Artigos
Crônicas
Mensagem de Natal - 2005
Orlando Fedeli
Mudou o Natal?
Não mudei eu.
Neste mundo ateu, mudou o Natal.
Porque o verdadeiro Natal nunca muda, pois não muda também a compreensão do que é o Natal na alma dos católicos de verdade.
Nessas almas, mais do que o consumismo estúpido, mais do que a tola encapotada vermelha figura do Papai Noel, em seu trenó deslizante no verão brasileiro, mais do que a maçante Gingle Bells, exaustivamente tocada nas lojas com descartáveis produtos coloridos, ressoa o hino cantado pelos anjos “Glória in excelsis Deo”. Ressoam as puras notas do “Puer natus est nobis, et filium nobis est datum”. Porque, para nós que “habitávamos nas sombras da morte, para nós brilhou uma grande luz”.
Pediram-me para escrever uma mensagem de Natal aos leitores do site Montfort.
Que escrever?
Repetir as fórmulas que se tornaram tão esvaziadas de tanto serem repetidas? Essas fórmulas que todos dizem, sem saber o que é o Natal: “Feliz Natal para você?”.
Que se entende, hoje, que é um “Feliz natal, para você” ?
No máximo da inocência, um regabofe em família, com presentinhos, beijinhos e indigestão.
E quando o Natal não é tão inocente...
Quando o Natal não é tão inocente se realiza o canto pagão e naturalista; “Adeus ano velho. Feliz ano novo. Muito dinheiro no bolso. Saúde para dar e vender”.
Eis a felicidade pagã: dinheiro, saúde, prazer.
Sem Deus. Sem Redenção. Sem alma.
Que triste Natal esse!
Que infeliz e decrépito ano novo, tão igual aos velhos anos do paganismo!
Será que o povo que habitava nas sombras da morte já não vê a grande luz que brilhou para ele em Belém?
Que grande escuridão baixou sobre o povo católico redimido pelo Deus Menino, depois que a fumaça de Satanás invadiu o Templo de Deus!
Até a luz do Natal está ofuscada. E quão poucos compreendem essa luz!
Por isso, para dar o que podemos para os católicos que nos lêem, para que tenham um santo Natal, decidimos repetir o que todo o mundo sabia antigamente, antes que a fumaça de Satanás invadisse o templo de Deus. Decidimos recontar o que o povo aprendia dos sermões, quando havia púlpitos, quando havia sermões, quando havia padres que sabiam o que dizer nos sermões.
Porque houve esse tempo...
No presépio se conta tudo.
Tudo está lá bem resumido. Mas o povo olha as pequenas figuras e não compreende o que significa que um Menino nos foi dado, que um Filho nasceu para nós.
No presépio se vê um Menino numa manjedoura, entre um boi e um burro...
A Virgem Maria, Mãe de Deus adorando seu Filhinho que é o Verbo de Deus encarnado, envolto em panos. São José, contemplando o Deus Menino tiritante de frio, à luz de uma tosca lanterna.
Um anjo esvoaçante sobre a cabana rústica. Uma estrela. Pastores com suas ovelhas, cabras e bodes. Um galo que canta na noite. Os Reis que chegam olhando a estrela, seguindo a estrela, para encontrar o Menino com sua Mãe.
Tudo envolto no cântico celeste dos anjos;
“Glória a Deus nas alturas! E paz, na terra, aos homens que têm boa vontade” (Luc. II, 14)
Isso aconteceu nos dias de Herodes, quando César Augusto decretou um recenseamento.
E como não havia lugar para Maria e José na estalagem, em Bethleem, terra de Davi, eles tiveram que se refugiar numa cocheira, entre um boi e um burro.
Porque assim se realizaram as profecias:
* “E tu, Bethleem Efrata, tu és a mínima entre as milhares de Judá, mas de ti há de me sair Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o Princípio, desde os dias da eternidade”, como profetizou o Profeta Miquéias (Mi. V, 1).
** ”O Senhor vos dará este sinal: uma Virgem conceberá, e dará à luz um filho, e seu nome será Emanuel” (Is. VII,14)
*** “O Boi conhece o seu dono, e o burro conhece o presépio de seu senhor, mas Israel não me conheceu e o meu povo não teve inteligência” profetizou Isaías muitos séculos antes (Is. I,3).
E Cristo, nos dias de Herodes, nasceu em Bethleem que quer dizer casa do pão (Beth = casa. Lêem = pão).
Cristo devia nascer em Belém, casa do pão, porque Ele é o pão que desceu dos céus, para nos alimentar. Por isso foi posto numa manjedoura, para alimentar os homens.
Devia nascer num estábulo, porque recebemos a Cristo como pão do Céu na Igreja, representada pelo estábulo, visto que nas cocheiras, os animais deixam a sujeira no chão, e comem no cocho. E na Igreja os católicos deixam a sujeira de seus pecados no confessionário, e, depois, comem o Corpo e bebem o Sangue de Jesus Cristo presente na Hóstia consagrada, na mesa da comunhão.
Jesus devia nascer de uma mulher, Maria, para provar que era homem como nós. Mas devia nascer de uma Virgem — coisa impossível sem milagre — para provar que era Deus. Este era o sinal, isto é, o milagre que anunciaria a chegada do Redentor: uma Virgem seria Mãe. Nossa Senhora é Virgem Mãe. E para os protestantes, que não crêem na virgindade perpétua de Maria Santíssima, para eles Maria não foi dada por Mãe, no Calvário.
Pois quem não tem a Maria por Mãe, não tem a Deus por Pai.
E por que profetizou Isaías sobre o boi e o burro no presépio?
Que significam o boi e o burro?
O boi era o animal usado então, para puxar o arado na lavoura da terra.
Terra é o homem. Adão foi feito de terra. Trabalhar a terra é símbolo de santificar o homem. Ora, os judeus tinham sido chamados por Deus para ser o sal da terra e a luz do mundo, isto é, para dar vida (sal) espiritual, santidade, aos homens, e ensinar-lhes a verdade (luz).
O boi era então símbolo do judeu.
O burro, animal que simboliza falta de sabedoria, era o símbolo do povo gentio, dos pagãos, homens sem sabedoria.
Mas Deus veio salvar objetivamente a todos os homens, judeus e pagãos. Por isso, no presépio de Cristo, deviam estar o boi (o judeu) e o burro (o pagão).
Foi também por isso que Jesus subiu ao Templo montado num burrico que jamais havia sido montado, isto é, um povo pagão que não fora sujeito ao domínio de Deus. E os judeus não gostaram que o burro fosse levado ao Templo, isto é, que Cristo pretendesse levar também os pagãos à casa de Deus, à religião verdadeira. Por isso foi escrito: “mas Israel não me conheceu e o meu povo não teve inteligência”.
Como também o povo católico, hoje, já não tem inteligência para compreender o Natal, pois “coisas espantosas e estranhas se tem feito nesta terra: os profetas profetizaram a mentira, e os sacerdotes do Senhor os aplaudiram com as suas mãos. E o meu povo amou essas coisas. Que castigo não virá, pois, sobre essa gente, no fim disso tudo?” (Jer. V, 30-31).
Pois se chegou a clamar: “Glória ao Homem, já rei da Terra e agora príncipe do céu”, só porque o homem fora até a Lua num foguete, única maneira do homem da modernidade subir ao céu.
No Natal de Cristo, tudo mostra como Ele era Deus e homem ao mesmo tempo.
Como já lembramos, Ele nasceu de uma mulher, para provar que era homem como nós. Nasceu de uma Virgem, para provar que era Deus.
Como um bebê, Ele era incapaz de andar e de se mover sozinho. Como Deus, Ele movia as estrelas.
Como criança recém nascida era incapaz de falar. Como Deus fazia os anjos cantarem.
Ele veio salvar objetivamente a todos, mas nem todos o aceitaram. E Herodes quis matá-lo.
Ele chamou para junto de si, no presépio, os pastores e os Reis, para condenar a Teologia da Libertação e os demagogos pauperistas que pregam que Cristo nasceu como que exclusivamente para os pobres.
É falso.
Assim como o sol brilha para todos, Deus quis salvar a todos sem acepção de pessoa. Por isso chamou os humildes e os poderosos junto à manjedoura de Belém.
Mas, dirá um seguidor do bizarro frei Betto ou do ex frei Boff, que nada compreendem do Evangelho pois o lêem com os óculos heréticos e assassinos de Fidel e de Marx, sendo “cegos ao meio dia” (Deut. XXVIII, 29): Deus tratou melhor os pastores pobres, pois lhes mandou um anjo, do que os reis poderosos, exploradores do povo, aos quais chamou só por meio de uma estrela.
É verdade.
Deus tratou melhor aos pastores. Mas não porque eram pastores, e sim porque eram judeus. Sendo judeus, por terem a Fé verdadeira, então, mandou-lhes um sinal espiritual. Aos reis magos, porque pertenciam a um povo sem a religião verdadeira, mandou-lhes um sinal material: a estrela.
No presépio havia ovelhas e bodes, porque Deus veio salvar os bons e os pecadores.
E a Virgem envolveu o menino em panos.
Fez isso, é claro, porque o pequeno tinha frio, e por pudor.
Mas simbolicamente porque aquele Menino —que era o Verbo de Deus feito homem—, que era a palavra de Deus humanada, tinha que ser envolta em panos, pois que a palavra de Deus, na Sagrada Escritura, aparece envolta em mistério, pois não convém que a palavra de Deus seja profanada. Daí estar escrito: “A glória de Deus consiste em encobrir a palavra; e a glória dos reis está em investigar o discurso” (Prov, XXV, 2).
E “Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado, e o império foi posto sobre os seus ombros, e seu nome será maravilhoso, Deus Poderoso, Conselheiro, o Deus eterno, o Príncipe da Paz” (Is. IX, 5).
Porque todos os homens, em Adão, haviam adquirido uma dívida infinita para com Deus, já que toda culpa gera dívida conforme a pessoa ofendida. E a ofensa de Adão a Deus produzira dívida infinita, que nenhum homem poderia pagar, pois todo mérito humano é finito. Só Deus tem mérito infinito. Portanto, desde Adão, nenhum homem poderia salvar-se. Todos nasceriam, viveriam e iriam para o inferno. E a humanidade jazia então nas sombras da morte.
Mas porque Deus misericordiosamente se fez homem, no seio de Maria, era um Homem que pagaria a dívida dos homens, porque esse Menino, sendo Deus, teria mérito infinito, podendo pagar a dívida do homem. Por isso, quando Ele morreu por nós, foi condenado por Pilatos, representando o maior poder humano — o Império — que O apresentou no tribunal dizendo: “Eis o Homem”. (Jo XIX, 5)
Ele era O Homem.
Era um homem que pagava os pecados dos homens assumindo a nossa natureza e nossas culpas, mas sem o pecado. Era Deus-Menino sofrendo frio e fome por nossos confortos ilícitos e nossa gula, na pobreza e no desprezo, por nossa ambição e nosso orgulho.
E os pastores e os Reis O encontraram com Maria sua Mãe, para mostrar que só encontra a Cristo quem O busca com sua Mãe. E para demonstrar que diante de Jesus, ainda que Menino, todo poder deve dobrar o joelho.
E os pastores levaram ao Deus Menino suas melhores ovelhas, e seus melhores cabritos, enquanto os Reis Lhe levaram mirra, incenso e ouro. A mirra da penitência. O incenso da adoração. O ouro do poder.
Tudo é de Cristo.
Todos, levando esses dons, reconheciam que Ele era Deus, o Senhor de todas as coisas, Ele que dá todas as ovelhas e cabras aos pastores. Ele que dá aos Reis o poder e o ouro.
Deus é o Supremo Senhor de todas as coisas. Ele é o Soberano Absoluto a quem devemos tudo. E para reconhecer que Ele é a fonte de todos os bens que temos é que devemos levar-Lhe em oferta o melhor do que temos.
Levar a Deus o melhor do que temos...
Que tem o site Montfort para levar a Jesus Menino, “a Verdade nos braços de Maria”?
O site Montfort quer levar neste Natal, a Jesus Menino, por meio de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe dEle, o melhor do recebemos neste ano.
Em primeiro lugar, tantas almas que se converteram através das polêmicas que mantivemos. São essas almas, tocadas pela graça de Deus, que levamos ao presépio de Belém, neste Natal, rogando a Jesus que as mantenha em sua graça e em seu santo serviço.
Carregamos também para o presépio a pesada carga de tantas ofensas que recebemos. Elas são nossa penitência por tantos erros que cometemos na vida, e que pagam nossos pecados.
É bem o pesado “Quadro de Honra” da Montfort, que levamos a Jesus Menino, como a dizer-lhe: "Vede senhor Jesus, o que sofremos por teu Nome. Esse é o nosso galardão. E por causa dele Vos rogamos o perdão para aqueles que nos ofenderam. Possa nosso sofrimento pagar nossas culpas, e, mais ainda, obter de Vós a graça para tantos que Vos odeiam, por tanta ignorância devida ao abandono em que estão. São como ovelhas selvagens sem pastor, porque os pastores as deixaram desgarrar-se."
Levamos ainda ao presépio as cartas de nossos amigos e benfeitores, rogando que o Menino Jesus os recompense.
E levamos um pedido: que nos envie santos sacerdotes, que com boa doutrina nos substituam ensinando a verdade e nos sustentem com seus conselhos e com santa doutrina. Sobretudo rogamos a Jesus Menino, neste Natal em que a esperança brilha no horizonte de Roma, que dê forças ao Papa Bento XVI para combater os lobos que o ameaçam por causa de seus atos contra a infiltração de hereges e homossexuais na Igreja, nos seminários, e nas cátedras. Que o Menino Jesus lhe dê forças para enfrentar os Modernistas que querem fazer uma Igreja adaptada ao Mundo moderno, esquecendo-se que todo o mundo está posto no maligno.
Junto ao presépio depositamos nossa miséria e nossas fraquezas; nossos combates, nossos triunfos e nossas derrotas; nosso apostolado e nossas almas, as almas de todos os Membros e Amigos da Montfort, pedindo a Nossa Senhora que rogue a Jesus por todos nós, e que seu Coração Imaculado triunfe logo mais, e, se possível, ainda pelas próximas decisões do Papa Bento XVI.
E que sejam muito já.
No Natal, nós católicos festejamos o nascimento do Redentor, a possibilidade que a humilhação e o sofrimento de Deus conquistaram para nós: a possibilidade de ir ao céu.
E uma grande luz brilhou para os que habitavam nas sombras da morte.
Mas hoje quem se lembra da Luz de Cristo?
Hoje, até parece que nem houve Natal. Mas a luz de Cristo é imperecível e brilhará para sempre, por mais que a fumaça de satanás tenha penetrado até no Templo de Deus.
O sol está caindo obscurecido, como caiu em zig-zag em Fátima em 1917. O sol em queda em direção à terra. A Igreja caindo em direção ao Homem, ao antropocentrismo.
Que, como em Fátima, em 1917, Nossa Senhora detenha essa queda e faça brilhar a luz sobre Roma.
Pois, como em Fátima, em 1917, ainda há almas nas quais a fumaça de Satanás não penetrou.
Que para você, meu paciente leitor do site Montfort, que para você brilhe a luz de Cristo com Maria, neste Natal.
Que para todos, graças a Deus e ao pontificado de Bento XVI — que anuncia grandes novas — brilhe a luz imperecível da Igreja Católica, fora da qual não há salvação. Fora de cuja luz só há trevas.
Um santo Natal é o que a Montfort deseja a todos.
São Paulo 25 de dezembro de 2005
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"Mensagem de Natal - 2005"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/natal2005/
Online, 21/12/2024 às 18:33:34h