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Jean Duns Scoto (1266-1308)
Orlando Fedeli
Esse doutor franciscano, nasceu em Maxton, na Escócia, em 1266. Estudou em Oxford e se tornou Doutor, primeiro, em Oxford, e, depois, também em Paris, em 1305, tendo falecido em 1308. Suas distinções sibilinas contra a doutrina tomista valeram-lhe o título de Doctor Sutilis com o qual foi agraciado. Foi beatificado.
Foram esses posicionamentos de Duns Scoto que vão causar os erros de Guilherme de Ockham e de Mestre Echkart, assim como os erros do escolasticismo decadente do seculo XV (Jean de Méricourt e Nicolau d’Autrecourt) fontes da duvida metódica do Cartesianismo e de toda a dúvida moderna.
O pecado contra a Verdade de toda a Filosofia da Modernidade nasceu dos erros de Duns Scoto.
Essa mesma posição de Bento XVI face a Duns Soto é defendida por um fenomenlogista atual, André de Muralt:
Para Duns Scoto, ”Nenhuma demonstração do efeito à causa merece, de modo absoluto, o nome de demonstração: “nulla demonstratio, quae est ab effecto ad cusam est demonstratio simpliciter”. Resulta disso imediatamente que todas as provas da existência de Deus são relativas, porque nós jamais atingiríamos a Deus a partir de seus efeitos” (Etienne Gilson, La Philosophie au Moyen Âge, Payot, Paris, Vol.II, p. 602).
Essa posição vai ser ainda mais radicalizada por Ockham, que negará explicitamente que se possa provar que Deus exista, examinando as qualidades do mundo, o que vai contra o ensinamento patente de São Paulo, na epístola aos Romanos (I, 20).
Duns Scoto vai dizer que a razão humana nada pode saber dos seres puramente espirituais (Deus e os anjos).
Segundo Scoto, a Metafísica deve ter por objeto o ser em sua noção mais abstrata, aquele em que a noção de ser se aplica num só e num único sentido a tudo o que é, desde a pedra até Deus. Seria isso o que exprime Scoto ao dizer que, para o metafísico, o ser é “unívoco”. (Cfr. E.Gilson, La Philosophie au Moyen Âge, Payot, Paris, Vol.II, p. 593).
Duns Scoto admite que existam modos de ser, derivados das suas determinações intrísecas possiveis. Desse princípio, Scoto retira a prova de que Deus existe necessariamente como primeiro ser.
Para Duns Scoto a criação de seres contingentes provém da pura vontade absolutamente livre de Deus, que quiz criar, porque quiz criar. Deus escolheu criar, porque essa foi a sua vontade absolutamente livre. Deus não criou nada, submetido a qualquer regra. Regra é a vontade arbitrária de Deus. Compreende-se como esse posicionamento é contrário à tese católica que faz tudo partir de um princípio: “no princípio era o Verbo”(Jo.I, 1). E não do arbítrio. Não do capricho, e sim da Sabedoria divina.
Para Duns Scoto, “a vontade de Deus é pois senhora absoluta da escolha e da combinação das essências; ela não está submetida à regra do bem, mas, ao contrário, a regra do bem é que lhe está submetida. Se Deus quer uma coisa, essa coisa será boa; e se Ele tivesse querido outras leis morais do que aquelas que Ele estabeleceu, essas outras leis seriam justas, porque a retidão é interior à sua própria vontade, e que nenhuma lei é reta senão enquanto ela é aceita pela vontade de Deus. Não se poderia ir mais longe sem desembocar no cartesianismo; mas antes de desembocar nele, era preciso apagar antes toda distinção entre o entendimento de Deus e sua vontade”(E.Gilson, La Philosophie au Moyen Âge, Payot, Paris, Vol.II, p. 599).
Aí está a raiz do relativismo moderno.
Essa afirmação do primado da vontade sobre a inteligência pressagia o triunfo do voluntarismo sobre o intelecto, da ação sobre a compreensão.
Duns Scoto ainda admite que se queremos um objeto é porque antes o conhecemos, e nós o queremos porque nele percebemos um bem. Porém, diz Scoto, que se conhecemos um objeto e não outro é porque nós o queremos. ”Nossas idéias nos determinam, mas nós determinamos antes a escolha de nossas idéias” ”(E.Gilson, La Philosophie au Moyen Âge, Payot, Paris, Vol.II, p. 599).
A distinção entre um conhecimento abstrativo e outro intuitivo era uma novidade trazida por Duns Scoto. Aristóteles não fala de conhecimento intuitivo, e “para a filosofia medieval, a questão estava resolvida. Seus intérpretes mais importantes rejeitam, em sua maioria, uma intuição intelectual absoluta e imediata”(André de Muralt,A Metafísica do Fenômeno—As origens medievais do Pensamento Fenomenológico, Editora 34, São Paulo, 1998, p. 65. A primeira edição francesa é da Editora Vrin, em 1985).
Para Scoto, porém, o conhecimento intuitivo seria humanamente possível e ele não utilizaria nenhum conceito. Esse conhecimento gozaria ainda de uma intencionalidade semelhamte àquela que São Tomás atribui à vontade: assim como a vontade tem intenção de possuir um objeto pelo bem que há nele, assim também a inteligência teria uma intenção afetiva para com o que quer conhecer. No próprio ato de conhecer entraria a vontade, colocando uma intencionalidade no ato de conhecer.
Evidentemente, esse conhecimento intuitivo seria um conhecimento direto, posto pelo próprio Deus no intelecto humano. Dar-se-ia na intuição humana algo parecido com o que ocorre no conhecimento angélico: ao criar os anjos, Deus já lhes teria infundido o conhecimento de suas idéias eternas.
Matéria sem forma é impossível de existir, porque uma pura matéria sem forma teria pelo menos o ato de seu ser, que faria dela matéria. Mas como o que faz ser um coisa qualquer é a sua forma, matéria sem forma é impossível de existir. Logo, toda matéria só pode existir tendo forma de matéria.
Se não é possível existir matéria sem forma, o contrário é possível: existir uma forma sem matéria É o que são os seres angélicos, pura forma sem matéria.
Uma pura forma, mesmo antes de ser realizada numa matéria, não é uma indeterminação total como seria a matéria sem forma. A forma já é concebida no Verbo de Deus, em seu entendimento divino, como uma natureza ou essência definida.Mas a ela falta ainda o ato de ser, isto é, a existência enquanto ser real. Às puras formas inteligíveis deu dá existência ao criá-las como anjos.
Enquanto as coisas existem em sua natureza, e esse é seu esse naturale.
Enquanto essas razões se refletem no intelecto as coisas têm um esse intellectuale. Ao ser criado, o anjo recebe de Deus, impressas em seu intelecto, todas as formas ou razões das demais naturezas, tanto corporais quanto espirituais, coforme o seu esse intellectuale. E é por meio dessas impressões de espécies que o anjo conhece todas as criaturas materiais e espirituais de modo intuitivo.
É vidente pois que esse tipo de conhecimento proprio dos anjos não pode exsitir na natureza humana que só conhece por abstração, retirando dos seres materiais sua forma substancial, por abstração intelectual.
Como Duns Scoto admitia que houvesse no homem intuição sem conceito, isto é um conhecimento humano intelectual direto, sem abstração?
Podendo extir matéria sem forma, também poderia existir conhecimento sem objeto conhecido, sujeito conhecedor sem objeto conhecido.
Desse intuicionismo sem objeto, Ockham passou para a admissão da possibilidade de haver ato justo sem bem objetivo real, isto é “um ato moral bom no qual a vontade não queira, não ame, nem realize o bem que corresponde às exigências maturais de sua potência.(...) Assim é que o Venerável Inceptor [Ockham] depois o terrível Roberto Holkot e o ambíguo João de Mirecourt podem afirmar que a vontade divina, da qual todo efeito é necesariamente bom na medida mesma em que foi desejado por ela, pode prescrever à alma que odeie Deus e fazê-la merecer assim a savação eterna” (André de Muralt,A Metafísica do Fenômeno—As origens medievais do Pensamento Fenomenológico, Editora 34, São Paulo, 1998, p.147).
Desse modo o occamismo fez a dúvida afetar todo o conhecïmento, e a indiferentismo manchar toda atividade moral. Disso vai nascer o luteranismo e o cartesianismo.
Se a negação da analogia e a consideração do ser como unívoco por Duns Scoto fez Ockham conduzir o pensamento humano ao nominalismo negador de todo universal, erro que levou ao materialismo, ao racionalsimo e ao panteísmo, Mestre Eckhart, seguiu via oposta.
Eckhart subsituiu a analogia do ser por uma dialética gnóstica. Para Eckhart, se Deus é ser, o mundo é nada, é não ser. Se o mundo é ser, então Deus é que é não-ser, o nada absoluto. E a Gnose de Eckhart tem muita afinidade com a Cabala, embora o Zohar tivesse sido escrito naquele tempo e fosse particamente desconhecido por pensadores cristãos. Não é preciso entretanto excogitar contatos de Eckhart com rabinos: a colocação de princípios metafísicos errados ‘so pode levar ou ao Panteísmo (como se deu com Ockkham), ou à Gnose ( como aconteceu Eckhart).
Do racionalismo panteísta de Ockham virão a Reforma em sua forma luterana final, o cientificismo renascentista, o racionalismo cartesiano, o empirismo inglês, o barroco, o iluminismo ateu e laico de Voltaire, Diderot e dos enciclopedistas, o comunismo dos enragés da Revolução Francesa, assim como o naturalismo e o realismo do Romantismo, e, enfim o materialismo de Darwin, e o de Marx e de seus corifeusexpressos quer na filosofia, quer na arte moderna materialista, terminado na Teologia da Libertação marxista, nascida do Vaticano II.
Da Gnose anti racional de Mestre Eckhart advirão o humanismo mágico de Marsilio Ficino e do Renascimento de Leonardo e Michelangelo, a irracionalidade do subjetivismo caratesiano divinizador do Ego, e negador do conhecimento objetivo, as seitas irracionais do misticismo protestante, o maneirismo, o pietismo e o quietismo, o Idealismo de Kant e seus suscessores, a filosofia e arte do Romantismo, o Simbolismo, a filosofia gn;ostica de Bergson, do Modernismo de Blondel, a Fenomenologia de Husserl e seus derivados, culminado no Vaticano II e em sal teologia negadora d etodoconheciemnto objetivo.
Na realidade, essa duas correntes são como dois fios que se enroscam um no outro formando um só barbante, de duas cores: uam vermelha, ado panteísmo racionalista; outra branca, simbolizando a Gnose. Amabas são as duas vertentes d euma religião oculta na história: o Antropoteísmo, divinizador do homem.
Não sem razão a serpente disse a Adão e Eva : “Sereis como deuses”( Gen III, ).
Não sem razão Deus fez a serpente ter uma língua bífida.
Para citar este texto:
"Jean Duns Scoto (1266-1308)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/jean-duns-scoto/
Online, 22/12/2024 às 06:28:42h