto menos um efeito está afastadode sua causa, mais ele participa de suas qualidades e de sua força10. Assim, o calor é tanto mais intenso quanto mais próximo está ele de sua fornalha, a luz é tanto mais brilhante quanto menos afastada está do sol, e para citar aqui até os poetas, a água é tanto mais pura quanto mais vizinha ela está de sua fonte: purius exipso fonte petuntur aquæ. Porém, assim sendo, como podeis vós supor que José, tendo tão perto, tanto por afinidade quanto por ofício, a fonte universal de toda santidade, tenha dela participado com menos abundância do que aqueles que dela estavam mais afastados? Não digais somente, então, que ele foi maispuro que João Batista, mas dizei que a inocência e a própria santidade o acolheram de alguma forma desde
8 “Não nasceu, entre os nascidos de mulher, um que seja maior que João Batista”. Mt 11, 11.
9 “Donde se conclui que por isso ele foi mais excelente, pelo fato de que José pertenceu a uma ordem mais alta”.
10 “quanto aliquid magis appropinquat principio in quolibet genere, tanto magis participat effectum illius principii – quanto mais algo se aproxima, em qualquer gênero, do princípio, tanto mais ele participa do efeito desse princípio. ” Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, IIIª, q. 27, a. 5, c.
de seu nascimento, e o elevaram da terra até o céu. Digais que durante toda sua vida, não somente que ele nunca manchou a pureza de suabela alma com o pecado mortal, mas que o fogo da concupiscência foi apagado nele, de tal sorte que nenhum movimento de sensualidade não pode jamais, nele, se levantar contra a razão, e que ele não teve, portanto, de gemer como São Paulo, dizendo: datus est mihi stimulus carnis meæ – Foi-me colocado um espinho na carne11. Dizei que em sua morte ele foi transportado ao céu em corpo e em alma, por um singular privilégio indicado nos Provérbios: omnes domestici ejus vestiti sunt duplicibus12; muitos intérpretes entendem por essa dupla vestimenta a glorificação em alma e em corpo. Digais, ou antes, proclameis em alta voz, oradores sagrados, e promulgueis em toda parte com impulsos de alegria, as admiráveis virtudes desse grande santo, sua integridade virginal, sua ardente caridade, seus arroubos e suassublimes contemplações, sua profunda humildade, em uma palavra, sua natureza toda impregnada pela graça, e a graça tornada nele umasegunda natureza: natura versa est in virtutem, virtus in naturam13. Celebrai essa paciência invencível nos sofrimentos, essa obediência tãopronta, essa fé, essa constância, essa fidelidade tão perfeita; o que quer que digais, vós não direis jamais o bastante; vossas palavras estarãosempre abaixo da verdade, já que São Bernardo nos assegura que José foi absolutamente o primeiro em todas as virtudes e atingiu o augedelas: Credo eum fuisse mundissimum in virginitate, profundissimum in humilitate, ardentissimum in Dei amore, altissimum in contemplatione, sollicitissimum pro hominum salute14. E quem poderia duvidar disso? Seu nome mesmo indica o crescimento de todas as virtudes nele, já queJosé significa Filius accrescens15, o que quer dizer que todas as virtudes que os outros santos tem costume de fazer crescer, receberam em José, ao contrário, um crescimento de lustre. Também os Evangelistas, descobrindo nesse homem divino tantos tesouros de méritos e virtudes, parecem não mais saber como trata-lo, de sorte que, quando eles falam desses três augustos personagens, Jesus, Maria, José, elesconfundem de tal forma as posições e as precedências, que eles colocam ora um, ora outro no meio:
(Joseph) surge, et accipe Puerum et Matrem – (José) Levanta-te, tomai a Criança e sua Mãe16; Eis Jesus entre José e Maria.
Cum esset desponsata Mater ejus (Jesu) Maria Joseph – A Mãe de Jesus, Maria, tendo desposado José17. Aqui Maria está entre Jesus e José.
Invenerunt Mariam et Joseph, et Infantem positum in præsepio – Encontraram Maria, José e a Criança colocada no presépio18. Eis José entre Jesus e Maria.
Compreendemos por aí qual é a grandeza de José, considerado como Justo, já que Jesus e Maria se dignam deixa-lo caminhar de par com eles. Se o primeiro José, vendo-se colocado entre o sol e a lua, encontrou-se todo envolto de luz, presságio de sua futura grandeza,quantas luzes celestes, quanta glória não terá recebido José, que se encontrou tantas
12 “Todos os seus domésticos possuem um duplo vestido”. Prov 31, 21.
13 “A natureza se inclina para a virtude, e a virtude para a natureza”.
14 “Acredito que ele foi puríssimo na virgindade, profundíssimo em humildade, ardentíssimo no amor de Deus, altíssimo na contemplação, muito solícito pela salvação dos homens”.
vezes entre Jesus e Maria? Honrai, pois, sua grandeza enquanto justo ele é, ou antes, honrai sua justiça enquanto que ele é grande pelas eminentes virtudes que possui; sinto-me levado agora a contemplá-lo como Esposo de Maria, qualidade que o torna ainda maior.
Segundo ponto
V. Eu bem pude, com a ajuda das cores sombrias de uma sombra, vos pintar a grandeza de José como justo, mas a mesma medida não pode me servir para representar sua dignidade ainda maior de Esposo. Os mais vivos esplendores de uma brilhante aurora seriam ainda insuficientes para deixar em relevo a grande que nosso santo adquiriu recebendo por esposa Aquela que apareceu no mundo “como uma aurora nascente – sicut aurora consurgens” e que, crescendo sempre de virtude em virtude, disso fez um rico dote que ela levou a José, seu esposo. É, pois, à clareza dessa aurora celeste que contemplarei as riquezas de José, que se tornou, por essa santa aliança, de certa forma, maior do que ele mesmo. Com efeito, a augusta Virgem não quisoutras condições para o contrato de casamento, senão que seu esposo fosse em tudo e para tudo semelhante a ela, tanto na inocência de costumes quanto na pureza de alma; e se tal contrato passou pelas mãos do Espírito Santo, quem poderia crer que a Santa Virgem não tivesse sido escutada nisso, e que São José não tivesse sido enriquecido de qualidades, dons e virtudes semelhantes em todos os pontos àquelas de Maria, sua esposa? É o parecer de São Bernardino de Sena: Deus non univit animæ Virginis nisi operationem etvirtutem illi simillimam19. Pouco importa que os Evangelistas tenham guardado silêncio quanto a São José, ouque eles tenham deixado de nos ostentar, como poderiam eles ter feito, essas virtudes e essas prerrogativas excelentes que realçam sua dignidade. Basta-me que eles o tenham apresentado como Esposo de Maria: Virum Mariæ, de qua natus est Jesus20, quer dizer, como aquele entre todos os mortais que mais se pareça com a obra mais perfeita entre todas as criaturas que saíram da mão de Deus, ou seja, Maria. “Pois, diz São Bernardo, José foi feito à semelhança da Virgem, sua esposa – Erat enim Joseph factus in similitudinemVirginis sponsæ suæ.
– Virum Mariæ – Esposo de Maria, que quer dizer que ele é aquele que mais perto se aproximou dessasublime criatura que se elevou até o mais alto dos céus, e que arrebatou, de certa forma, o seio do Pai Eterno, Seu Único Filho. Virum Mariæ, que significa que ele tem um mesmo coração, uma mesma alma com esse mesmo coração e essa alma que levou o coração e a alma do Filho de Deus. Virum Mariæ, ou seja, o chefe da primeira soberana do mundo, pois que o “homem é o chefe da mulher – caput mulieris vir21. Virum Mariæ,ou seja, o mestre dessa augusta senhora que conhecia o preceito do Gênesis: “Tu estarás sob o poder dohomem – sub viri potestate eris22, e que, tão perfeita em todo o resto, não deixou por isso de ultrapassar todasas outras mulheres pelo respeito e pela submissão que ela tinha a seu esposo. Virum Mariæ, ou seja, dessa grande rainha que as Dominações, os Principados, o Querubins e os Serafins se gloriam de servir. VirumMariæ, ou seja, diz São Bernardo, vós dizeis tudo ao dizer que ele foi semelhante à Virgem, sua esposa: factus in similitudinem Virginis sponsæ suæ, semelhante no trato, no coração, nas inclinações, pelos costumes, semelhante em virtude e em santidade. Se Maria foi a alva que anunciou o sol de justice, José foi ohorizonte iluminado por seus brilhantes esplendores. Concluamos que se, como justo, ele chegou aultrapassar
19 “Deus não uniu à alma de uma tão excelsa Virgem senão alguém à ela semelhante na virtude e no agir”.
20 “Esposo de Maria, da qual Jesus nasceu”. Mt 1, 16.
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em santidade os maiores santos, como Esposo, ele se elevou acima mesmo dos anjos e pôde ver, a seus pés, exceto a Santa Virgem, toda outra santidade criada.
VI. Se tendes dificuldades em crerdes em mim, segui-me, e examinemos juntos a maneira de agir dessa Virgem puríssima, o tipo de modéstia e que deveria servir de modelo vivo a todas as outras virgens.Observai aqui alguém que fala com ela sozinho, na intimidade; guardai-vos de formar suspeitas, é um anjo do céu, que lhe traz uma mensagem da parte de Deus. No entanto, a virgem se intimida, abaixa os olhos e se espanta: Turbata est in sermone ejus, et cogitabat23. Como? Maria mantem reservas diante de um anjo do céu; quem será, então, bastante feliz para não espantar uma tal modéstia? Esse alguém será José. Ele é proposto como esposo, e logo foi aceito. E não somente ela consente, como também se agrada de tal companheiro, tanto em casa, como nas viagens, em meio aos desertos e solidões. Não somente ela nãose espanta em sua presença, mas ela consentiu tão prontamente em se casar com ele que, sem contratoprévio, o casamento foi imediatamente concluído no mesmo lugar: Cum esset desponsata... Maria Joseph24. Coisa admirável, Maria treme à viste de um anjo, e ela aceita sem receio a companha de um homem. Dizer que nessa circunstância ela foi inferior a ela mesma, seria um sacrilégio. É preciso, então, dizer que José foi para ela mais que um anjo; tal consequência é inevitável. Sim, José foi mais que um anjo para Maria, e se não quiserdes vos apoiar no Evangelho, apoiai-vos na lei que diz que aquele que esposa uma rainha, pelo próprio fato de com ela se casar, torna-se rei: Nubentem reginæ consequens est regem fieri25. Aquele que dá sua mão a uma rainha, dela recebe o cetro real. No momento em que ele lhe coloca o anel no dedo, ela coloca a coroa sobre a cabeça dele, ainda que ele fosse um simples pastor, ele entra imediatamente em todas as honras devidas a um rei e deve ser respeitado como tal. Porém, eu tiro daí um argumento sem réplica. Maria é a rainha dos santos e dos anjos. José é o esposo de Maria. Logo, de acordo com a lei, ele é também rei dos santos e dos anjos. Se vós honrais com frequência a Santa Virgem com esses gloriosos títulos: Regina sanctorum, regina angelorum, ora pro nobis26, vós deveis honrar José da mesma maneira, e dizer-lhe: Rex sanctorum, rex angelorum, ora pro nobis27. O que mostra,com efeito, que José era superior a todos os anjos, são as frequentes mensagens que ele recebia do céu por meio deles. Os anjos são enviados a José para lhe confiar o mistério da Encarnação: Quod in ea natum est de Spiritu Sancto est28. Os anjos são enviados a José para lhe fazer conhecer o mistério daRedenção: Ipse salvum faciet populum suum a peccatis eorum29. Os anjos são enviados a José quando,inquieto do estado onde ele via sua esposa, ele queria se retirar. Os anjos foram enviados a José quandose tratou de dar um nome à divina Criança. Os anjos foram enviados a José quando Jesus foi ameaçado pela perseguição de Herodes. Os anjos foram enviados a José quando ele teve de retornar do Egito para a Palestina. Os anjos lhe foram enviados avisá-lo para que se refugiasse em Galiléia por receio do rei Arquelau. Vós observais como as secretas responsabilidades de que esse grande homem tinha de tratar com o augusto senado da adorável Trindade colocava continuamente em movimento os mensageiros
23 “Ela perturbou-se de suas palavras, e pensava no que significava”. Lc 1, 29.
24 “Maria era desposada com José”. Mt 1, 18
25 “Aquele que se casa com a rainha, consequentemente, torna-se rei”.
26 “Rainha dos santos, rainha dos anjos, rogai por nós”.
27 “Rei dos santos, rei dos anjos, rogai por nós”.
celestes; é isso que nos faz escutar tantas vezes essas palavras no texto sagrado: Angelus Domini apparuit in somnis Joseph – O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José30. Dizei-me agora se o título de rei e de rei dos anjos não lhe convém, e se não é verdade que, na qualidade de esposo, ele foi maior que os mais elevados anjos do céu.
VII. Todavia, o que principalmente realça José na qualidade de esposo de Maria, é que, por esse título, ele é venerado como o chefe dessa santa família, que não foi nem toda humana, nem toda divina, mas que tem tanto um como outro, o que faz que alguns a chamara de “família hypostática” e de “a Trindade terrestre”. E quantas palavras não tenho eu, para afirmar com o piedoso Gerson, quantas palavras não tenho eu, capazes para retratar essa admirável Trindade de Jesus, José e Maria! Cuperem mihi suppeterent verba ad explicandam tam admiranda Trinitatem Jesu, Joseph, Mariæ31! Por meio de José, esposo da Santíssima Virgem, formou-se, então, aqui em baixo, um retrato da adorável Trindade. Da mesma forma, com efeito, que, no alto do céu, o Pai gera o Filho sem mãe, e que do Pai e do Filho procede o Espírito Santo, e que essa terceira pessoa não produz uma outra, assim também, Maria concebe aqui em baixo a Jesus, sem pai; Jesus e Maria dão a José a qualidade de esposo e de pai, e José não foi nem verdadeiro pai de um, nem esposo carnal de outro. E para melhor compreender as admiráveis disposições da divina sabedoria, reflitamos nesses três nomes: Iesus, Maria, Ioseph; vós vereis que cada um deles traz consigo um esboço da Santíssima Trindade. Todos os três são compostosde cinco letras, formadas por duas consoantes e três vogais32. As três vogais podem indicar a Trindade das Pessoas, e as duas consoantes figurar a união das duas naturezas em Jesus Cristo. Esses são tantosmotivos que devem levar nossos corações a agradecer a soberana bondade de Deus que, tendo colocado José como chefe dessa trindade terrestre, nos dá o direito de concluir que, se tão grande foi ele como justo, ele não o foi menos enquanto que Esposo. Rendei, então, frequentes homenagens à adorável Trindade no céu, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, mas honrai também a Trindade Santa que habitou visivelmente entre nós sobre a terra: Jesus, José e Maria. Gravai em vossos corações, com letras de ouro, esses três nomes, esses nomes celestes, pronunciai-os com frequência, escrevei-os em toda parte: Jesus, Maria, José. Que sejam essas as primeiras palavras que vós ensinareis aos vossos filhos. Repitamesses nomes sagrados muitas vezes ao dia, e que eles estejam ainda em vossos lábios no momento em que dareis o último suspiro. Deixem os anjos imprimir com letras de fogo em vosso espírito, e, mais ainda, em vossos corações, que se José foi grande como justo, ele foi ainda maior como chefe da Santa Família em qualidade de Esposo, e o que acrescenta ao máximo sua glória, é sua grandeza como Pai.
Terceiro ponto
VIII. Se, para vos fazer admirar as grandezas de nosso santo Patriarca como Justo, e sobretudo como Esposo, eu o coloquei em paralelo com o primeiro José, que foi como que sua sombra, e de Maria sua esposa, essa aurora radiosa que alegrou o mundo, para vos mostrá-lo ainda maior como Pai, e devo considera-lo em suas relações com o divino Sol de Justiça. É assim que se chama aquele de quem José foi o pai: Nonne hic est fabri filius? – Não é
31 “Desejaria ter em meu poder palavras para falar da tão admirável trindade de Jesus, José e Maria!”
32 No caso de Ioseph, talvez o santo considere “ph” com uma só consoante, como acontece com o grego no caso do “ph” – φ– como em “philosophia”, por exemplo, que em português escreve-se filosofia. Nota do tradutor.
esse o filho daquele artesão33? Diziam os judeus com despreza a respeito de Jesus. “O Filho de um artesão!” Sem dúvida, mas de qual artesão? Eu irei vos ensinar, responde São Pedro Crisólogo, é o filho desse grande artesão que fabricou o mundo, não com o martelo, mas por uma ordem de sua vontade: non malleo, sed præcepto34; desse artesão que combinou os elementos, não por um esforço de gênio, mas por um simples mandamento, non ingenio, sed jussione35; desse artesão que acendeu o astro do dia na abóbada celeste, não com um fogo terrestre, mas por um calor superior, non terreno igne, sed superno calore36; desse artesão, em uma palavra, que, com uma só palavra, fezsurgir o universo a partir do nada, cuncto fecit, ex nihilo37. Vós tendes razão, ilustre doutor, eles deveriam reconhecer que Jesus é o filho do grande arquiteto do universo. Mas consintais que, para a glória de José, também digamos que ele é o filho desse pobre carpinteiro que, em uma humilde loja, maneia a serra e a plaina, e já que a própria Virgem Santa dá a José esse belo título de pai de Jesus, dizendo-lhe: Patertuus et ego
– seu pai e eu38, título que, aliás, lhe convém, dado que esse filho é o fruto de Maria, que por sua vezpertence a José em qualidade de Esposa, consinta também que ele é filho desse pobre artesão, fabri filius, e que, como tal, ele é seu súdito e companheiro de trabalho. Ó, que maravilha quando nisso pensamos! Jesus ajudou esse pobre artesão a cortar madeira, assim como ajudou o grande artesão de natureza a fabricar o universo: quando præparabat cælos aderam39. Quando o Criador, aqui é o Filho de Deus, a Sabedoria Incriada que assim fala, quando meu pai se ocupava em criar o mundo, eu estava presente, e eu representava a ideia disso na inteligência infinita; quando ele estendia a abóbada celeste, quando ele colocava limites ao mar, quando ele suspendia as nuvens no ar, eu estava com ele, organizando todas ascoisas: cum eo eram cuncta componens40. A mesma Sabedoria Encarnada pode igualmente dizer dela mesma: quando José, meu pai, entrava em seu atelier para trabalhar, eu estava com ele, como companheiro de seus trabalhos: cum eo eram cuncta componens; quando ele cortava e modelava a madeira, eu estava com ele, cum eo eram; quando ele serrava e plainava, eu estava com ele, cum eo eram;quando ele adaptava as peças juntando-as, eu as organizava com ele, cum eo eram componens. Como ele, eu colocava a mão na serra, eu misturava meus suores com os dele. O miranda prorsus, Joseph, sublimitas tua41! Que dignidade sublime! - Exclama Gerson – que grandeza maravilhosa essa que nos mostra José como o êmulo do próprio Deus! Um pobre carpinteiro emula o arquiteto do mundo! Quereis vós ainda mais para aclamar José soberanamente como grande pai, se o próprio Deus não pode fazer um pai maior queaquele que tem um Deus por filho? Existem três coisas, diz o Doutor Angélico, que Deus não pode fazer maior do que elas já são, à saber: a humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, por causa de sua união hipostática com o Verbo; a glória dos eleitos, em seu gênero, por causa de seu objeto principal que é a essência infinita de Deus; e a Mãe incomparável de Deus, da qual foi dito que Deus não pode fazer umamãe maior que a Mãe de um Deus: majorem quam
34 “Não martelo, mas preceituo”.
35 “Não faço um esforço de inteligência, mas ordeno”.
36 “Não um fogo terreno, mas um calor superior”.
matrem Dei non potest facere Deus42. Vós podeis, em um certo sentido, acrescentar, para a glória deJosé, uma quarta coisa: majorem quam patrem Dei non potest facere Deus – Deus não pode fazer um paimaior que o pai de um filho que é Deus. Reconheçamos, então, que se José foi grande como Justo, maior inda como Esposo, ele foi muito maior sobretudo com Pai.
IX. Param-me aqui para me objetar que José não foi o verdadeiro pai de Nosso Senhor; ele o parecia sem o ser, e disso tinha o título sem a dignidade. “Eu me admiro, responde São João Damasceno, que se ouse fazer tal objeção. José não teve somente o nome de pai, mas teve ainda disto a realidade o tanto que o homem pode tê-lo – non solum patris nomen habuit, sed etiam rem significatam, quantum ab homine participari potest43. Não é apenas a geração que constitui a paternidade, mas também a autoridade e os cuidados do governo paterno. José não teve, é verdade, parte na produção de Jesus Cristo, mas teve a seu respeito a autoridade tanto quanto a solicitude e os deveres de um pai. Tem, por acaso, uma só das funções do melhor dos pais que não tenha sido gloriosamente exercida por esse “servo fiel e prudente, que o Senhor colocou no governo de sua família? – Quem constituit Dominus suus super familiam suam44”. Não foi José que tomou em seus braços e Menino Jesus logo depois de nascido e que o deitou sobre a palha no presépio? Não foi, por acaso, José que empurpurou do mais belo Sangue da terra o gládio da lei fazendo a circuncisão no divino Menino, já que era responsabilidade dos pais administrar esse sacramento a suas crianças? Não foi, por acaso, José que o subtraiu dos furores de seu real perseguidor? Não foi ele que forneceu, durante trinta anos, do trabalho de suas mãos e do suor de sua fronte, o alimento, a vestimenta e o alojamento? Quantas vezes os braços de José não serviram de berço ao Menino Jesus! Quantos ternos beijos não lhe prodigou ele?! Quantas vezes não lhe deu ele de comer com suas mãos, o vestiu, o ensinou a falar, o exerceu ao trabalho?! Pois esse divino Infante queria parecer em tudo semelhante aos outros, e quando ele se tornou grande, quantas vezes José não repousou sobre seuCoração?! Porém, se José se comportou como um pai tão terno, tão devotado para com Jesus, como pensais que deve ter se comportado Jesus para com José? Tem-se necessidade de dizer que ele foi para com ele o melhor dos filhos, testemunhando- lhe um respeito, uma submissão, uma obediência perfeita emtodas as coisas, como para com seu pai bem-amado?! Ó tetos, ó muros, ó feliz recinto que abrigastes essa augusta família e que fostes testemunha de seus trabalhos, de suas recreações, de suas celestes conversas que Jesus e José tiveram, dizei-nos quantas vezes José, para se reanimar em suas fadigas, repetia o doce nome de seu Jesus, e com qual respeitosa impressão acorria, então, Jesus a ele, como seele o tivesse chamado, dizendo-lhe com uma celeste alegria impressa sobre seu rosto: Eis- me aqui, meu pai, que quereis? O que me ordenas? José, que foi de uma tão profunda humildade que os quatro evangelistas não reportam uma só palavra dele, José, parece-me, para condescender ao desejo de Jesus,teve de lhe dizer às vezes: Vejamos, filho meu, assisti-
42 “Ad quartum dicendum quod humanitas Christi ex hoc quod est unita Deo, et beatitudo creata ex hoc quod est fruitio Dei, etbeata virgo ex hoc quod est mater Dei, habent quandam dignitatem infinitam, ex bono infinito quod est Deus. Et ex hac parte non potest aliquid fieri melius eis, sicut non potest aliquid melius esse Deo – à quarta objeção é preciso dizer que a humanidade de Cristo, por ser unida a Deus, e a felicidade criada, por ser a fruição de Deus, e a bem-aventurada Virgem, por ser a Mãe de Deus, possuem uma certa dignidade infinita vinda do bem infinito, que é Deus. E, por causa disto, não se pode fazer algo demelhor, pois que não há nada que seja melhor do que Deus.” Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, Iª, q. 25, a. 6.
43 “Não somente teve ele o nome de pai, mas também o que ele significa, tanto quanto é possível ao homem de dele participar”.
44 “Que o Senhor constituiu sobre sua família”. Lc 24, 45.
10
me nesse trabalho. E Jesus o assistia. Meu Filho, onde está a plaina? E Jesus trazia a plaina. Limpemos o atelier, e Jesus começar a varrer, fazendo cada coisa com tanta modéstia e com tanta graça, que todos os habitantes de Nazaré acorriam, às vezes, para a loja de José para ver trabalhar essa interessante criança. Mas eles não eram os únicos a vir: todos os profetas ali acorriam de longe: ó feliz José! Exclama Isaías, essa criança que contigo trabalha, e que te chama de pai, é admirável, é o Deus forte, o príncipe da paz, o anjo do grande conselho: admirabilis, Deus fortis, princeps pacis, magni consilii angelus45. Aquele que reconheces como teu filho, diz o profeta Miquéias, é o grandepersonagem do qual datam as origens da eternidade, egressus ejus ab initio, a diebus æternitatis46. Eu o reconheço também, diz o real profeta, essa criança que te chama de pai, é aquele a quem a terra pertence e tudo o que ela encerra: Domini est terra et plenitudo ejus47. Se oApóstolo tirou um invencível argumento em favor da soberania de Jesus Cristo sobre todas as criaturas a partir do nome de Filho que Deus lhe deu: tanto melior angelis effectus, quanto differentius præ illis nomen hæreditavit; cui enim angelorum dixit: pater meus es tu 48? Nós podemos igualmente deduzir daqui a soberania de São José sobre todos os santos, sobre todos os anjos, e sua elevação ao trono mais sublime no céu, a partir do nome de pai que Deus lhe deu. Pois qual é o anjo ao qual o Senhor disse algum dia: Vós sois meu pai? Cui enim angelorum dixit: pater meus es tu? Se Deus, em presença de toda a corte celeste, a chama de pai, o venera como pai, o honra como pai, jugai se ele não foi então de uma incomparável grandeza como pai.
X. Mas para se convencer que ele foi verdadeiramente grande como justo, maior como esposo, egrandíssimo como pai, bastaria considera-lo entre os braços de Jesus e de Maria no momento de render sua ama a seu Criador. Vós o vedes estendido sobre uma pobre cama, Jesus de um lado, Maria de outro,envolto de uma multidão infinita de anjos, de arcanjos, de serafins, que, em uma respeitosa atitude, se preparam para receber sua santa alma? Ó Deus, quem poderá nos dizer com quais sentimentos, nesse momento supremo, José disse um último adeus a Jesus e a Maria? Quantas ações de graças, quantas protestações, quantas suplicações, quantas desculpas da parte desse santo ancião! Seus olhos falam, seu coração fala, só sua língua se cala, mas seu próprio silêncio é eloquente. Tanto uma hora ele olha Maria, e Maria, por sua vez, o olha, e com quanto amor! Tanto ele se volta para Jesus, e Jesus lhe responde, e com um olhar tão afetuoso! Ele toma a mão de Jesus, a aperta sobre seu coração, a cobre de beijos, ele a rega com suas lágrimas, e lhe diz de tempos em tempos, antes de coração que de qualquer outra forma: Meu filho, meu bem-amado filho, eu vos recomendo minha alma! E, apertando a mão de Jesus sobre seu coração, ele cai em um desfalecimento de amor. Ah, José, se vós não soltais a mão daquele que é a Vida, vós não podeis morrer! Ó, quão doce é morrer segurando a mão de Jesus! A alma, enfim, se separa do corpo, ela toma seu impulso, mas, mal tendo saído, à vista de Jesus e de Maria, elaretorna. Eu o repito, José, se vós não fechais os olhos à Vida, vós não podeis morrer. Jesus, José não partira se vós não o soltardes. Maria, José não partirá se vós não lhe dais permissão. Jesus levanta a mão, o abençoa e beija seu bem-amado pai, e José expira no meio dos beijos e abraços de Jesus. Almasanta, podeis ir, o lugar reservado a vosso sublime mérito vos espera.
45 “Admirável, Deus forte, príncipe da paz, anjo do grande conselho”. Is 9, 6.
46 “Suas origens datam do início, dos dias da eternidade”. Mq 5, 2.
47 “A terra e tudo que ela contém pertence ao Senhor”. Sal 23, 1.
48 “Tão superior aos anjos quanto mais excelente que o deles foi o nome que ele herdou”. Hb 1, 4.
Maria ficará à direita de Jesus, e vós à sua esquerda. É assim que deve ser honrado aquele que foi grande como Justo, maior como Esposo e grandíssimo como Pai.
Conclusão
XI. Santa Teresa de Jesus, essa alma seráfica, tinha uma particular devoção para com nosso Santo Patriarca, e não desejava nada tanto vê-lo honrado por todos. Ela protesta que nunca lhe pediu algumfavor sem ter sido por ele logo atendida, e exorta todos a fazerem o teste de extrema benevolência desse grande santo, recorrendo a ele em todas as necessidades, sejam temporais, sejam espirituais, assegurando que nos convenceremos, assim, por experiência própria que, sendo ele o maior de todos os santos na glória, ele é também o mais poderoso para nos obter graças. E, com efeito, Deus quis que as pessoas de todo estado de vida, de toda condição, tivessem alguma coisa de comum com São José, afim de que todos tivessem uma confiança especial em sua proteção, para que todos tivessem recurso a ele como a seu particular advogado e como a um intercessor universal, visto que na casa de Jesus e de Maria, os outros santos suplicam e José ordena, os outros rezam e José comanda, e comandando ele obtém o que quer. Também os religiosos de todas as Ordens devem eles ter uma grande devoção para com São José, e o reconhecer por seu fundador, já que, segundo a opinião de muitos, ele é o primeiro que tenha feito os santos votos. Eclesiásticos, vós encontrais no topo de vossa hierarquia São José, o primeiro quetenha administrado o patrimônio de Jesus Cristo, vós lhe deveis pois uma devoção especial. Seculares, vós podeis também contar São José em vossas posições: ele viveu virgem, verdade, mas caso e fora do templo, ainda que sua casa fosse um santuário. Os grandes e os nobres devem ser devotos para com São José, já que ele vinha do mais ilustre sangue real. E vós, homens do povo, artesão, pobres e indigentes,vós deveis ter confiança em São José, que viveu, como vós, em um atelier, ganhou sua vida do trabalho desuas mãos, e com o suor de sua fronte. Todos, em uma palavra, vivos e mortos, devem esperar em São José, que viveu e morreu com aquele que é a Vida. Eis o advogado universal de todos os cristãos; todos os cristãos pertencem a São José, porque Jesus e Maria lhe pertenceram. Bem mais, os infiéis e ospróprios bárbaros devem ter alguma confiança em São José, pois ele os protegeu de uma maneira particular no tempo de seu exílio. Precisaria então ser pior que um infiel, pior que um bárbaro para não terdevoção para com São José. Esforcemo-nos, então, no desejo de o amar, de o honrar de mais em mais: práticas de devoção, etc.
XII. Bendita, e bendita seja para sempre a memória de Cosmo III, esse grande príncipe que, durante sua vida e sua morte, mostrou tanta devoção para com nosso Santo Patriarca. Não contente de lhe ter oferecido as mais ternas afeições, ele quis ainda, no fim de sua carreira, lhe consagrar o que ele tinha de ais caro no mundo, ou seja, o ardente amor que ele tinha para com seus súditos. Tirando, então, a coroa de sua cabeça, ele a colocou sobre a de São José, constituindo-o soberano de toda a Toscana. Por esseato generoso, ele engajou o santo a nos olhar como seus súditos, e nos obrigou a reconhecer José comonosso príncipe. Como súditos, nós lhe devemos respeito, honras e homenagens; como príncipe, ele seengaja a nos olhar com um olho benevolente e paterno, de sorte que para nós a devoção a São José é uma necessidade hereditária que nos foi imposta pela piedade de Cosmo III, colocando-nos, em certo sentido, na alternativa ou de sermos devotos desse grande santo, ou de cessarmos de ser seus súditos.Recorramos, então, a esse ilustre patriarca, e veneremo-lo do fundo do
coração como nosso soberano e nosso advogado. Como soberano, supliquemos-lhe de nunca retirar sua mão benfeitora de cima de seus súditos, que colocaram nele todas as suas esperanças; eles tem confiança que, graças à sua proteção, a pobre Toscana não ficará em nenhum momento viúva. Insistamos, sobretudo, por nossas insistentes orações para que ele se digne assistir ao príncipe que partilha com ele seu governo, para fazê-lo prosperar e de coloca-lo, igualmente, em situação de conduzir a bom fim todos seus piedosos projetos, que não tem outro objetivo senão o bem público. Como advogado, nós não temos senão uma graça a lhe pedir, que é a de ter um santa morte seguida do paraíso. Alegrai-vos, todavia, piedosos servidores de São José, pois o paraíso está perto de vós; a escada que a ele conduz não tem senão três degraus: Jesus, Maria e José. Eis como subimos e descemos por essa escada. Subindo, nossas súplicas são colocadas primeiramente nas mãos de José, José as apresenta a Maria e Maria as dá a Jesus. Descendo, as graças emanam de Jesus que as concede a Maria, e Maria as entrega a José. Jesus faz tudo por Maria, pois é seu filho, Maria obtende tudo por sua qualidade de Mãe, e José pode tudo em sua qualidade de justo, de esposo e de pai.
Santa Teresa de Ávila 1515 – 1582
O livro da vida - autobiografia
CAPÍTULO 6.
Trata do muito que ficou a dever ao Senhor por lhe ter dado conformidade em tão grandes trabalhos e como tomou por medianeiro e advogado ao glorioso São
José e o muito que lhe aproveitou
Fiquei, destes quatro dias de paroxismo, num estado que só o Senhor pode saber os incomportáveis tormentos que sentia em mim: a língua feita em pedaços de mordida; a garganta, de não ter passado nada e da grande fraqueza, sufocava-me, pois nem a água podia engolir; toda eu parecia estar desconjuntada; com grandíssimo desatino na cabeça. Toda encolhida, feita um novelo que nisto parou o tormento daqueles dias sem me poder mexer, nem braço, nem pé, nem mão, nem cabeça, mais do que se estivesse morta, se não me maneassem. Só um dedo me parece podia mexer da mão direita. Chegarem-se a mim não havia como, porque tudo estava em tal lástima, que não o podia suportar; num lençol, uma a uma ponta, e outra a outra, me meneavam.
Isto foi até à Páscoa florida. Só tinha que, se não se chegassem a mim, as dores cessavam muitas vezes e, a troco de descansar umpouco, já me tinha por boa, pois temia de me vir a faltar a paciência. Assim fiquei muito contente de me ver sem tão agudas e contínuas dores,embora, nos grandes frios de quartãs dobradas - fortíssimas - com que fiquei, as tivesse incomportáveis. O fastio era muito grande.
Dei-me logo tanta pressa em ir para o convento, que mesmo assim me fiz levar. A que esperavam morta, receberam com alma, mas o corpo pior que morto, a causar pena vê- lo. O extremo de fraqueza nem se pode dizer, que já só tinha ossos. Digo que o ficar assim durou-me mais de oito meses; o estar tolhida, ainda que fosse melhorando, quase três anos. Quando comecei a andar de gatas, louvava a Deus. Tudo sofri com grande conformidade e
- a não ser nestes tempos - com grande alegria; porque tudo se me fazia nada, comparado com as dores e os tormentos do princípio. Estava muito conforme com a vontade de Deus, ainda mesmo que me deixasse sempre assim.
Parece-me que toda a minha ânsia de sarar era para estar a sós em oração - como me tinham ensinado - porque na enfermaria não havia disposição para isso. Confessava-me muito amiúde; tratava muito de Deus, de maneira que edificava a todas. Espantavam-se da paciência que o Senhor me dava; porque, a não vir da mão de Sua Majestade, parecia impossível poder-se sofrer tantos males com tantocontentamento.
Grande coisa foi Ele haver-me feito a mercê que me fizera na oração. Esta fazia-me entender que coisa era amá-Lo. Só desse pouco tempo vi em mim novas virtudes, embora não fortes, pois não bastaram para me sustentar no caminho da justiça. Não dizer mal de ninguém,por pouco que fosse, antes o ordinário era em mim o desculpar toda a murmuração, porque trazia muito diante dos olhos como não havia de dizer nem querer que dissessem de outra pessoa o que eu não quereria dissessem de mim. Praticava isto com grande extremo nas ocasiões que para isso havia, embora não tão perfeitamente que algumas vezes, quando mas davam grandes, não quebrantasse um pouco; mas de ordinário era isto. Assim - às que estavam comigo e me tratavam - persuadi tanto disto que lhes ficou de costume. E todas vieram a entender, que onde eu estivesse, seguras tinham as costas. E o mesmo pensavam daquelas com quem eu tinha amizade e parentesco e que ensinava, ainda que noutras coisas bem tenha que dar contas a Deus do mau exemplo que lhes dava.
Praza a Sua Majestade perdoar-me, que de muitos males fui causa, embora não com tão danosa intenção como depois saía a obra.
Ficou-me o desejo da solidão; amiga de tratar e falar de Deus que, se eu encontrava com quem, mais contento e recreação me dava que toda a delicadeza -ou grosseria, para melhor dizer - da conversação do mundo. Comungar e confessar-me muito mais amiúde e desejá-lo; amicíssima de ler bons livros; um grandíssimo arrependimento em ter ofendido a Deus que, muitas vezes me recordo não ousava teroração porque temia - como a um grande castigo - a grandíssima pena que havia de sentir de O ter ofendido. Isto foi-me depois crescendo emtal extremo, que não sei a que compare este tormento. E jamais foi -nem pouco nem muito - por temor; mas, como me lembrava dos regalos que oSenhor me fazia na oração e o muito que Lhe devia e via quão mal Lho pagava, não o podia sofrer. Enojava-me em extremo das muitaslágrimas que pela culpa chorava, quando via a minha pouca emenda, pois nem bastavam determinações nem a mágoa em que me via, para nãovoltar a cair quando me punha na ocasião. Pareciam-me ser lágrimas enganosas e parecia-me ser depois maior a culpa, porque via a grande mercê que me fazia o Senhor em mas dar com tão grande arrependimento. Procurava confessar-me dentre em breve e, a meu parecer, fazia da minha parte o que podia para voltar a estar em graça.
Todo o mal vinha de eu não cortar pela raiz as ocasiões e nos confessores que pouco me ajudavam; dizendo-me o perigo em queandava e a obrigação que tinha em não ter aqueles tratos, creio, sem dúvida, que tudo se remediaria; porque de nenhum modo sofreria andar em pecado mortal um só dia, se eu o entendesse.
Todos estes sinais de temor de Deus me vieram com a oração e o maior era o ir envolvido em amor, porque não se me punha dianteo castigo. Todo o tempo que estive tão mal me durou a muita guarda de consciência quanto a pecados mortais. Oh! valha-me Deus; desejava saúde para mais O servir e foi causa de todo o meu mal!
Pois, como me vi tão tolhida em tão pouca idade e no que haviam dado comigo os médicos da terra, determinei-me a recorrer aos do Céu para que me sarassem, pois desejava a saúde, embora sofresse com muita alegria a sua falta. Pensava algumas vezes que, se estando boa me havia de condenar, melhor seria estar assim. Pensava, no entanto, que serviria muito mais a Deus com saúde. Este é o nosso engano: não nos entregamos de todo ao que faz o Senhor, que melhor sabe o que nos convém.
Comecei a fazer devoções de Missas e coisas muito aprovadas de orações, pois nunca fui amiga doutras devoções que fazem algumas pessoas - em especial mulheres - com cerimónias que eu não podia suportar e a elas lhes fazia devoção. Depois tem-se dado a entender não convirem; eram superstições. Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e encomendei-me muito a ele. Vi claramente que, tanto desta necessidade como de outras maiores de honra e perda de alma, este Pai e Senhor meu me tirou com maior bem do que eu lhe sabia pedir. Não me recordo até agora de lhe ter suplicado coisa que tenha deixado de fazer. É coisa de espantar as grandes mercês que Deus me tem feito por meio deste bem-aventurado Santo e dos perigos de que me tem livrado, tanto no corpo como na alma. A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrerem numa necessidade; deste glorioso Santo tenho experiência que socorre em todas. O Senhor nos quer dar a entender que, assim como lhe foi sujeito na terra - pois como tinha nome de pai, embora sendo aio, O podia mandar -, assim no Céu faz quanto Lhe pede.
Isto têm visto, por experiência, algumas outras pessoas, a quem eu dizia para se encomendarem a ele. E assim há muitas que lhe são devotas, experimentando de novo esta verdade.
Procurava eu fazer a sua festa com toda a solenidade que podia, mais cheia de vaidade que de espírito, querendo que se fizesse muicuriosamente e bem, embora com boa intenção. Mas isto tinha de mal - se algum bem o Senhor me dava a graça de fazer-: era cheio de imperfeições e com muitas faltas. Para o mal e curiosidade e vaidade tinha eu grande manha e diligência. Que o Senhor me perdoe.
Quisera eu persuadir a todos a serem devotos deste glorioso Santo, pela grande experiência que tenho dos bens que alcança de Deus. Não tenho conhecido pessoa que deveras lhe seja devota e lhe presta particulares obséquios, que a não veja mais aproveitada navirtude; porque aproveita de grande modo às almas que a ele se encomendam. Parece-me que há alguns anos que, cada ano no seu dia, lhe peço uma coisa e sempre a vejo realizada; se a petição vai algo torcida ele a endireita para maior bem meu.
Se eu fora pessoa que tivesse autoridade para escrever, de boa vontade me alongaria a dizer muito por miúdo as mercês que este glorioso Santo me tem feito a mim e a outras pessoas. Mas, para não fazer mais do que me mandaram, em muitas coisas serei mais breve do que quisera. Em outras, mais extensa do que era mister; enfim, como quem em todo o bem tem pouca discrição. Só peço, por amor de Deus, que faça a prova quem não me acreditar e verá, por experiência, o grande bem que é o encomendar-se a este glorioso Patriarca e ter-lhe devoção. Em especial, as pessoas de oração sempre lhe haviam de ser afeiçoadas. É que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos - no tempo em que tanto passou com o Menino Jesus - sem que se dê graças a São José pelo muito que então os ajudou. Quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome a este glorioso Santo por mestre e não errará no caminho. Praza ao Senhor não haja eu errado em atrever-me a falar dele; porque embora publique ser-lhe devota, no seu serviço e imitação sempre tenho falhado. Ele procedeu comoquem é, fazendo com que eu me pudesse levantar e andar e não ficasse tolhida, e eu, como quem sou, usando mal desta mercê.
Quem diria que eu havia de cair tão depressa, depois de tantas mercês de Deus, depois de ter Sua Divina Majestade começado a dar-me virtudes - que as mesmas me despertavam a servi-Lo - depois de eu meter visto quase morta e em tão grande perigo de ser condenada, depois de me ter ressuscitado alma e corpo, que todos os que me viam se espantavam de me ver viva! Que é isto, Senhor meu? Em tão perigosa vida havemos de viver? Ao escrever isto parece-me que, com o Vosso favor e por misericórdia Vossa, poderia dizer como São Paulo
- embora não com essa perfeição - já não vivo eu, senão que Vós, Criador meu, viveis em mim. Há alguns anos que, segundo posso entender,me tendes da Vossa mão e me vejo com desejos e determinações, e de algum modo tinha provado por experiência em muitas coisas de nãofazer coisa contra a Vossa vontade, por pequena que seja, ainda que deva fazer bastas ofensas a Vossa Divina Majestade, sem o entender. Também me parece que não se me oferecerá coisa por Vosso amor que, com grande determinação eu deixe de acometer; em algumas metendes ajudado para as levar a cabo. Não quero mundo nem coisa dele, nem me parece algo me contente afora de Vós; tudo o mais é para mim pesada cruz. Bem me posso enganar e nada ter disto que digo, mas bem vedes, meu Senhor, que, segundo posso entender, não minto. E estou tremendo - e com muita razão -que me torneis a deixar. Já sei até que ponto chega a minha fortaleza e pouca virtude quando não maestais sempre a dar e a ajudar para que Vos não deixe. Praza à Vossa Divina Majestade que mesmo agora não esteja apartada de Vós, parecendo-me, no entanto, tudo isto de mim. Não sei como queremos viver, pois é tudo tão incerto! Parecia-me, Senhor meu, já impossíveldeixar-Vos tão de todo; mas, como tantas vezes Vos deixei, não posso deixar de temer, porque, em apartando-Vos um pouco de mim, dava com tudo em terra.
Bendito sejais para sempre, pois, embora eu Vos deixasse, Vós não me deixastes a mim tão de todo que não me tornasse a levantar com o dares-me sempre a mão. E muitas vezes, Senhor, eu não a queria, nem queria entender como tantas vezes me chamáveis de novo, como agora direi.
ovena a São José
Festa comemorada no dia 19 de março
PRIMEIRO DIA
SÃO JOSÉ, PAI NUTRÍCIO DE JESUS
Amabilíssimo São José, que tivestes a honra de alimentar, educar e abraçar o Messias, a Quem tantos profetas e reis desejaram ver e não viram: obtende-me, com o perdão das minhas culpas, a graça da oração humilde e confiante que tudo alcança de Deus. Acolhei com bondade paternal os pedidos que vos faço nesta Novena (...) e apresentai-os a Jesus que se dignou de obedecer-vos na terra. Amém.
V. Rogai por nós, São José, Pai Nutrício de Jesus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Para todos os dias:
Oração
Ó Deus que por uma inefável Providência Vos dignastes escolher o bem-aventurado São José para Esposo de Vossa Mãe Santíssima: concedei-nos que aquele mesmo que na terra veneramos como Protetor, mereçamos tê-lo no céu por nosso intercessor. Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos.
R. Amém.
Pode acrescentar-se todos os dias:
Oração
Glorioso São José, que fostes exaltado pelo Eterno Pai, obedecido pelo Verbo Encarnado, favorecido pelo Espírito Santo e amado pela Virgem Maria: louvo e bendigo a Santíssima Trindade pelos privilégios e méritos com que vos enriqueceu. Sois poderosíssimo e jamais se ouviu dizer que alguém tenha recorrido a vós fosse por vós desamparado. Sois o Consolador dos aflitos, o amparo dos míseros e o advogadodos pecadores. Acolhei, pois, com bondade paternal a quem vos invoca com filial confiança e alcançai-me as graças que vos peço nesta Novena (…). Eu vos escolho por meu especial Protetor. Sede, depois de Jesus e Maria, minha consolação nesta terra, meu refúgio nas desgraças, meu guia nas incertezas, meu conforto nas tribulações, meu pai solícito em todas as necessidades. Obtende-me finalmente como coroa dos vossos favores uma boa e santa morte, graça de Nosso Senhor. Assim seja.
SEGUNDO DIA
SÃO JOSÉ, ESPOSO DA MÃE DE DEUS
São José, castíssimo Esposo Mãe de Deus e Guarda fiel de sua virgindade: obtende-me por Maria a pureza do corpo e da alma e a vitória em todas as tentações e dificuldades. Recomendo–vos também os esposos cristãos para que unidos com sincero amor e
fortalecidos pela graça se amparem mutuamente nos sofrimentos e tribulações da vida. Amém.
V. Rogai por nós São José, Esposo da Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
TERCEIRO DIA
SÃO JOSÉ, CHEFE DA SAGRADA FAMÍLIA
Glorioso São José, que gozastes durante tantos anos da presença e filial afeição de Jesus, a Quem tivestes a dita de alimentar e vestir, juntamente a vossa Santíssima Esposa: eu vos suplico me alcanceis o dom inefável de sempre viver em união com Deus pela graça santificante. Obtende também para os pais cristãos a graça do fiel cumprimento de seus graves deveres de educadores e, aos filhos, o respeito e a obediência segundo o exemplo do Menino Jesus. Amém.
V. Rogai por nós, São José Chefe da Sagrada Família.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
QUARTO DIA
SÃO JOSÉ, EXEMPLO DE FIDELIDADE
Fidelíssimo São José, que nos destes tão belo exemplo no fiel cumprimento de vossos deveres de Protetor da Santíssima Virgem e de Pai Nutrício do Redentor: rogo-vos me obtenhais a graça de imitar o vosso exemplo na fidelidade a todos os deveres do meu estado de vida. Ajudai-me a ser fiel nas coisas pequenas para o ser também nas grandes. Alcançai essa mesma graça para todos que me são caros nesta vida, a fim de chegarmos a gozar no Céu o prêmio prometido aos que forem fiéis até a morte. Amém.
V. Rogai por nós, São José, Exemplo de Fidelidade.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
QUINTO DIA
SÃO JOSÉ, ESPELHO DE PACIÊNCIA
Bondoso São José que suportastes com heróica paciência as provações e adversidades na viagem a Belém, na fuga para o Egito e durante a vida oculta em Nazaré e me destes o exemplo de admirável conformidade com a vontade de Deus: obtende-me a virtude da paciência nas dificuldades de cada dia. Alcançai também invencível paciência a todos que suportam pesadas cruzes, a fim de que se unam sempre mais a Jesus, Divino Modelo de mansidão e paciência. Amém.
V. Rogai por nós São José, Espelho de Paciência.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
SEXTO DIA
SÃO JOSÉ, MODELO DOS OPERÁRIOS
Humilde São José, que, vivendo em pobreza, dignificastes a vossa profissão pelo trabalho constante e vos sentistes feliz em servir a Jesus e Maria com o fruto de vossos suores: alcançai-me amor ao trabalho, que me foi imposto como dever de estado, procurando cumprir nistosempre a vontade de Deus. Protegei os lares dos operários do Brasil contra as influências nefastas dos inimigos de Cristo e da Santa Igreja. Obtende-lhes a graça de santificarem o seu trabalho pela reta intenção em tudo, conformados com os desígnios da Divina Providência.Amém.
V. Rogai por nós, São José, Modelo dos operários.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
SÉTIMO DIA
SÃO JOSÉ, PROTETOR DA SANTA IGREJA
Glorioso Patriarca São José, Protetor e Padroeiro da Igreja Universal : obtende-me a graça de amar a Igreja como Mãe e de a honrar como verdadeiro discípulo de Cristo. Rogo-vos que veleis sobre o Seu Corpo Místico, como outrora velastes sobre Jesus e Maria. Protegei o Santo Padre e os Bispos, os Sacerdotes e os Religiosos. Alcançai-lhes santidade de vida e eficácia no apostolado. Guardai a inocência da infância, a castidade da juventude, a honestidade do lar, a ordem e paz da Sociedade. Amém.
V. Rogai por nós, São José, Protetor da Santa Igreja.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
OITAVO DIA
SÃO JOSÉ, ESPERANÇA DOS ENFERMOS
Compassivo São José, esperança dos doentes e necessitados: valei-me em todas as enfermidades e tribulações alcançando-me plenaconformidade com os admiráveis desígnios de Deus. Obtende-me também para mim e para todos, pelos quais rezo nesta Novena, a cura das enfermidades espirituais que são as paixões desordenadas, fraquezas, faltas e pecados e protegei-nos contra as tentações do inimigo da nossa salvação. Amém.
V. Rogai por nós, São José, Esperança dos enfermos.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
NONO DIA
SÃO JOSÉ, PADROEIRO DOS MORIBUNDOS
Ditoso São José que, morrendo nos braços de Jesus e Maria, partistes deste mundo ornado de virtudes e enriquecido de méritos: assisti-me na hora suprema e decisiva da minha vida contra os ataques do poder infernal. Obtende-me a graça de morrer confortado com os santos Sacramentos, necessários para a minha salvação. Tende compaixão de todos os agonizantes. alcançando-lhes a graça da salvação por intermédio de Maria, vossa Santíssima Esposa. Amém.
V. Rogai por nós, São José, Padroeiro dos moribundos.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Oração a São José
Composta por São Franciso de Sales
Glorioso São José, Esposo de Maria, concedei-nos vossa proteção paterna, nós vos suplicamos pelo Coração de Jesus Cristo. Vós,cujo poder se estende a todas as necessidades, sabendo tornar possíveis as coisas mais impossíveis, volvei vossos olhos de Pai sobre vossos filhos. Na dificuldade e tristeza que nos afligem, recorremos a vós com toda confiança. Dignai-vos tomar sob o vosso poderoso amparo este negócio importante e difícil, causa de nossas preocupações (cita-se). Fazei que o êxito sirva para a glória de Deus e o bem de seus dedicados servos. Amém.
Oração da Coleta da Missa de São José
Santíssimæ Genetrícis tuæ Sponsi, quæsumus, Dómine, méritis adjuvémur: ut quod possibilitas mostra non óbtinet, ejus nobis intercessióne donétur: Qui vivis et regnas in sæcula sæculorum. Amen. |
Nós vos suplicamos, Senhor, que nos ajudeis pelos méritos do Esposo de Vossa Santíssima Mãe, afim de que pela intercessão dele nos seja dado aquilo que não conseguimos alcançar com nossa capacidade. Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amem. |
Canto em honra de São José
Te Joseph Celebrent
Tradução
1 - Que os coros celestes celebrem vossa glória, ó José!
Que os cantos de todos os cristãos façam ressoar seus louvores!
Glorioso já por vossos méritos, sois unido Por uma casta aliança à Augusta Virgem.
2 - Quando, presa da dúvida e da ansiedade,
Vós vos admirastes do estado no qual se encontra vossa esposa, Um Anjo vem ensinar-vos que a criança que ela concebeu,
Foi concebida pela operação do Espírito Santo.
3 - O Senhor nasceu, vós o apertais nos vossos braços; Vós fugistes com ele em direção às praias longínquas do Egito;
Vós o procurais em Jerusalém onde vós o havíeis perdido, e vós o reencontrais, Assim, vossas alegrias são misturadas com as lágrimas.
4 - Outros são glorificados após uma santa morte,
Eles, que mereceram a palma, são recebidos no seio da glória,
Mas vós, por um admirável desígnio, igual aos santos, e mesmo ainda mais feliz, Vós gozais desde essa vida da presença de Deus.
5 - Trindade soberana, escutai nossas orações, dai-nos o perdão; Que os méritos de José nos ajudem a subir aos céus,
Para que enfim nos seja dado de cantar para sempre O cântico do reconhecimento e da felicidade. Amém.
Para citar este texto:
"Em honra de São José"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/honra_s_jose/
Online, 21/11/2024 às 08:36:46h