Igreja e Religião
Cardeais Tarcísio Bertone e Franc Rodé apoiavam o Padre Marcial Maciel
Instituto Humanitas
Há um livro que está tirando o sono do cardeal Tarcisio Bertone: intitula-se "La mia vita è Cristo" [A minha vida é Cristo], de 2004, uma longa entrevista com o fundador dos Legionários de Cristo, padre Marcial Maciel. O fato é que, no início do livro, encontra-se uma apresentação datada em "Gênova, 25 de março de 2004" e assinada pelo atual secretário de Estado.
O autor do livro é Jesus Colina, o empreendedor jornalista católico, diretor da agência de imprensa Zenit, considerada próxima dos Legionários. "La mia vita è Cristo" parece ter tido um notável sucesso de público, e a sua difusão enquanto compêndio do pensamento do fundador dos Legionários ocorreu em diversos continentes. Mas certamente, à luz dos últimos desenvolvimentos relativos ao escândalo Maciel, as palavras do então arcebispo de Gênova tornam-se hoje inevitavelmente destoantes.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada no jornal Il Riformista, 06-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em mérito à grande atenção por parte do público recebida pelo livro, o cardeal escrevia: "A chave desse sucesso é, sem dúvida, a força de atração do amor de Cristo, que sempre estimulou o padre Maciel e a sua obra a não se deixarem vencer pelas adversidades, que não faltaram na sua história".
Descrevendo brevemente a aventura religiosa do sacerdote mexicano e da sua congregação – incluindo o Regnum Christi, destinado a envolver leigos e sacerdotes diocesanos –, Bertone afirmava: "O desenvolvimento dessa realidade eclesial ultrapassa a capacidade e a força de um simples homem. A sua presença em 20 países e as múltiplas iniciativas pastorais" em vários campos, da educação à família, "manifestam a força do Espírito Santo em Cristo".
O retrato que Bertone pintava do sacerdote de origem mexicana nas breves páginas introdutórias é totalmente positivo: "Para ele, a vida dos religiosos e dos sacerdotes é um consagração total, na Igreja, ao amor e à missão de Cristo". Além disso, explicava-se, a leitura da entrevista a Maciel, de mais de 332 páginas, pode ajudar, a quem a leia "de coração aberto", "a ultrapassar o muro de pessimismo que obstaculiza hoje tantos filhos da Igreja". Enfim, explica Bertone, o Espírito Santo suporta a Igreja "fazendo surgir" novas realidades e movimentos. "Nesse contexto e com essa finalidade, Deus quis inspirar no padre Marcial Maciel a fundação dos Legionários de Cristo".
As palavras de Bertone remontam a 2004. No mesmo ano, o cardeal Joseph Ratzinger conseguia, vencendo várias resistências, reabrir a investigação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os Legionários. Deve-se dizer, porém, que as denúncias das vítimas ao Vaticano sobre as responsabilidades em matéria de abusos sexuais e violências do padre Maciel remontam pelo menos à metade dos anos 90. Desde esse período, a imprensa se interessou ativamente pelos casos. As dúvidas e as acusações sobre Maciel, enfim, já eram difundidas também fora da Igreja.
Nesse contexto, deve-se lembrar que Bertone, durante muito tempo vice de Ratzinger no dicastério da Doutrina da Fé, conhecia os episódios relativos a Maciel e também a vontade do futuro Papa de fazer limpeza. Uma vontade que se manifestou pouco depois da eleição de Bento XVI. Em 2006, de fato, o Papa obrigou o sacerdote ao completo isolamento, fazendo-o abandonar toda atividade pública.
Foi o próprio Bertone, como secretário de Estado, que promoveu a última recente investigação apostólica sobre os Legionários, levada adiante por cinco visitadores. Há alguns dias, os cinco bispos se encontraram com Bertone e o Papa. A Santa Sé, depois, divulgou um comunicado no qual os comportamentos de Maciel são definidos como "delitos" que "manifestam uma vida privada de escrúpulos e de autêntico sentimento religioso". Ainda no comunicado vaticano, dava-se luz ao "sistema de relações construído pelo padre Maciel, que habilmente soube criar álibis, obter confiança, familiaridade e silêncio dos que estavam ao seu redor e reforçar o seu próprio papel de fundador carismático".
Porém, é sabido que o "fundador" gozou de apoios nos sagrados palácios romanos. Há muito tempo, são citados os nomes do ex-secretário de Estado, cardeal Angelo Sodano, enquanto ainda em 2008 o atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Religiosa, o cardeal Franc Rodé, considerado um defensor dos Legionários, destacava "a independência de espírito de Maciel" e o seu "amor por Cristo e pela Igreja". "Ali – acrescentava – está o segredo da sua vida e o segredo de sua obra. Foi isso que lhe permitiu suscitar uma obra de dimensões mundiais".
O autor do livro é Jesus Colina, o empreendedor jornalista católico, diretor da agência de imprensa Zenit, considerada próxima dos Legionários. "La mia vita è Cristo" parece ter tido um notável sucesso de público, e a sua difusão enquanto compêndio do pensamento do fundador dos Legionários ocorreu em diversos continentes. Mas certamente, à luz dos últimos desenvolvimentos relativos ao escândalo Maciel, as palavras do então arcebispo de Gênova tornam-se hoje inevitavelmente destoantes.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada no jornal Il Riformista, 06-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em mérito à grande atenção por parte do público recebida pelo livro, o cardeal escrevia: "A chave desse sucesso é, sem dúvida, a força de atração do amor de Cristo, que sempre estimulou o padre Maciel e a sua obra a não se deixarem vencer pelas adversidades, que não faltaram na sua história".
Descrevendo brevemente a aventura religiosa do sacerdote mexicano e da sua congregação – incluindo o Regnum Christi, destinado a envolver leigos e sacerdotes diocesanos –, Bertone afirmava: "O desenvolvimento dessa realidade eclesial ultrapassa a capacidade e a força de um simples homem. A sua presença em 20 países e as múltiplas iniciativas pastorais" em vários campos, da educação à família, "manifestam a força do Espírito Santo em Cristo".
O retrato que Bertone pintava do sacerdote de origem mexicana nas breves páginas introdutórias é totalmente positivo: "Para ele, a vida dos religiosos e dos sacerdotes é um consagração total, na Igreja, ao amor e à missão de Cristo". Além disso, explicava-se, a leitura da entrevista a Maciel, de mais de 332 páginas, pode ajudar, a quem a leia "de coração aberto", "a ultrapassar o muro de pessimismo que obstaculiza hoje tantos filhos da Igreja". Enfim, explica Bertone, o Espírito Santo suporta a Igreja "fazendo surgir" novas realidades e movimentos. "Nesse contexto e com essa finalidade, Deus quis inspirar no padre Marcial Maciel a fundação dos Legionários de Cristo".
As palavras de Bertone remontam a 2004. No mesmo ano, o cardeal Joseph Ratzinger conseguia, vencendo várias resistências, reabrir a investigação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os Legionários. Deve-se dizer, porém, que as denúncias das vítimas ao Vaticano sobre as responsabilidades em matéria de abusos sexuais e violências do padre Maciel remontam pelo menos à metade dos anos 90. Desde esse período, a imprensa se interessou ativamente pelos casos. As dúvidas e as acusações sobre Maciel, enfim, já eram difundidas também fora da Igreja.
Nesse contexto, deve-se lembrar que Bertone, durante muito tempo vice de Ratzinger no dicastério da Doutrina da Fé, conhecia os episódios relativos a Maciel e também a vontade do futuro Papa de fazer limpeza. Uma vontade que se manifestou pouco depois da eleição de Bento XVI. Em 2006, de fato, o Papa obrigou o sacerdote ao completo isolamento, fazendo-o abandonar toda atividade pública.
Foi o próprio Bertone, como secretário de Estado, que promoveu a última recente investigação apostólica sobre os Legionários, levada adiante por cinco visitadores. Há alguns dias, os cinco bispos se encontraram com Bertone e o Papa. A Santa Sé, depois, divulgou um comunicado no qual os comportamentos de Maciel são definidos como "delitos" que "manifestam uma vida privada de escrúpulos e de autêntico sentimento religioso". Ainda no comunicado vaticano, dava-se luz ao "sistema de relações construído pelo padre Maciel, que habilmente soube criar álibis, obter confiança, familiaridade e silêncio dos que estavam ao seu redor e reforçar o seu próprio papel de fundador carismático".
Porém, é sabido que o "fundador" gozou de apoios nos sagrados palácios romanos. Há muito tempo, são citados os nomes do ex-secretário de Estado, cardeal Angelo Sodano, enquanto ainda em 2008 o atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Religiosa, o cardeal Franc Rodé, considerado um defensor dos Legionários, destacava "a independência de espírito de Maciel" e o seu "amor por Cristo e pela Igreja". "Ali – acrescentava – está o segredo da sua vida e o segredo de sua obra. Foi isso que lhe permitiu suscitar uma obra de dimensões mundiais".
Para citar este texto:
"Cardeais Tarcísio Bertone e Franc Rodé apoiavam o Padre Marcial Maciel"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/rode-maciel/
Online, 25/11/2024 às 06:20:27h