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Delírios de um octuagenário
Padre Giovanni Scalese
Embora não concordemos com todas as idéias e modos de expressão do autor, publicamos esse artigo pelas boas verdades que diz contra o modernista Hans Kung e outros inimigos do Papa Bento XVI. Viva o Papa!
Delírios de um octuagenário
Não sei se tiveram ocasião de ler a entrevista dada outro dia por Hans Küng a Le Monde (e diligentemente divulgada na Itália por La Stampa). Não obstante o avançar dos anos, o "maior teólogo contestador católico vivo" não desiste e continua a pontificar ex cathedra. A cátedra, como de costume, são os grandes meios de comunicação, sempre prontos a servir de caixa de ressonância ao seu infalível magistério.
Da entrevista transparece claramente o despeito do teólogo alemão por não ser ele o Papa, mas o seu coetâneo-concorrente Ratzinger. Afinal de contas, era ele o perito convidado para o Concílio por João XXIII; Ratzinger era um simples teólogo particular do Arcebispo de Colonia! Um outro motivo de desgosto é dado pelo fato que aos lefebvrianos foi levantada a excomunhão; ele em vez não foi ainda "reabilitado".
Conforme o profeta do progressismo católico, a revogação da excomunhão dos quatro Bispos lefrevianos "não foi um defeito de comunicação ou de tática, mas foi um erro de governo do Vaticano". O verdadeiro problema não é o negacionismo de Mons. Williamson, "o problema fundamental é a oposição ao Vaticano II, e em particular a recusa de uma novo relacionamento com o judaismo". Parece que se está lendo o comunicado da Conferência episcopal alemã (veja-se o meu primeiro post de 30 de Janeiro: seria Küng o consulente teológico da CEA?) Ainda uma vez, o valor absoluto é o Vaticano II, mas um Vaticano II completamente ideologizado: um defensor do Concílio deveria ser ecumênico, deveria ter a peito o problema da unidade da Igreja. Mas, ao que parece, também o ecumenismo de Küng é só uma ideologia. E depois- que querem? - agora também o ecumenismo não está mais na moda; a coisa mais importante do Concílio é o "novo relacionamento com o judaismo". Surge a suspeita de que tinham razão os que sustentavam que o Vaticano II fora querido pela maçonaria e pelos judeus.
Papa Ratzinger seria um pobre idiota, que vive fora do mundo: "Ele viajou pouco. Ficou fechado no Vaticano, que é como o Cremlim de outrora"; pelo que "ele não foi capaz de medir o impacto de uma tal decisão no mundo". De qual mundo estaria ele falando? Do mundo virtual dos meios de comunicação (controlados sabemos bem por quem), no qual ele se acha tão à vontade? No Vaticano "não há nenhum elemento democrático, nenhuma correção. O papa foi eleito pelos conservadores, e hoje é ele quem nomeia conservadores". Que o Vaticano fosse um lugar insidioso para a salvação da alma o sabíamos há tempo (e por isso, mesmo tendo nascido e crescido à sombra da cúpula de São Pedro, preferimos manter-nos à distância dela, mas me pergunto: que democracia existe no mundo de Küng, onde tudo é controlado por poderes obscuros que usam a democracia unicamente para encobrir seus malefícios?
Bento XVI "é fiel ao Concílio à sua maneira. Insiste sempre, como João Paulo II, sobre a continuidade com a tradição". E chama-a "sua maneira"! Não deveria ser a maneira católica de interpretar não só um Concílio, mas todo ato eclesial? Mas, a quanto parece, o Concílio de Küng não é aquele contido nos documentos oficiais, mas sim o contido na sua mente (e provavelmente de muitos outros que participaram do Concílio). Conforme ele "o Vaticano II provocou uma ruptura, per exemplo, sobre o reconhecimento da liberdade religiosa". Não percebe Kung que ele assim dá razão aos lefrevianos? "Bento XVI tem uma posição ambígua sobre os textos do Concílio, pois que jamais esteve à vontade com a modernidade e a reforma". Mas que diz Kung? Se há uma reserva que por parte dos tradicionalistas se pode fazer ao atual Pontífice é exatamente sua insistência sobre a liberdade religiosa (leu Küng o discurso à Cúria Romana de 22 de Dezembro de 2005?) e sobre a modernidade (no seu diálogo com o Islam, parece talvez que lhe sejam mais caros os valores do iluminismo que os do Evangelho? ). Depois, quanto à "reforma", que significa? Papa Ratzinger está procurando fazer uma "reforma da reforma": por que a primeira reforma (a do Concílio) era legítima e esta (a de Bento XVI) não deveria ser legítima? Quem julga sobre a bondade das reformas?
Pecado mortal: o Papa, por occasão do 50° anniversario do Concílio, não "elogiou o seu predecessor" [= João XXIII], mas "escolheu revogar a excomunhão de pessoas em opposição ao Concílio". Causa maravilha que tais "progressistas" estejam tão voltados a comemorar o passado. Acabamos apenas de comemorar os 40 anos do encerramento do Concílio; agora devemos recomeçar de novo, “da capo”? Primeiro comemorams o 50° ano da eleição de Papa Roncalli (e isso foi feito); agora, o 50°aniversário do anúncio do Concílio; depois, se deverá celebrar o 50° ano do início do Concílio; em seguida, de novo, o 50° aniversário do fim do Concílio. Basta! Não se aguenta mais.
Papa Ratzinger defende a idéia do "pequeno rebanho" (que, sendo uma expressão evangélica, não significa "Igreja da elite"). Sabíamos disso, ele sempre declarou isso publicamente. Mas a mim resulta que essa idéia não era a dos "integralistas" (que sempre defenderam uma Igreja de poder), mas exatamente o contrário, a idáia dos "progressistas" (que diziam referir-se ao Evangelho). "É uma ilusão pensar que se possa continuar assim, sem padres, sem vocações". Pois então, que acontece? É a primeira vez que ouço um numen conciliar lamentar-se da crise das vocações! Significa mesmo que o pobre Hans está envelhecendo. Mas como? Depois de ter feito de tudo para desclericalizar a Igreja e promover o laicato, agora ele se queixa de que não há mais padres? E por que então um jovem deveria ficar padre, depois de tudo o que se fez para despojar o padre de toda a sua importância?
Mas o melhor ainda está por vir. "A Igreja arrisca-se de se tornar uma seita". Mas não se dão conta que, exatamente graças à pessoas como ele, Has Kung, a Igreja já se tornou uma seita? Quando se afirma que as religiões se equivalem, costituindo cada uma delas uma via de salvação, não se nega a catolicidade da Igreja e assim não se faz dela uma seita? A Igreja pós conciliar, feita por algum (velho) padre e por tantos "operadores pastorais" (ministros extraordinários da Eucaristia, leitores, catequistas, presidentes de conselhos pastorais e várias comissões), fechada nas sacristias sem nenhum contato com o mundo exterior, não é talvez uma seita?
Que deveria fazer Bento XVI? "Antes de tudo seria preciso que ele reconhecesse que a Igreja católica está atravessando uma crise profunda". Como se já ele não o tivesse feito. Poder-se-ia perguntar, se fosse preciso perguntar, de quem é a culpa desta crise? Mas ouçam quanto vem em seguida, porque, ao final de entrevista, salta fora o que estava e continua a estar no coração de certos teólogos conciliares: a admissão dos divorciados à comunhão, a correção da Humanæ vitæ (para dizer que "em certos casos a pilula é possível"), a abolição do celibato dos padres, um novo modo de eleição dos Bispos. Quem sabe por que Kung se esqueceu do sacerdócio das mulheres! Eis as grandes preocupações dos peritos conciliares; eis os verdadeiros motivos pelos quais foi feito o Vaticano II! E nós que pensávamos que a Igreja precisava de uma renovação espiritual!
Visto que Küng & C. não são conseguiram realizar seus objetivos com o Vaticano II, continuam eles a esperar um Vaticano III. Mas não se dão conta (eles que vivem no seu mundo virtual) que, se de verdade se fizesse um novo Concílio hoje, provavelmente eles teriam surpresas desagradáveis...
[Tradução: Montfort. Texto orginal em italiano em Querculanus]
Para citar este texto:
"Delírios de um octuagenário"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/delirios-octuagenario/
Online, 21/11/2024 às 09:13:42h