Igreja e Religião
Igreja progressista belga recebe sua recompensa
Lúcia Zucchi
Comentário da Montfort:
Em 24 de junho, presos por durante quase dez horas, todos os bispos presentes à reunião da Conferência Episcopal Belga mais o Núncio Apostólico tiveram seus celulares e computadores vasculhados. O Cardeal Daneels, "visitado" em sua casa, perdeu seu computador. Os túmulos do Cardeal Suenans e de outro Arcebispo de Bruxelas foram examinados com câmaras à procura de documentos. Todos os 475 dossiers abertos por uma Comissão de investigação da Conferência Episcopal foram confiscados, violando a confidencialidade garantida às vitimas de abuso. O Cardeal Bertone afirmou que os abusos da polícia belga eram sem precedentes “até mesmo nos regimes comunistas”. O Papa Bento XVI expressou sua “proximidade” em carta ao Primaz belga Dom Léonard "pela surpreendente e deplorável modalidade” com que foi efetuada a operação, desejando, entretanto, que a justiça siga seu curso, "no respeito da recíproca especificidade e autonomia" da Igreja e chegue à verdade sobre as denúncias de abuso.
O site Montfort traduz e publica dois artigos mais significativos, comentando o caso.
O primeiro artigo é um resumo da entrevista concedida a LifeSiteNews pelo Padre americano Tom Euteneuer, criador da Human Life International, assinado pelo jornalista Daniel Hamiche, no blog Americatho. O segundo é uma análise do caso pelo combativo site italiano Messa in Latino.
30 de junho de 2010
LifeSiteNews e o Pe. Euteneuer falam sobre a “batida policial” na Arquidiocese de Bruxelas
LifeSiteNews tratou ontem do caso desagradável e sem precedentes da “batida policial” na Arquidiocese de Malines-Bruxelas enquanto os Bispos estavam em reunião com o Núncio, uma “batida” que a polícia justificou em razão das denúncias recebidas por ela de abusos sexuais do clero e da dissimulação – que viria de longa data – dessas imundícies pela hierarquia da Igreja. Essas são as razões invocadas. Eis um extrato do artigo de LifeSiteNews.
- “O Pe. Tom Euteneuer, escitor e presidente da Human Life International, acaba de declarar à LifeSiteNews que ele se mantém ao lado do Papa e que condenava incondicionalmente a ação da polícia como “uma violação maciça da confidencialidade” [à qual tem direito] as vítimas que tinham confiado nas autoridades da Igreja e que se tratava de uma “ação policial brutal” contra a Igreja.
- Entretanto, ele assinala os anos de antagonismo público manifestado pela hierarquia católica belga contra o ensinamento da Igreja em matéria de moral sexual, que forneceu ao governo totalmente secularista o pretexto necessário para esta agressão.
- “Como é possível, declara o Pe. Euteneuer, ver o caso de outra forma que como o salário do pecado para uma Igreja em dissidência pública e pertinaz há quarenta anos?
- O Pe. Euteneuer declara que “Deus, às vezes, permite aos pagãos agir para punir e endireitar os abusos de Seu povo amado. Qualquer que seja a interpretação que se possa dar a essa ação agressiva da polícia, tomemos isso como um apelo ao despertar para um retorno à ortodoxia e à fidelidade a Cristo”.
LifeSiteNews prossegue com um pequeno comentário sobre o Cardeal Danneels que acaba de deixar seu posto, à frente do Arcebispado de Malines-Bruxelas e da Conferência Episcopal, a Dom Léonard...
- “Afirma-se que o Cardeal Danneels, que foi durante tantos anos um líder da ala liberal, esquerdista e progressista da Igreja Católica na Europa, estava “seriamente chocado” com a ação da polícia. Um porta-voz declarou: “Eu posso garantir-lhes que o que o Cardeal pretendia para sua aposentadoria era algo bem diferente”.”
Podemos imaginar!
- “Danneels, que foi durante décadas uma voz forte na Europa contra o ensino católico sobre a contracepção artificial e o homossexualismo, era um amigo próximo e protetor do Bispo Roger Vangheluwe, de Bruges. Vangheluwe demitiu-se em abril após ter admitido ter abusado sexualmente de meninos, incluindo seu próprio sobrinho, antes de se tornar bispo e durante seu episcopado. Como consequência dessas revelações, a Igreja constituiu uma comissão independente, que foi imediatamente inundada de centenas de queixas de abusos sexuais cometidos por padres.”
Pobre Bélgica e pobre Igreja na Bélgica...
DANIEL HAMICHE
reportando
Sábado 27 de junho de 2010
A Igreja progressista belga recebe sua recompensa
Nesta história abjeta não há bons e maus. São todos maus ou, na melhor das hipóteses, menos que medíocres. Nos escalões superiores, o único que se salva é Dom Léonard, antigo Bispo de Namur e, há pouco tempo, Arcebispo de Malines Bruxelas e novo Primaz, cuja figura se agiganta sobre todas as outras, embora isso seja efeito, sobretudo, da pequena estatura dos outros.
Já é notícia velha que a justiça belga - a mesma que na época do assustador caso Dutroux, pedófilo e serial killer, conduziu as investigações de modo a proteger os ambientes políticos atingidos pelo escândalo – montou uma chanchada mais do que grotesca: o “seqüestro” de toda a Conferência Episcopal Belga, reunida no Arcebispado de Malines-Bruxelas, mantendo os bispos retidos de manhã à noite, com o confisco de seus computadores e mesmo de seus telefones celulares; uma revista domiciliar na casa do Arcebispo Emérito, Cardeal Daneels e, principalmente – o que é realmente incrível – a profanação dos túmulos de dois cardeais, para procurar sabe Deus que documentos enterrados com eles – fatos gravíssimos que, diga-se de passagem, em outros tempos teriam comportado a “suspensão” das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o governo da Bélgica, com a retirada do Núncio e a convocação do Embaixador belga. E depois disso, os belgas ainda vão se queixar de passar pelos idiotas das piadas: não veio à cabeça dos policiais zelosos e de seus mandatários togados que, para fazer desaparecer documentos, há meios muito mais simples e eficazes que coloca-los em túmulos (o fogo, por exemplo, ou uma simples picotadora de papéis)? E, de fato, como é óbvio, eles só encontraram ossos nos túmulos, entre os quais os do grande protagonista do Concílio, o progressistissimo Cardeal Suenens. Mas, de resto, tudo foi estudado para produzir o máximo dano à imagem de uma Igreja, que em matéria de imagem já tem bem pouco a salvar: do nome da operação da polícia (“Operação Igreja”) à acusação de crime de “formação de quadrilha”. Ou seja, a Igreja está sendo, no fim das contas, oficialmente acusada de ser uma associação criminosa, cuja finalidade é o abuso de menores.
O mundo secular crava seus dentes na jugular de uma Igreja que, no entanto, há quarenta anos não faz outra coisa além de cantar os louvores desse mesmo mundo, procurando bajula-lo e adula-lo a todo custo, e em particular, ao custo da Fé. É notório que o Episcopado belga, desde o Concílio, tem disputado com o da Holanda sobre qual deles se faz o intérprete mais audacioso do Espírito do Concílio – na Bélgica flamenga, a porcentagem dos padres contrários ao celibato é de 80%, 56% são a favor da ordenação de mulheres, sem contar o apoio às causas gays e divorcistas; pelo contrário, a prática religiosa da outrora católica Bélgica conheceu uma queda espetacular, pior mesmo que a da França. E agora os bispos belgas, servos infiéis e renegados de Nosso Senhor, recebem a justa recompensa do mesmo “mundo moderno” que indecorosamente cortejaram.
Estaremos sendo pouco generosos e excessivos? Julguem por si mesmos, a partir de certos fatos que são apenas a ponta do iceberg:
- Há poucas semanas atrás, teve que se demitir o Bispo de Bruges, Dom Roger Vangheluwe, que estava na direção daquela diocese desde 1984 (na foto: os trajes mostram já as idéias progressistas que ele tinha). Vinte e seis anos de ruína. Eis a confissão do próprio: “Quando era ainda um simples sacerdote e, por certo tempo, no início de meu episcopado , abusei sexualmente de um jovem de meu ambiente próximo”. Atenção, portanto: este aqui não é acusado, como muitíssimos de seus colegas, de ter irresponsavelmente transferido párocos pedófilos ou de tê-los encoberto. Este era ele próprio o sodomita abusador. E ainda por cima [afirma-se] que a vítima era seu próprio sobrinho. Uma pincelada a mais de incesto não destoa em tal quadro de horrores.
- No Hospital Saint Adrien de Tielt, o capelão, durante vinte anos, abusou de mulheres com problemas psíquicos, e até mesmo em coma. Quase um necrófilo, em suma. Outro padre Norbert Bethune, o delatou anos depois... ao Bispo de Bruges. O qual, não estando sem pecado, como se viu, naturalmente não atirou nenhuma pedra ao culpado.
- O sacerdote Rik Devillé, cujas acusações à Magistratura estão na origem desta tempestade, conta ter recolhido numerosíssimas testemunhas e denúncias, que comunicou ao Arcebispo Daneels, sem resultado. Ele afirma que, de 300 casos, só 15 foram devidamente investigados e todos foram concluídos com simples transferência dos culpados.
- Foi em Liège que se instituiu, na Idade Média, a procissão do Corpus Christi, depois estendida a toda a Cristandade. Depois do Concílio, ela foi obviamente abolida: todas as procissões, especialmente no Norte da Europa, são consideradas como tipicamente pré-conciliares, supersticiosas, pagãs, obstáculo ao abraço ecumênico com nossos irmãos separados (os protestantes). Neste ano, porém, uma comissão espontânea quis exumar aquela antiga tradição, exatamente em Liège. Eis como reagiu o Bispo da cidade, Dom Jousten, que, naturalmente, recusou participar da procissão (atenção, as palavras seguintes são literais, por incrível que possa parecer) : “Eu me pergunto simplesmente se refletiram o suficiente sobre o significado que poderá ter tal procissão. Uma procissão exprime necessariamente nossa fé? Ou será que o que se quer é antes manifestar diante dos outros qual é a nossa fé? Então, para mim, o significado de uma procissão é em primeiro lugar uma profissão de fé de cristãos, entre cristãos [...] A pergunta que me ponho é, precisamente, qual pode ser o impacto de tal procissão sobre a população, que vê desfilar os cristãos”. Estas afirmações, para nós, são ainda mais graves que as negligências na prevenção de comportamentos sexualmente desviantes: são a prova de que um bispo perdeu a fé ou, ao menos, todo senso da finalidade de seu cargo.
- No mesmo tema: que dizer do fato de que, em Charleroi, a paróquia de Saint-Lambert se torna uma mesquita todas as sextas-feiras, autorizando os muçulmanos a rezarem a Alá, enquanto os símbolos cristãos são cobertos com panos? Sem, naturalmente, que ninguém encontre qualquer reparo a fazer?
- E, para concluir: nos anos 90, o Cardeal Daneels fez adotar um abominável texto de catecismo chamado Roeach, escrito por um professor Jef Bulckens da Universidade Católica (!) de Louvain e pelo professor Frans Lefevre do Seminário (!) de Bruges. Este “catecismo” explica [aos adolescentes das escolas católicas] a “sexualidade das crianças” (que, aliás... que tem a ver com o catecismo?). [O texto emprega termos baixíssimos, e um incentivo a passar à ação. O caso provocou protestos repetidos por parte dos pais dos adolescentes expostos a essa doutrinação imoral. Mas o Cardeal Daneels recusou-se sempre desdenhosamente a atender aos solicitantes... A figura e o texto explicativo que seguem, no original, foram retirados na nossa tradução por serem absolutamente imorais e revoltantes].
Esse era o Catecismo Católico da Igreja belga, ainda há dez anos atrás. Nada menos do que uma tentativa de corrupção de menores, uma apologia da pedofilia: ao invés de transmitir a Fé, servia a fazer crer aos adolescentes que certas coisas são belas e recomendáveis, mesmo na mais tenra idade.
Quem agora ousa lamentar-se se a Justiça trata aqueles bispos como delinqüentes, visto que eles o são? E dado que a Igreja não parece encontrar em si mesma forças suficientes para reagir, haverá perseguições ainda muito mais graves que estas. Serão talvez uma ajuda externa para a obra de limpeza empreendida pelo Santo Padre Bento XVI. Mas contra ele, a parte corrupta do clero se une e o constrange a contínuas marchas à ré: por exemplo, para ficar só no caso da Bélgica, é de poucos dias atrás a nomeação para Bruges do arquiprogressista ex-bispo auxiliar do Card. Daneels, Dom De Kesel. E, no entanto, seria urgentíssimo limpar as imundas estrebarias de Augias: a partir do plano doutrinal, antes ainda que moral, porque tal degradação é filha legítima da autodenominada “nova eclesiologia”, que a aplicação de fato do Concílio Vaticano II, coerentemente, gerou.
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Para citar este texto:
"Igreja progressista belga recebe sua recompensa"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/igreja-belga/
Online, 26/12/2024 às 04:09:13h