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Duas Pontes: Um Duelo Metafísico entre a Ponte de Besalú e o "Estilingão" de São Paulo
DUAS PONTES:
UM DUELO METAFÍSICO ENTRE A PONTE DE BESALÚ E O “ESTILINGÃO” DE SÃO PAULO[1]
Besalú é uma bonita cidade medieval catalã, cujo principal atrativo é a existência de uma ponte em estilo românico do século XII. A cidade atrai levas de turistas e, como sempre, muitos deles costumam odiar a Idade Média, mas adoram as obras medievais, como a tal ponte: Como se vê, pela foto, trata-se de uma ponte belíssima. Avançando além do prazer estético visual e da lembrança agradável de um passeio feito ao longo de seus 145 metros, podemos elencar as seguintes características simbólicas dela: 1) As torres, presentes nela, historicamente, regulavam o fluxo de pessoas e protegiam a cidade, de modo que os maus eram evitados e os bons eram bem vindos. A analogia com as doutrinas é evidente: as más devem ser esquecidas e as boas, abraçadas, sem relativismo. A ponte, aliás, parece sempre estar de prontidão. 2) A ponte se harmoniza com o entorno, incluindo as pedras encontradas ao longo do rio que passa por baixo, não há negação da natureza, é antignóstica. Ela não tem a "sua verdade", pois, comunga com o entorno e com a cidade um mesmo estilo, ou uma mesma “visão de mundo”, neste conjunto, a unidade transborda. Simbolicamente, a ponte é adepta do “realismo moderado”, bem tomista. 3) A ponte é de pedra, dando a ideia de solidez, de tradição, de perpetuidade. Afinal, a verdade, depois de compreendida, “se petrifica na alma” e se impõe para todos os séculos. 4) Os arcos românicos e as torres “verticalizam” a ponte e a fazem apontar para o céu. Ela transparece humildade, não é individualista, serve à cidade e não a si mesma e como toda arte católica, é teocêntrica. 5) Há uma harmonia perfeita entre utilidade e beleza e não há desproporção de tamanho entre o homem e a ponte, ela, aliás, convida o transeunte para uma meditação. 6) Implicitamente, percebe-se que cálculos estruturais simples foram necessários para a mantença da ponte. É a ciência a serviço do bem. A cidade de São Paulo dispensa apresentações. Nesta cacofônica cidade, uma ponte modernosa chama a atenção: Ela é uma ponte estaiada de 138 metros de altura e de 1600 metros de comprimento. A sua enormidade material é inversamente proporcional à sua beleza. Seu estilo, às vezes, é definido como “pós-contemporâneo”, o que nada significa. Um de seus apelidos é “estlingão”, pois lembra um gigantesco estilingue. Desde sua construção, concluída em 2008, ela se tornou midiática e paradigmática, pois, segundo Cotrim (2015): “ a ponte ultrapassou sua função básica de permitir a circulação dos automóveis e, por meio dessas diversas linguagens, foram produzidos outros efeitos de sentido que a tornaram singular e emblemática na cidade de São Paulo”[2] 1) Na ponte, chama a atenção o “X”, que para Ferreira (2015) [3] pode se relacionar com o “Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci, no qual o homem é representado com mãos e pés esticados. Assim sendo, a ponte remete a uma concepção antropocêntrica de mundo. O “X” pretende unir o céu e a terra nela mesmo, ou, simbolicamente, no homem, de modo dialético.Para citar este texto:
"Duas Pontes: Um Duelo Metafísico entre a Ponte de Besalú e o "Estilingão" de São Paulo"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/arte/duas-pontes-um-duelo-metafisico-entre-a-ponte-de-besalu-e-o-estilingao-de-sao-paulo/
Online, 03/12/2024 às 16:38:59h