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Pio IX vs Dupanloup
PERGUNTA
O autêntico significado do pensamento de Pio IX foi formulado pelo Bispo de Orleães, Mons. Dupanloup, num escrito que, aos 26/01/1865, comentava a Encíclica Quanta Cura e o Syllabus:
‘O Papa condena o indiferentismo religioso, esse absurdo que de todos os lados e em todas as tonalidades nos é incutido hoje em dia, a saber: o Evangelho ou o Alcorão, Buda ou Jesus Cristo, o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, tudo é igual… Condenar a indiferença em matéria de religião não é condenar a liberdade política dos cultos‘.
Até aí poderíamos dizer que é só uma mera interpretação (que alguns correriam para chamar de “modernista”) do Cardeal. Mas segue o texto…
“Ora Pio IX, aos 4/08/1865, respondeu elogiosamente a Mons Dupanloup, dizendo:
‘Reprovastes tais erros no sentido em que Nós mesmos os reprovamos… Estais em condições de transmitir aos vossos fiéis o nosso autêntico pensamento pelo fato de terdes refutado energicamente as interpretações errôneas do mesmo
RESPOSTA
Muito prezado Gabriel Paz, salve Maria!
A autêntica interpretação da Encíclica Quanta cura é dada pelo próprio Syllabus, veja alguns parágrafos do sylllabus citando teses condenadas sobre a liberdade de Culto:
"77º Na nossa época já não é útil que a Religião Católica seja tida como a única Religião do Estado, com exclusão de quaisquer outros cultos";
"78º Por isso louvavelmente determinaram as leis, em alguns países católicos, que aos que para aí emigram seja lícito o exercício público de qualquer culto próprio";
"79º É falso que a liberdade civil de todos os cultos e o pleno poder concedido a todos de manisfestarem clara e publicamente as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e dos espíritos dos povos, como contribua para a propagação da peste do Indiferentismo" (lembrando que todas essas teses citadas pelo Syllabus são condenadas).
Veja, Gabriel, que o Syllabus deixa claro como a água mais pura o sentido que deve ser dado: condenar liberdade de culto para as falsas religiões. O Texto que você nos envia de uma carta de Pio IX é frequentemente citada pelos "católicos" liberais como sendo um elogio à tese modernista do Dupanloup. Dupanloup é um conhecido cardeal modernista da época de Pio IX, esse cardeal atuou contra a infalibilidade papal, defendia a Revolução francesa e era galicano (galicanismo é uma heresia muito difundida no clero francês onde se coloca uma espécie de igreja nacional francesa acima do Papa e onde o principal chefe seria o Rei francês).
Eu desafio os liberais a mostrarem onde Pio IX cita nominalmente Dupanloup, sempre que mostram essa citação da carta de Pio IX eles omitem a identificação clara do destinatário, porque o que parece a carta não elogia diretamente Dupanloup mas uma certa parte dos bispos franceses que defendiam a boa interpretação dada por Pio IX: Le Syllabus
Le Syllabus Site officiel de la Contre-Réforme catholique au XXIe siècle. |
Se, por absurdo, o Papa Pio IX tivesse realmente errado e elogiado de forma equivocada as teses modernistas do cardeal liberal Dupaloup, ainda sim tal posição seria condenável, e seria uma posição privada tomada pelo Papa e não um ato do Magistério Infalível, pois infalivelmente tanto Syllabus quanto a própria encíclica Quanta Cura condenaram cabalmente a liberdade de culto das falsas religiões, por último deixo para sua reflexão o célebre sermão do Cardeal Pie sobre a intolerância católica:
"Faz parte da essência de toda verdade não tolerar o princípio que a contradiz. A afirmação de uma coisa exclui a negação dessa mesma coisa, assim como a luz exclui as trevas. Onde nada é certo, onde nada é definido, pode-se partilhar os sentimentos, podem variar as opiniões. Compreendo e peço a liberdade de opinião nas coisas duvidosas: in dubiis, libertas. Mas logo que a verdade se apresenta com as características certas que a distinguem, por isso mesmo que é verdade, ela é positiva, ela é necessária e por conseqüência ela é una e intolerante: in necessariis, unitas. Condenar a verdade à tolerância é condená-la ao suicídio. A afirmação se aniquila se ela duvida de si mesma, e ela duvida de si mesma se ela admite com indiferença que se ponha a seu lado a sua própria negação. Para a verdade, a intolerância é o instinto de conservação, é o exercício legítimo do direito de propriedade. Quando se possui alguma coisa é preciso defendê-la sob pena de ser despojado dela bem cedo".
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/religiao/intolerancia/
In báculo Cruce et in virga Virgine.
Francis Mauro Rocha.