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O Concílio e o terremoto na Igreja
Irene Bertoglio
NOTA DA MONTFORT:
O grande terremoto causado pelo Concílio Vaticano II, encerrado há 45 anos, ainda causa danosas e terríveis convulsões na Igreja e no Mundo, como bem analisa a escritora italiana Irene Bertoglio, cujo artigo - O Concílio e o terremoto na Igreja - publicamos abaixo.
O anúncio do Concílio Vaticano II, feito pelo Papa João XXIII, surpeendeu a todos. Mons. Montini, por exemplo, então Arcebispo de Milão, comentou surpreso com seu secretário: “o Papa não sabe em que vespeiro está se metendo”.
Nesse ‘vespeiro’, confuso e intrincado, havia de tudo: desde os poucos que queriam manter e reafirmar a doutrina de sempre ao extremo oposto, os Modernistas, que batalhavam por reformas profundas. Entre estes dois campos, havia a grande maioria de bispos ‘moderados’ que apoiavam tanto manter certas teses de sempre, como julgavam aceitáveis certas reformas, servindo, assim, a dois senhores.
Com isso, a vitória final da ala Modernista naquele Concílio ficou patente já na primeira reunião, quando as teses da Cúria foram eliminadas da pauta das discussões e substituídas pelas teses revolucionárias do Modernismo [vide O Reno se lança no Tibre, Pe. RALPH M. WILTGEN - 1967].
Como afirmou Jean Guitton, amigo íntimo de Paulo VI:
“Quando leio os documentos concernentes ao Modernismo, tal como ele foi definido por São Pio X, e quando os comparo com os documentos do Concílio Vaticano II, não posso deixar de ficar desconcertado. Porque o que foi condenado como uma heresia em 1906 foi proclamado como sendo e devendo ser doravante a doutrina e o método da Igreja. Dito de outro modo, os modernistas em 1906 me aparecem como precursores. Meus mestres faziam parte deles [os modernistas]. Meus pais me ensinavam o Modernismo. Como São Pio X pode repelir os que agora me aparecem como precursores?' (Jean Guitton, Portrait du Père Lagrange, Éditions Robert Laffont, Paris, 1992, p.55-56).
O artigo abaixo constata diversos setores da Igreja hoje abalados pelo terremoto daquele Concílio pastoral.
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O Concílio e o terremoto na Igreja
Irene Bertoglio
12/06/2010
CITTA’ DEL VATICANO - Se a sociedade civil sentiu os primeiros movimentos telúricos em 1968, a Igreja entrou no clima de revisão pelo menos 6 anos antes, com o Concílio Ecumênico Vaticano II, iniciado em 1962 e encerrado em 1965. E com a renovação (compreensível e, em certos apectos, aceitável e necessária) surgiram os primeiros sinais do terremoto que estava explodindo.
Alguém, com muito mais autoridade do que eu, já denunciara as modificações tentadas e feitas para mudar a rota da Igreja: uma visão teológica diferente de Deus, de Jesus Cristo, da Igreja e do homem, uma atitude pastoral diferente na relação Igreja / mundo e na relação entre a Igreja católica e as outras confissões cristãs ou entre a Igreja católica e as outras religiões, um modo diferente de conceber a disciplina.
Em maio de 1989, o presidente da C.E.I., o Cardeal Ugo Poletti, preocupado e conseqüentes divisões no organismo clerical”. E ainda: “As preocupações referem-se particularmente aos alunos dos nossos seminários e institutos religiosos, aqueles que amanhã serão os nossos novos sacerdotes, e que certamente não recebem hoje de alguns dos seus mestres um exemplo formativo, sob o perfil da teologia, da espiritualidade e do senso da Igreja”. com o que sessenta e três especialistas em ciências eclesiásticas escreveram para a Igreja italiana, notou “profundas alterações no conteúdo da fé católica
Pergunto: se os bispos italianos não se limitassem somente a algumas lamentações sem efeito, a choramingas sem conseqüências, se tivessem tomado a decisão corajosa e dolorosaNo entanto, o terremoto agora permanente do qual a Igreja é vítima há 40 anos, foi veiculado nas novas gerações de padres mal formados nos seminários: a infecção que estes contraíram nos anos da sua formação (ou deformação!), transmitiram-na, depois, nas suas paróquias. , mas necessária, de desinfetar os seminários, não teriam saído novos seminaristas em plena sintonia com a doutrina, com as diretivas e com as necessidades da Igreja?
Hoje muitos bispos não governam mais a Igreja: diante de certos comportamentos gravíssimos de alguns padres, limitam-se a algumas amargas constatações e a piedosos conselhos, e nada mais. Parece que se envergonham do poder do governo, como se fosse um sinal de dureza do coração. Não governam por temer os contra-golpes que certamente receberiam de uma base (e estou falando de sacerdotes) agora já anárquica e ingovernável. Governar significa fazer Leis, obrigar a respeitá-las e punir quem as viola.
Jesus fundou a sua Igreja sobre três “pernas”. O poder de ensinar, o poder de santificar e o poder de governar. Tentar deixar a Igreja em pé só sobre duas pernas, sem o poder de governo, é pura e danosa ilusão. E a anarquia presente hoje na Igreja o demonstra amplamente
Quando até sacerdotes favoráveis ao aborto (e portanto assassinos) ficam impunes, qualquer outro rebelde sabe que terá garantida a impunidade. Se um padre cuspir no rosto de Cristo com heresias e revoltas sistemáticas, algum bispo está imediatamente pronto a invocar a caridade, a paciência, a necessária compreensão em relação a um irmão que se engana, a capacidade de saber aguardar um seu arrependimento... Se fosse preciso, por que renunciar a chamar a atenção também dos bispos? É S. Paulo que nos ensina a fazê-lo, criticando nada menos que o apóstolo Pedro, chefe da Igreja, e primeiro Papa, “de simulação, de hipocrisia, de comportamento não reto conforme a verdade do Evangelho” e o corrige “na presença de todos” (Gal 2, 11-14).
É o caso de meditar atentamente sobre quanto escreveu João-Paulo II falando de si mesmo: “Ao papel de Pastor faz parte também a advertência. Acho que, neste aspecto, talvez fiz muito pouco...Talvez devo reprovar-me por não ter procurado suficientemente dar ordens. Até certo ponto, isto deriva do meu temoperamento. Se o bispo diz: “ Aqui quem manda sou eu”, ou então, “ Eu estou aqui para servir” falta alguma coisa: ele deve servir governando e governar servindo”.
A crítica é um bem quando nasce do amor à Igreja e da vontade de melhorar os nossos Pastores. E quando se critica a sua atuação não é baseado em nossos critérios, mas nos critérios de Jesus Cristo. Se um bispo não remove um padre abortista ou herege, os outros padres e todos os fiéis, embora sofrendo, não podem fazer nada. Este pecado de omissão permitiu aos lobos de permanecer imperturbáveis no meio do rebanho e prejudicar as ovelhas indefesas.
Estou consciente de que quem apresenta qualquer objeção em relação ao Concílio é imediatamente atacado como rebelde à Igreja. Mas, sem dúvida, é evidente que algumas coisas pouco claras ocorreram neste bendito Concílio Ecumênico Vaticano II. O Papa Paulo VI teve a honestidade de reconhecer a espantosa tempestade em que a Igreja navega: “Em muitos setores, o Concílio não nos deu até agora a tranqüilidade, mas ao contrário provocou inquietações e problemas não úteis ao restabelecimento do Reino de Deus na Igreja e nas almas [...] Grande parte dos males não investem contra a Igreja do lado de fora, mas a aflige, a enfraquece a corroi por dentro”.
As dimensções do estrago, Montini a denuncia quando diz: “ A fumaça de Satanás entrou no templo de Deus... Esperava-se que depois do Concílio viria um dia de sol para a história da Igreja. Mas, pelo contrário, chegou um dia nublado, com tempestades e trevas”
Para completar, o padre holandês Edward Schillebeeckx, afirmou sem hesitações: “No Concílio, nós usamos palavras equívocas e não sabemos o que depois nós ajustaremos”.
E João Paulo II se alia à denúncia ao lamentar: “É preciso admitir realisticamente e com dor que grande parte dos cristãos de hoje se sentem perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos, se se difundiram fortemente idéias contrárias à verdade revelada e sempre ensinadas; se se propagaram verdades e até heresias no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões, rebeliões; prejudicou-se também a liturgia. Imersos no relativismo intelectual, moral e , portanto, no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralístico, por um cristianismo sociológico, sem dogmas e sem moral objetiva”
São responsáveis aqueles teólogos que, nas faculdades universitárias, até pontifícias, e nos seminários, há anos ensinam verdadeiras e próprias heresias ou deixaram no silêncio verdades incômodas (inferno, purgatório, mandamentos, castidade, penitência, indulgências...). São responsáveis aqueles pastores de alma que, na catequese e na pregação, não levam em conta as normas da Igreja no campo litúrgico e disciplinar. E responsáveis são também aqueles leigos que se conformaram com as bobagens de certos Pastores sem protestar. É o mesmo Bento XVI que nos exorta: É tempo de reencontrar a coragem do anticonformismo, a capacidade de se opor e de denunciar muitas tedências da cultura que nos nos circunda. Renunciando a certa eufórica solidariedade pós-conciliar”.
Em poucas palavras, o Pontífice reinante, no encerrametno do Ano Sacerdotal, afirmou. “ a Igreja usa o bastão contra os sacerdotes indignos”. Esperemos que esta sábia advertência não caia no vazio.
Para citar este texto:
"O Concílio e o terremoto na Igreja"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/concilio-terremoto/
Online, 21/11/2024 às 09:13:42h