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Retornando de uma viagem ao passado
Orlando Fedeli
Acabo de retornar, hoje -- de um hoje morto -- de uma viagem ao passado vivo. E parece-me passar da vida para a morte deste século de amargura, mentira e vício
Volto de uma viagem, não só a Roma e a outras cidades da Itália, mas de uma viagem à Antiguidade e à Idade Média. Viagem aos tempos dos mártires e dos santos. Viagem aos tempos da Patrística e da Escolástica. Viagem dos tempos em que havia arenas, Basílicas, castelos e palácios. Viagem a um tempo em que existiam aldeias e havia povo. Volto inebriado ainda com o perfume de Roma e da civilização católica, que rescende de tantas ruínas antigas, das catacumbas, das pedras embebidas e cantantes de história, e marcadas pelo sangue dos mártires.
Volto de Roma.
Louis Veuillot, famoso jornalista católico do século XIX, escreveu dois livros extraordinários: “Les Parfum de Rome”, e outro, “Les odeurs de Paris”. O Perfume de Roma e os Odores de Paris…
Poderia tê-los intitulado O Perfume do Catolicismo e os cheiros da Modernidade.
No Parfum de Rome, Veuilot lembra que Roma concentra todo o amor católico à capital de Pedro, e todo o ódio da Modernidade à Santa Igreja de Deus. E acrescentou ele ainda que não se sabe qual é o maior, se o ódio, se o amor, a Roma.
A História é um eterno combate entre esse amor e esse ódio.
Ainda há pouco, o Santo Padre Bento XVI, gloriosamnete odiado pela Mídia – aquela que sempre externa La Voce del suo Padrone—relembrou a lição de Santo Agostinho que a Historia é um eterno combate entre dois amores: de um amor à Verdade e ao bem, e de um amor à Mentira e ao mal.
”Dois amores construiram duas cidades. O amor a Deus levado até ao desprezo de si mesmo, construiu a Cidade de Deus.Enquanto o amor de si mesmo levado até o desprezo de Deus contruiu a Cidade terrena” (Santo Agostinho, Civitas Dei, Vozes, Petrópolis, 1990, vol II, Livro XIV, cap. XXVIII).
A Civitas Dei é a Igreja Católica e a Civilização que ela instituiu. A Civitas hominis é a Modernidade. E entre essas duas Cidades existe uma luta inconciliável, que durará até o fim dos tempos.
Certamente o amor a Roma é maior que o ódio a ela, mesmo que hoje domine o ódio exclusivamente o mundo. Apesar de tudo, porém, o amor a Roma será o vencedor. Porque a Roma católica é imperecível. Roma é a cidade eterna, porque “as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”. A Mentira não prevalecerá sobre a Igreja Católica, cuja sede está em Roma eterna.
Ir ver a Europa , é ir ver o que a Santa Igreja construiu através dos séculos. E como ensinou Leão XIII, na encíclica Immortale Dei, o ódio dos maus jamais poderá apagar os traços de luz com que a Igreja, aplicando a filosofia do Evangelho, construiu de Civilização Cristã, no decorer da história, mormente na Idade Média.
Ë verdade que a Modernidade pichou o Transtevere e profanou os púlpitos e as cátedras universitárias fazeno descer deles a mentira. Mas o que faz a Modernidade é só emporcalhar a beleza, como os judeus só conseguiam escarrar na face de Cristo, sem atingir sua majestade infinita do Rei da glória. E os olhos deles, um dia, “contemplarão-- um dia-- naquele que eles mesmos transfixaram” Videbunt ïn quem transfixerunt (São João, XX, 37).
Mas não quero falar hoje da beleza das Igrejas, das ruínas sagradas, e nem das Catedrais. Não quero falar do esplendor de Veneza, nem da Majestade das Basílicas romanas. Quero contar apenas do que encontrei na Capela do Santíssimo, quase vazia, em San Marco, essa jóia quase celestial, construída sobre as ondas da Laguna de Veneza.
Pois, na Basílica de São Marcos, diante do Santíssimo Sacramento exposto para a visitação e adoração pública do “pusillus grex”, encontrei um desses folhetos que se costumam encontrar, hoje, desgraçadamente nas igrejas.
Olhei-o com desconfiança e tomei-o prevendio nas mãos, porque sei quantas heresias se lêem hoje nesses folhetos de igrejas pelo mundo afora.
Milagre!
Encontrei no folheto um texto precioso que logo copiei e que passo, in dulce jubilo, aos leitores do site Montfort. É um presente que lhes trago.
Havia naquele folheto uma preciosa oração escrita por São Tomás de Aquino, para ser rezada diante do Santíssimo Sacramento.
Eis essa maravilha, provinda dos seculos que um autor -- (apesar de liberal, portanto mau) – chamou de “doce primavera da Fé’.
Aspirem , pois os leitores do site Montfort esse doce perfuma evolado de um aoração escrita pelo Anjo da Escola.
“Ó Jesus, que tanto me amas. Ó Jesus, que aqui estás realmente presente e escondido na Sagrada Hóstia, escuta-me.
Que tua Vontade seja também a minha vontade.
Dá-me encontrá-la e cumpri-la.
Tens sobre mim desígnios determinados. Fazei com que eu os conheça, e dá-me de segui-los até a salvação definitiva de minha alma.
Torna-me, ó Jesus, amarga toda alegria que não seja também a tua.
Torna-me impossível qualquer desejo que não seja o teu.
Torna-me deliciosa toda fadiga suportada por Ti.
Torna-me insuportável todo repouso que não seja em Ti.
Concede-me falar sem hipocrisia.
Temer, sem sem desespero.
Esperar, sem presunção.
Ser puro, sem mancha.
Sofrer, sem lamentação.
Ó Jesus, Bondade infinita, rogo-te que me dês um coração fiel e generoso.
Dá-me um coração que não vacile.
Dá-me um coração que jamais se rebaixe.
Dá-me um coração indômito, sempre pronto a lutar em qualquer tempestade.
Dá-me um coração livre, um coração reto que nunca se perca em desvios tortuosos.
Na penitência e nos sofrimentos, faze-me sentir os espinhos de tua coroa.
E com tua graça derrama sobre mim os dons de teu Amor na estrada deste meu exílio, a fim de que eu alcance o júbilo eterno de tua eterna via, inebriada a minha alma na pátria celeste”.
***
E più non dicco. E più non dicco…
Que dizer qualquer coisa mais, seria conspurcar com minhas palavras pobres tanta beleza e tanta verdade.
São Paulo, 23 de Abril de 2009.
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"Retornando de uma viagem ao passado"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/viagem_roma/
Online, 21/11/2024 às 08:37:23h