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Resposta contra as calúnias dos cismáticos ortodoxos
PERGUNTA
Olá amigo da montfort obrigado pelo trabalho que vcs vem fazendo
Eu tenho um amigo americano que é ortodoxo
Eu estava tentando converter ele ao catolicismo recentemente e ele sempre fala que não catolico por causa da história da igreja catolica X a ortodoxa
Ele citou por exemplo o caso do catolicos poloneses vs os ortodoxos
Que os católicos poloneses fizeram atrocidades contras os ortodoxos
enquanto Macarius III Ibn al-Za"im o patriarca ortodoxo de Antioquia mesmo vendo a brutalidade dos catolicos reconheceu o batismo católico como válido ( depois descobri que ele pegou isso da wikipedia em ingles)
Ou que o papa mandou os cruzados fazerem pilhagem em Constantinopla matando milhares de ortodoxos e mesmo assim os ortodoxos na tentativa de ser reconciliar pediram ajuda do papa na queda de Constantinopla e o papa recusou por queria vingança pelo cisma
Infelizmente eu não tenho conhecimento da história da Europa oriental o sobre o imperio bizantino
Mais desconfiou que isso seja mentira
Por isso gostaria de pedir para vocês que tem grande conhecimento sobre a historia da igreja que me esclarecer sobre o assunto
Desde já Deus abençoe vocês
Diego martinez
RESPOSTA
Vamos dividir em duas partes nossa resposta contra as calúnias dos cismáticos ortodoxos, na primeira parte, meu amigo do Mato Grosso do Sul, Éder Moreira, se ocupará da parte histórica das acusações dos cismáticos. Na segunda parte, eu, Mauro Rocha, colocarei o relato do martírio de um Grande Mártir da Igreja que foi brutalmente assassinado pelos cismáticos, São Josaphat KUNCEVICZ.
Alegra-nos sua sincera confiança em nosso modesto apostolado. Embora bem menos capazes que nosso saudoso professor Orlando Fedeli, procuramos, na medida das limitações, perpetuar o seu frutuoso legado, propalando a luz da Verdade contra os inimigos da Igreja de Cristo.
De antemão, dou-lhe os parabéns pelo empenho na conversão do “ortodoxo” cismático. Que Nossa Senhora recompense sua Caridade, cada vez mais rara nesses tempos de liberalismo “conservador”.
Conforme a sua descrição, a História da Igreja Católica – supostamente de perseguição aos orientais autocéfalos – seria o grande empecilho que o cismativo evoca para permanecer no cisma antiortodoxo. Ora, ainda que ele tivesse razão – historicamente – os possíveis pecados pessoais dos membros da Igreja não anulam a Divina promessa de Jesus Cristo: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra [Pedro] edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (São Mateus XVI, 18-19).
A Igreja é uma Sociedade Divina e Humana. Ela é Divina por sua Cabeça (Cristo), razão pela qual é infinitamente Santíssima. A parte humana é constituída pelos homens (clero e fieis) que dela fazem parte como membros. Ora, assim como é impossível manchar a divina santidade do Filho de Deus, igualmente é impossível que os pecados finitos dos maus católicos, por mais horríveis que sejam, destruam ou diminuam a santidade da Igreja, que é o próprio Corpo Místico de Cristo (Colossenses I, 24).
É claro que por conter membros humanos, a história da Igreja, assim como a história do Antigo Testamento, teria lamentáveis situações de corrupção, envolvendo seus membros pecadores. Mas, assim como não se pode imputar ao corpo de bombeiro as falhas de um membro que vai contra as normas da instituição, também – e muito menos – se pode imputar a Igreja os possíveis desvios de membros desobedientes. Do contrário, seu amigo “ortodoxo” sequer deveria dizer-se cristão, pois já entre os primeiros apóstolos houve um traidor (Judas) e um negador de Cristo (Pedro).
Ademais, se os supostos pecados, mencionados pelo cismático, são motivos para ele desprezar a Igreja de Pedro, fundada por Nosso Senhor, ele também deveria se desligar da Igreja Oriental, visto que, na história, seus membros cometeram atrocidades, inclusive contra membros da Igreja de Roma. Foi o que aconteceu em 1182, quando os orientais “ortodoxos” mancharam, uma vez mais, a vergonhosa história cismática, com uma sangrenta perseguição aos cristãos latinos em Constantinopla:
“Nesse massacre, de 1182, os gregos atacaram a população latina de Constantinopla e mataram homens, mulheres e crianças. Atacou-se o clero católico com ferocidade particular. Um diácono foi decapitado e teve a cabeça amarrada ao rabo de um cão, para demonstrar o desprezo por Roma. De acordo com o arcebispo Guilherme de Tiro, um historiador da época, o bando desenterrou e despedaçou cadáveres de católicos, invadiu hospitais para matar os doentes e vendeu milhares como escravos” (Diane Moczar. Sete mentiras sobre a Igreja Católica. 3ª edição. Editora Castela: Rio de Janeiro, 2014, p. 73-74).
Esse fato deplorável – componente da história cismática – é endossado pelo doutor e sociólogo norte-americano Rodney Stark, que põe em destaque os crimes dos “ortodoxos”:
“Nem se diz coisa alguma a respeito dos séculos de brutalidade de ortodoxos contra cristãos latinos: em 1182, o imperador incitou as multidões a atacarem todos os ocidentais residentes em Constantinopla, uma ocasião em que ‘milhares, incluindo mulheres, crianças e idosos foram massacrados’ [...] Nada se diz sobre as traições bizantinas praticadas durante cada uma das primeiras cruzadas, que custaram as vidas de dezenas de milhares de pessoas. Certamente não surpreende que esses diversos atos de traição tenham gerado uma grande animosidade contra Bizâncio” (Os Batalhões Sagrados: A Verdadeira História das Cruzadas. Editora Quadrante: São Paulo, 2020, p. 242-243).
Parece que os chefes cismáticos não estão sendo sinceros com seu amigo, escondendo dele o passado criminoso dos orientais submersos no sectarismo!
É mentira que o Papa ou a Igreja de Roma ordenou o saque de Constantinopla! Quem lê livros sérios sobre o assunto jamais chega a essa conclusão estapafúrdia! O insensato desvio da quarta cruzada para Zadar, que era católica, bem como para Constantinopla, foi um ato de desobediência às ordens do Papa Inocêncio III:
“O exército desembarcou, mas ele então recebeu uma carta do papa proibindo-o de atacar qualquer cidade cristã e se referindo a Zadar pelo nome. Muitos líderes cruzados, conduzidos pelo abade cisterciense Guido de Vaux-de-Cernay e Simão de Montfort, veicularam sua oposição ao cerco em nome do papa, e mesmo enviaram mensagens aos defensores de Zadar, encorajando-os a resistir” (Jonathan Riley-Smith. As Cruzadas: Uma História. CEDET: São Paulo, 2019, p. 266).
Com relação ao desvio da quarta cruzada para a Capital do Império Bizantino, a posição do Papa foi novamente de condenação:
“Bonifácio de Montferrat se recusou a publicar a bula de excomunhão dos venezianos, porque, explicou ele, jogando com os medos de Inocêncio, não queria que a cruzada se dissolvesse; apenas iria entrega-la aos venezianos se o papa insistisse. Quando Inocêncio respondeu, em junho de 1203, exigindo que a bula fosse publicada e repetindo que os cruzados não deveriam atacar nenhum outro território cristão, referindo-se desta vez especificamente ao Império Bizantino...” (Jonathan Riley-Smith. As Cruzadas: Uma História. CEDET: São Paulo, 2019, p.268).
Essa condenação de Roma causou protestos e levou muitos cruzados a abandonar a quarta cruzada, que lamentavelmente se afastou do seu verdadeiro objetivo na Terra Santa:
“Houve protestos da parte de alguns cavaleiros, que recordaram a proibição do Papa de atacar a nenhum cristão sob pena de excomunhão... Em sinal de protesto, alguns cruzados abandonaram a expedição...” (Bernardino Llorca. História de La Iglesia Catolica: Edad Media. Biblioteca de Autores Cristianos: Madrid, 1963, p. 563).
Seu amigo precisa estudar para não ser enganado pelos inimigos da Verdadeira e Única Igreja de Cristo, fora da qual ninguém, nem mesmo os cismáticos, podem obter salvação!
A estória de que o Papa negou ajuda aos Orientais, ameaçados pelas forças otomanas, é outra mentira que seu amigo engoliu sem ao menos investigar historicamente.
Vejamos o que diz uma boa história, sem trapaças cismáticas:
“O último imperador, Constantino XII Dragases (1448-1453), havia compreendido a gravidade da situação e, por isso, pedira ajuda ao Papa Nicolau. O pontífice teve de vencer muitas dificuldades para convencer os ocidentais a se moverem diante do perigo comum, mas quando os reduzidos socorros, reunidos com dificuldade, fizeram-se ao mar, já era tarde demais” (Dom Agostinho Saba e Pe. Carlo Castiglioni. História dos Papas: De Silvestre II a Leão X. Vol. II. CDB: Rio de Janeiro, 2023, p. 478).
Veja, caro Diego, o Papa não foi negligente diante do pedido do Imperador. A questão é que o Pontífice, ansioso para socorrer os orientais, teve de convencer – com muita dificuldade – as tropas ocidentais. Mas quem disse que os cismáticos queriam, de fato, a ajuda do Papa? Outra vez seu amigo foi enganado:
“Enquanto o inimigo se apoderava das muralhas da cidade, os estoicos cidadãos nas ruas, sob as janelas do palácio imperial, protestavam não querer o socorro dos latinos: ‘Não, não queremos os latinos, nem a sua ajuda. Longe de nós o abominável culto dos azimistas!’ E o grão-duque Loukas Notara dizia: ‘Quanto a mim, cem vezes prefiro ver o turbante turco em Constantinopla, que a tiara do Papa” (Dom Agostinho Saba e Pe. Carlo Castiglioni. História dos Papas: De Silvestre II a Leão X. Vol. II. CDB: Rio de Janeiro, 2023, p. 479).
Apesar do orgulho cismático, o Papa se empenhou e enviou esforços para socorrer os ingratos orientais. E o mesmo fizeram os Papas posteriores. Calisto III, sucessor de Nicolau, fez o seguinte juramento: “Eu, o Papa Calisto III, prometo e faço voto à SS. Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, à sempre Virgem Maria de Deus, aos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a todas as milícias celestes, que, se for necessário, mesmo com o derramamento de meu próprio sangue, segundo as minhas forças, farei de tudo para retomar Constantinopla. Oh! Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, caia no esquecimento a minha mão direita” Dom Agostinho Saba e Pe. Carlo Castiglioni. História dos Papas: De Silvestre II a Leão X. Vol. II. CDB: Rio de Janeiro, 2023, p. 484-485).
É mentira, portanto, que Roma negou ajuda à Constantinopla!
Aqui começa a segunda parte da nossa resposta, com o relato do martírio de São Josaphat, no intuito de demonstrar que a Igreja Romana, longe de ser perseguidora, foi perseguida pelos cismáticos (sugerimos também que você procure conhecer a vida de Santo André Bobola, outro mártir assassinado pelos cismáticos):
“Josafá (12 de novembro de 1623.) ficou duas semanas em Vitebsk com sua comitiva, e todos os dias, em sua vilania, os habitantes da cidade procuravam uma oportunidade para atentar contra a vida de seu pai. Gritos, ameaças, insultos perseguiam constantemente os servos do bispo para levá-los a algum brilho; mas, graças às exortações do seu senhor, os servos fiéis souberam conter-se e mostrar, nestas horas terríveis, grande força de alma.
No sábado, um dia antes de sua morte, Josaphat havia deixado a cidade para demarcar com um cavalheiro chamado Krapiewieg uma propriedade da Igreja, e quando o assunto foi encerrado, apressou-se em retornar a Vitebsk para assistir às vésperas. Os cismáticos improvisaram, fora da cidade e deste lado do Dwina, dois templos que serviam maravilhosamente de pretexto para um vaivém contínuo diante do palácio episcopal que corria ao longo da margem; Também se depararam com oficiais da igreja que tinham vindo ao encontro do bispo, que foram obrigados a atravessar o rio para se aproximarem do palácio; Eles então lhes disseram em tom ameaçador: “Vocês não têm muito tempo para ficarem aqui, nem vocês nem seu mestre. »
Desembarcado, Josafá volta para casa. Foi-lhe então relatado que o padre cismático Hélie havia amontoado insultos de todos os tipos contra seus servos e o clero. Este último, de facto, para expor a sua rebelião em plena luz do dia,
fingiu passar e repassar em frente ao palácio, sem levar em conta qualquer observação. Seguindo o conselho de seu arquidiácono, Josafá permitiu que esse homem teimoso fosse preso no dia seguinte, de madrugada, quando ele ia aos templos.
À noite, Pedro Svanovicz, cônsul de Vitebsk, muito devoto do bispo, veio procurá-lo e revelou-lhe tudo o que os cismáticos haviam decretado na assembleia que realizaram durante a semana no hotel da cidade. Nada poderia atrapalhar a trama; num motim repentino, que aconteceria no domingo seguinte, os assassinos fariam o seu trabalho; os principais conspiradores tinham, um após o outro, abandonado a cidade, de modo que o parricídio não lhes podia ser atribuído; um bando feroz formado, comprado pelos cônsules, estava pronto para desembainhar o punhal ao primeiro sinal; o bispo teve que se retirar diante desta horda furiosa, para pensar na sua vida e na do seu povo. Josafá permaneceu firme, alegando que seus cavalos estavam no campo; que além disso sua vida estava nas mãos de Deus e que ele sofreria com alegria tudo o que o céu lhe enviasse. O fiel burgomestre continuou suas súplicas, implorando-lhe que evitasse a morte certa ou pelo menos defendesse sua vida com as armas nas mãos; e embora o santo não quisesse ouvir nada, ele trouxe um suprimento de pólvora para os servos e juntou-os aos seus próprios servos.
Ao anoitecer, Josafá sentou-se pela última vez com seu povo à mesa comum. Ele nunca deixou de confortá-los, dizendo-lhes para não temerem nada; se havia algum perigo, era a vida dele que estava em jogo e não a deles.
Durante a refeição, ele falava constantemente com eles sobre sua morte, deixando de lado todas as outras conversas à mesa e encontrando mais charme nesta conversa do que em qualquer outra. Seu arquidiácono acabou pedindo-lhe que não mencionasse constantemente o medo da morte e deixá-los comer tranquilamente: “Que mal você acha”, respondeu o bispo, “em eu querer morrer por Cristo e pela nossa santa fé? »
Qual anjo do céu nos contará os mistérios desta noite suprema? Segundo todos os relatos, Josafá dedicou essas horas de vigília a extrair força e coragem somente de Deus.
Absorto na contemplação, sua alma elevava-se aos céus, enquanto, de bruços, com os braços estendidos, com seu sotaque humilde e terno, violentava o coração de seu divino mestre. Às lágrimas de alegria seguiam-se soluços dilacerantes, suspiros capazes de mover o céu, golpes constantemente repetidos de uma flagelação sangrenta.
Um velho mendigo chamado Tiphon testemunhou esta cena íntima. O bispo partilhou com ele o seu quarto, querendo mostrar até à última hora a sua ternura e o seu amor pelos pobres. Este homem foi capaz de espioná-lo e ver como ele se armou para enfrentar a morte.
Uma luz celestial, diz-se, envolveu-o durante esta conversa íntima com Deus, enquanto lá fora, no silêncio da noite, nuvens vermelho-escuras reuniam-se sobre o palácio episcopal, onde se destacava uma cruz roxa ensanguentada que foi vista a mais de três léguas. de Vitebsk. O céu manifestou assim os desejos do santo bispo.
Porém, o arquidiácono acorda os criados e prepara com eles a prisão do padre Hélie. Este último foi capturado quando se apressava para chegar ao templo antes do amanhecer, e trancaram-no na cozinha do palácio. Josafá já havia ido à igreja para o culto das matinas. Um dos companheiros de Hélio, que assistia à sua prisão, deu o alarme. Os conspiradores, entendendo que o insulto ao padre era um excelente pretexto para agirem, correram para a Câmara Municipal e para as igrejas. Os sinos são acionados: este é o sinal do crime planejado.
A voz sinistra do tocsin ressoando na noite calma envia alarme às ruas desertas e silenciosas. A cidade inteira está de pé, e logo a agitação é tanta que todos, burgueses, homens da população, mulheres, crianças correm para o palácio episcopal. O céu, já tão sombrio, testemunha desta sede feroz de sangue inocente, tinge-se de um vermelho ainda mais sinistro. Coisa inacreditável! Agora, mais do que nunca, os próprios homens da milícia estão a ajudar os desordeiros. Clamores, vociferações, apelos às armas misturam-se com o barulho repetido das detonações, e uma saraivada de pedras, paus e balas cai sobre os criados que fazem guarda ao redor do palácio. Estes últimos, vendo impossível a resistência, refugiaram-se no pátio equipado com paliçadas e, assim barricados, continuaram a defesa. Ao saber da notícia do tumulto, o prelado deu ordem para libertar o padre e, passadas as manhãs, ele foi ao palácio através das fileiras cerradas dos desordeiros. É um milagre que ele possa fazer isso impunemente. A fúria parece diminuir por um momento. Josafá aproveitou a calmaria para recomendar aos seus defensores que usassem apenas maços de papel nas armas de fogo, com o único objetivo de assustar os agressores. Voltando ao seu apartamento, volta a orar, prostra-se novamente com os braços cruzados, misturando lágrimas com suas súplicas. Esquecendo a terra, todo o seu ser, neste momento supremo, está absorvido somente em Deus.
Ao nascer do sol, cujo disco está ensanguentado, por volta das oito horas da manhã, o tumulto ressoa novamente. Uma multidão desenfreada corre de todos os lados; um incêndio criminoso o acende. Alguns fazem chover uma saraivada de dardos e balas no pátio, outros acumulam materiais inflamáveis para queimar a paliçada, mas temem um incêndio geral na cidade os detém. Logo, vendo que o fuzilamento dos servos do prelado não surtiu efeito, redobraram a audácia e a ferocidade. Como se se tratasse de derrubar do seu trono um amargo inimigo do nome cristão e não o mais piedoso, o mais inofensivo, o mais inocente dos bispos, brandindo as suas armas, num impulso feroz derrubam barreiras e paliçadas e espalham-se em O tribunal. Os pobres servos que fogem de um lado para o outro são perseguidos com armas ou sabres, e as portas do átrio que dá acesso aos aposentos episcopais são arrombadas. Foi lá, onde acabavam de se refugiar, que o arquidiácono Doroteu, monge da ordem de São Basílio, e Emmanuel Cantacuzene, descendente da dinastia imperial de Constantinopla e administrador de Josafá, ficaram gravemente feridos. O primeiro recebe dezoito cortes na cabeça; todos os seus membros, crivados de golpes, parecem totalmente despedaçados; Cantacuzene sofre treze feridas abertas e é cruelmente espancado. Ambos jazem no chão, afogados em sangue e deixados para morrer. Os demais servos atingidos por balas, perfurados com golpes de espadas e paus, porém conseguiram escapar; apenas Grégoire Uszocki, embora gravemente ferido, permanece de pé no átrio. Um dos assassinos o reconhece e grita para ele: “E você também faz parte da gangue!” Você não sabia há muito tempo que tudo isso iria acontecer com você um dia ou outro? »
O prelado parece acorda assustado; ele interrompe sua conversa com Deus e, sentindo que seu fim está próximo, caminha ao encontro dos assassinos. Ele mesmo abre e fecha a porta de seu quarto e fica na soleira do átrio. Ali, tendo ao seu lado o fiel Gregório, estendeu a mão para abençoar os algozes e disse-lhes gentilmente: “Meus filhos, por que maltratam os meus servos que não lhes fizeram mal? Se vocês querem a mim, aqui estou. » Os assassinos permanecem imóveis e atordoados, como se uma mão divina estivesse pesando sobre eles. Mas dois deles, ausentes enquanto o bispo falava, saltaram de uma sala nos fundos gritando: “Bata, mate esse latino, esse papista!” » O homem de Deus, calmo como o cordeiro destinado ao sacrifício, cruza os braços sobre o peito, enquanto um desses dois bandidos bate-lhe na cabeça com uma longa vara e o outro, armado com um machado, abre uma grande ferida em sua testa. Mal ele caiu no chão quando armas de todos os tipos caíram sobre ele, desmembrando-o e crivando-o com tamanha barbárie que ele não manteve mais sua forma humana. No meio destas torturas, o santo prelado levanta a mão, faz ouvir a sua voz; ele quer, tentando fazer o sinal da cruz, mostrar que, por amor à cruz, suporta voluntariamente o sofrimento; e, murmurando o nome de seu Deus, exonera seus algozes, perdoa seus assassinos. Mas ele não pode completar o seu sinal da cruz nem continuar a sua oração; enquanto esses loucos gritam que o bispo ainda está vivo, duas balas de mosquete atravessam seu crânio. Assim, nada poderia deter a ferocidade destes parricidas; nem a augusta majestade do pontífice, nem a religião cristã mais adequada a inspirá-los com mansidão do que com violência, nem a severidade das leis prontas para alcançá-los, nem o próprio Deus, que vingou o sangue inocente em seu tempo, conseguiu desviá-los de um ataque tão bárbaro.
Começa então o saque: os móveis do prelado, os dos seus servos, os vasos de ouro e prata, o tesouro, as sedas, as roupas, as tapeçarias, todas as peças do arquivo, títulos e privilégios de fundação, armas, bronze, estanho, louças, utensílios de cozinha, tudo é presa desses bandidos. Eles quebram todas as fechaduras e, com a voracidade de mendigos vorazes, descem sobre os suprimentos de comida. Como em um assalto quebram os carros; portas, janelas, fogões, cadeiras, camas, são despedaçados. Nas adegas empanturram-se de vinho com uma gula ignóbil. Em seguida, rolam os barris vazios colina abaixo conhecida como Mãe de Deus, onde estão localizados o palácio episcopal e a igreja. O arquidiácono, meio morto, sofreu o mesmo destino, entre gritos e risos. Esta queda, porém, não lhe faz mal. Os judeus, por pena, acolheram-no e cuidaram dele. Cantacuzene também foi levado para local seguro. Foi aos olhos de todos um fato verdadeiramente milagroso ver os dois escaparem da morte que tantos ferimentos cruéis lhes causariam e ainda viverem por muitos anos. Assim se verificou a predição do mártir, que havia afirmado que pereceria sozinho.
Embriagados, os assassinos voltam ao corpo do prelado exposto a todos os ultrajes e arrastam-no para o pátio. Eles então testemunham a admirável coragem de um cão que até então defendia o cadáver, latindo e mordendo quem queria se aproximar dele, e que se deixou matar em vez de permitir que alguém tocasse ou retirasse o corpo de seu dono. Este pobre animal, elevando-se acima da sua própria natureza para assumir os sentimentos humanos e lutar contra a ferocidade do homem, condena para sempre a execrável barbárie destes brutos implacáveis sobre o venerável corpo do seu pastor.
Esquecendo toda a modéstia, com raiva bestial, eles levam a ignomínia ao ponto de despir o prelado. Sua carne é coberta por um cilício; um cinto de crina eriçado com pontas de ferro envolve seus lombos; uma fita aderida à batina contém uma disciplina sangrenta. Ao verem isso, ficaram atônitos, perguntando-se se, em vez do pontífice, não teriam matado algum monge: “Acostumado à doçura da vida, Josafá, dizem, não tinha virtude suficiente para se servir de tais armas! » Eles saem dos esconderijos onde tinham escondido, Grégoire Uszocki, meio inconsciente após os ferimentos, e um servo de Cantacuzène, Jean Jedlinski, espancaram-nos com golpes repetidos e ordenaram-lhes que dissessem o nome do cadáver. Embora a santidade do prelado fosse condenada diante deles, eles estavam dispostos a morrer em vez de negar o seu mestre. Os judeus concordam com eles, afirmando que se o corpo usa cilício é de fato o do bispo; Josafá nunca usou outra camisa. Alegres então, como se tivessem acabado de obter uma vitória, acreditando que estavam insultando a União enterrada para sempre, os assassinos apressam-se a sentar-se e beber do corpo nu do santo mártir; outros dançam sobre ele e o cobrem de saliva; sua barba e cabelo são arrancados, ele é espancado com incrível ferocidade e raiva. Mulheres, velhos, crianças, fazem com eles um assalto de brutalidade, imprimem o salto dos sapatos na testa do morto e derramam sobre ele todos os ultrajes que a maldade mais satânica lhes pode inspirar. Eles nem mesmo enrubescem, em sua loucura, ao enfrentar os últimos ataques, violando todas as leis da natureza e do pudor. O Céu, porém, continua a mostrar os seus favores para com o seu escolhido: um raio de luz vem iluminar estas cenas revoltantes, para tornar mais sagrada a nudez do mártir ou para melhor realçar a atrocidade destes sacrilégios.
Depois de terem despido completamente a vítima do cilício e amarrado uma longa corda aos seus pés, estes rebanhos tão queridos ao seu pastor, a quem já não nos atrevemos a chamar-se cristãos, vomitaram os mais vis insultos, uivando como os condenados, arrastando o corpo deste príncipe da Igreja pelas ruas da cidade. Os próprios turcos e citas teriam recuado horrorizados ao ver este espetáculo que deixa muito para trás o das antigas gemas. Chegando a um monte íngreme e rochoso com vista para o Dwina, eles jogam brutalmente o corpo sagrado no rio: “Aguente firme, grita a população, segure firme, bispo! » Deve ter sido completamente esmagado nas pedras. Segundo seus inimigos e os próprios judeus, nenhum de seus ossos, após tal queda, deveria ter permanecido intacto; e ainda assim, muitos anos depois, vários milhares de pessoas puderam ver que, graças à proteção divina, nenhum dos seus ossos foi fraturado. Afirmava-se que, durante a queda, uma nuvem leve pairava sobre o corpo do mártir e que um raio de luz, em forma de pirâmide, escapou e subiu em direção aos céus. Esta nuvem e esta luz, ao que parecia, davam-lhe, para protegê-lo de qualquer dano, a leveza dos corpos glorificados.
Alguns dos assassinos, montados em barcos, apreenderam o corpo do arcebispo e, subindo o rio, carregaram-no para cerca de um quilômetro e meio da cidade. Tendo amarrado em seu pescoço um cilício cheio de pedras e em seus pés uma enorme pedra, atiraram-no em um abismo muito profundo que muito apropriadamente foi chamado de Poço Sagrado, como salientaram as testemunhas durante o julgamento, já que se destinava a receber os restos mortais de tão grande santo.
Naquele momento - afirmaram testemunhas sob juramento à primeira comissão de inquérito - uma coluna de luz desceu do céu sobre o local da execução; um homem de aparência venerável apareceu no ar e desceu ao rio com a luz. O corpo reapareceu repentinamente na superfície da água apesar do peso que o sobrecarregava e acompanhou a corrente. Os barqueiros que se retiravam perceberam, voltaram e com muito esforço o engoliram novamente no abismo”. (BIBLIOGRAPHIE. — Mgr Ed. Likowski : Union de l"Eglise grecque-ruthène en Pologne avec l"Eglise romaine conclue à Bresq en Lithuanie, en 1596, trad. française, in-8°, Paris 1903 ; Cursus vitae et certamen martyrii B. Josaphat Kuncevicii, archiep. Polocellsis, ep. Vitebscensis et Mstislaviensis, ordinis D. Basilii Magni, calamo Jacob. Susza, edit. nova, curante J. Martinov, in-8°. Parisiis, 1865; A. Guépin, Vie de saint Josaphat Kuncevicz, in-8°, Paris.).
Esperando tê-lo ajudado, pedimos, por caridade, que reze por nós e pelo nosso apostolado, e que Deus o ajude sempre, e rezemos todos pela conversão dos cismáticos. Escreva-nos sempre que achar necessário.
In báculo Cruce et in virga Virgine,