Igreja e Religião

Ratzinger enfrenta Martini no conclave
Geraldo Hoffmann


da Deutsche Welle, na Alemanha (negrito nosso)

Mídia prevê disputa entre alemão Josef Ratzinger e o italiano Carlo Martini pela sucessão papal, que começa a ser decidida em Roma. Impasse favorece latino-americanos. Alemães esperam reforma radical da Igreja Católica.

Começa nesta segunda-feira, na capela Sistina, no Vaticano, a reunião dos 115 cardeais da Igreja Católica que vão escolher o sucessor do papa João Paulo 2º, falecido no último dia 2 de abril. Apesar do silêncio imposto aos cardeais nos últimos dias, a imprensa italiana informa que os parcipantes do conclave estão divididos entre dois papáveis:
o conservador alemão Josef Ratzinger e o reformista italiano Carlo Maria Martini.

"Ratzinger lidera claramente, mas seus apoiadores não estão conseguindo conquistar mais cardeais-eleitores para o seu lado", escreveu o jornal "La Repubblica". Ratzinger e Martini são considerados figuras-chave na disputa entre os blocos conservador e progressista. Uma vez esclarecido o rumo a ser dado à igreja, outros "papáveis" principalmente latino-americanos podem ter sua chance, avaliam vaticanistas. É que os europeus, com 58 cardeais, ainda formam o maior bloco, mas mesmo que se unam em torno de um nome não atingem a maioria absoluta de dois terços dos votos para eleger o novo papa.

Papa de transição
 
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Segundo os vaticanistas, Ratzinger, que completou 78 anos no último sábado (16/04), é favorecido como papa de transição. Mas não seria um profeta bem-vindo em seu próprio país. "Americanos e alemães vetam Ratzinger", noticiou o jornal italiano La Reppublica, na semana passada. O ex-prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé teria qualidades indiscutíveis, menos uma: a capacidade de gerenciar a multinacional Igreja Católica. Teme-se que ele transferiria muito poder à Cúria Romana, o que é rejeitado não só por cardeais alemães e norte-americanos.

Um papa latino-americano?
 
O  jornal Corriere de La Sera vê o cardeal reformista italiano Carlo Maria Martini como principal concorrente de Ratzinger. Um confronto entre os dois, provavelmente, terminaria num empate, afirma o jornal. Uma ponte entre os blocos conservador e progressista poderia ser o arcebispo de Viena, o franciscano Christoph Schönborn, de 60 anos.
 
Diante da divisão entre os europeus, não se descarta a possibilidade se ser eleito um papa africano, latino-americano ou até indiano. O conservador cardeal nigeriano Francis Arinze, no entanto, não acredita muito nessa hipótese. "O Ocidente ainda não está maduro para um papa negro. Um papa africano seria um desafio para a Igreja, o mundo e a mídia", disse. Os 18 milhões de católicos da Índia – no momento, uma das maiores fábricas de padres do mundo – gostariam que o arcebispo de Bombay, Ivan Dias, fosse alçado ao trono de São Pedro.
 
Já os principais papáveis latino-americanos – entre eles, o brasileiro dom Cláudio Hummes – são considerados fortes candidatos, mas progressistas demais para suceder o pontificado conservador de João Paulo II. Se a eleição fosse direta, Hummes certamente teria boas chances, já quem vem do maior país católico do mundo, com 125 milhões de batizados.
 
Eleição rápida
Apesar das apostas e especulações dos seis mil jornalistas credenciados no Vaticano, o desfecho do conclave continuará um mistério, até a fumaça branca sair pela chaminé  da Capela Sistina. Existe um ditado no Vaticano capaz de anular qualquer previsão: "Quem entra como papa no conclave, sai novamente como cardeal".
 
O vaticanista Giuseppe di Carli, da Rádio e Televisão Italiana (RAI), no entanto, está convicto de duas coisas: o conclave será curto – os últimos seis duraram, em média, apenas três dias – e o novo papa, provavelmente, adotará o nome de João Paulo III. A eleição é por maioria de dois terços dos votos; somente a partir da 34ª votação pode ser por maioria de 50% mais um.
 
Surpresas no conclave não são raridade. Prova disso foi a eleição de Karol Wojtyla em 1978, o primeiro papa não italiano depois de 455 anos. Outro exemplo foi a eleição do progressista João XXIII em 1958, como sucessor do severo Pio XII.
 
Na opinião de alguns vaticanistas, desta vez, a eleição de um revolucionário é pouco provável. A maioria dos cardeais eleitores são "crias" de João Paulo II, isto é, foram promovidos por ele. Nem mesmo um papa africano seria uma garantia de abertura. A maioria dos cardeais daquele continente foram educados em Roma, são considerados conservadores e submissos à hierarquia do Vaticano.
 
Alemães querem reformas radicais
 
Essa perspectiva não deve agradar os alemães. Segundo uma pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Forsa às vésperas do conclave, 94% dos alemães (não só os católicos) são contra a proibição dos anticoncepcionais pela Igreja Católica e 85% pedem o fim do celibato para padres. "Os alemães tornaram-se mais liberais e defendem posições adequadas aos tempos atuais", diz o diretor do Forsa, Manfred Guellner.
 
Também os católicos alemães esperam reformas radicais do novo papa : 95% querem a liberação do uso de contraceptivos, 92% aprovam a celebração da Santa Ceia junto com os luteranos, 80% são a favor da ordenação de mulheres para o sacerdócio e 78% desaprovam a rejeição radical do aborto pela Igreja. Uma eventual eleição de Ratzinger - que seria o oitavo pontífice alemão - ou outro papa conservador aumentaria ainda mais o abismo entre o Vaticano e os católicos alemães.
 
Geraldo Hoffmann
 

Comentários:
 
Esses alemães que defendem tais horrores ainda podem ser considerados católicos de verdade?!

    Para citar este texto:
"Ratzinger enfrenta Martini no conclave"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/igreja20050418_2/
Online, 26/12/2024 às 04:31:33h