RCC
"Experiências" da RCC
PERGUNTA
Nome:
Thais
Enviada em:
01/01/2002
Local:
Campinas - SP,
Caro professor Orlando,
Salve Maria!
Quero primeiramente vos apresentar a minha alegria em poder contribuir com o pouco que sei sobre a Renovação Carismática a fim de que tal movimento, tão suspeito e tão infrutífero (como a árvore seca!) possa ser questionado e combatido.
Atendendo a vosso pedido, esta é uma pequena descrição das minhas infelizes lembranças em relação a certas "experiências" do movimento chamado renovação Carismática, a saber: a oração em línguas, o repouso no espírito e o baile do "Espírito". Relatarei na sequência em que os presenciei.
A oração em línguas
Todas as citações são do livro: "Os dons de cura do Espírito Santo" de Agnes Sanford, 5 edição, 1983, Paulinas, que trata da RCC. Segundo Sanford "Desde o começo a religião tem sido uma experiência subjetiva... e o cristianismo teria sido, durante a História, rebaixado em algo materialista ou racionalista"(pag. 8). Segundo os Carismáticos, a Igreja teria se esquecido do poder do Espírito Santo e de Sua atuação na História.
Ora, mas isso é falar que a Igreja esqueceu de Deus!
Mas "hoje em dia, há um despertar deste torpor, pela ênfase no poder do Espírito Santo que habita em nós e que nos transforma em novas criaturas. No mundo todo tem pessoas que impõe as mãos sobre outras e pedem, orando (em línguas) o batismo do Espírito"(pag. 9). O parênteses é meu. Todos poderiam receber este "batismo", batizados ou não, ou seja, católicos ou não. Este "batismo" seria a fonte dos demais "fenômenos de cura e libertação", seria o mesmo fogo que desceu sobre os Apóstolos em Pentecostes, seria um "novo Pentecostes".
Sanford relata seu batismo: "Deitei-me sobre as folhas dos pinheiros sentindo o calor do sol penetrando em todo o meu corpo. [...] Orei pedindo que a vida de Deus me fosse dada através dos raios de sol. Então o Espírito de Deus entrou de uma maneira inexplicável[...] e por um fração de segundo vivi com plena consciência da bem-aventurança da eternidade" (pag 19). Toda manifestação do Amor de Deus, deveria ser mística pois todo e qualquer tipo de racionalidade é condenada como sendo "barreira" para a ação do Espírito que 'é vento e sopra onde quer".
Bastaria pois, estar entregue a esta manifestação que se daria pelo dons, mais comumente o de línguas.
Sanford tem toda sua teoria sobre este Dom baseado no inconsciente coletivo de Jung: "Quando o homem não podia mais ouvir a voz direta de Deus, Ele falava pela linguagem obscura dos sonhos, movendo-se misteriosamente no íntimo do inconsciente[...] através de símbolos[...] que provém do inconsciente coletivo da raça"( pag 151). Para resgatar a idade dos sonhos, após a idade da razão, "o Espírito Santo fala no indivíduo e através dele, numa linguagem que a pessoa na sua consciência, não conhece. Isso é chamado Glossolália, ou falar em línguas" (pag 152) E apesar de esta linguagem ser considerada "inarticulada ou histeria" ( pag 150), segundo Sanford, ela teria suas razões pois "existe uma ligação misteriosa entre o inconsciente de uma pessoa e outra[...] que permitiria estabelecer relacionamento de pensamento com alguém que já viveu ou que ainda vai viver, ou mesmo, como a Bíblia repetidamente afirma, com os seres celestes" ( pag 152).
Que idéia mais espírita! Queria eu saber de que parte das Sagradas Escrituras esta senhora tirou tal absurdo!
Pois ela diz basear-se em I Cor 13, 1.: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos...". Eu própria escutei várias vezes, que a oração em línguas seria "a língua do Céu ou dos anjos". A pessoa falaria uma "língua que o seu consciente desconhece mas que seu inconsciente (coletivo) conhece" ( pag 152). Parênteses meus.
Embora sendo uma manifestação "totalmente mística", haveria uma função para a glossolália: "a finalidade do Espírito é comunicar-nos sua força"( p 153). "A energia recebida por nós deve ser usada para formar a nova criação: o reino de Deus sobre a Terra"( p 155). Em outra parte do livro: "este Dom é um instrumento com o qual fazemos a nossa parte na construção do Reino".
O que este Dom me garantiria?
Sanford diz: "Muitas pessoas aprenderam que a salvação se realiza automaticamente quando aceitamos Jesus Cristo. Outros estão persuadidos de que o Espírito Santo tira todos os nossos temores e tentações. Algumas vezes, Ele o faz.". Esta idéia é visivelmente protestante.
Outra pergunta seria: Como funciona este Dom?
Sanford: "Pela imposição de mãos de maneira sacramental...assim que minhas palavras (do ministro) chegam à sua consciência (daquele que recebe a oração), as palavras de Deus fluem através do meu corpo e de minhas mãos para dentro de seu corpo e atingem seu inconsciente". Claro que os pobres ministros que conheci não sabiam disso, simplesmente impunham as mãos por crer ser esta a vontade de Deus.
Sobre os ministros, diz Sanford: "As pessoas precisam de um mediador, de pastores. Sabem disso, digam o que disserem as determinações regulamentares da sua igreja" (p 35).
Não da Igreja, mas da sua igreja, qualquer uma.
E mais "Pode ser que Deus pense em você quando diz : 'Apascenta os meus cordeiros"(p 30). Que interpretação absurda da ordem que N. Senhor dá a S. Pedro. Então qualquer um poderia ser ministro, padre ou não.
"Aquele que tem o Dom de línguas, não fala aos homens, mas direto com Deus, como Adão"(p. 159).
Sobre a confissão escreve Sanford: "para certas pessoas ela ainda tem sua força. Mas para outras ou ela não é possível, ou a sua força não é tão grande em virtude da falta de fé. Alegremo-nos portanto de que Deus não pode ser limitado por nenhum formulário, mas que seu Amor ainda vence barreiras para chegar até nós por caminhos além de nossa compreensão "(p 114) E como o Espírito lhe falaria?
Sanford: "...a voz do Senhor [...], é a voz serena e tranqüila que fala dentro de nosso ser. A compreensão da natureza das perturbações (em geral) é trazida por ele (Deus) do meu inconsciente" ( p 99). Parênteses meus.
Então eu já conheceria a natureza e as soluções para todos os problemas. Deus só faria que este conhecimento saísse do meu inconsciente.
Segundo Sanford, seria nossa obrigação escutar a "voz do Senhor"e obedecê-la.
E como convencer as pessoas?
Sanford: "Meu amigo[...] escrevo a você que está querendo obedecer o Senhor e procurar salvar aqueles que estão perdidos".
Só Deus sabe o quanto sofri e o quanto tantos sofrem por pensar que são infiéis a Deus, por não rezarem em línguas. Meus colegas me excluíam e me diziam que eu não devia ter fé, pois se a tivesse, Deus se teria manifestado.
Esta seria, então a "cura das lembranças feita pela 'transferência de pensamento' que é redenção. É a salvação da alma. É realizar através de Jesus a obra que nosso Senhor fez sobre a cruz"( p 120).
Esta frase me parece absurda, como esta senhora pretende realizar a obra de nosso Senhor se ela mesma afirma que Ele já a fez?
Como tratar a pessoa que está sendo curada?
"Mesmo que a pessoa diga seus segredos mais escabrosos[...] deve-se olha-lo como um filho de Deus, um santo de Deus...e transformar na imaginação as sombras em virtudes. Isso é redenção" ( p 131) "A terapia que cura as lembranças é chamada de perdão dos pecados...e o ato de ir ao ministro é a confissão. Esta é apenas a maneira estilizada pela qual a Igreja fez a oração para a cura da alma. Mas acaso ele (o pecador) precisa de mediador? Em muitos casos ele naturalmente não precisa. Não vamos ao confessionário toda vez que dizemos mentiras"(p 111) Parênteses meus.
Como assim?
Então não vamos ao confessionário quando pecamos, seria ele inútil, ou melhor, serviria apenas para curar as lembranças e traumas da pessoa?
Afinal "Nosso Senhor, quando tomou sobre si os nossos pecados, uniu-se a nós. Tornou-se parte da mente coletiva da raça, parte de sua consciência está nas profundezas do homem. Quando o invocamos, ele sai da consciência da raça e fica conosco, então o pecado recebe um golpe mortal...e nós passamos a ser a nova criação" (p 119) Seríamos então a nova criação por simplesmente invocar o nome de Nosso Senhor de maneira mágica. Deve ser por isso que meus colegas invocavam tantas vezes o nome do Senhor, como se fosse uma fórmula, repetindo-o à exaustão.
A oração em línguas é um conjunto desconexo de sílabas e é falada ou cantada, normalmente "provocada" pela presença do SS. Sacramento ou de um oração livre à SS. Virgem. Era acompanhada de revelações de visões interiores, nas quais haveria algum ensinamento moral de confiança em Deus (sempre e apenas confiança!). Em seguimento, sempre alguém teria tido uma iluminação sobre uma passagem bíblica (qualquer uma, vinha o nome do livro, o capítulo e o versículo) a ser lida como mensagem de Deus ao grupo.
Nesses "retiros", como seria inevitável, ocorriam graves incidentes morais: uso de drogas e outros, sendo que ouvi falar que foram achados preservativos usados, e até mesmo uma menina que teria voltado grávida do retiro.
Os sinais de conversão seriam ou a oração em línguas, ou um choro descontrolado, sendo que cheguei a ver pessoas se debatendo e rolando no chão, pessoas com contrações musculares violentas, pessoas que falavam sozinhas, que olhavam para o nada com expressão apática.
Presenciei dois casos interessantes em que uma garota teve que ser retirada do local, totalmente apática, sendo que não respondia a chamados, e embora não estivesse sendo violenta, apenas horas depois ela teria voltado ao normal. Outro caso foi o de uma colega que teria ficado muda após a "experiência", sendo que nenhum médico foi capaz de detectar a causa e a menina só voltou ao normal semanas depois.
O repouso no Espírito
Presenciei este "fenômeno", num retiro menor, com cerca de vinte pessoas. Eram programadas grandes vigílias noturnas de adoração ao SS. Sacramento. Naquela noite, nas trevas, além da oração em línguas ocorreria também o repouso no qual N. Senhor "nos levaria a descansar nos prados e campinas verdejantes". Nós "descansaríamos em Deus, sendo uma experiência prévia do céu". Consistia em ficar alguns segundos de olhos fechados e concentrado, ou de pé ou sentado, e abandonar o corpo (como num desmaio), permanecendo no chão, tendo visões e delírios sobre o céu (ou fingindo ter); tudo isso realizado diante do SS. Sacramento. Para que as pessoas não se machucassem ao cair, havia aqueles que se encarregavam de segurar os colegas e deitá-los no chão. As pessoas permaneciam nesse estado de letargia por meia hora, mais ou menos, sendo que alguns dormiam...
O Baile do "Espírito"
A mais demoníaca das experiências foi o baile. Não me constranjo em dizer tal coisa pois, uma experiência que nos retira de todo o controle de nós mesmos, não só racional, mas físico e espacial, em que se perde a noção de quem se é, para misturar-se a um grupo coeso e massificado controlado por não sei quem, em que movimentos são feitos inspirados por "nada" e que não levam a lugar algum, só podem ser do demônio.
Num terceiro retiro fomos convidados a participar de um baile, de uma festa, em que dançaríamos a noite toda, no escuro, e que nosso par seria o "Espírito Santo". Para que isso pudesse ser realizado, todos estaríamos descalços, sem relógios, pulseiras e brincos e andaríamos ou dançaríamos a esmo de olhos fechados, num certo salão que tinha suas portas fechadas e vigiadas. Eu quis sair, não me deixaram. Inevitavelmente, os mais empolgados, trombavam-se constantemente, tropeçavam e caíam, apesar do fato de haverem jovens "responsáveis" por não permitir que se trombassem. A única coisa que não podia era: abrir os olhos. Enquanto isso, tocava-se uma música romântica que levava os presentes a chorar e aos poucos as pessoas iam caindo no chão, pois havia começado o "repouso". Viam-se pessoas com os braços erguidos, pessoas orando em línguas, pessoas impondo as mãos, pessoas no colo umas das outras, e invariavelmente eu mesma pisava em alguns colegas, sem querer. Tinha entendido o porquê de se tirar os sapatos!
Eu não podia crer, professor, que a minha salvação estivesse em perigo, caso não falasse em línguas (eu era batizada, comungava, era crismada..), tinha me cansado da hipocrisia dos que se diziam "santos" e me tentavam como demônios...eram inúmeros os palavrões. Recusei ser coordenadora do grupo, coloquei-me contra um seminarista que insistia em que eu rezasse em línguas (nem que eu tivesse que fingir!), foi o escândalo. Mas o que mais me consumia de raiva era a irreverência com o SS. Sacramento, tocar-Lhe, sendo que chegavam a dormir (!), na capela, só para estar "pertinho" de N. Sr.
Graças ao bom Deus, isso agora é passado, e espero que este relato ajude aqueles que apenas esperam uma luz, uma saída para continuarem sendo católicos (ou mesmo se converterem) sem ter que entrar então na Teologia da Libertação, que acreditava eu, ser a única alternativa à RCC.
Bendito o Santo Deus e a Sua Santa e única Igreja
Thais Lombardi
2002