Igreja e Religião
Dom Viganò: O COVID e a mão de Deus!
Dom Carlo Maria Viganò
A presente entrevista foi traduzida de The Remnant, que a publicou em 29/03/2020
Excelência, como deve o cristão avaliar a pandemia do covid-19?
+ Carlo Maria Viganò: A pandemia de coronavírus, como todas as doenças e a própria morte, é uma consequência do pecado original. O pecado de Adão, nosso primeiro pai, nos privou não apenas da graça divina, mas também de todas as outras bênçãos que Deus deu à criação. Então a doença e a morte vieram ao mundo como um castigo por desobedecer a Deus. A Redenção que nos foi prometida no Proto Evangelho (Gênesis 3), profetizada no Antigo Testamento e completada com a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor, redimiu Adão e seus descendentes da condenação eterna; mas suas consequências foram deixadas como uma marca da antiga queda e só serão finalmente restauradas na Ressurreição da carne, como proclamamos no Credo, que acontecerá no Dia do Juízo Final. Isso deve ser lembrado, especialmente em um momento em que os princípios básicos do Catecismo são desconhecidos ou negados.
Os católicos sabem que doenças - e, portanto, epidemias, sofrimento e perda de um ente querido - devem ser aceitos em espírito de fé e humildade, além de como expiação por nossos pecados pessoais. Graças à Comunhão dos Santos – através da qual os méritos de todos os batizados são transmitidos a todos os membros da Igreja - também podemos suportar essas provações pelos pecados dos outros, pela conversão daqueles que não creem e para apressar a purificação das Santas Almas do Purgatório. Algo tão terrível quanto o covid-19 também pode ser uma oportunidade para crescermos na Fé e na Caridade ativa.
Como vimos, se considerarmos apenas o lado clínico da doença - contra o qual certamente devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance – acabamos por remover qualquer dimensão transcendental de nossa vida, privando-a desse olhar sobrenatural, sem o qual inevitavelmente nos trancamos em um egoísmo cego e sem esperança.
Vários bispos e padres afirmaram que Deus “não castiga” e que considerar o coronavírus como um flagelo é uma “ideia pagã”. Vossa Excelência concorda com isso?
O primeiro castigo, como eu estava dizendo, foi infligido ao nosso primeiro pai. Contudo, como ouvimos no Exsultet, cantado durante a Vigília Pascal: “O felix culpa, qui talem ac tantum meruit habere Redemptorem!” Ó feliz culpa, que nos mereceu um tão grande Redentor!
Um pai que não castiga seus filhos não os ama, mas os negligencia; um médico que displicentemente observa o paciente piorando até que a gangrena se instale, já não queria sua recuperação. Deus é um Pai amoroso, porque Ele nos ensina o que devemos fazer para sermos dignos da felicidade eterna no Paraíso. Quando desobedecemos Seus mandamentos pecando, Ele não nos deixa morrer, mas vem a nosso encontro e nos envia muitos sinais, às vezes muito severos, para que consertemos nossos caminhos, nos arrependamos, façamos penitência e voltemos à nossa antiga amizade com Ele. “Sereis meus amigos, se fizerdes o que eu ordeno”. Penso que as palavras de Nosso Senhor não deixam espaço para ambiguidade.
Gostaria também de acrescentar que a verdade sobre um Deus justo, que recompensa os bons e pune os maus, faz parte de nossa herança comum, decorrente da lei natural que Nosso Senhor deu a todos ao longo da história. Um chamado irreprimível ao nosso paraíso terrestre, que mostra até aos pagãos como a fé católica é a conclusão necessária de tudo o que os corações sinceros e bem dispostos lhes sugerem. Surpreende-me que hoje em dia, em vez de enfatizar essa verdade inscrita tão profundamente no coração de todos, aqueles que parecem sentir tanta simpatia pelos pagãos não aceitem algo que a Igreja sempre considerou como a melhor maneira de atraí-los.
Vossa Excelência pensa que existem certos pecados que provocam a ira de Deus mais do que outros?
Os crimes que contaminam cada um de nós, aos olhos de Deus, são novos golpes de martelo nos cravos que perfuraram as veneráveis Mãos de Nosso Senhor, são um chicote lacerando a Carne do seu sagrado Corpo, um espinho no Rosto amado. Se ao menos percebêssemos essas coisas, nunca mais pecaríamos. E os pecadores chorariam com profunda tristeza pelo resto de suas vidas. E, no entanto, foi o que realmente aconteceu: durante Sua Paixão, nosso divino Salvador tomou sobre Si não apenas o pecado original, mas também todos os pecados que todos os homens cometeram e cometerão. A coisa mais admirável é que Nosso Senhor morreu na cruz, quando apenas uma gota de seu sangue precioso seria suficiente para redimir todos nós. “Cujus una stilla salvum facere totum mundum quit ab omni scelere”, como São Tomás nos ensina.
Assim como os pecados cometidos pelos indivíduos, também existem os pecados das sociedades, das nações. Aborto, que continua matando crianças inocentes, mesmo durante a pandemia; divórcio, eutanásia, o horror dos chamados "casamentos" gays, a celebração de sodomia e outras terríveis perversões, pornografia, corrupção de crianças, especulações da elite financeira, profanação do domingo e a lista continua ...
Podemos perguntar por que Vossa Excelência faz uma distinção entre os pecados dos indivíduos e os pecados das nações?
São Tomás de Aquino ensina que é dever do indivíduo reconhecer, adorar e obedecer ao único Deus verdadeiro. Da mesma forma, as sociedades - compostas de indivíduos - não podem deixar de reconhecer a Deus e garantir que suas leis permitam que os membros da sociedade atinjam o fim espiritual ao qual foram destinados. Existem nações que não apenas ignoram a Deus, mas negam-no abertamente. Existem aqueles que exigem que seus cidadãos aceitem leis contra a moral natural e a fé católica, como reconhecer o direito ao aborto, eutanásia e sodomia. Outros corrompem crianças e violam sua inocência. Aqueles que permitem às pessoas blasfemarem contra a Divina Majestade de Deus não podem fugir do castigo de Deus. Os pecados públicos requerem confissão pública e expiação pública, para se obter o perdão. Não devemos esquecer que a comunidade eclesiástica, que também é uma sociedade, não está isenta de punição celestial quando seus líderes se tornam responsáveis por ofensas coletivas.
Vossa Excelência está dizendo que a Igreja pode ter falhas?
A Igreja sempre foi infalivelmente santa, porque Ela é o Corpo Místico de Nosso Senhor e Salvador, e seria não apenas imprudente, mas de fato blasfemo até pensar que essa instituição divina que a Providência colocou nesta terra para fornecer a todos nós a graça como a única Arca da Salvação pode ser minimamente imperfeita. Os louvores que atribuímos à Mãe de Deus - a quem chamamos precisamente de Mater Ecclesiae - podem ser atribuídos à Igreja, a Mediadora de todas as graças, através dos Sacramentos, ela é a Mãe de Nosso Senhor, cujos membros ela gera. A Igreja é a Arca da Aliança, guardiã do Santíssimo Sacramento e dos Mandamentos. A Igreja é o refúgio dos pecadores, a quem concede perdão após uma boa confissão. É a Saúde dos Enfermos, de quem sempre cuidou. Esta Rainha da Paz promove a harmonia pregando o Evangelho. No entanto, também é terrível como um exército colocado em ordem de batalha, porque Nosso Senhor deu a seus ministros sagrados o poder de esmagar demônios e a autoridade das Chaves do Céu. Não devemos esquecer que a Igreja não é apenas a Igreja Militante aqui na terra, mas também a Igreja Triunfante e a Igreja Penitente, cujos membros são todos santos.
Devo também dizer que, embora a Igreja seja santa, alguns de Seus membros e sua hierarquia aqui na terra podem ser pecadores. Nestes tempos difíceis, houve muitos clérigos indignos desse nome, como mostraram os escândalos de abuso cometidos por eles e, infelizmente, até por bispos e cardeais. A falta de fé dos sagrados pastores é um escândalo para seus irmãos e para muitos entre os fiéis, não apenas em termos de perversão moral e de sede de poder, mas também - eu diria especialmente - quando tocam a integridade da Fé, a pureza dos ensinamentos da Igreja e a santidade da moral. Atos de gravidade sem precedentes foram cometidos, como vimos com a adoração do ídolo Pachamama no próprio Vaticano. De fato, creio que Nosso Senhor ficou particularmente indignado com a grande multidão de escândalos cometidos por aqueles que deveriam dar um bom exemplo - porque são pastores - aos rebanhos aos quais foram confiados.
Não esqueçamos de que o exemplo dado por muitos na Hierarquia não é meramente um escândalo para os católicos: é um escândalo para aqueles de fora que olham a Igreja como um farol e um ponto de referência. E isso não é tudo: esse flagelo não pode dispensar a Igreja, em sua Hierarquia, de fazer um exame adequado de sua consciência por ceder ao espírito deste mundo. Ela não pode deixar de cumprir seu dever de condenar firmemente todos os erros que permitiu espalhar dentro dela depois do Concílio Vaticano II, pois é isso que está sendo causa de todas estas justas punições. Devemos consertar nossos caminhos e retornar a Deus.
Dói-me dizer que mesmo agora, depois de ver a ira divina castigando o mundo, continuamos ofendendo a Majestade de Deus ao falar da “mãe terra que exige respeito”, como o Papa disse há alguns dias na sua enésima entrevista. O que devemos fazer é pedir perdão pelo sacrilégio perpetrado na Basílica de São Pedro e reconsagrá-la, conforme manda o Direito Canônico, antes que se possa novamente nela celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Também deve ser organizada uma solene procissão penitencial, mesmo que apenas com a participação dos prelados, sob a condução do Papa. Eles devem invocar a misericórdia de Deus sobre si mesmos e sobre o seu povo. Isso seria um sinal da verdadeira humildade, que todos esperamos ver, como reparação de todos os crimes cometidos.
Como devemos conter nossa perplexidade quando ouvimos palavras como as ditas em Santa Marta em 26 de março? O Papa disse: “O Senhor não deve nos encontrar, no fim de nossas vidas, e nos dizer: ‘ Você se perverteu. Você deixou o caminho que eu lhe mostrei. Você se curvou diante dos ídolos.’ Palavras como essas são verdadeiramente desconcertantes, especialmente se lembrarmos que ele próprio provocou um terrível sacrilégio diante dos olhos e ouvidos de todo o mundo, sobre o próprio Altar da Confissão de São Pedro, uma verdadeira profanação, um ato de pura apostasia, com aquelas imagens sujas e satânicas de Pachamama.
Na Festa da Anunciação de Nossa Senhora, os Bispos de Portugal e da Espanha dedicaram seus países ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Os bispos da Irlanda, da Inglaterra e do País de Gales fizeram o mesmo. Em muitas dioceses e cidades de outros lugares, os bispos e as autoridades locais colocaram suas comunidades sob a proteção de Maria Santíssima. Como Vossa Excelência considera esses eventos?
São atos que enchem meu coração de esperança. Embora não sejam suficientes para reparar nossos erros, foram completamente ignorados pelos que estão no topo da Igreja, mesmo que os simples fiéis tenham clamado por atos solenes como esses pelos pastores. Nossa Senhora de Fátima pediu ao Papa e a todos os Bispos que consagrassem a Rússia a Seu Imaculado Coração, e anunciou guerras e desastres enquanto isso não acontecesse. Suas palavras não foram ouvidas. A Hierarquia agora deve se arrepender e obedecer à Mãe de Deus! É vergonhoso e escandaloso que nenhum bispo na Itália tenha se juntado a esta grande iniciativa!
Como Vossa Excelência julga a suspensão dos sacramentos que vemos em quase todo o mundo?
É um sofrimento terrível, talvez até o pior que os fiéis já tenham visto. É inacreditável pensar que os sacramentos estão sendo negados aos moribundos.
Nesse momento, parece que a Hierarquia, com poucas exceções, não teve escrúpulos em fechar as igrejas e em impedir a participação dos fiéis no Santo Sacrifício da Missa. Eles se comportaram como burocratas frios, como executores da vontade do príncipe: e a maioria dos fiéis tomou suas ações como um sinal de sua falta de fé. Quem pode culpá-los?
Eu quase me pergunto - e é uma coisa terrível de se pensar - se o fechamento de igrejas e a suspensão de todas as celebrações não podem ser outro castigo de Deus, além da pandemia. “Ut scissent quia quae peccat quis, per haec et torquetur”. Para que saibam que pelas coisas em que um homem peca, também por elas é atormentado. (Sabedoria 11, 17) Por mais ofendido que Ele seja pela negligência e falta de respeito, demonstrados por seus sacerdotes, indignado com a profanação do Santíssimo Sacramento, que ocorre todos os dias quando eles dão a Comunhão na mão, e cansado de canções tolas ou de homilias heréticas, Ele ainda está - do seu lugar de silêncio dentro do Tabernáculo - satisfeito com o austero e sóbrio louvor oferecido por muitos sacerdotes que ainda estão celebrando a Missa de todos os tempos. A Missa que remonta ao tempo dos apóstolos. E que sempre foi o coração pulsante da Igreja ao longo dos séculos. Lembremo-nos deste aviso muito solene: “Deus non irridetur”. Não se zomba de Deus.
Compreendo e compartilho, é claro, as preocupações básicas sobre segurança e proteção que as autoridades exigem para a saúde pública. No entanto, assim como eles têm o direito de aprovar medidas para as coisas que afetam nosso corpo, as autoridades da Igreja têm o direito e o dever de se preocupar com a saúde de nossas almas. Eles não podem negar aos fiéis o sustento espiritual que recebem da Eucaristia, sem mencionar o Sacramento da Confissão, e do Santo Viático.
No entanto, quando lojas e restaurantes ainda estavam abertos, inúmeras Conferências Episcopais já haviam suspendido todas as funções sagradas, mesmo quando as autoridades civis não haviam pedido que elas o fizessem. Esta é mais uma prova de que a Hierarquia está em um estado deplorável e mostra que os Bispos estão muito dispostos a sacrificar o bem-estar das almas para pacificar o poder do Estado ou a ditadura das ideias.
Vossa Excelência mencionou restaurantes. O que diz sobre as refeições para os pobres que foram oferecidas nos últimos meses em locais de culto?
Para os católicos, ajudar os necessitados é um ato de caridade. Isso nos lembra de que Deus é amor – “Deus caritas est”. Temos que amar a Deus acima de todas as coisas, com todo o coração e amar o próximo por amor a Ele. Assim, de acordo com as bem-aventuranças, podemos ver Nosso Senhor nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros e nos órfãos. Desde o início, a Igreja sempre foi um exemplo luminoso neste campo. Até os pagãos se admiravam por isso. A história mostra-nos muitas obras assistenciais impressionantes, implementadas graças à generosidade dos fiéis, mesmo em tempos de grande hostilidade por parte dos Estados. Os governantes muitas vezes confiscaram essas obras, movidas pelo ódio que a Maçonaria nutre por um testemunho tão claro dos católicos. Cuidar dos pobres e dos marginalizados da sociedade não é algo que começou com Bergoglio nem é uma reserva de organizações ideologicamente alinhadas.
Devemos perceber que, quando o novo regime ajuda os pobres, o faz sem absolutamente nenhuma referência ao sobrenatural. Tudo o que estamos vendo são obras de misericórdia corporal, enquanto obras de misericórdia espiritual foram completamente exterminadas. E isso não é tudo: o atual pontificado sancionou definitivamente a renúncia ao caráter missionário da Igreja, do apostolado, qualificado com o termo pejorativo de proselitismo. Tudo se limita a fornecer comida, hospitalidade e assistência médica, mas ninguém fornece comida, hospitalidade ou assistência às almas daqueles que precisam desesperadamente, reduzindo assim a Igreja a uma ONG com finalidades filantrópicas.
A verdadeira caridade não tem nada a ver com sua imitação maçônica, por mais que tentem disfarçar isso com um senso extremamente vago de espiritualidade: ela é exatamente o oposto. Porque as várias instituições que vemos nesse trabalho hoje em dia negam que exista apenas uma Igreja verdadeira, cuja mensagem de salvação deve ser pregada aos que estão fora dela. Isso não é tudo: por causa dos graves desvios que se espalharam na Igreja com o Concílio, em questões de liberdade religiosa e ecumenismo, muitas instituições de caridade confirmam hoje em seu paganismo ou ateísmo as pessoas confiadas a eles, chegando ao ponto de lhes oferecer locais de culto onde possam orar. Vimos até exemplos terríveis de missas em que, a pedido explícito do celebrante, em vez do Evangelho Sagrado, é feita uma leitura do Alcorão ou, como aconteceu mais recentemente, a idolatria foi praticada nas igrejas católicas.
Penso que a decisão de transformar igrejas em refeitórios ou dormitórios para os necessitados é prova dessa hipocrisia básica que, como vimos no ecumenismo, usa uma coisa aparentemente boa - como alimentar os famintos ou abrigar os sem-teto - e explora-a para que ajude o grande plano maçônico de uma religião mundial sem dogmas, sem ritos e sem Deus. Usar igrejas como restaurantes, na presença de prelados complacentes, que aparecem para servir pizzas ou costeletas de porco com um avental sobre suas roupas eclesiásticas, significa profaná-las. Especialmente quando os que sorriem para os fotógrafos absolutamente nunca abrem as portas de seu palácio episcopal para aqueles de quem desejam tirar proveito para fins políticos. Voltando ao que disse anteriormente, parece-me que esses sacrilégios também estão por trás da pandemia atual e do fechamento de igrejas.
Com demasiada frequência, usam a pobreza e a falta de moradia dessas pessoas pobres para que possam aparecer nas primeiras páginas dos jornais. Vimos isso com muita frequência com os desembarques de todos esses imigrantes ilegais, transportados por comerciantes de escravos, com o único objetivo de criar uma indústria da hospitalidade, atrás da qual ocultam não apenas interesses econômicos sórdidos, mas também uma cumplicidade não declarada com aqueles que procuram destruir a Europa cristã, começando pela Itália.
Em alguns casos, como na cidade de Cerveteri, perto de Roma, a polícia impediu um padre que estava celebrando a missa. Como as autoridades da Igreja reagiram a esse tipo de coisa?
O caso de Cerveteri pode simplesmente ter sido um excesso de zelo por dois policiais locais, especialmente se eles tiverem que trabalhar sob todo o estresse extra que surgiu com o surto de coronavírus. Mas o que deve ficar claro, especialmente em um país como a Itália que assinou uma Concordata com a Igreja em 1929, que as autoridades eclesiásticas têm direitos exclusivos sobre os locais de culto. A Santa Sé e o Ordinário local realmente deveriam ter protestado contra tal violação do Tratado de Latrão, que foi confirmado novamente em 1984 e que ainda está em vigor. Mais uma vez, a autoridade dos Bispos, concedida diretamente a eles por Deus, derrete como neve ao sol, mostrando uma covardia que pode levar a abusos ainda piores no futuro, se não for corrigido agora. Permitam-me que aproveite esta oportunidade para pedir uma condenação franca dessa inaceitável interferência das forças do governo em assuntos que são de responsabilidade direta das autoridades da Igreja.
O Papa Francisco convidou todos os cristãos, católicos e não católicos, a se reunirem em 25 de março para pedir a Deus que acabasse com essa pandemia, sugerindo que membros de outras religiões também poderiam se unir a ele para orar.
O relativismo religioso que se infiltrou na Igreja com o Vaticano II levou muitas pessoas a duvidar de que a fé católica seja o único meio de salvação, ou de que a Santíssima Trindade seja o único Deus verdadeiro.
Em sua declaração de Abu Dhabi, o Papa Francisco disse que Deus quer todas as religiões. Isso não é apenas uma heresia flagrante, é também uma apostasia muito séria e uma blasfêmia terrível. Dizer que Deus quer ser adorado como algo diferente de como Ele se revelou significa que a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de nosso Salvador são completamente sem sentido. Significa que a razão de fundar a Igreja, a razão pela qual milhões de santos mártires deram suas vidas, pela qual os Sacramentos foram instituídos, juntamente com o Sacerdócio e o próprio Papado, são todos sem sentido.
Infelizmente, justamente quando deveríamos fazer expiação por nossas ofensas contra a divina Majestade de Deus, encontramos alguém que nos pede que oremos a Ele conjuntamente com aqueles que negam a divina maternidade de Sua Mãe, no dia de Sua festa. Será que essa é a melhor maneira de pôr um fim à atual pandemia?
Também é verdade que a Penitenciária Apostólica concedeu indulgências especiais àqueles que são atingidos por essa terrível aflição e àqueles que os ajudam material e espiritualmente.
Em primeiro lugar, quero enfatizar que as indulgências nunca podem tomar o lugar dos sacramentos. Devemos resistir firmemente às decisões infames tomadas por alguns pastores, que proibiram os sacerdotes de ouvir confissões ou batizar crianças. Essas medidas - juntamente com a proibição de missas públicas e a suspensão da Santa Comunhão - vão contra a lei de Deus e são a prova de que por trás de tudo isso está Satanás. Somente a Serpente do Mal pode explicar essas medidas que trarão a perda espiritual de tantas almas. Seria como pedir aos médicos que não tratassem pacientes em perigo de morte.
O exemplo dos bispos na Polônia deve ser seguido pela Igreja universal: eles ordenaram que mais missas fossem ditas para que mais fiéis pudessem ir com segurança à missa. Isso aconteceria se a Hierarquia realmente se preocupasse com a salvação eterna dos católicos. É de se notar que na Polônia, os efeitos da pandemia são muito mais baixos do que em outros países.
Os ensinamentos da Igreja sobre indulgências não foram varridos pelos revolucionários, e isso é uma coisa boa. No entanto, enquanto o Bispo de Roma tem o poder de recorrer às infinitas riquezas da Graça, também é verdade que as indulgências não podem ser banalizadas ou consideradas como algum tipo de bônus ou liquidação de mercadorias no final da temporada. Os fiéis sentiram as mesmas coisas no final do Jubileu da Misericórdia, quando uma indulgência plenária foi concedida sob condições tão estranhas que os que recebiam a indulgência mal perceberam o que estava acontecendo.
Há também um problema com o Sacramento da Penitência e a Comunhão Eucarística, que são necessários para que uma indulgência seja lucrada, e cuja recepção a Penitenciária Apostólica [obviamente] adiou até uma data não especificada: "o mais rápido possível".
Vossa Excelência considera que as dispensas gerais de absolvição geral, em vez de absolvição individual, podem ser aplicadas na atual epidemia?
Um perigo iminente de morte justifica certas soluções que a Igreja, em Seu zelo pela eterna salvação de almas, sempre permitiu generosamente. É o caso da Absolvição Geral para soldados prestes a entrar em batalha ou para pessoas a bordo de um navio afundando. Se uma emergência que afeta uma unidade de terapia intensiva significa que um sacerdote só pode entrar sob condições extremamente restritas e não pode ouvir as confissões individuais dos moribundos, acho que essa solução pode ser a melhor.
No entanto, se isso significar a abertura de um precedente para que a Absolvição Geral seja estendida a todos os casos, mesmo quando os penitentes não correm o risco de morte imediata, devemos ser extremamente cuidadosos para garantir que o que a Igreja permita em casos extremos não se torne a norma.
Permitam-me lembrar às pessoas que assistir à missa na internet ou na televisão não cumpre o preceito de ir à missa de domingo. Pode ser uma boa maneira de santificar o Dia do Senhor, quando é absolutamente impossível ir à igreja; mas devemos sempre lembrar que viver os sacramentos não pode ser substituído pela virtualização dos sacramentos. Em um nível mais banal, não podemos alimentar nosso corpo olhando a fotografia de um pedaço de pão.
Que mensagem Vossa Excelência gostaria de transmitir aos que tem o encargo de defender e guiar o rebanho de Cristo?
O Papa, a hierarquia e todos os bispos, sacerdotes e religiosos devem se converter imediata e absolutamente. Isso é algo que os leigos estão pedindo, pois sofrem porque não têm guias firmes e fiéis. Não podemos permitir que o rebanho que Nosso Divino Senhor confiou aos nossos cuidados seja dispersado por mercenários sem fé. Nós devemos nos converter e permanecer ao lado de Deus. Não podemos ter nenhum compromisso com o mundo.
Os bispos devem recuperar a consciência de sua própria Autoridade Apostólica, que é pessoal, que não pode ser delegada a corpos intermediários, como as Conferências Episcopais ou Sínodos, que distorceram o exercício do ministério apostólico, causando sérios danos à constituição divina da Igreja.
Chegou a hora de pôr um fim aos caminhos sinodais. Chega de uma colegialidade mal compreendida! Chega de um absurdo senso de inferioridade e bajulação ao lidar com o mundo! Chega desse uso hipócrita da palavra diálogo, em vez da pregação destemida do Evangelho. Devemos parar de ensinar falsas doutrinas e deixar de ter medo de pregar sobre pureza e santidade. Parar de ficarmos calados diante da arrogância do mal. Parar de encobrirmos terríveis escândalos. Parar de mentir, enganar e se vingar!
A vida católica deve ser uma batalha até o fim, e não uma caminhada despreocupada em direção ao abismo. A todos nós, que recebemos Ordens Sagradas, Nosso Senhor nos pedirá que demos conta das almas que salvamos e daquelas que perdemos por não repreendê-las e resgatá-las. Voltemos à única e verdadeira fé. Para viver uma vida de santidade. Para o único culto agradável a Deus.
Conversão e arrependimento, como a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, nos pede. Peçamos a Nossa Senhora, Tabernáculo do Altíssimo, que dê a sacerdotes e bispos o ímpeto heroico de que precisam para salvar a Igreja e alcançar a vitória do Seu Imaculado Coração.
+ Carlo Maria Viganò
Primeiro Domingo da Paixão 2020
Para citar este texto:
"Dom Viganò: O COVID e a mão de Deus!"
MONTFORT Associação Cultural
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Online, 21/12/2024 às 14:00:56h