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A batina de cem botões e a tiara
Ivone Fedeli
Publicamos hoje duas traduções de notícias do site ultraprogressita golias.fr; e fazêmo-lo com grande prazer. Porque, embora Golias tenha uma perspectiva que é o avesso da professada por nós, concordamos fundamentalmente com tudo o que essas notícias afirmam, bastando apenas notar que nos alegramos com o que os entristece e nos entristecemos com o que os alegra. Situação análoga à do famoso prelado que, surdo e incapaz de ouvir os discursos dos bispos durante as discussões sobre a infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, ficava atento ao esquerdista Cardeal Dupanloup e sabia sempre escolher a sua posição: opunha-se, quando Dupanloup apoiava e aplaudia quando Dupanloup protestava...
O primeiro texto refere-se à nomeação do Cardeal Piacenza para o Congregação do Clero e o segundo à auspiciosa volta da tiara às armas papais e, em breve, à augusta cabeça do Soberano Pontífice. Dois temas que, de si, não são conexos, mas que, contudo são aspectos de uma mesma transformação que, sob o comando do Santo Padre Bento XVI, gloriosamente reinante, vai suave, mas inexoravelmente, ocorrendo na Igreja.
A batina – de que Golias afirma que D. Piacenza é um grande adepto – e a tiara, que faz ulular de raiva aquele site, são dois símbolos de uma mesma mentalidade, de um mesmo modo de ver a Igreja.
Uma mentalidade que enxerga no padre o ministro de Deus, dedicado às coisas do alto e a conduzir às coisas do alto o rebanho do Senhor. Alguém que está no mundo, mas não é do mundo e que manifesta pela batina esse seu alheamento do mundano e essa sua consagração absoluta ao serviço de Deus, através do serviço das almas.
Uma mentalidade que vê no Papa o Vigário de Cristo e, como tal, com direito a usar a tiara -- também chamada de Regnum -- coroa tríplice que indica a unidade da Igreja e a suprema suserania do Papa sobre toda a Cristandade, como Soberano Universal da Igreja Una, Soberano dos Estados Pontifícios, e Bispo de Roma. (Ver sobre isso nesta carta).
Portanto, uma mentalidade oposta à adaptação da Igreja ao mundo, propugnada pelo Vaticano II, e à "maciça auto-secularização" da Igreja – na expressão do Cardeal Schönbrum, ocorrida durante os quarenta anos que se seguiram ao Concílio. (Ver notícia sobre isso).
Duas notícias, portanto, que designam dois elos da robusta corrente de reconstruções e restaurações que o Santo Padre vai encadeando para prender, com cada vez maior solidez, a
Santa Barca de Pedro às colunas de suas tradições doutrinárias e espirituais. Daí a fúria dos neomodernistas. Daí a alegria da Montfort.
Ivone Fedeli
São Paulo, 19/10/2010
Outubro 13, 2010 http://www.golias.fr/spip.php?article4528
Papa Bento XVI nomeia um ultraconservador para o comando da Congregação para o Clero
O nome do sucessor do cardeal Claudio Hummes como Prefeito da Congregação para o Clero acaba de ser revelado. Trata-se do secretário do mesmo dicastério, o arcebispo Mauro Piacenza, um italiano 66 anos que se declara filho espiritual do Cardeal Giuseppe Siri, arcebispo de Gênova por mais de quarenta anos, que o ordenou padre.
Intelectualmente brilhante, Piacenza é também ultraconservador. Obviamente, essa escolha não é fortuita. Trata-se de uma recompensa outorgada àquele que foi a locomotiva do ano sacerdotal encerrado em junho. Mas, além disso, o bispo de Piacenza encarna uma visão arquitradicional do padre. Um detalhe, mas que diz muito, é seu apego incansável ao traje eclesiático. Os padres deveriam voltar a ser vivamente encorajados a usá-lo, de preferência a batina com cem botões. Na falta dela, o estrito colarinho romano. A única coisa boa sobre esta desastrosa escolha profundamente tradicionalista - que volta definitivamente as costas não apenas à idéia de reforma do ministério sacerdotal, mas também ao espírito do Concílio Vaticano II e à intuição de outros modos de exercício do ministério sacerdotal, como o dos padres operários – é que Piacenza desconfia como de uma praga do Opus Dei e dos neoconservadores. É um tomista afastado de um misticismo vaporoso.
O nome do sucessor do cardeal Claudio Hummes como Prefeito da Congregação para o Clero acaba de ser revelado. Trata-se do secretário do mesmo dicastério, o arcebispo Mauro Piacenza, um italiano 66 anos que se declara filho espiritual do Cardeal Giuseppe Siri, arcebispo de Gênova por mais de quarenta anos, que o ordenou padre.
Intelectualmente brilhante, Piacenza é também ultraconservador. Obviamente, essa escolha não é fortuita. Trata-se de uma recompensa outorgada àquele que foi a locomotiva do ano sacerdotal encerrado em junho. Mas, além disso, o bispo de Piacenza encarna uma visão arquitradicional do padre. Um detalhe, mas que diz muito, é seu apego incansável ao traje eclesiático. Os padres deveriam voltar a ser vivamente encorajados a usá-lo, de preferência a batina com cem botões. Na falta dela, o estrito colarinho romano. A única coisa boa sobre esta desastrosa escolha profundamente tradicionalista - que volta definitivamente as costas não apenas à idéia de reforma do ministério sacerdotal, mas também ao espírito do Concílio Vaticano II e à intuição de outros modos de exercício do ministério sacerdotal, como o dos padres operários – é que Piacenza desconfia como de uma praga do Opus Dei e dos neoconservadores. É um tomista afastado de um misticismo vaporoso.
Esta escolha é, certamente, uma ducha fria para seu antecessor no cargo, o brasileiro Claudio Hummes, antigo arcebispo de Fortaleza e de São Paulo. Um franciscano de 76 anos de idade, outrora bastante progressista, e que não renegou seus amores da juventude (teologia da libertação ), apesar de uma nítida mudança espiritualizante, se não conservadora. Em comparação com Piacenza, porém, ele faz figura de um homem de esquerda. Sabe-se que ele defendia a tese da ordenação de homens casados como sacerdotes, o que obviamente não será o caso de Piacenza!
O Papa fez ainda uma outra nomeação significativa, mas de nível mais baixo do que o que se prognosticava para o interessado. Trata-se de D. Robert Sarah, 65 anos, ex-arcebispo de Conakry – para onde foi nomeado há 34 anos! – atual secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. É um posto de confiança, principalmente devido às limitações do prefeito dessa Congregação, o Cardeal Ivan Dias, que não deu ao Papa grande satisfação e que está com a saúde debilitada. D. Sarah era citado, ainda há poucos dias, como o provável sucessor de Hummes a fim de - nas palavras de um prelado romano - dar cor a esse dicastério austero e prestigioso, o do Clero. Mas o Papa não teria nele a mesma confiança que tem Piacenza, homem da velha escola romana.
Mais próximo dos círculos neoconservadores, Sarah é, com efeito, considerado ortodoxo, mas não propriamente favorável ao retrocesso, e sujeito a explosões. Ele torna-se, portanto, chefe de um dicastério, mas de um dicastério menor, pois trata-se do Conselho "Cor Unum", no lugar do alemão Paul Josef Cordes, 76, um velho amigo de Ratzinger.
Piacenza será, evidentemente, criado cardeal no próximo consistório com um número bastante significativo de prelados italianos: para a Cúria, Angelo Amato, Velasio de Paolis, Fortunato Baldelli, Paolo Sardi, Gianfranco Ravasi e Francesco Monterisi. Sem mencionar dois arcebispos da Península, Giuseppe Anfossi, arcebispo de Florença e Paolo Romeo, arcebispo de Palermo. Na verdade, de todo esse areópago, Ratzinger só aprecia realmente os dois futuros cardeais ... Amato e ... Piacenza. Os outros só receberão o barrete vermelho devido a suas funções e a suas carreiras passadas.
A nomeação de Piacenza porta o cunho pessoal do papa. Promoções diretamente verticais (de secretário a prefeito de uma mesma congregação), são raras e desaconselháveis. Salvo uma confiança excepcional num homem incontornável. Sobretudo quando o promovido nunca teve um cargo na pastoral direta de uma diocese. O homem incontornável que é, sem dúvida, Mauro Piacenza aos olhos do Papa. Em seu plano de restauração.
A volta da tiara
Bento XVI varre a decisão de seus predecessores, Paulo VI e João Paulo II
Coisa anunciada, coisa logo realizada. A tiara que representa as três coroas do poder pontifical vai fazer seu come back dentro em pouco. Talvez no Natal, para a bênção urbi et orbi.
Essa festa se acompanha em geral de um apaziguamento dos conflitos ideológicos. O que é uma ocasião maravilhosa para fazer engolir uma pílula desse tamanho.
Enquanto isso, de certo modo a tiara já voltou, já que acompanha as novas armas do papa, como se pôde ver pela primeira vez no domingo 9 de outubro.
Evidentemente, um sinal muito importante.
Piscada de olho de entendimento para os tradicionalistas. Ofensa à memória de Paulo VI e dos dois Joões Paulos que não quiseram saber desse símbolo teocrático de outras eras, que exprime uma visão muito pouco evangélica do poder na Igreja.
Para citar este texto:
"A batina de cem botões e a tiara"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/igreja/a-batina-botoes/
Online, 21/11/2024 às 09:14:22h