RCC
Frequentar ou não a RCC?
PERGUNTA
Bom, escrevo esse email cheia de duvidas, na expectativa que possa encontrar respostas para todas elas. rs Há um tempo atrás recebi convite de amigas para começar a frequentar a RCC de minha cidade, fui a alguns encontros, gostei, em alguns momentos assustadas, mas continuei indo, até que um dia um amigo me aconselho a não frequentar, mas nunca me deu motivos claros para que entendesse isso. Gostaria de saber se vocês tem algum material pronto que pudesse me auxiliar a entender o real objetivo, se devo ou não frequentar a RCC, ou que com através do material eu tire conclusões clara do assunto. Outra duvida que me incomoda muito, o que fazer em cada parte da missa? O que responder? Meu catecismo foi péssimo, minha auxiliadora não nos passava o assunto como devia, era as pressas e até mesmo nos confessamos sem nem mesmo saber o porque de estar realizando aquilo. Gostaria que meu email não fosse respondido em publico, sinto um pouco de vergonha por ter essas duvidas, mas juro que não sei o que fazer em cada parte da missa, qual hora ajoelhar, agradecer, confessar e percebo que muita gente também não sabe. Agradeço demais a ajuda desde já!
Deus abençoe!
RESPOSTA
Prezada, salve Maria!
Iniciarei respondendo, de maneira simples, sua segunda indagação que se refere aos atos que o fiel deve realizar durante a missa e sobre a sua participação.
Tomando as palavras de São Leonardo de Porto Maurício, assistir com fruto à Santa Missa “consiste em irdes à Igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes, diante do altar, como o faríeis diante do trono de Deus, em companhia dos Santos Anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber os frutos e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos” (...) Isso “não exige a leitura de inúmeras preces vocais.” (As Excelências da Santa Missa - p. 49 e 53 ). Parafraseando o santo, não se exige inúmeras respostas para assisti-la com fruto.
A vontade de querer responder a tudo durante a missa é devido ao princípio de que o fiel deve ter participação ativa, servindo em algo durante o culto seja respondendo as orações em voz alta, batendo palmas ou louvando com o balançar dos braços durante os cânticos etc., daí resultar o estapafúrdio pensamento de que só assistiu à missa quem participou conscientemente com esses atos absurdos. Muitos deles foram introduzidos pelo movimento carismático dito católico.
Por esse e outros motivos que se verá, seu amigo fez bem em lhe aconselhar a não frequentar os encontros semanais dos grupos de oração da assim intitulada Renovação Carismática “Católica” (RCC). No entanto, você se queixa de que ele não lhe deu motivos claros para tal – o que, a priori, parece óbvio, pois basta atentar-se ao nome: “Renovação”.
Etimologicamente a palavra renovação significa: re-, “outra vez”, + novare, “tornar novo”, de novus, “recente, que existe há pouco, novo”, ou seja, tornar novo de novo. Ora, para tornar algo novo de novo pressupõe-se um envelhecimento desse algo. Mas, o que ficou velho para que houvesse a tal renovação?
Segundo um padre carismático o que ficou velho foi a Igreja Católica, pois ela havia perdido sua verdadeira identidade após cessar as “manifestações do Espírito Santo” na Igreja Primitiva, por isso foi necessário restituí-la para voltar à sua origem que é carismática:
“A Renovação Carismática como diz a própria palavra, é reviver a experiência de Pentecostes [...] É restituir à Igreja sua verdadeira face que é a carismática” (S. Falvo, A Hora do Espírito Santo, Paulinas, São Paulo, p. 105 – o negrito é meu).
Portanto, sub-repticiamente, a Igreja se corrompeu. Isso implica em afirmar que as portas do inferno prevaleceram pelo menos até o momento em que veio a RCC para restaurá-la. Bendita seja a RCC!
Se não fosse pela RCC não teríamos tantos absurdos na Igreja Católica como os pseudocarismas que, segundo uma das precursoras desse movimento, “são hoje manifestados – [...] tenho ouvido pessoas orando em línguas, outras praticam curas, discernimento de espíritos, falam com sabedoria e fé extraordinárias, profetizam e interpretam” (apud RCC brasil – histórico da RCC) de maneira absolutamente comum.
Na verdadeira esses dons foram comuns e necessários na Igreja Primitiva para expansão rápida da Fé até os confins do mundo, como afirma o Papa São Gregório Magno em um sermão:
“Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las.” (leia mais sobre esse sermão aqui)
A Igreja já havia criado raízes comprovando ser a única e verdadeira religião; floriu abrigando todos os tipos de pessoas de todas as nações e línguas e deu e dá milhares de frutos porque está, desde sua fundação, solidificada na doutrina de Cristo Nosso Senhor. Seria de se questionar, então, qual a necessidade dos carismas a regar hoje a Igreja se não para satisfazer os desejos sentimentais que cada membro da RCC tem de possuir intrinsicamente e cada vez mais os dons carismáticos?
Cada um a serviço da RCC é possuidor dos carismas que, por sua vez, sofrem um upgrade a partir do dom de línguas cujo favorece os outros dons. Isso faz com que a pessoa, obcecada por mais dons, ensoberba-se e consequentemente fique mais reconhecida e intitulada santa - totalmente o contrário do que realizava os carismas no início da Igreja, pois “são ‘as graças gratuitamente dadas’, são-no principalmente para a utilidade dos outros. São, efetivamente, dons gratuitos extraordinários e transitórios [...]” (TANQUEREY, Adolf. Compêndio de Teologia Mística e Ascética, p. 716)
As técnicas humanas utilizadas para obter esses dons são oriundas dos hereges protestantes. E como é sabido, segundo a doutrina católica, “(...) seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae (os carismas), uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto” (MARÍN, Antonio Royo. Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). Mas, nos encontros de oração da RCC os fiéis são impelidos a pedirem esses carismas o que não isenta a possibilidade da ação de um Espírito demoníaco, como afirma o padre Jordan Aumann: “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas” (apud PINHEIRO, Padre Daniel. Sermão para o Domingo de Pentecostes, 08 de junho de 2013 – o negrito é meu).
Um estudo da Revista Brasileira de Hipnose de 2014 detalha como funcionam as técnicas utilizadas pela RCC em seus encontros:
“A indução experimental ao estado hipnótico pressupõe etapas orquestradas pelo agente que segue uma metodologia determinada. As metáforas, bastante utilizadas no processo de indução, é um modo de exploração da imaginação que repercutirá nas percepções e sensações vivenciadas, favorecendo o aprofundamento na experiência. Por esse meio, pode-se sugerir alucinações visuais de maneira indireta, referindo apenas como possibilidades a acontecer – como a metáfora ou as parábolas orientam de modo indireto [...]
As emoções nessas técnicas ritualísticas “características comuns nos rituais indicam que certos procedimentos potencializados pelo alto grau de expectativa do fiel religioso, favorece o acesso aos estados modificados da consciência. A expressão desses estados pode ser verificada por alterações emocionais e comportamentais durante o ritual, em que comumente se verifica a exortação em choro, gritos e movimentos corporais. Esse tipo de resposta assemelha-se, como já dissemos, ao chamado transe histérico mesmérico, em que certo frenesi assola o ambiente (...) A hipnose pode ser considerada como sendo uma dissociação psíquica produzida por reações emocionais, desenvolvidas através da intensificação de alguns estímulos impositivos ou permissivos. Assim, para a indução e manutenção do transe hipnótico é necessária uma carga emocional. Esta deve apresentar certa intensidade para a ocorrência do transe, pois segundo Priori Maia: ‘sem emoção não há hipnose’” (Emprego da hipnose em rituais religiosos, Rev. Bras. de Hipnose 2014; 25(1):1-10 - Associação Brasileira de Hipnose – ASBH – o negrito é meu).
Caríssima, como você participou “de alguns encontros” carismáticos deve saber bem que as técnicas citadas pela revista de hipnose são largamente utilizadas. Tanto é que tem lhe assustado, pois você afirma que em “alguns momentos” participou “assustada”. De fato assusta ouvir pessoas emitindo alaridos incompreensíveis; vê-las caindo no chão ao receber imposição de mãos por leigos; ouvi-las rezar alto e espontaneamente diante o Santíssimo Sacramento exposto; observar o movimento de mãos e braços estendidos; escutar músicas sentimentalistas que provocam choros; pular e dançar dentro da Igreja; dentre outras tantas coisas não católicas praticadas por esse movimento protestante infiltrado na Igreja que tem levado muitos católicos a afastar-se da verdadeira doutrina.
Por fim, espero ter contribuído, mesmo que pouco, para que compreendesse algumas razões por que não frequentar esse movimento. Haveria muito mais a expor, mas pelo momento basta, pois essa carta já se delongou. Ademais, há uma carta escrita pelo professor Orlando em que ele faz uma análise aprofundada dos erros mais graves da RCC.
Desejo que continue a estudar e a combater, à medida de seu entendimento, os absurdos e erros da RCC.
In corde Iesu et Mariæ, semper
Rodrigo Santana.