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Tradicionalistas de peitoril
É notável como, nos dias de hoje, se multiplicam pretensos doutos em direito canônico, liturgia, tradição, moral e assuntos afins, fiscais da retidão e integridade doutrinária expressa em cada movimento do clero, com especial atenção ao Papa, é claro. O terreno fértil para essa efusão é a Internet, em seus blogs e redes sociais, que são talvez a expressão máxima do liberalismo na atualidade. Nela não existe verdade ou autoridade. Cada um diz o que quer, muitas vezes anonimamente, e todas as opiniões têm o mesmo valor, sendo que o que determina sua credibilidade e suposta veracidade é o número de “curtidas” que cada uma recebe. Desde o início do reinado de Francisco, a principal ocupação de certos grupos ou indivíduos, ditos tradicionalistas, tem sido noticiar cada palavra, gesto ou iniciativa do Papa que possa significar uma rejeição à doutrina tradicional e aproximação com a teologia da libertação, comunismo, anticlericalismo, relativismo religioso etc. Nem mesmo a cor de seus sapatos escapou de especulações. Hoje já há quem chegue a acusa-lo abertamente de heresia e aluda a São Roberto Belarmino para justificar que deva ser deposto. Tal comportamento se parece muito com o da “velha fofoqueira” que, sem ter ocupação mais útil, se debruça na janela para observar o movimento da rua. Atenta a cada pormenor que consegue pescar da vida alheia, ela se apressa a noticiar aos quatro ventos as falhas morais da vizinhança. A respeito disso, algum blogueiro neologista talvez pudesse escrever páginas e páginas denunciando o que chamaria de “tradicomadrismo”. Ora, mas isto é justificável visto que, antes de Francisco, a Igreja teve apenas papas... Santos? Não. De fato, o peitoril é uma “velha” tradição. Hoje seu alvo é o Papa Francisco, mas não há muito tempo foram também Bento XVI e João Paulo II. E se no tempo de João XXIII a Internet já fosse tão massificada quanto é hoje, talvez fossem organizadas manifestações populares pedindo um impeachment papal. Infelizmente “os piores inimigos da Igreja estão dentro dela”, como afirmava São Pio X na Pascendi (http://www.montfort.org.br/pascendi-dominici-gregis-2/) e sempre estiveram. Por isso mesmo, sua história bimilenar deveria ser prova suficiente, mesmo para os mais incrédulos, de que as portas do inferno jamais prevalecerão sobre ela. Mas mesmo a História não tem valor maior que a promessa de Nosso Senhor, e por isso nenhuma prova pode, de fato, ser suficiente para alguém que não confia na palavra de Cristo. Assim a chamada “direita católica” rejeita e se afasta da autoridade papal e se pretende, ela mesma, a guardiã da integridade doutrinária do Catolicismo e a resposta para a crise da Igreja. Não é à toa que, ainda há pouco, um consulente questionava o motivo de a Montfort atacar “movimentos de direita”, mas não comentar “o que diz e faz o Papa Francisco” (http://www.montfort.org.br/por-que-voces-nao-atacam-o-papa-francisco/). Isso é sintomático e demonstra uma completa inversão da noção de hierarquia, na medida em que se colocam em nível de igualdade o chefe supremo da Igreja e um “movimento de direita” qualquer. O Prof. Orlando sempre defendeu que a solução para a crise da Igreja seria dada pelo Papa (http://www.montfort.org.br/qual-a-solucao-para-os-problemas-da-igreja/) e, com a devida confiança e devoção ao papado, exclamava “‘Viva o Papa!’, qualquer que ele seja” (http://www.montfort.org.br/viva-o-papa/). Da mesma forma continua exclamando a Montfort, desde a eleição de Francisco (http://www.montfort.org.br/vai-francisco-e-repara-a-minha-casa-que-como-ves-esta-em-ruinas/). Não obstante, é verdade que a Montfort sempre criticou duramente o Concílio Vaticano II, bem como os Papas João XXIII e Paulo VI, seus promotores. Numa rápida busca em nosso site, é possível encontrar diversos artigos que demonstram como estes Papas tinham ideias (ou ideais) modernistas e relativistas, mantinham relações muito próximas com o comunismo e a Maçonaria e contribuíram para que, por meio do Concílio Vaticano II, a religião do Deus que se fez Homem se encontrasse com a religião do homem que se faz deus (http://www.montfort.org.br/anotacoes-esquecidas-viii-dogmas-da-nova-religiao-a-basic-religion/). De fato, pode-se até dizer que isso faz parte do cerne de todo o apostolado da Montfort, que é a defesa da liturgia tradicional e o retorno e difusão da Missa de São Pio V, na medida em que a evidência desses erros corrobora aquilo que defendemos. Não há nisso uma contradição? Se a Montfort confia no Papa, por que rejeita o Vaticano II? Se critica João XXIII e Paulo VI, por que então não “ataca o Papa Francisco”? O respeito à hierarquia da Igreja e a legitimidade do Papa não pode ser desculpa para que fechemos os olhos para os erros que ameaçam a fé e a moral católicas, ainda que estes sejam proferidos pelo próprio Papa. Senão estaríamos confundindo infalibilidade e impecabilidade (http://www.montfort.org.br/infalibilidade-papal-3/). Porém uma crítica a tão grande autoridade deve ser, no mínimo, cuidadosa. O distanciamento histórico dos eventos decorridos durante o papado de João XXIII e Paulo VI nos permite analisa-los com mais clareza e compreender suas relações naquele contexto e suas consequências nos dias de hoje. Percebemos hoje quais princípios sustentaram os abusos litúrgicos e a crise de fé que a Igreja vive atualmente e como estes princípios se instalaram entre os católicos. Denunciar estes erros é a forma com que podemos corrigi-los e nos distanciar deles no futuro. Isso difere enormemente do alarmismo propagado frente a cada palavra de Francisco em seus sermões ou em entrevistas de veracidade sempre suspeita (http://www.montfort.org.br/a-verdadeira-falsa-entrevista-de-francisco-ao-la-repubblica/). Ou ainda das especulações sobre os motivos pelo quais ele se refere a si mesmo como “Bispo de Roma”, prefere o crucifixo de latão, mora num lugar e não noutro, anda de ônibus, usa sapatos pretos, faz ligações telefônicas etc. etc. etc... Em pouco mais de dois anos de papado, obviamente, não é possível avaliar a totalidade do trabalho de Francisco, nem julgar suas intenções, e muito menos vislumbrar os desdobramentos de suas ações no futuro da Igreja. Portanto, qualquer iniciativa nesse sentido não passa, como já dito, de especulação. É claro que também há questões em curso muito mais sérias do que as citadas acima. Devemos sim estar atentos, combater e guardar a fé. E isso não se faz debruçado no peitoril sensacionalista de blogs e redes sociais, entre compartilhamentos e “curtidas”, mas sim com trabalho e exemplo; com o esforço para levar a Missa a tantas paróquias quantas for possível; com o incentivo e apoio à formação de padres e seminaristas, ainda que para tanto seja necessário enviá-los ao outro lado do Atlântico; com famílias dispostas a contrariar a cultura homicida do mundo, aceitando com alegria os filhos que Deus lhes dá. Quanto ao Papa, em lugar de contabilizar cada martelada no cravo ou na ferradura, é sempre mais prudente não perder de vista a promessa de Cristo para São Pedro. Por ser palavra do próprio Deus, é a garantia para todo católico de que a Igreja é vitoriosa (http://www.montfort.org.br/discurso-proferido-por-alberto-zucchi-no-jantar-da-montfort-em-13-12-2014-nos-ja-vencemos-porque-na-igreja-o-sol-nunca-se-poe/) e devemos ter mais confiança nela do que nos julgamentos que fazemos a respeito de como o Papa deve ou não proceder. No sonho de Dom Bosco, também vale lembrar, é o Papa que “pondo o inimigo em fuga e superando todos os obstáculos” conduz a nave da Igreja para as colunas da Eucaristia e de Nossa Senhora. Não há menção a nenhum “movimento de direita”.Para citar este texto:
"Tradicionalistas de peitoril"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/tradicionalistas-de-peitoril/
Online, 21/11/2024 às 09:24:52h