Igreja e Religião
Coerentes da resistência
Renato Pessanha
Notícia enviada pelo leitor.
Coerentes da resistência
Renato Pessanha
Transcrevo hoje com prazer a carta que me enviou o Prof. Luciano Kezen Padrão, que atua com brilho na área jurídica. Amigo de longa data e observador atento de nossa realidade religiosa, traz relevante contribuição ao cada vez maior contingente de católicos que se coligam para a brava defesa da Tradição. Ele sabe bem do que fala, ainda mais por ter passado pelos corredores e carteiras do seminário, já lá se vão mais de 20 anos. Não é combatente de última hora, mas tem o traquejo de quem conheceu por dentro esse campo. Juntando-se à luta, vem engrossar a fileira dos que não abrem mão da Fé como farol orientador da vida pessoal, familiar e social. Segue o texto:
“Caríssimo Renato Pessanha,
Nos anos oitenta, a diocese de Campos foi campo de um intenso debate/combate travado entre os adeptos do modernismo e um considerável grupo de católicos que, sob os ensinamentos de D. Antônio, resistiam. Eram tempos em que a condenação ao erro era clara e as tergiversações profundamente deploradas. As argumentações de cunho teológico-filosófico se desprendiam dos textos. Naquela época não havia dúvida de que a missa nova era um serviço protestante – para usar uma expressão de Jean Guitton, amigo de Paulo VI. O magistério constante e perene dos Papas era ensinado, especialmente no que tange a liberdade religiosa e o ecumenismo, e era supedâneo para nossa adesão à sagrada tradição e de repulsa aos erros defendidos por vastos setores da hierarquia. A aliança da Igreja com o mundo moderno era rechaçada. O Concílio Vaticano II, todos nós tínhamos certeza, introduzira no seio da Igreja o que outrora fora condenado como uma heresia em 1906. Agora, se proclamava como sendo e devendo ser doravante a doutrina e o método da Igreja aquilo que fora condenado pela encíclica Pascendi, do Papa São Pio X (também na expressão de Jean Guitton). Tempos depois nos anunciaram um entendimento. A palavra acordo estava proibida, e aqueles que a usavam, eram tachados de estúpidos. Escreveram-se rios para defender a distinção entre entendimento e acordo. Anunciou-se aos quatro ventos que não havíamos cedido em nada, e que mantínhamos intactas as nossas convicções, que em verdade não eram nossas, mas da Santa Igreja. Já na solenidade da Catedral diocesana, estranhamos quando na leitura dos termos se afirmava que aceitávamos o Concílio Vaticano II, agora interpretado de acordo com a Tradição (não é preciso dizer o quanto tal texto é ambíguo, uma vez que a palavra tradição comporta diversos significados, e para os modernistas não significa o que nos foi ensinado pelos Apóstolos e transmitidos pelos sucessores de Pedro), e julgávamos lícita a missa nova. Não é preciso dizer que, no início, não houve reações por parte do povo. Mas o tempo passa, e o véu que escondia a trama foi descerrado. Agora, no esforço de manter cordiais relações com o episcopado brasileiro, e demonstrar que estão verdadeiramente religados, parte desse clero comparece às cerimônias e outros eventos. Certamente, em breve, estarão realizando curas e falando a “língua dos anjos”. Se alguém ousa criticá-los, é imediatamente acusado de cismático. Só se fala em obediência. Aquela mesma obediência cega e contrária à razão, que D. Navarro exigia. Quem discorda é tachado de conspirador, de inimigo do Papa. Há quem afirme tratar-se, agora, de um grupo de radicais que precisa ser excomungado, o mais breve possível. Anuncia-se, solenemente, que D. Antônio morreu, e que suas doutrinas são coisa do passado, querendo com isso dizer que suas idéias, que não eram dele, com ele foram sepultadas. Seccionam sua vida em duas partes, ao sabor de seus interesses velados. Como se esse bispo não houvesse deixado um repositório doutrinário que dispensasse intérpretes de última hora (chegou-se ao ponto de omitir da oração ao SS. Salvador, composta por D. Antônio, o pedido expresso ao nosso Divino Salvador que nos livrasse do veneno do progressismo. Não se sabe se essa oração foi composta na primeira ou na segunda fase). Desencavam fatos isolados da vida de D. Antônio e sem qualquer expressão, para justificarem seus desatinos doutrinários. Tudo agora é analisado sob o prisma de um historicismo e de um relativismo desabonador. Os tempos são outros, é preciso adaptar-se. Tudo muda, se ouve com freqüência. Cunhou-se uma nova expressão para não melindrar os chamados progressistas: a outra realidade eclesial (com razão diz a divina Sabedoria: “stulto-rum infinitus est numerus”). Não se pode, em nenhum momento, aborrecer aqueles cujas idéias foram condenadas pela Pascendi. O veneno do modernismo é paulatina e desapercebidamente inoculado nos fiéis, que, despreparados, temem desobedecer. Agora o que vale é a religião do coração. O ecumenismo nunca esteve tão em moda nestas plagas. Há um assanha-mento estarrecedor. A história religiosa de Campos pode ser dividida em duas partes: antes e depois dessa odiosa conspiração tramada nas sete colinas. “Concilium fecerunt”. É claro que nós preferimos o período anterior. Continuaremos a lutar. A lutar e a cantar: “Glória, salve, ó Mãe dulcíssima! Glória, salve, Nossa Senhora! Glória, salve, Auxiliadora!” - Luciano Kezen Padrão
Cumpro meu dever de trazer a público essa carta, para que se tenha uma noção mais nítida do cenário que temos diante dos olhos. Ele é prova de toda uma corrente tradicional, profunda e dinâmica, que se agrega em torno da doutrina católica, tal como nos legou D. Antônio de Castro Mayer. Creio que todos os fatos citados têm testemunhas dignas de crédito, e alguns deles foram veiculados por rede de TV, em nível nacional. Devo ressaltar que, entre os que endossam as afirmações, estão corajosos padres, de Campos e de outros municípios. Por isso, todo cuidado é pouco, se alguém pensar em alguma represália. Estamos bem calçados, apoiados nAquela que esmagou toda forma de infidelidade, cisma e heresia: Maria Santíssima.
Para citar este texto:
"Coerentes da resistência"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/coerentes_resistencias/
Online, 21/12/2024 às 14:25:48h