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O mais violento ataque ao Concílio Vaticano II
Orlando Fedeli
Semanas atrás, o Cardeal Giacomo Biffi, ex-Arcebispo de Bolonha, pregou o retiro de Quaresma para o Papa Bento XVI e os Cardeais da Cúria Romana. Ser convidado pelo Papa para fazer a pregação desse retiro é uma honra insigne para o convidado, e é também um indicativo do que o Papa pretende ouvir e fazer a Cúria ouvir. O Cardeal Biffi, famoso por sua cultura, por seus conhecimentos literários, e por seu elegante estilo, por vezes cheio de ironia, acabava de publicar uma obra intitulada “Pinocchio, Peppone, o Anticristo e outras divagações” (Editora Cantagalli). Claro que o ponto central de interesse nessa obra é a questão do Anticristo. O Cardeal Biffi é especialista em Wladimir Soloviev, famoso autor russo, de idéias eslavófilas e de caráter gnóstico, que escreveu, em 1900, pouco antes de morrer, um famoso trabalho intitulado “Os três diálogos e a narrativa do Anticristo”, no qual cogita da possibilidade da vinda do Anticristo, no final do século XX. Soloviev não é um autor absolutamente digno de confiança. Entretanto, sua análise aguda e as surpreendentes coincidências de seu relato pseudo profético com os fatos conhecidos do século XX fizeram crescer o interesse sobre sua narrativa apocalíptica. Sem dar importância maior ao pseudo profetismo do gnóstico russo, cremos ser muito interessante destacar as implicações políticas trazidas pela pregação do Cardeal Biffi ao augusto auditório, presidido elo Papa, e que o ouvia certamente com extremo interesse para decifrar o por quê Bento XVI convidou esse Cardeal, e nessa hora, e por que lhe permitiu falar sobre o Anticristo.Conforme notou Sandro Magister, em artigo publicado em 1 de Março de 2007, o Cardeal Biffi declarou:
“Soloviev anunciou antecipadamente com previdente lucidez a grande crise que feriu o cristianismo nos últimos decênios de século XX”.
“Na figura do Anticristo descrito por Soloviev, de fato, Biffi vê “o emblema da religiosidade confusa e ambígua do tempo que estamos vivendo, hoje”. Vê delineados e criticados o “cristianismo dos valores”, a acentuação das “aberturas”, a obsessão do “diálogo” a qualquer preço, “no qual parece que resta muito pouco da pessoa única e inconfrontável do Filho de Deus crucificado por nós, ressurrecto, hoje vivo”. (S. Magister, artigo citado).
É impossível não ver que o Cardeal Biffi está aplicando a narração de Soloviev ao Concílio Vaticano II, que, desse modo, é apontado pelo Cardeal Biffi como o Concílio do Anticristo.
Seria esta uma critica construtiva do Vaticano II?
Por que Bento XVI ouviu isto sem fazer qualquer reparo, antes elogiou a pregação do retiro do Cardeal Biffi?
Mais: por que Bento XVI quis ouvir isso? Porque o Papa quis ouvir isso?
Ele quis que isso fosse dito diante da Cúria Romana.
Imaginar que o cardeal Biffi se atreveu a dizer tal enormidade sem permissão superior nos parece inimaginável
Por que aconteceu isso? Por que se permitiu dizer isso?
Conforme Soloviev, haveria uma grande decadência religiosa nas décadas finais do século XX. E então surgiria um jovem extremamente competente e atraente que escreveria uma obra importantíssima:
“O livro que lhe daria fama e consenso universal tinha por título: “O caminho aberto para a paz e a prosperidade universal”, no qual “se unem o nobre respeito pelas tradições e os símbolos antigos com um vasto e audacioso radicalismo de exigências e diretivas sociais e políticas, uma liberdade de pensamento sem limites com a mais profunda compreensão de tudo o que é místico, o absoluto individualismo com uma ardente dedicação ao bem comum, o mais elevado idealismo em matéria de princípios direcionais com a precisão completa e a vitalidade das soluções práticas”.
Nessa obra, como em certas declarações de Conferências Episcopais, não se fazia qualquer menção a Cristo...Tratava-se de benevolência universal, de tolerância e liberdade, de valores humanos. O sobrenatural era desconhecido. Defendia-se o pacifismo, uma recusa de qualquer combate, mesmo aos vícios, recusava-se qualquer violência, pregava-se uma moral laica – a famigerada ética em voga hoje em dia...
“Virão dias...”.
Virão os dias do Anticristo...
Antes, esses dias já vieram, nos dizia Soloviev. E Sandro Magister nos repete a mesma lição...
No-la repetiu o Cardeal Biffi?
Quando forem publicadas as palestras do retiro de Quaresma de 2007 para a Cúria Romana, veremos se o Cardeal Biffi levou o paralelo e a aplicação do Concílio do Anticristo ao Vaticano II ainda mais longe.
Mas o que se sabe que ele disse é para lá de suficiente para impor interrogalções importantes.
A simples alusão a um Concílio ecumênico convocado nas décadas finais do século XX, Concílio que causará imensa apostasia, fazendo adorar o Anticristo em lugar de Cristo, Concílio que pregará o naturalismo, o pacifismo e o ecumenismo religioso é suficiente para não se terem ilusões: o Cardeal Biffi indicou o Vaticano II como sendo parecido com o que pregará o Concílio do Anticristo de Soloviev. Jamais se ousou fazer alusão mais infamante ao Vaticano II diante de um Papa pós conciliar.
Lendo a notícia da pregação do Cardeal Biffi e o artigo de Sandro Magister, vem-nos à mente o que anunciou, há pouco ainda, o Padre Claude Barthe.
Inicialmente, para se ter a Missa de sempre era-se obrigado a aceitar o Vaticano II (1984). Depois, se ficou dispensado de declarar que se o aceitava (1988).
Mias tarde, se permitiu criticá-lo sem tom polêmico.
Com a fundação do Instituto Bom Pastor se permitiu – antes, se ordenou—que se o criticasse de modo construtivo.
Qual seria o próximo passo? Perguntava o padre Barthe. O passo seguinte já foi dado pelo Cardeal Biffi diante de Bento XVI e da Cúria Romana: o Vaticano II parece o Concílio do Anticristo.
Uma bomba !
São Paulo, 11 de Março de 2007.
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"O mais violento ataque ao Concílio Vaticano II"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/ataque_vii/
Online, 21/11/2024 às 08:34:44h