Igreja e Religião
Atrevida carta aberta ao Papa contra a restauração da Missa Tridentina e em defesa do Concílio Vaticano II
A agência de notícias ADISTA publicou, hoje, dia 28 de Novembro de 2006, uma atrevida carta aberta ao Papa Bento XVI. Essa carta foi escrita por um padre modernista, que pretende mandá-la ao Papa com 10.000 assinaturas de apoio, até o dia 2 de Dezembro, protestanto contra a anunciada liberação da Missa de São Pio V por Bento XVI.
Ao Papa Bento XVI, no século, Joseph Ratzinger,
antes teólogo de profissão
“Parece que o senhor quer promulgar um "motu proprio" para restaurar o rito da “Missa de Pio V” de 1570 em vigor até 1962, isto é, até o Concílio Vaticano II. Com esse indulto o senhor quer ir ao encontro de algumas dezenas de fundamentalistas irredutíveis que se separaram do grupo liderado pelo Bispo cismático e excomungado Marcel Lefebvre, que retornaram na Igreja Católica, mas sob condição que não lhes seja exigida nenhuma adesão formal ao magistério e às reformas conciliares. De fato, o senhor repudia quer o Concilio, quer os Papas do Concílio: Papa João XXIII, que o convocou, e Papa Paulo VI que o concluiu e aplicou, os maiores Papas do século XX.
Desde as origens da Igreja a lei da oração foi a expressão da Fé e a Missa que é o ato central da vida eclesial sempre foi reformada, atualizada e modificada a fim de que a fé do povo de Deus pudesse ser conscientemente expressa. Alguns afirmam que a reforma desejada pelo Concílio com a mudança do latim para as línguas nacionais e a mudança do altar junto à parede para um altar voltado ao povo não é lícita e constitui uma abuso, mais até, numa ruptura com relação à constante tradição ”católica” da Igreja. Estes não têm suficiente espírito de discernimento e de conhecimento da história da Igreja e da história litúrgica em particular, porque, se os tivessem, saberiam que o rito de Pio V foi fruto da reordenação/reforma do rito precedente, o qual, por sua vez, fora reformado pelo menos quatro vezes antes da reforma global do Concílio Vaticano II, feita por Paulo VI.
O problema não é a Missa em latim (hoje anacrônica), o verdadeiro problema consiste no fato de que a Missa de Pio V é uma bandeira içada pelos tradicionalistas para exigir o repúdio total do Concílio Ecumênico Vaticano II e especialmente do Papa Paulo VI que eles consideram cismático e inspirado pelo diabo. Denegrir conscientemente o Concílio e os seus papas é a missão e o objetivo
pastoral desses “campeões da fé”. Restaurando para eles o velho rito revogado por Paulo VI como demonstra o documento que alegamos, o senhor se faz cúmplice e fautor de um cisma ainda maior porque os discípulos de Lefebvre não aceitarão jamais a autoridade do Concílio transgredindo o Código de Direito Canônico no artigo no qual sanciona que o Concilio exerce o magistério “de modo solene sobre a Igreja universal” (CJC, 337,§1).
O senhor é o Papa e nós reconhecemos a sua autoridade, mas ao mesmo tempo lhe dizemos que o senhor não pode fazer aquilo que quiser e não pode contradizer um Concilio, nem muito menos revogá-lo como o está fazendo com a concessão em “caráter exclusivo” da Missa de Pio V. Concedendo o indulto a toda a Igreja, o senhor se dispensa de exigir, como é seu dever e obrigação, a declaração de fidelidade ao magistério do Concílio. Desde esse momento, todos se sentirão no direito de pedir indultos especiais sob a ameaça de fazer um cisma, como notoriamente está fazendo o bispo-feiticeiro Milingo. O senhor mesmo, em seu livro autobiográfico, atribuiu as culpas da crise da Igreja à reforma litúrgica, colocando-se no mesmo plano que um político italiano, Umberto Bossi, representante de um partido xenófobo, o qual atribui todos os males da era moderna, desde a Revolução Francesa à globalização a nada menos que ao “Concílio que virou os altares”. O senhor não está, creia-nos, em boa companhia.
Nós afirmamos nossa fidelidade ao Concílio Ecumênico Vaticano II, do qual nos gloriamos de ser filhos e guardiões, aceitamos as suas reformas que consideramos não realizadas e superadas, porque, para nós, o Concílio foi encerrado apressadamente sem que tenha podido encarar os problemas até hoje não resolvidos: a sobrevivência da terra; a pobreza de três quartos da humanidade; a água fonte de vida para todos os povos; o desenvolvimento compatível; a guerra proibida; o retorno ao “princípio” da Palavra, a estrutura da Igreja, povo de Deus, o conteúdo ou o estilo da autoridade como serviço; os critérios de escolha dos Bispos; a teologia como comunhão de teologias; os leigos e as leigas sujeitos ativos da Igreja; a autonomia e a liberdade das comunidades em matéria organizativa e cultual; os títulos e honrarias incompatíveis com a fé; quais ministérios e para qual Igreja; os ministérios de cônjuges e de celibatários; a Igreja e a mulher; os ordinariatos militares; a relação com “os reinos deste mundo” (Concordatas?); a formação permanente do pessoal da Igreja.
Diante desses desafios que abrem o terceiro milênio e que esperam a Igreja como testemunha do Logos encarnado na história (Jo. I, 14), querer retornar ao passado restaurando fórmulas e ritos de outros tempos e fora do tempo, é sintoma de medo, pecado de soberba e desconfiança no Espírito Santo que hoje não falaria mais como falou no passado, não obstante Cristo seja “o mesmo ontem e hoje e nos séculos” (Heb., XVIII, 3).
Nós lhe pedimos que não publique o indulto que justificaria o desprezo de quem já despreza o Concílio, mas lhe pedimos que peça aos Bispos, Cardeais e cristãos um ato de adesão formal ao inteiro magistério do Concílio, começando o senhor mesmo a dar o bom exemplo disso. No caso de publicação do indulto que restaure a Missa de Pio V, estaremos de joelhos, mas com as costas retas não o aplicaremos, mas o combateremos em nome de nossa consciência e do respeito devido ao Concílio ecumênico e aos papas seus predecessores. Nós exigimos com o mesmo tratamento uma missa mais participada e mais condividida como nosso povo. Hoje, mais do que nunca, vale o grito de Cristo aos apóstolos assustados, grito feito seu pelo Papa João Paulo II no dia do início de seu pontificado: "Não tenhais medo” (Mc., VI, 50). Nós não temos medo!
O senhor é o Papa e nós reconhecemos a sua autoridade, mas ao mesmo tempo lhe dizemos que o senhor não pode fazer aquilo que quiser e não pode contradizer um Concilio, nem muito menos revogá-lo como o está fazendo com a concessão em “caráter exclusivo” da Missa de Pio V. Concedendo o indulto a toda a Igreja, o senhor se dispensa de exigir, como é seu dever e obrigação, a declaração de fidelidade ao magistério do Concílio. Desde esse momento, todos se sentirão no direito de pedir indultos especiais sob a ameaça de fazer um cisma, como notoriamente está fazendo o bispo-feiticeiro Milingo. O senhor mesmo, em seu livro autobiográfico, atribuiu as culpas da crise da Igreja à reforma litúrgica, colocando-se no mesmo plano que um político italiano, Umberto Bossi, representante de um partido xenófobo, o qual atribui todos os males da era moderna, desde a Revolução Francesa à globalização a nada menos que ao “Concílio que virou os altares”. O senhor não está, creia-nos, em boa companhia.
Nós afirmamos nossa fidelidade ao Concílio Ecumênico Vaticano II, do qual nos gloriamos de ser filhos e guardiões, aceitamos as suas reformas que consideramos não realizadas e superadas, porque, para nós, o Concílio foi encerrado apressadamente sem que tenha podido encarar os problemas até hoje não resolvidos: a sobrevivência da terra; a pobreza de três quartos da humanidade; a água fonte de vida para todos os povos; o desenvolvimento compatível; a guerra proibida; o retorno ao “princípio” da Palavra, a estrutura da Igreja, povo de Deus, o conteúdo ou o estilo da autoridade como serviço; os critérios de escolha dos Bispos; a teologia como comunhão de teologias; os leigos e as leigas sujeitos ativos da Igreja; a autonomia e a liberdade das comunidades em matéria organizativa e cultual; os títulos e honrarias incompatíveis com a fé; quais ministérios e para qual Igreja; os ministérios de cônjuges e de celibatários; a Igreja e a mulher; os ordinariatos militares; a relação com “os reinos deste mundo” (Concordatas?); a formação permanente do pessoal da Igreja.
Diante desses desafios que abrem o terceiro milênio e que esperam a Igreja como testemunha do Logos encarnado na história (Jo. I, 14), querer retornar ao passado restaurando fórmulas e ritos de outros tempos e fora do tempo, é sintoma de medo, pecado de soberba e desconfiança no Espírito Santo que hoje não falaria mais como falou no passado, não obstante Cristo seja “o mesmo ontem e hoje e nos séculos” (Heb., XVIII, 3).
Nós lhe pedimos que não publique o indulto que justificaria o desprezo de quem já despreza o Concílio, mas lhe pedimos que peça aos Bispos, Cardeais e cristãos um ato de adesão formal ao inteiro magistério do Concílio, começando o senhor mesmo a dar o bom exemplo disso. No caso de publicação do indulto que restaure a Missa de Pio V, estaremos de joelhos, mas com as costas retas não o aplicaremos, mas o combateremos em nome de nossa consciência e do respeito devido ao Concílio ecumênico e aos papas seus predecessores. Nós exigimos com o mesmo tratamento uma missa mais participada e mais condividida como nosso povo. Hoje, mais do que nunca, vale o grito de Cristo aos apóstolos assustados, grito feito seu pelo Papa João Paulo II no dia do início de seu pontificado: "Não tenhais medo” (Mc., VI, 50). Nós não temos medo!
Genova, 12 de Novembro de 2006
Paolo Farinella, padre
Para citar este texto:
"Atrevida carta aberta ao Papa contra a restauração da Missa Tridentina e em defesa do Concílio Vaticano II"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/20061128/
Online, 26/12/2024 às 04:41:49h