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A ruptura litúrgica confirmada pelo Papa Paulo VI
[caption id="attachment_30128" align="aligncenter" width="282"] Jean Guitton como ouvinte laico do Concilio, em 1963, com Paulo VI[/caption]
Em nosso artigo sobre a Missa nova e a hermenêutica da ruptura, demonstramos a intenção ecumênica que conduziu a fabricação do Novus Ordo Missae. As declarações do Papa Paulo VI, trazidas a público por seu confidente e amigo Jean Guitton; a participação de pastores protestante como consultores na elaboração do ritus modernus; a declaração do principal liturgista, o monsenhor e provável maçom Annibale Bugnini; a posterior manifestação dos hereges, que teceram louvores ao novo modelo reformado da Missa; todas essas informações constituíram uma inegável evidência de que houve uma intenção de romper, ao menos em relação à questão do ecumenismo, com a bimilenar tradição católica, de modo a favorecer o decepcionante diálogo com outras religiões.
Embora as provas sejam contundentes, há sempre quem delas duvide. Por meio de um contorcionismo “fantástico”, teólogos e exegetas insistem numa versão de continuidade para os textos da liturgia, mesmo quando ocorrem evidentes problemas de tradução. É, realmente, uma obra de “peritos”.
Com este novo escrito, queremos trazer outra espantosa declaração do Papa Paulo VI. Aqueles que preconceituosamente nos acusam de distorcer a real interpretação do Concílio - chamando-nos inclusive de hereges por não aceitarmos a Missa nova como expressão unívoca da Fé - certamente ficarão encabulados, diante da confirmação de nossa posição pelas próprias palavras do Papa responsável pela versão ordinária do Rito Romano.
Reproduzimos as palavras do Papa ao seu amigo Jean Guitton, conforme tradução realizada, à época, pelo nosso saudoso professor Orlando Fedeli.
Disse o Papa Paulo VI:
“Reconheço que a diferença entre a liturgia de São Pio V, e a liturgia do Concílio (chamada frequentemente, não sei por que, de liturgia de Paulo VI) é muito pequena. Na aparência, a diversidade [no ofertório das duas Missas] repousa numa sutileza. Mas essa missa dita de São Pio V, como se a vê em Ecône, se torna o símbolo da condenação do Concílio. Ora, jamais aceitaremos, em nenhuma circunstância, que se condene o Concílio por meio de um símbolo”.
Conclui o Papa:
“Se fosse acolhida essa exceção [liberar a missa antiga], o Concílio inteiro arriscaria de vacilar. E consequentemente a autoridade apostólica do Concílio” (Jean Guitton, Paulo VI Secreto, editora San Paolo, Milano,4 a edição, 2.002).
Portanto, não somos nós que constatamos existir uma ruptura entre a Missa nova e a Missa anterior. Da afirmação do Papa Paulo VI se deduz que a Missa antiga, apesar das pequenas diferenças concretas com a Missa Nova, possui uma teologia diferente, e que, desta forma, a liberação da Missa Antiga é um símbolo de condenação do Vaticano II. Permitir a celebração da liturgia anterior – disse o Papa – seria por em risco toda a autoridade do Concílio. Então é o próprio Papa Paulo VI – incentivador e aprovador da Missa nova – quem garantiu existir uma oposição teológica entre as duas versões do Rito Romano.
Note-se que não se afirma que na Missa nova exista alguma heresia formal, mas que as manifestações da Missa Nova e da Missa Antiga não expressam a mesma fé.
Em outras palavras, segundo Paulo VI - no testemunho de Jean Guitton até o presente momento não contestado - existe uma incompatibilidade de fé entre a Missa de sempre e a Missa nova que é a expressão da fé do Vaticano II.
Trata-se de duas fés divergentes: uma teocêntrica, expressa de modo inequívoco na liturgia antiga, e outra antropocêntrica, predominante na liturgia moderna e nos documentos do Vaticano II. Quem nos garante isso? Novamente o Papa Paulo VI:
“Alguns acusam o Concílio [Vaticano II] ter se desviado para o antropocentrismo. Desviado, não. Dirigido, sim”
“... Ó vós humanistas modernos, que renunciais à transcendência das coisas supremas, e saibais reconhecer o nosso novo humanismo: nós também, Nós mais do que qualquer outro, nós temos o culto do homem" (Paulo VI, Discurso de encerramento do Concílio Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965. Destaques nossos).
Constata-se, portanto, que a divergência é de “centro”. Enquanto na Missa tridentina resplandece a luz do teocentrismo católico, na Missa nova vislumbramos as trevas do humanismo que, desprezando a Deus, coloca o homem no centro de tudo.
Evidentemente, ao menos em teoria, será possível dar uma interpretação diferente as palavras de Paulo VI, sobretudo agora quando não se pode mais consultá-lo. Entretanto, é impossível não admitir que a ação de Paulo VI, proibindo, de fato, a Missa Antiga em todo o mundo, e não somente em Ecône, é coerente com as observações de nosso artigo
Uma última questão que poderia ser colocada é se Bento XVI, que liberou e incentivou a Missa Antiga, também acreditava como Paulo VI que esta liberação seria uma condenação ao Concílio Vaticano II.
Não é uma questão fácil de responder. A análise literal de alguns textos de Bento XVI levaria a crer que este discordava de Paulo VI a respeito da interpretação a ser dada ao gesto de liberação da Missa Antiga. Entretanto, o fato é que, mais do que nunca, o Vaticano II tem sido colocado em xeque e muitos - admiradores e críticos - atribuem isto à ação sutil de Bento XVI.
Resta saber se aqueles que nos qualificam de hereges e cismáticos ousarão proferir as mesmas acusações também contra o Papa Paulo VI porque, assim como nós, também identificou uma ruptura entre a doutrina anterior e posterior ao Vaticano II, conforme são aplicadas à Missa antiga e à Missa Nova.
Aguardemos as manifestações!
In Corde Jesu, semper,
Eder Silva
Para citar este texto:
"A ruptura litúrgica confirmada pelo Papa Paulo VI"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/a-ruptura-liturgica-confirmada-pelo-papa-paulo-vi/
Online, 21/11/2024 às 08:33:30h