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Teologia da "Ecologia Integral" e a defesa do "Ambiente Inteiro"
Orlando Fedeli
Se o mundo moderno está cheio de absurdos, como poderia estar isenta deles o verdeiro "buraco negro" que é, em certo sentido, a Internet?
De fato, na Internet há de tudo. Especialmente absurdos.
Ainda agora recebi um texto no qual os absurdos começam pelo título - "Ame a Terra como a si mesmo "-, continuam pela introdução, invadem o núcleo do artigo e culminam na conclusão.
O texto é assinado por Padre Marcelo Barros O.S.B., Prior do Mosteiro da Anunciação de Goiânia, que se apresenta como autor de "23 livros publicados, entre os quais "A Noite do Maracá".
Se o número de títulos publicados indicasse valor, dever-se-ia concluir que Dom Marcelo é um intelectual de peso.
Como explicar, então, os absurdos que ele assina?
A bem da verdade, a introdução não é de responsabilidade pessoal dele. Mas ele lhe dá seu aval por citá-la de modo elogioso e admirativo.
Essa estapafúrdia introdução nada mais é do que a citação de uma "Carta da Terra", elaborada por "intelectuais".
O Pe. Marcelo Barros nos elucida que os mencionados "intelectuais" são "pessoas engajadas na política". O que significa, obviamente, que são ligados a partidos socialistas. Porque "intectual engajado" sempre é um ser com pretensões a posturas enfumaçadamente filosóficas, e atrelado a uma organização de esquerda.
Normalmente, os tais intelectuais engajados são incensados pela mídia esquerdista, e admirados boquiabertamente pelos "Servos da Mídia".
E como incensa a mídia?
Quando se ouve um locutor anunciar pomposamente: "Vamos ouvir agora o pensamento do 'cientista político' Zero da Silva", pode-se ter a certeza de que se vai ouvir um profundo vazio, discursado com palavras empoladas e slogans da moda, sobre a plenitude do oco, como tema dialética e culturalmente revolucionário.
Desta vez, entretanto, o incensamento provém de alguém duplamente autorizado: um autor de 23 livros publicados, que é, ao mesmo tempo, autor de "A Noite do Maracá" e monge beneditino. Portanto, um especialista na prática de incensamentos. Um incensador em sentido literal e literário.
Pois a introdução que o Padre cita, dos "intelectuais engajados", é do mesmo tipo vazio.
Nela se afirma, por exemplo, que somos uma "comunidade terrestre".
Será possível haver uma comunidade que não seja terrestre? Uma comunidade extra terrestre de ET's movidos a eletrodos e pilhas?
E os intelectuais engajados nos conclamam a "somar forças para ser uma sociedade mundial". De modo que ficamos sabendo que, apesar de já sermos uma "comunidade terrestre", ainda não somos uma "sociedade mundial".
Apesar da globalização e da internet, estamos ainda no nível da periferia. Que desgraça!
Como um monge beneditino, Prior do Mosteiro da Anunciação, nos anuncia tais disparates, sem pestanejar?
O Prior, através da citação de seus "intelectuais engajados" - ou atrelados -, autores da famosa "Carta da Terra", nos diz que essa sociedade mundial deve ser baseada no "respeito pela natureza" (ou seja, ecologismo), nos famosos "direitos humanos" (na verdade, compreensão e defesa dos criminosos), na "justiça econômica" (socialismo) e numa "cultura de paz".
Que seria uma "cultura de paz"?
Certamente o pacifismo mais desbragado. A condenação de toda a guerra. A defesa do fim do embargo a Cuba, a veneração pela China comunista, a política do Zimbabwe, a apologia da política de "doçura" de Winnie Mandela e seus "colares de fogo" (os pneus em fogo que colocavam nos pescoços dos adversários na África do Sul) etc.
Chegando ao segundo parágrafo do texto de Dom Prior, ficamos sabendo os nomes dos famosos "intelectuais engajados": o ex-Frei Leonardo Boff, famoso marxista de sacristia, a cantora Mercedes Soza "e outros", nos diz vagamente o Prior da Anunciação.
Mas que outros? Que intelectuais engajados se ocultam atrás desse brumoso "outros"?
É como se alguém citasse a escalação de um time de futebol dando o nome de dois jogadores apenas.
É muito pouco, Padre.
E de muito pouco valor.
Sim, porque se o ex-Frei Boff - agora Genésio - era um homem que estudava e tinha certa competência, ele só a teve para escrever heresias, defender o comunismo e um imaginário bem estar na URSS, que só ele e Frei Betto visionaram.
Padre Marcelo nos previne que a ''Carta da Terra" "percorre o mundo", "propondo uma nova Ética Internacional", que incluiria - pasmem os leitores - os "Direitos da Terra" (sic!!!) a serem reconhecidos pela famigerada ONU, aquele fórum de palradores vivendo no Nirvana, lá em Nova York ("cette chose - là de New York", como disse De Gaulle).
Eis aí, então, Frei Boff e Mercedes Soza, quais novos Moisés e Miriam, descendo do novo Sinai, carregando as tábuas da Novíssima Lei proclamadora dos direitos da Terra!!! E seguidos pelos... "outros"...
E Padre Marcelo Barros, ele, qual novo anjo do Apocalipse, toca, não o famoso Maracá, mas sim a sua "tuba mirum" para nos prevenir e nos anunciar que, a continuar como estamos, indo pelo caminho que vamos, no ritmo que mantemos, o mundo acaba antes do ano 2025.
"Dies illa, dies irae".
Com maracá e tudo mais!
E Cristo, que disse que ninguém na terra sabe quando será o fim do mundo? Ele devia ter consultado o padre Marcelo Barros, que sabe a data do fim do mundo. Pelo menos condicionalmente.
Solenemente beneditino e terrivelmente apocalíptico, o Prior do Mosteiro da Anunciação de Goiânia nos adverte:
"A vida só consegue sobreviver até o ano 2025".
É o que nos garante, com toda a seriedade e toda a fundamentação ecológica, Padre Marcelo Barros. Pela Internet!
Que pena que eu tenha já 67 anos, e que vá morrer, certamente, antes do ano 2025!
Que pena que eu não esteja vivo em 2025, para perguntar ao Padre Marcelo Barros - que desejo viva bem além dessa data, se Deus quiser - como ele vai explicar aos homens do ano 2026 que o mundo não acabou, que a vida continuou. Isto é, que o mundo gira e que a "Lusitana roda", como dizia uma antiga propaganda de uma velha companhia de transportes...
Como eu gostaria de cobrar do Padre Marcelo Barros o fracasso de sua profecia ecologicamente condicionada!...
Sou até capaz de me esforçar para ficar vivo até lá. Até 2025... Só para isso!
Padre Marcelo parece ser um prior bem diferente de São Bernardo. Um prior que nem São Bento jamais imaginou que haveria um dia em seus mosteiros. Um prior ecológico, mais do que teológico.
Pelo texto que li, parece ser ele moderninho, à la Frei Betto; desses padres que, em vez de se preocuparem em salvar as almas, e em ensinar-lhes o caminho do Céu, cuidam - como todo intelectual engajado - só do "verde"...
Como canta a canção portuguesa, eles - os intelectuais engajados - também poderiam cantar:
"Ái verdinho, meu verdinho,
"esquecer-te não há maneira.
"Tu para mim és pão e vinho,
"e cor de minha bandeira".
Gostaria de lembrar ao Padre Marcelo uma frase famosa de Jesus Cristo, para que a transmita a seus admirados intelectuais engajados: nem de só de pão - ou de "verde" - vive o homem...
Responder-nos-ia Padre Marcelo que não adianta dizer isso, pois que, assegura-nos ele, não só o "verde" está acabando, mas também os animais, e que a Ecologia Ambiental quer dar proteção "ao verde e aos animais ameaçados de extinção".
Seguramente, entre esses animais devem ser incluídos os animais racionais, que guardam bom senso, ainda que não engajados nem atrelados...
Padre Marcelo se revela inteiramente "intelectual" quando escreve este sublime pensamento e esta descoberta extraordinária (atenção, pois a descoberta de Dom Prior é sensacional):
"É importante não só o 'meio ambiente' e sim o ambiente inteiro"Quem jamais havia feito descoberta igual?
Todo o mundo só fala do "meio ambiente".
Pois Padre Marcelo é radical: ele descobriu o Ambiente Inteiro!
Não é realmente sensacional?
Só um autor de 23 livros publicados poderia fazer descoberta tamanha! Padre Marcelo deve ser tido como o Colombo da Ecologia!
Ele deveria ter o seu nome inscrito no Guiness, o tal livro de recordes, em que se registra quem deu a mais distante cusparada, quem comeu a maior batata do mundo, quem ficou dançando mais tempo e outras façanhas do mesmo porte, ou do mesmo naipe.
Padre Marcelo Barros, o descobridor desse eternamente abandonado "Inteiro Ambiente", deveria estar no Guiness.
Indubitavelmente!
No Guiness!
Ou lhe deveria ser dado o prêmio Nobel de Ecologia. Como não se pediu a assinatura do Padre Marcelo para a tal "Carta da Terra"?
Que injustiça!
Que ingratidão da Humanidade!
Entre os intelectuais engajados que a assinaram, faltou o seu nome.
Que assinatura ela perdeu!
Mas o Padre Marcelo se revela em todo o seu profundo pensamento quando ele trata do fundamento teológico de seu ecologismo.
Vejam lá o que diz esse prior - que certamente estudou Teologia -, e "intelectual engajado", tão injustamente esquecido.
Padre Marcelo defende "a 'Ecologia integral', que veja a humanidade e a terra como um só conjunto vivo e orgânico".
Mas que pensamento profundo!!!
É, sem dúvida, uma visão teologicamente minhocal do homem!
Padre Marcelo protestará contra o que digo. Sua cosmovisão - um intectual engajado diria sua "Weltanschauung" -, sua Ecologia Integral, defensora do "Ambiente Inteiro" e não só do "Meio ambiente" - em certas coisas é preciso ser radical! - absolutamente não é minhocal.
Não se ofendam as minhocas!
Que se as respeitem!
Elas também fazem parte do único "conjunto vivo e orgânico" com a terra e conosco.
Não se tenha preconceito ou discriminação para com elas, usando seu digno nome para inventar um adjetivo irônico e sem caridade.
A Teologia do Padre Marcelo Barros é mais profunda e mais científica do que o nível das minhocas e das ironias fáceis.
Não acreditam? Pois vejam lá:
"A Física Atômica nos alerta: isso que vemos não é a realidade última. Por trás dos corpos, há o átomo. No íntimo das mais ínfimas partículas, há uma energia que interliga todos os seres, como em uma dança mística".
Pois parece Parmênides! Ou o gnóstico Teilhard de Chardin!
Mas, se é assim, para que se preocupar em salvar as baleias e os animais em extinção? Para que salvar o sistema ecológico - inclusive as minhocas -, se tudo é a mesma coisa? Ainda que pereçam todas as baleias, todas as minhocas, e todos os intelectuais, engajados ou não, o mundo continuaria a girar pelo espaço. Nada teria, no fundo, mudado.
Tudo continuaria no mesmo conjunto "vivo e orgânico".
Entretanto, Padre Marcelo - novo Parmênides - nos dá a razão última da unidade ontológica em que ele beneditinamente contempla o universo:
"É uma nova espiritualidade que liga Deus e o mundo, universo e ser humano, e este ao cosmos".
Ah!... Agora entendi o que Padre Marcelo pensa!
Para Padre Marcelo Barros, Deus, o universo e o homem são uma só realidade. Viva e orgânica.
O que é puro monismo. E previno que monismo não significa uma visão ontologicamente macacal da realidade.
Não concordo, porém, nem com esse monismo panteísta - ou seria Padre Marcelo teilhardianamente gnóstico? - e nem com a afirmação de que ela é uma nova espiritalidade.
Pois nova, ela não é. De jeito nenhum.
Ela é velha, Padre Marcelo, velha como o Pai da Mentira que "foi homicida desde o princípio".
Essa sua "nova espiritualidade" é velha como o panteísmo pagão. É tão velha como a gnose antiga.
Só não sei se se trata do velho panteísmo ou da velha gnose, porque, da confusa exposição da teologia da "Ecologia Integral", assim como da confusa e vaga defesa do "Ambiente Inteiro", não fica claro se Padre Marcelo repete erros panteístas ou gnósticos.
Em todo o caso, ele não defende a doutrina Católica.
De qualquer modo, em meio a tantos absurdos subscritos pelo Prior da Anunciação, o que se encontra é uma doutrina nada católica.
E, não sei bem o motivo, lembrei-me dos velhos e divertidos artigos que Nelson Rodrigues escrevia, na década de sessenta, contra os padres de passeata e os intelectuais, nos quais ele recomendava: "atrelem os intelectuais!..."
Para citar este texto:
"Teologia da "Ecologia Integral" e a defesa do "Ambiente Inteiro""
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/ciencia/ameaterra/
Online, 21/12/2024 às 13:48:40h