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Ciência e Fé
A ressurreição foi um fenômeno da evolução?
Orlando Fedeli
Os leitores do site Montfort conhecem bem nossa fidelidade e simpatia pelo Papa Bento XVI do qual esperamos o retorno da Missa de sempre. Como Dom Bosco profetizou e Nossa Senhora anunciou no Terceiro segredo de Fátima.
Entretanto, isso não impede que deixemos de notar, com todo o respeito, que em sua homilia do Sábado Santo, vigília da Páscoa, Bento XVI tenha dito algo em que transparece ainda sua formação neo modernista.
Com efeito, disse o Papa nessa ocasião tratando da Ressurreição de Cristo:
“Que significado [a Ressurreição de Cristo] tem para nós? Para o mundo e a história no seu todo? Uma vez, um teólogo alemão afirmou ironicamente que o milagre dum cadáver reanimado – se é que isso verdadeiramente se verificou, fato em que ele, porém, não acreditava – seria, tudo somado, irrelevante precisamente porque não nos diria respeito. Com efeito, se tivesse sido reanimado uma vez apenas um tal, e nada mais… de que modo isso teria a ver conosco? Mas, a ressurreição de Cristo é exatamente algo mais, é uma realidade diversa. É – se nos é permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução – a maior «mutação», em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova, como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver connosco e diz respeito a toda a história”. (Bento XVI, Homilia do Santo Padre Bento XVI na Vigília Pascal de 2006).
Ora, a evolução é um mito, e não uma verdade cientificamente comprovada. Mas, se a evolução fosse um fato da natureza humana, e a Ressurreição de Jesus Cristo tivesse sido uma mera “mutação", como disse Bento XVI, então a Ressurreição não teria sido um milagre, um fato sobrenatural, mas uma mera etapa de transformação humana a que todos estaríamos sujeitos. Cristo não seria Deus, mas apenas o primeiro homem a alcançar essa etapa da evolução, por meio de uma “mutação” , como disse, infelizmente, Bento XVI. Se a Ressurreição fosse uma mutação na evolução biológica, ela nada teria de sobrenatural e seria vã a nossa Fé como disse São Paulo.
Vê-se assim o resultado do abandono da terminologia escolástica para se subordinar à terminologia naturalista moderna: cai- se em erros bem graves.
Claro que essa homilia de Bento XVI não foi feita usando o poder ex cathedra, e que, portanto, pode conter erros. Ora, ensinou o próprio Cardeal Ratzinger:
"Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade [de um pronunciamento papal]." (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes - Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus , São Paulo: Paulinas, 1974, p. 140. destaque nosso).
E é o que aconteceu nessa homilia de Bento XVI, o antigo Cardeal Ratzinger. De modo que, usando do direito que ele mesmo reconheceu a todo fiel de criticar um discurso papal, quando é feito com imprecisão, humilde e respeitosamente fizemos esta crítica ao uso inconveniente do termo “mutação” aplicado à Ressurreição de Jesus Cristo, nessa homilia de Bento XVI.
São Paulo, 17 de Abril de 2,006.
Orlando Fedeli
Para citar este texto:
"A ressurreição foi um fenômeno da evolução?"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/ciencia/ressurreicao_evolucao/
Online, 30/12/2024 às 15:59:28h