Igreja e Religião
Fraternidade São-Pio X: "Não desejamos acordos práticos"
Yves Chiron
A solicitude da Santa Sé pela Fraternidade SacerdotalSão-Pio Xea vontade de conceder um mais visível e mais completo “ direito de cidadania ” à Missa tradicional naIgreja (conforme a expressão do cardeal Medina) não foram desmentidos. Para resumir estadupla questão, ligada, depois tratada separadamente pela Santa-Sé, pode-se por em paralelo as iniciativas de uns e as respostas dos outros, tentando mostrar a razão de sua sucessão:
• No dia 29 de Agosto último, em Castel Gandolfo, Bento XVI recebeu, a pedido dele,Monsenhor Fellay, Superior geral da Fraternidade São-Pio X, acompanhado do PadreSchmidberger, primeiro assistente geral da FSSPX. O Cardeal Castrillón Hoyos, Presidente da Comissão Pontifícia "Ecclesia Dei", assistia igualmente ao encontro que durou pouco mais de meia hora. Na saída do encontro, Monsenhor Fellay publicou um comunicado para dizer principalmente: “Nós chegamos a um consenso sobre o fato de proceder por etapas na resolução dos problemas” A expressão, “proceder por etapas”, encontra-se também no comunicado publicado pela Santa Sé.
• No dia13 de Novembro, na rede italiana de televisão Canal 5, o Cardeal Castrillón Hoyos, encarregado do dossiê de reconciliação com a FSSPX, declara a propósito desta :
“Não estamos em face de uma heresia. Não se pode dizer em termos corretos, exatos, precisos que haja um cisma. Éuma atitude cismática ter consagrado Bispos sem mandato pontifício. Mas eles estão na Igreja, falta apenas uma plena, uma mais perfeita – como foi dito então quando do encontro com Monsenhor Fellay – uma mais plena comunhão, porque a comunhão já existe”.
• Estadeclaração, de algum modo, preparou o encontro que se deu, dois dias mais tarde, a 15 de Novembro, em Roma, e que só será conhecido só várias semanas mais tarde, por umaindiscrição da imprensa italiana e por outras fontes[1]. Ela teve lugar na residência do Cardeal Castrillon Hoyos, Piazza della Cittá Leonina. O Padre Marc Nély, Superior do distrito italiano da FSSPX, acompanhava Monsenhor Fellay. Mais que um desjejum de convívio, tratou-se de um encontro aprofundado pois que, chegados pelas 11 horas na residência cardinalícia, os dois clérigos daFSSPXsaíram dela depois das 16 horas. Eles entregaram ao Cardeal Castrillon Hoyos um exemplar da tradução italiana da biografia de Monsenhor Lefebvre escrita por Monsenhor Tissier de Mallerais, tradução que acabava de ser publicada, e também um memorandumsobre as objeções da FSSPX ao concílio Vaticano II e às reformas que dele se seguiram.
• No dia22 de Dezembro: importante discurso de Bento XVI diante da Cúria Romana. Pode-se lê-lo como uma resposta ao memorandumapresentado um mês antes pela FSSPX. Com efeito, entre os temas abordados então quando desse tradicional discurso de fim de ano, o Papa evocou longamente a “ difícil ” recepção do Concílio Vaticano II. “Os problemas da recepção, notadamente declarou e dela, nasceram do fato de que duas hermenêuticas contrárias se defrontaram e polemizaram ”. Bento XVI contestou a hermenêutica da discontinuidade e da ruptura”.
Sobre a liberdade religiosa, um dos pontos nodais da crítica do Vaticano II pela FSSPX, Bento XVI opõe à falsa concepção da liberdade de religião como “ canonização do relativismo ”, a concepção, limitada, da “liberdade de religião como uma necessidade decorrendo da convivência humana” e “ como uma conseqüência da verdade que não pode ser imposta desde o exterior”.
• No dia 13 de Fevereiro: 1a reunião dos chefes de dicastério da Cúria Romana com Bento XVI sobre a restauração da comunhão com a FSSPX.
• 23 de Março: “ Jornada de reflexão e de Oração ” do Sacro-Colégio com Bento XVI. Entre os temas abordados, houve, de manhã, o da situação canônica da situação canônica da Fraternidade São-Pio X e dos sacerdotes que a ela pertencem, questão introduzida por uma exposição do Cardeal Castrillón Hoyos, Presidente da Comissão Ecclesia Dei. À tarde, o Cardeal Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, fez uma exposição sobre a reforma litúrgica pós-conciliar e sobre o uso do Missal de São Pio V. Nos dois casos, numerosos cardeais tomaram a palavra em seguida.
• Nesse mesmo dia, Monsenhor Fellay, numa entrevista à DICI, órgão da FSSPX, precisou as suas relações com Roma. Ele expôs, longamente, e mais claramente que nunca o havia feito até então, as três etapas que ele deseja vencer junto com a Santa-Sé:
1 - “a liberação do uso do missal de São Pio V e a retirada do decreto de excomunhão”;
2 - “apresentar a Roma os argumentos da Teologia tradicional, reforçados pelos fatos do apostolado tradicional”;
3 - obter um estatuto canônico para a FSSPX. Conforme Monsenhor Fellay, no estado atual das coisas, um estatuto canônico “parece prematuro”.
• Do dia 4 ao dia 7 de Abril, a Conferência dos Bispos da França realizou sua “Assembléia de Primavera” em Lourdes. Pela la primeira vez, de modo oficial pelos Bispos da França, foi abordada a questão da “acolhida e do lugar dos grupos tradicionalistas” nas dioceses. A associação OREMUS, dirigida por Loïc Mérian, animador igualmente do C.I.E.L. (Centro Internacional de Estudos Litúrgicos), enviara a todos os Bispos, a pedido do Cardeal Ricard,um Estudo estatístico sobre o número de fiéis “tradicionalistas” nas dioceses francesas.
Esforçando-se por ser exaustiva, e tomando as precauções de uso na manipulação dos números, essa pesquisa estima que os fiéis ligados à liturgia tradicional são cerca de 80.000 na França (ume centena de lugares de culto para as Missas autorizadas pelos Bispos e cerca de 45.000 fiéis; e cerca de 200 lugares de culto e aproximadamente 35.000 fiéis da FSSPX e das comunidades que a ela estão ligadas). Cerca de400 padres no total, e umas quinzeordenações na França (juntando os padres das Fraternidades e comunidades Ecclesia Dei e os da FSSPX e das comunidades que dependem delas). O estudo estatístico evoca também as escolas sem contrato, os movimentos de jovens, os grupos escoteiros, etc. que são ligados às Fraternidades e comunidades tradicionalistas, de todas tendências juntas.
Os Bispos da França, ao que parece, ficaram bastante impressionados, por esta realidade que, em sua globalidade, lhes era largamente desconhecida. O Cardeal Ricard, na saída dos trabalhos da Conferência dos Bispos, disse querer procurar uma “ comunhão na caridade e na verdade ”. A expressão já se achava, muito exatamente, no discurso que Bento XVI pronunciou quando da audiência geral de 5 de Abril precedente, discurso consagrado à “ Igreja como comunhão ”.
• 7 Abril: 2a reunião dos chefes de dicastério da Cúria Romana com Bento XVI sobre a restauração da comunhão com a FSSPX.
• Em 8 de Abril, no Figaro, o Padre de Cacqueray, superior do Distrito da França da FSSPX, se alegra do novo interesse dos Bispos da França pelos fiéis tradicionalistas. Ele declara entretanto: “nós não desejamos acordos práticos” mas antes um “modus vivendi, em concreto, caso por caso ”. O que já se pratica há muitos anos.
• Quinta Feira Santa 13 de Abril: Bento XVI deveria tornar público um Motu Proprio sobre o rito da Missa.
[1] A grande discrição dos participantes nesse encontro me tinha feito escrever em Aletheia que o encontro tinha ocorrido no início de Dezembro. Foi só posteriormente que a FSSPX dará a data exata.
Para citar este texto:
"Fraternidade São-Pio X: "Não desejamos acordos práticos""
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/imprensa/igreja/20060409/
Online, 21/12/2024 às 13:48:06h