História

Rumo a Lepanto
Orlando Fedeli
Editorial do primeiro número do Jornal Veritas, publicado em setembro de 1985.

"Ya mi galera de oro
tiene sueltas las amarras
Y están prontos a vogar
los veinte remos de plata"

Estes versos de José Maria Pemán nos vieram à mente ao decidirmos lançar o primeiro número de nosso boletim. Pequena galera, sem pretensões. Não grande transatlântico. Uma frágil pequena galera no mar caótico da crise moderna. Somos pequenos. Somos fracos. Somos poucos. Mas a verdade católica é nosso tesouro. Lutar pela verdade – Veritas – é nosso ideal. Lutar por Aquele que disse: "Ego sum Veritas", Cristo, Nosso Senhor.

É o sol da verdade católica que doura nossa frágil galera. Ela só é de ouro porque carrega em suas arcas, no fundo de sua alma, o tesouro das verdades do credo católico apostólico romano. É o espírito de fé que palpita em sua branca vela marcada com a cruz de sangue. É o vento da Cruzada que a impele. E singramos para Lepanto.

***

Certa vez, D. Bosco teve uma visão profética de uma batalha entre a nau da Igreja e os esquifes da Revolução. A nau católica, tendo se afastado das colunas que a mantinham segura – a devoção à Sagrada Eucaristia e à Virgem Maria – viu-se atacada por um enxame de barcos inimigos que utilizavam contra ela todo tipo de armas e livros, "pois os livros são armas também", dizia D. Bosco.

Afinal, durante uma reunião do Papa com os Bispos – um concílio, portanto (não seria o Vaticano II?) – a Igreja foi invadida pelos inimigos. No combate dois Papas foram mortos. Por fim, um novo Papa, constatando o desvio da Igreja, reconduziu-a para junto das colunas da Eucaristia e de Nossa Senhora. Os inimigos mutuamente se destruíram, soçobrando no mar. E algumas pequenas naves que, desde o início, combateram em defesa da Igreja, apressaram-se em submeter-se à Grande Nave do Papa. E houve então uma grande calma no mar.

***

O heróico combate de galeras em Lepanto tornou-se uma imagem. Hoje, a luta se dá nos Parlamentos, na imprensa, na televisão, nas escolas, nos púlpitos. Hoje, os ataques contra a Fé, a Moral e a Civilização cristãs preparam o triunfo do comunismo igualitário e ateu, a vitória da anti-civilização gnóstica.

Rússia, Polônia, Hungria, países bálticos e balcânicos, China, Cuba e Vietnam, Cambodge, Laos, Etiópia, Angola e Moçambique e agora Nicarágua, são alguns dos países que gemem sob a tirania totalitária marxista [1]. No Brasil parece estar sendo preparado o mesmo declínio. Se cair o Brasil, certamente arrastará em sua queda toda a América Latina.

Já em nosso campo corre sangue e há invasões de propriedades sob a benção e o açulamento da heresia progressista. Em nossas câmaras já se fala em legalizar o aborto e em aprovar novas leis que alimentarão o câncer socialista que corrói o país. Nos espetáculos e na imprensa grassa a imoralidade. Nos púlpitos se apregoa a revolução, a mentira e o permissivismo. E grita-se pelo direito de expressão do erro enquanto se protesta contra o poder de Pedro, por ter silenciado – temporariamente – um mestre que ensina falsidade [2]. Comissões de justiça e paz difundem a revolta, a contestação e a discórdia. Pastores que têm continuamente na boca a palavra paz, difundem a guerra, fazendo lembrar os falsos profetas que repetiam "Pax, pax! Cum non esse pax" (Jer. VIII, 11).

Dessa batalha, profetizada por D. Bosco, queremos participar com nossa pequena e frágil galera, fiéis à Igreja e ao Papado. Combateremos com todas as nossas forças o progressismo e o modernismo, que assolam o campo católico, o comunismo e o socialismo, e todas as doutrinas igualitárias e totalitárias que destróem a civilização cristã.

Queremos lutar ainda que tenhamos apenas a lança de um argumento. Ainda que sejamos poucos. Ainda que estejamos sós. Jamais cederemos à revolução panteísta e totalitária, à revolução gnóstica e igualitária.

Somos católicos. Lutaremos por Deus. Sorriem de nossa pretensão. Com razão se consideram nossas forças.

Julgam insensata nossa causa? Certamente, se a aquilatam com olhos humanos.

Mas é a cruz de sangue em nossas velas, é a cruz do batismo em nossas almas que nos dá razão e força para lutar.

"Me dan voces desde el muelle
contra mi empresa insensata
yo sonrío junto al mastil
y no me vuelvo a escucharlas

(...)
Me dan voces desde el muelle
pero son las voces vanas
que no es de buenos pilotos
volver atras la mirada"

Porque o vento que nos impele vem do fundo de nossa História. É a mesma ventania que sacudiu os estandartes de Pelayo em Covadonga. É a ventania que impeliu a branca caravela de Portugal pelos mares. É o vento conquistador que arrebatou a alma bandeirante através das florestas e dos continentes. É o vento que vem do fundo de nossa História. É o vento da vitória. É o vento da graça divina que impele nossa galera de ouro.

E porque essa graça exige nossa cooperação, estamos dispostos a mover, com todas as nossas forças, "los veinte remos de plata".

"Hacia Lepanto la proa
a arrancarse la ultima amarra

A la mar todos a una
Los veinte remos de plata".

Católicos somos. Lutaremos por Deus.

 [1] Lembrar-se de que o presente artigo foi escrito em 1985, antes portanto da queda do comunismo.
[2] O autor se refere à condenação de Leonardo Boff

 

 



    Para citar este texto:
"Rumo a Lepanto"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/editorial/
Online, 21/11/2024 às 08:30:56h