Artigos
Igreja
Cristo é reconfortante e humilde, assim como poderoso e forte
Dom Robert Vasa, Bispo da Diocese de Baker, Oregon
Vivemos numa época que enfatiza enormemente a tolerância, a convivência e a aceitação mútua. Já ouvi repetidas vezes, ao longo dos anos, que "Jesus nunca julgou, condenou ou excluiu ninguém". Imagino se Pedro concordaria com isso, quando as palavras de Jesus "Vade retro, Satanás" ainda zumbiam em seus ouvidos. Pergunto-me se os escribas e fariseus concordariam com isso, ao se indignarem de serem chamados de sepulcros caiados ou raça de víboras. Aqueles que ouviram Jesus dizer: "Quem escandalizar algum desses pequeninos, melhor seria que lhe amarrasem uma pedra ao pescoço e o lançassem ao mar", será que concordaram e disseram: "Como ele é tolerante e compreensivo"? Esse versículo está incluído, praticamente sem nenhuma variação, nos três Evangelhos Sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas. Certamente que não tenho nenhuma objeção à imagem de Jesus como bondoso e gentil, ou com a própria descrição que Jesus faz de Si Mesmo como "manso e humilde de coração". Enxergo e aprecio o grande apelo de uma das devoções mais recentes incentivadas por nosso falecido Santo Padre, o Papa João Paulo II: a devoção à Misericórdia Divina. Todos esses aspectos atraentes e reconfortantes de Jesus precisam ser lembrados. Esses são aspectos de Jesus que não podemos esquecer de jeito nenhum e nos quais devemos nos apegar. Ao mesmo tempo, fazemos bem em não esquecer que o Senhor é também um "Deus de força e poder". Jesus encarou os guardas que vieram prendê-lo no Horto do Getsêmane. Ele foi corajoso diante de Pilatos. Ele carregou Sua cruz com nobre e inflexível determinação. Ele não é um Deus fraco. Ele é forte e Ele defende os Seus. Isso explica a linguagem forte usada quando os "pequenos" do Seu rebanho estão em perigo.
Em nossa "era de transigência", temos muito receio de dar nome aos bois de modo demasiado enfático. Se o fazemos, somos acusados de sermos severos, de julgarmos os outros, talvez de arrogância, certamente de intolerância e possivelmente de farisaísmo. Embora seja sempre necessário falar a verdade com amor, a Igreja também acredita e ensina que é igualmente necessário falar a verdade com força. É preciso defender a verdade e não se apressar em racionalizar, justificar ou desculpar ensinamentos ou mestres enganadores . Há um ponto em que a "tolerância" passiva permite que ensinamentos enganadores se espalhem e sejam propagados, os quais, assim, acabam confundindo e até mesmo desviando os fiéis das verdades da Igreja. Há uma palavra muito forte, que ainda existe em nossa Igreja, a qual a maioria de nós é demasiado "polida" para empregar. A palavra é "heresia". Alguns talvez pensem que heresia é uma coisa do passado. Talvez se pense na heresia ariana, na heresia pelagiana ou na heresia maniquéia. Pode-se até mesmo sustentar que não há mais hereges, pois isso evoca imagens de inquisições e fogueiras. Não busco, de maneira nenhuma, validar ou justificar qualquer tipo de teologia "que faz justiça com as próprias mãos" , mas nós realmente necessitamos de palavras fortes para combater ensinamentos errôneos e falaciosos .
Como ponto de referência, o atual Código de Direito Canônico inclui alguns cânones sobre heresia. O Cânone 751 define heresia como "a negação obstinada ou o questionamento obstinado, depois do recebimento do batismo, de alguma verdade que precisa ser crida com Fé Divina e Católica." Há uma porção de ensinamentos da Igreja que precisam "ser cridos com Fé Divina e Católica." Precisamos crer, por exemplo, que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Negar isso ou duvidar disso, com pertinácia, é heresia. Precisamos crer que Deus é Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo. Precisamos crer que Jesus ressuscitou dos mortos. Precisamos crer que Ele subiu aos céus. Essas frases são todas familiares, porque constituem o Credo que recitamos todo domingo. Isso pode ser um choque para alguns, mas há muitos teólogos católicos que hoje questionam seriamente esses ensinamentos básicos, essas afirmações do Credo!
Há também ensinamentos morais que formam parte do depósito da fé que precisa ser aceito com adesão, "abraçado firmemente e retido". O cânone 750 conclui: "portanto, alguém que rejeite essas proposições, que devem ser sustentadas, está contra a doutrina da Igreja Católica." Certamente, é necessário exercer um cuidado e uma precaução enormes para chegar à conclusão bem embasada de que alguém aceita ou ensina heresia. Há algo de terrivelmente duro em chamar uma pessoa de herege. Não é algo que possa jamais ser feito de modo leviano ou por capricho. Entretanto, há aqueles dentro da Igreja que, obstinadamente, negam alguma verdade que deve ser crida com Fé Divina e Católica.
Há também ensinamentos morais que formam parte do depósito da fé que precisa ser aceito com adesão, "abraçado firmemente e retido". O cânone 750 conclui: "portanto, alguém que rejeite essas proposições, que devem ser sustentadas, está contra a doutrina da Igreja Católica." Certamente, é necessário exercer um cuidado e uma precaução enormes para chegar à conclusão bem embasada de que alguém aceita ou ensina heresia. Há algo de terrivelmente duro em chamar uma pessoa de herege. Não é algo que possa jamais ser feito de modo leviano ou por capricho. Entretanto, há aqueles dentro da Igreja que, obstinadamente, negam alguma verdade que deve ser crida com Fé Divina e Católica.
Discute-se, por exemplo, se aqueles que professam publicamente serem "pró-escolha" [Nota do Tradutor: eufemismo para pró-aborto] estão, na verdade, sustentando uma posição herética. O ensinamento da Igreja na área da vida é claro e inequívoco. A vida humana precisa ser respeitada e protegida desde a concepção até à morte natural. Aqueles que sustentam que toda e qualquer decisão acerca de como dispor dos seres humanos ainda não nascidos é prerrogativa exclusiva da mãe ou dos pais, ao menos implicitamente, rejeitam o claro e consistente ensinamento da Igreja. A verdade é que Deus incumbe cada um de nós do dever de proteger e defender a vida humana inocente. Isso é declarado claramente no Quinto Mandamento: Não matarás. Em nossa sociedade, esse esforço de proteção da vida humana inocente é feito por meios legais de processos legislativos, e é realizado, ou deixa de ser realizado, por aqueles que nós elegemos. Não seria adequado concluir que qualquer um que vote num político anti-vida esteja negando alguma verdade de Fé Divina e Católica. Porém, se aquele candidato recebe o voto precisamente porque ele sustenta que não tem o dever de proteger ou de defender a vida humana inocente no útero, então votar para ele é um tipo de declaração de rejeição do ensinamento da Igreja e, de fato, da validade do próprio Quinto Mandamento.
Uma alma corajosa chamou essa rejeição atual da responsabilidade por nosso irmão ou irmã ainda não nascidos de "a heresia do direito-de-matar". Quando nosso Senhor disse que chegara a hora de Ele ir a Jerusalém, para lá sofrer e morrer, Pedro opos-se a Ele incisivamente e rejeitou essa intenção de seu Senhor. Por causa disso Pedro ouviu o direto e definitivo "Vade retro, Satanás. Estás pensando ao modo dos homens e não ao modo de Deus." Nosso bondoso e gentil Senhor certamente nos acolherá e nos socorrerá quando soluçarmos por Ele, pois Ele é "manso e humilde de coração", mas suspeito que Ele também não medirá palavras com aqueles que rejeitam Seu Caminho e Sua Verdade.
Para citar este texto:
"Cristo é reconfortante e humilde, assim como poderoso e forte"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/cristo_humilde/
Online, 21/12/2024 às 17:49:34h