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"O orgulho da Espanha humilhado pelo Almirante Vernon"
“O ORGULHO DA ESPANHA HUMILHADO PELO ALMIRANTE VERNON”
-A curiosa história da cunhagem de uma moeda. E de uma orelha-
À memória de Blas de Lezo, um herói de Sua Majestade Católica[1].
Em 1741, o rei da Inglaterra, Jorge II, mandou cunhar uma moeda. Na cara estava escrito: “O orgulho da Espanha humilhado pelo Almirante Vernon” e na coroa estava escrito: “Autêntico herói britânico tomou Cartagena em 1741”. A efígie mostra Blas de Lezo, almirante espanhol, de joelhos ante Vernon, almirante inglês. Um detalhe: as moedas foram feitas antes do desfecho da batalha de Cartagena de Índias. Esta luta foi o apogeu de uma guerra causada por causa de uma orelha. Cuida-se da “Guerra da Orelha de Jenkins”. No século XVIII, duas potências marítimas disputavam os mares caribenhos: Inglaterra e Espanha. A primeira era uma nação desafiante e ascendente, protestante e orgulhosa. A segunda era uma potência decadente, porém, ainda católica.[2] A Inglaterra ia conhecer o apogeu no século XIX, tempo do império onde nunca o sol se punha, o segundo. Tempo da “Pax Britannica”, do liberalismo, das monarquias românticas e falsas. Época que conheceu guerras, fomes e massacres. A Inglaterra protestante era terra de corsários e de falsos heróis. Era sede das companhias majestáticas que exploravam os mares e terras com intuito de lucro. A Espanha já se distanciava de seu apogeu, dos tempos do império onde nunca o sol se punha, o primeiro. Os “tercios”[3] já haviam acabado, os conquistadores já tinham morrido. Já não era mais o “século de ouro”. A Espanha também era terra de uma Companhia que queria ganhos, mas um lucro diferente. A Espanha era o local da Companhia de Jesus que convertia os gentios e ganhava almas para Deus. Um dos corsários ingleses que assolavam o Caribe, era Jenkins. Certa feita (1739), ele foi capturado pelo espanhol Julio León Fandiño. Pelo direito da época, este poderia ter cortado a cabeça de Jenkins, mas cortou só a orelha. Fandiño mandou o corsário de volta para casa e enviou como recado (além da orelha cortada) ao rei da Inglaterra, que este parasse de enviar corsários, caso contrário, poderia perder a orelha também: “Vê e dize a teu rei que o mesmo lhe farei se ao mesmo se atreve” Digamos que foi um puxão de orelha bem dado. Jenkins voltou à Inglaterra com a orelha cortada e contou o ocorrido. O parlamento inglês jurou vingança pela humilhação, seguiram-se discursos inflamados e falas iracundas. O rei ordenou que se fizesse a maior armada da história. Vernon, então o melhor almirante inglês, organizou uma armada de quase 200 navios e pouco mais de 30 mil homens, a maior da história até o desembarque da Normandia em 1944. “Espanha delenda est”. Vernon partiu para o Caribe e conquistou Portobello, no Panamá. A vitória foi tão esplêndida que ele enviou uma carta para sua esposa dizendo que estava confiante da vitória em outras praças e que Deus estava do lado dele. Na sequência, dirigiu-se a Cartagena, bela e importante cidade portuária onde pregou São Pedro Cláver. Vernon cercou-a e deu início a uma pesada batalha que ia durar 60 dias. Um veterano chamado Blas de Lezo organizou a resistência da cidade. Ele reuniu 6 navios (Galicia, Conquistador, San Felipe, Dragon, El África e San Carlos) e menos de 4.000 homens. Vernon contava com 195 barcos. A proporção de forças era de 1 espanhol para 9 ingleses e de um barco para trinta. Quem era Blas de Lezo? Na ocasião, ele tinha 54 anos e era um homem alquebrado por causa de muitas batalhas no mar. Não tinha um olho, nem um antebraço, nem uma parte de uma perna. Jocosamente, os inimigos diziam que ele era “meio homem”. Mas, a sua alma parecia ter o dobro de tamanho... Era basco, assim como Santo Inácio de Loyola. Ainda jovem, ingressou nas armadas. Destacou-se pela bravura em 1704, na guerra da sucessão espanhola, onde perdeu a perna. Em 1707, com mais atos de bravura na defesa do castelo de Santa Catarina, perdeu o olho esquerdo. Em certa ocasião, cercado pelos anglo-holandeses, pôs fogo em seus próprios navios para fazer uma cortina de fumaça e assim despistar os hereges. Conseguiu escapar. Em 1710, em inferioridade numérica, capturou o navio “Stanhope”, humilhando os ingleses. Recebeu muito ferimentos. Em 1712, no ataque a Barcelona, perdeu parte do braço direito. Aos 25 anos, já era o “meio homem” e continuava lutando. Na rebelião em 1714, em Mallorca, bastou desembarcar, sem lutar, para os rebeldes se renderem. Em 1716, com as naves Lanfranco, Conquistador, Triunfante e Peregrina, limpou o canal de Bahamas de corsários e de piratas. Posteriormente, livrou os mares do sul de outros corsários e piratas. Os piratas passaram a ter medo de Blas de Lezo e fugiam, caso avistassem os barcos dele. Chamado ao Mediterrâneo, Blas de Lezo fez campanhas em Argel e Orán, pondo para correr os mouros. Em Cádiz, doente, declarou às cortes que: “um corpo maltratado como o dele não era uma boa figura para ficar envolto em tanto luxo, na corte, e que seu lugar era nos barcos de guerra”. Foi enviado, então, para Cartagena de Índias em 1739. Mas, e agora? Como conseguiria vencer Vernon em flagrante minoria? Se a Espanha católica (e qualquer católico) fosse preocupada com número, não teria saído de Covadonga. É a mentalidade anglo-saxã nominalista, que defende a primazia do número, da estatística, e crê que o maior é igual ao melhor. A mentalidade ibérica era outra. O número para Deus é relativo. Para os grandes guerreiros católicos, o certo é lutar por Deus, pouco importando o número e o desfecho da contenda. Se morrerem pelo fio de uma espada inimiga, serão heróis e/ou mártires. E se vencerem o inimigo infiel na ponta de suas justas espadas, isto foi bem feito e glorioso: sempre sairão ganhando. Só há verdadeira vitória para os que servem a Deus. Com vasta superioridade numérica, Vernon começou ganhando a batalha em mar e em terra. Achando-se vitorioso, entrou na baía da cidade e enviou um navio de volta à Inglaterra para informar ao rei que a vitória era iminente. A moeda, então, foi cunhada. Porém, o impensável aconteceu. No assalto à fortaleza de São Felipe, que Vernon julgava conquistar para terminar a guerra, os ingleses começaram a perder e as baixas se sucederam em velocidade espantosa. Os espanhóis contra-atacaram. Na linha de frente, Blas de Lezo, o “meio homem”, correu mancando atrás dos ingleses, pondo-os para correr em desabalada carreira. Vernon ordenou um bombardeio severo. Porém, só viu as baixas aumentarem. Só lhe restou, então, uma alternativa ante a uma derrota iminente e mais escandalosa: Fugir. Fugir com uma armada muito maior que a do inimigo, que era liderada por um aleijado. Foi, provavelmente, a maior derrota e a mais humilhante da história da “Royal Navy”. E uma das grandes batalhas navais da história. Blas de Lezo mandou um recado para o rei da Inglaterra: “Se Sua Alteza quiser conquistar Cartagena, mande uma armada maior, porque esta serve somente para carregar carvão da Irlanda para a Inglaterra”. Vernon, na fuga, não cansava de gritar: “Maldito seja Blas de Lezo!” E Cartagena de Índias fala espanhol, até hoje. Será que com toda a força do desembarque da Normandia, os ingleses teriam conquistado Cartagena? Certeza que sim. Desde que Blas de Lezo não estivesse vivo... Quando Vernon chegou à Inglaterra, viu fogos em comemoração de sua suposta vitória. Porém, quando a verdade foi contada... O rei Jorge II, furioso e repetindo Vernon, exclamou: “Maldito seja Blas de Lezo!” Proibiu que se falasse desta guerra[4] e mandou recolher as moedas. Porém, muitas destas moedas já haviam chegado à Ibéria. A Espanha inteira se ria do orgulho inglês[5]. Moeda falsa, ela representa bem o velho Império Britânico, que tinha: Monarquia falsa, onde o rei reina, mas não governa; Falsos heróis, como Isabel I, uma assassina, Francis Drake, um pilhador etc; Falsas filosofias, nominalismo, empirismo, darwinismo etc; E falsa religião. O protestantismo é como uma nota de 3 reais, e malfeita. Está escrito: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Lc 8,8). Porém, mesmo com uma orelha a mais, o rei Jorge II não ouviu o recado espanhol. Será que com mais orelhas a Inglaterra se converteria à verdadeira fé? Dali a algumas décadas, a Espanha ia entrar numa profunda crise e atroz decadência. Porém, naquela batalha, ela fez jus à grande potência católica que foi, terra de Santa Teresa e São Fernando, terra da guerra sem quartel. Honrou seus padroeiros: Santiago e Nossa Senhora. Conta-se que Vernon, sabendo da morte de Blas de Lezo, navegou perto de Cartagena, mas não fez nada... Medo? Vernon caiu em desgraça mas depois foi reabilitado, virou nome de bebida e de uma montanha[6]. Foi enterrado na abadia de Westminster com os seguintes dizeres: “Subjugou Chagres e em Cartagena conquistou até onde a força naval pôde levar à vitória”. Os ingleses insistem em moedas falsas. Blas de Lezo, que morreu (1742) meses depois da batalha e em consequência desta, foi enterrado numa fossa comum. Talvez porque Deus lhe tenha reservado um lugar mais elevado onde não há hereges nem protestantes nem orgulhosos, somente convertidos, católicos e heróis: O Céu. Marcelo Andrade, 23 de agosto de 2013. Na festa de Santa Rosa de Lima, uma santa do antigo Império onde nunca o sol se punha. Em tempo: Em 2005, nas comemorações dos 200 anos da batalha de Trafalgar, na qual a “Royal Navy” conheceu sua mais famosa vitória, pelas mãos do badalado Almirante Nelson, a Inglaterra convidou algumas marinhas europeias para participar da festa. A Espanha enviou uma fragata de nome: Blas de Lezo.Para citar este texto:
" "O orgulho da Espanha humilhado pelo Almirante Vernon""
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/marcelo-andrade-o-orgulho-da-espanha-huilhado-pelo-almirante-vernon/
Online, 21/11/2024 às 09:07:31h