Igreja

Dom Lélis Lara fala sobre relação da Maçonaria e Igreja Católica
Orlando Fedeli

 
     Publicamos um artigo sobre a palestra, feita numa loja Maçônica, por Dom Lélis Lara, Bispo Emérito de Itabira- Coronel Fabriciano, tratando das relações entre Igreja Católica e Maçonaria.
     Dom Lara enfatiza a aproximação da Igreja Católica com a Maçonaria depois do Vaticano II. Esse Concílio— diz esse Bispo — visou que todos se tornassem um. No “Todos”, Dom Lara inclui crentes e não crentes. Todos “um” no “amor”. E nesse “um” Dom Lara quer incluir os maçons.
     Interessante que, na palestra, na loja maçônica, estavam presentes “Lions, Rotary, Judiciário, OAB e padres, além de membros de várias Lojas Maçônicas da região metropolitana do Vale do Aço”
     Depois disso, como desconhecer que o Vaticano II foi bafejado pelos “homens de boa vontade”? Isto é, desejado e favorecido pela Maçonaria?
 
São Paulo, 25 de Junho de 2009
Orlando Fedeli
 
 
Dom Lélis Lara fala sobre relação da Maçonaria e Igreja Católica
Bispo Emérito e Consultor Jurídico da CNBB proferiu palestra para platéia de 200 pessoas, no Templo da Loja Maçônica União de Ipatinga
 
DA REDAÇÃO – O Bispo Emérito da Diocese Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lelis Lara, foi o centro das atenções de um eclético e seleto público, na noite da última segunda-feira, 01, quando proferiu inédita palestra sobre as relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria, no Templo da Loja Maçônica União de Ipatinga, no centro da cidade. O religioso palestrou a convite do Venerável Mestre da Loja União de Ipatinga, Ednaldo Amaral Pessoa, que tem como um dos pilares de sua gestão a realização de sessões públicas onde são realizadas palestras, abertas à comunidade, sobre temas diversos e de grande interesse de toda sociedade, não apenas dos maçons e seus familiares.

Segundo Dom Lara, o Concílio Vaticano II (1963-1965) escancarou as portas e janelas da Igreja para o mundo, e que depois do Concílio o propósito da Igreja Católica é se aproximar de todas as pessoas do mundo, sem preconceito, sejam elas cristãs ou não. E foi exatamente no espírito do Concílio Vaticano II que o Bispo se inspirou para falar da relação entre a Igreja Católica e a Maçonaria.

Dom Lara disse que “quando se fala de Igreja e Maçonaria, muitas vezes se estabelece ou se imagina um confronto entre essas duas entidades, mas não
deveria ser assim, porque católicos são cristãos e os maçons também, senão todos, certamente grande parte. E Jesus, ao final de sua vida, deixou para os seus seguidores o testamento de que devemos amar uns aos outros. Mas, segundo o bispo, esta palavra de Jesus não foi sempre bem entendida, e que às vezes é entendida de acordo com a índole das pessoas, e as pessoas mais radicais muitas vezes ficam com o coração armado, na defensiva ou no ataque, quando, como filhos de Deus, deveriam viver como irmãos, com o coração desarmado, respeitando as diferenças.

Ritos


Inicialmente, Dom Lara apresentou, de forma objetiva, a história da Igreja Católica, destacando a caminhada da Igreja - que já dura mais de dois mil anos - e que a instituição é como um barco no meio do oceano, que passou por muitos escolhos e superou muitas tempestades, e que procura sempre se adaptar aos tempos. O bispo lembrou ainda que o Papa João XXIII, responsável pela convocação do Concílio do Vaticano II, foi o grande responsável por colocar a Igreja Católica no caminho da atualização. Entretanto, segundo Dom Lara, este trabalho de atualizar a Igreja não é fácil, porque há várias correntes ou tendências dentro da própria Igreja, o que dificulta a caminhada.

Dom Lara destacou também que a Igreja Católica mundial adota dois ritos (maneira de celebrar a liturgia e de organizar a vida da Igreja) distintos: o rito latino e o rito oriental, sendo que na Igreja Católica oriental existem padres casados exercendo o ministério, o que não é admitido pela disciplina da Igreja Católica Latina. Esta postura, de dois ritos distintos, de acordo com o Bispo, é em respeito às grandes tradições e costumes dos orientais católicos. Dom Lara apresentou também à platéia o índice esquemático do Código de Direito Canônico, dando uma ideia de como se constitui, se organiza e funciona a Igreja Católica, destacando que o Povo de Deus está em evidência na sociedade eclesial. Ele finalizou seu breve relato da história da Igreja dizendo que estava ali “em simples pinceladas, um retrato da Igreja Católica, que nós dizemos ‘santa e pecadora’.

Maçonaria Operativa

Em seguida, Dom Lara discorreu sobre a origem da maçonaria, na idade média, quando a sociedade civil se constituía de corporações, entre as quais se destacaram as associações religiosas e as de operários. Dentre as de operários tinha destaque especial a dos pedreiros, que, por causa dos seus serviços apreciados em edifícios públicos, especialmente em igrejas, gozava de certas prerrogativas, de isenções e de franquias. Daí a origem de franc-maçon, ou pedreiros livres. Todos eram profundamente religiosos e cada associação queria firmar seus alicerces na religião, que dominava a sociedade, a fim de garantir sua estabilidade e proteger seus membros, proporcionando-lhes bem-estar físico, desenvolvimento intelectual e eterna felicidade à alma. 

Maçonaria Filosófica ou Especulativa

Citando vasta bibliografia consultada, Dom Lara lembrou que o pastor protestante James Anderson foi o responsável pela elaboração das “Constituições” maçônicas, que em 1723 foram adotadas pela Grande Loja de Londres, que havia sido fundada em 1717. Dom Lara não deixou de citar também que foi James Anderson que distinguiu a Maçonaria Operativa, já extinta àquela época, da Maçonaria Especulativa, que pretendia plasmar o século das luzes, tendo por base Liberdade, Fraternidade e Igualdade. A grande diferença entre as duas fases da Maçonaria, a Operativa e a Especulativa ou Filosófica, é que na segunda os ofícios (pedreiros, carpinteiros, etc) passaram a ser simbólicos. Em vez da construção de catedrais de pedra, o ideal devia ser a partir de então a edificação de catedrais humanas, ou homens ideais, para honra do Grande Arquiteto do Universo (Deus).

Aproximação

Já entrando na questão das divergências entre as duas instituições, Dom Lara lembrou que a partir do século XIX, mais precisamente em 1877, o Grande Oriente da França suprimiu de suas constituições o dever de acreditar em Deus e na imortalidade da alma, e admitiu em seus quadros irreligiosos e ateus, caindo na irregularidade. Em função disto, a Loja Mãe da Maçonaria, Grande Loja Unida da Inglaterra, cortou relações com ela e ainda as mantém cortadas.

Assim, constatado que o anticlericalismo e o anticatolicismo se verificam apenas na Maçonaria irregular e não são da essência da Maçonaria Universal, é cada vez mais forte o movimento de aproximação entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Ainda segundo o Bispo, é neste contexto que devem se colocar os pronunciamentos da Igreja Católica após o Concílio Vaticano II.

Dom Lara citou ainda um trecho bíblico ... “não deixes tua mão esquerda saber o que a direita faz” (Mateus 6,3) para enaltecer uma das convicções dos maçons, que é a de praticar a filantropia sem dar publicidade ao ato. O que, segundo ele, é um princípio louvável. O Bispo foi enfático também ao afirmar que “muitas vezes a Maçonaria é vista como associação envolta em mistérios, segredos, como por exemplo, sinais para se identificarem como maçons; e isso faz com que muitos imaginem ou fantasiem coisas estranhas, ridículas e absurdas, como pactos com o diabo e coisas assim”.

Relação tensa

Ao discorrer sobre o relacionamento entre a Igreja e a Maçonaria, Dom Lara disse que “ao longo da história, aconteceu muita coisa que¸ infelizmente, devemos lamentar. As relações entre estas duas instituições foram tensas. Mas essas tensões não tinham a mesma intensidade em todas as regiões. Antes do Concílio Vaticano II o posicionamento da Igreja Católica em relação à Maçonaria era muito severo. O cânon 2335, do antigo Código de Direito Canônico, estabelecia excomunhão para quem ingressasse na Maçonaria ou em outras associações que maquinassem contra a Igreja ou autoridades civis legitimamente constituídas.

No atual código de Direito Canônico esta penalidade não consta. Aliás, a palavra Maçonaria não é conhecida no atual código de Direito Canônico. O cânon 1374 desse Código penaliza o católico que ingressar em associação que maquina contra a Igreja. Não se refere explicitamente à Maçonaria”, enfatizou o religioso.
Para Dom Lara, na Região Metropolitana do Vale do Aço as relações entre Igreja Católica e Maçonaria parecem tranqüilas, e que o Bispo Diocesano, Dom Odilon Guimarães Moreira tem a mesma impressão.

Ele citou ainda dois acontecimentos recentes que definem bem a boa relação entre as duas instituições. “Um que teve grande repercussão nacional, e mesmo fora do Brasil, a missa celebrada, no Natal de 1975, na Loja Maçônica Liberdade, de Salvador, pelo Emo. Sr. Cardeal Avelar Brandão Vilela, Arcebispo daquela cidade, já falecido. Naquela oportunidade, o Cardeal foi agraciado com distinta honraria da Maçonaria.

No ano seguinte, 1976, semelhante homenagem recebeu o Cardeal Arcebisbo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns”, destacou.
Mas Dom Lara deixa claro que a relação Maçonaria e Igreja Católica não é a mesma em todos os lugares, e que depende da orientação de seus responsáveis ou dirigentes. Segundo ele, coisa semelhante acontece com a Igreja Católica e Igrejas protestantes, citando como exemplo casos em que pretende-se realizar a celebração ecumênica de um casamento entre uma parte católica e a outra de religião cristã não católica. Há pastores que o permitem e há os que se opõem radicalmente a tal celebração.

Segundo ele, dentro da própria Igreja Católica, em questões não definidas pela doutrina ou autoridade da Igreja, a orientação ou decisão dos bispos não é sempre a mesma.

O Bispo Emérito da Diocese Itabira-Coronel Fabriciano finalizou sua palestra com uma mensagem de união para os presentes: “o desejo ardente de Jesus Cristo é que todos sejam UM. E que todas as pessoas da terra se enlacem num grande abraço. Este sonho de Jesus Cristo deve encontrar eco e ressonância no coração de todos nós, seus seguidores. Ao longo da história sempre surgiram pessoas sensíveis ao projeto de Deus ao criar o homem e a mulher à sua imagem e semelhança”.

Para o presidente da Loja Maçônica União de Ipatinga, Ednaldo Amaral Pessoa, a visita de Dom Lara proporcionou momentos de rara felicidade a todos aqueles que compareceram à sessão. “A manifestação de Dom Lara foi simplesmente louvável, pois proporcionou oportunidade para que misticismos acerca da Maçonaria e da Igreja Católica fossem esclarecidos” destacou. Ednaldo destacou ainda que a mensagem de Dom Lara mostrou-nos a lição de que a relação com DEUS, para quem crê, é terapêutica e nos leva a viver a cura de nossas feridas interiores e físicas. Por fim, ressaltou que a presença de Dom Lara na Loja Maçônica demonstrou o quão grande é a sua coragem, restando constatada a erudição, sabedoria, inteligência e simplicidade, tão peculiar em Dom Lara.

A palestra de Dom Lara foi acompanhada por cerca de 200 pessoas, representantes de vários setores da comunidade, como Lions, Rotary, Judiciário, OAB e padres, além de membros de várias Lojas Maçônicas da região metropolitana do Vale do Aço.

A palestra despertou de tal forma o interesse da comunidade que a administração da Loja União de Ipatinga teve que colocar um telão no salão que antecede seu Templo para que várias pessoas não voltassem para casa sem assistir a palestra, visto que o interior do Templo já estava completamente lotado.
Ao final da cerimônia, Dom Lara foi homenageado com uma placa de agradecimento e reconhecimento aos relevantes serviços prestados à comunidade, bem como por seu desprendimento em realizar a inédita palestra.

    Para citar este texto:
"Dom Lélis Lara fala sobre relação da Maçonaria e Igreja Católica"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/dom-lelis-maconaria/
Online, 21/11/2024 às 09:11:26h